Altura: 1,83 m
Cabelos: castanhos
Ele foi um dos atores mais importantes do cinema mudo, desfrutando
de um enorme sucesso internacional, antes de emprestar seus serviços
ao Terceiro Reich. Durante muitos anos EMIL JANNINGS (1884 – 1950. Rorschach,
Suíça) foi considerado o maior ator europeu, além de ser um dos mais bem pagos
de sua época. Expressando magnificamente os medos e dúvidas de homens
orgulhosos e de bom coração que são enganados, ficou famoso também por ter sido
premiado com o primeiro Oscar de Melhor Ator em 1927-1928.
Seu pai, um empresário norte-americano
bem-sucedido, morreu precocemente quando o futuro ator era criança. Mudou-se
com a mãe para Leipzig e depois para Görlitz, no extremo leste da Alemanha. Aos
16 anos fugiu de casa para se tornar marinheiro, mas rapidamente decidiu que
queria ser ator. Sua primeira chance aconteceu quando ingressou na companhia de
teatro do lendário Max Reinhardt, em Berlim, 1906. Terminaria se estabelecendo
como um dos maiores talentos da indústria cinematográfica, estrelando filmes
aclamados como “A Última
Gargalhada” (1924) - que Alfred Hitchcock descreveu como “um filme quase
perfeito”.
Ao assinar contrato com a produtora UFA, brilhou
em “Os Olhos da Múmia” (1918) e “Madame DuBarry” (1919), ambos com a estrela
Pola Negri. Em 1925 interpretou o imperador Nero na fascinante superprodução
ítalo-alemã “Quo Vadis?”, filmada em Roma com um elenco internacional,
incluindo Lilian Hall-Davis, Alphons Fryland e Rina de Liguoro. Corpulento,
projetando uma presença enorme na tela, EMIL JANNINGS era a figura trágica
ideal. Graças ao sucesso estrondoso na Europa, a Paramount Pictures contratou-o
por três anos, apesar dos seus conhecidos ataques histéricos e da fama de
roubar a cena dos colegas. O contrato lucrativo incluía controle sobre roteiros,
papéis e escolha de diretores.
Nos EUA fez seis filmes mudos, alguns perdidos
para sempre. Instalou-se com a esposa Gussy
Holl na Hollywood Boulevard, em uma suntuosa réplica de uma mansão sulina, onde
viveu cercado de cachorros da raça Chow, papagaios e pássaros. Era um anfitrião
divertido, com sua ironia mordaz, brincadeiras eróticas e excessos
gastronômicos. Adaptou-se facilmente ao turbilhão social de Hollywood - há
fotos dele na intimidade com Greta Garbo de maiô -, mas para alguns era um
tirano mal-humorado. Evelyn Brent, sua parceira em “A Última Ordem” (1928), disse que ele era
temperamental e mimado: “Podia ficar aborrecido com coisas insignificantes”. No
entanto, a atriz reconhece que era “um ator esplêndido”.
Em um artigo de abril de 1929, no “Los Angeles
Times”, o crítico de cinema Edwin Schallert descreveu-o como “o rei das
estrelas do cinema europeu”. Na época, por interpretar um grão-duque em “A Última Ordem” e um
funcionário do banco em “Tortura
da Carne” (1928), venceu o Oscar de Melhor Ator. Com o
cinema falado, seu forte sotaque germânico foi rejeitado e ele regressou à
Alemanha, onde imediatamente protagonizaria o excelente “O Anjo Azul” (1930), ao
lado de Marlene Dietrich, ganhando aplausos por interpretar um professor idoso
que é destruído por sua paixão pela cantora de cabaré Lola-Lola. A diva Dietrich,
no entanto, o odiava e costumava chamá-lo de “presunto velho”.
Em março de 1933, quando Adolf Hitler assumiu o
controle da Alemanha, Joseph Goebbels foi nomeado ministro da Propaganda do Reich. Ele escolheu EMIL JANNINGS como
o ator emblemático do regime nazista e seu veículo propagandístico oficial. O
primeiro filme desta união bizarra foi “Alma Mascarada / Der Alte und der Junge
König - Friedrichs des Grossen Jugend”, de 1935, no qual retrata o rei prussiano
Friedrich Wilhelm I, numa cinebiografia histórica destinada a exaltar o Führerprinzip,
um conceito de obediência cega ao líder.
Embora não fosse membro do partido, o ator era um
defensor entusiástico da ideologia nazista. Autorizado a ter total controle
sobre seus próprios filmes, foi o principal responsável por “Ohm Kruger” (1941), um dos
longas mais caros da era nazista. O diretor Veit Harlan, que passou a ter
grande conceito com Goebbels ao se divorciar da atriz judia Dora Gerson (morta
em Auschwitz, em 1943, com toda sua família), foi escolhido para dirigir EMIL JANNINGS em “Crepúsculo / Der Herrscher”, de 1937. O filme agradou ao Führer e os laços estreitos entre ator e ditador foram selados quando ele fez
campanha para Hitler nas eleições de 1938.
A Tobis Films, então nas mãos do governo, tinha EMIL JANNINGS como membro do conselho, além dos celebrados Willi Forst e Gustaf Gründgens. Em 1941, o ator foi agraciado como Artista do Estado (Staatsschauspieler), a maior
honraria alemã concedida a um artista. Também recebeu o “Anel de Honra do
Cinema Alemão”. Anos antes, em 1937, por “Crepúsculo”, venceria a Taça Volpi de
Melhor Ator no Festival de Cinema de Veneza. Sua demonstração de lealdade ao nazismo rendeu um estilo de
vida luxuoso e grande sucesso na sua carreira.
Fritz Hippler, que pilotava o departamento de
cinema do Ministério da Propaganda e dirigiu o anti-semita “O Eterno Judeu / Der
Ewige Jude” (1940), publicou o livro “Contemplations on Filmmaking” em
1942, tendo EMIL JANNINGS como autor do prefácio. O
historiador Frank Noack, que escreveu uma biografia do ator em 2012, diz que a
mãe russa dele, que morava em Berlim, tinha origem judaica. Ele especula que
manter sua mãe segura foi fundamental em sua disposição de trabalhar para os
nazistas.
No final da II Grande Guerra, quando as tropas
aliadas tomaram Berlim, o ator mostrou sua estatueta, gritando: “Não atire, eu
venci um Oscar!”. Não foi preso, mas sua reputação estava em frangalhos. Oficiais
militares britânicos que o interrogaram rejeitaram as alegações de que havia
trabalhado com relutância para o regime nazista. As filmagens do seu último filme, “Wo ist Herr Belling?”
(1945), foram interrompidas e ele oficialmente proibido de fazer outro
filme ou atuar no teatro. O homem que foi considerado o maior ator do
mundo nunca mais trabalhou.
Passou a morar numa fazenda na Áustria, onde foi
entrevistado pelo jornal novaiorquino “The Rochester Democrat and Chronicle”. A
entrevista foi realizada pelo escritor Klaus Mann e publicada em 1945. Quando Mann perguntou sobre seu envolvimento com os nazistas, ele
respondeu: “Resistência aberta significaria um campo de concentração”,
garantindo que foi ordenado por Goebbels para fazer os filmes de propaganda. Em
sua autobiografia “Life and Me”, de 1951, praticamente ignora sua conexão nazista.
Os últimos dias de vida foram dolorosos.
Convertido ao catolicismo, nada parecia lhe trazer paz. Passou a beber muito, falecendo
de câncer de fígado em 1950, aos 65 anos. “Ele morreu sozinho, amargo e em
desgraça”, disse seu biógrafo. EMIL JANNINGS foi casado com as atrizes Hanna
Ralph, Lucie Höflich e Gussy Holl. Todos os casamentos terminaram em
divórcio. No seu túmulo está escrito: “Tudo termina, as alegrias e as infinitas
tristezas”. Seu Oscar está no Museu de Cinema de Berlim. Em 1960
foi homenageado com uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.
18 FILMES de EMIL JANNINGS
(por ordem de preferência)
01
A ÚLTIMA GARGALHADA
Direção de F. W. Murnau
Elenco: Maly Delschaft
02
FAUSTO
Direção de F. W. Murnau
Elenco: Gösta Ekman e Camilla Horn
03
O ANJO AZUL
Direção de Josef von Sternberg
Elenco: Marlene Dietrich
04
QUO VADIS?
Direção de Gabriellino D'Annunzio e Georg Jacoby
Elenco: Elena Sangro, Rina De Liguoro, Lillian
Hall-Davis e Andrea Habay
05
A ÚLTIMA ORDEM
Direção de Josef von Sternberg
Elenco: Evelyn Brent e William Powell
06
VARIETÉ – A TRAGÉDIA de um ARTISTA
Direção de Ewald André Dupont
Elenco: Maly Delschaft e Lya De Putti
07
Os OLHOS da MÚMIA
Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Pola Negri e Harry Liedtke
08
ANNA BOLENA
Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Henny Porten e Paul
Hartmann
09
TARTUFO
Direção de F. W. Murnau
Elenco: Lil Dagover e Werner Krauss
10
MADAME DuBARRY
Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Pola Negri e Harry Liedtke
11
ALTA TRAIÇÃO
Direção de Ernst
Lubitsch
Elenco: Lewis Stone e Florence Vidor
12
TORTURA da CARNE
Direção de Victor Fleming
Elenco: Belle Bennett
13
AMORES de FARAÓ
Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Harry Liedtke, Paul Wegener e Lyda
Salmonova
14
O GABINETE das FIGURAS de CERA
Direção de Paul Leni e Leo Birinsky
Elenco: Conrad Veidt e
Werner Krauss
15
RUA do PECADO
Direção de Mauritz Stiller
Elenco: Fay Wray e Olga Baclanova
16
OTHELLO
Direção de Dimitri Buchowetzki
Elenco: Werner Krauss,
Ica von Lenkeffy e Lya De Putti
17
DANTON
Direção de Dimitri Buchowetzki
Elenco: Werner Krauss,
Ossip Runitsch e Maly Delschaft
18
Os IRMÃOS KARAMAZOFF
Direção de Carl Froelich
Elenco: Bernhard
Goetzke, Werner Krauss e Hanna Ralph
9 comentários:
Se realmente morreu sozinho, talvez ninguém o amasse. Nossas escolhas constroem o destino e talvez ele tenha pedido mais que dado aos outros.
Parabéns! Bela pesquisa e texto.
Triste fim, proibido de trabalhar. Não adiantou dinheiro, troféu ser o melhor, por seu temperamento terminou sozinho. Isso é pra quem se acha o melhor, esse é o fim.
"O Anjo Azul" foi o seu filme mais internacionalmente conhecido. Ele era o protagonista mas o carisma da Marlene fez que o mundo todo pensasse que ela era a estrela do filme.
Marlene Dietrich humilhando o professor em O anjo azul. Ele queria que o filme fosse dele. Foi absolutamente DELA.
Sua interpretação do professor Rath no Anjo Azul é uma das melhores da história do cinema.
Não o conhecia, mas amei o seu texto. Show de história do cinema. Vou procurar os filmes de Jannings.
Há muito anos eu vi o Anjo Azul .
TEM CARA DE BANDIDO MESMO !!!
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