Sou admirador da obra de terror/suspense B do produtor VAL LEWTON (1904 - 1951). Dos nove filmes que fez no gênero, assisti cinco e espero em breve ver os que restam. São filmes-irmãos, utilizando-se basicamente dos mesmos meios para atingir o espectador, como cenas de pessoas indefesas andando em ruas desertas escuras, temendo o perigo à espreita, sendo atacadas ou perseguidas. Noturnas e atmosféricas, tais cenas exploram o jogo de luz e sombras, acentuando a psicologia e a poesia.
De origem russa, sobrinho da diva Alla Nazimova, Lewton trabalhou como assistente de David O. Selznick, de 1933 a 1941. Em 1942, com a RKO Radio Pictures desejando competir com a Universal no terror, ele foi convidado para se dedicar à realização de filmes deste gênero, com orçamento limitado, duração máxima de 75 minutos e uma fórmula simples: uma história de amor, algumas cenas de horror apenas sugerido e uma de violência explícita. Tudo povoado por sombras, muitas sombras.
lewton, robert wise e mark robson |
Conseguiu seu espaço na história do cinema com produções baratas, apostando no talento dos diretores e na própria imaginação do público. Todas realizadas entre 1942 e 1946, unindo escassez de recursos com qualidade artística e lucro certo, fortalecendo assim o estúdio que estava à beira da falência. Esses filmes renovaram o gênero de terror e revelaram um produtor meticuloso e inovador. Anote no seu caderninho cada um deles. São imaginosos, sinistros, líricos.
SANGUE de PANTERA
(Cat People, 1942)
direção de Jacques Tourneur
com Simone Simon, Kent Smith e Tom Conway
Protagonizado pela estrela francesa Simon, a trama fala de uma desenhista de moda em Nova Iorque obcecada pela ideia de que é descendente de uma antiga raça de mulheres-felinas, as quais, quando excitadas sexualmente, transformam-se em panteras. Por isso, tem medo de consumar seu casamento. Rodado em 24 dias, custou 134 mil dólares e rendeu mais de dois milhões, num sucesso inesperado de público. O poeta Vinicius de Moraes, então crítico de cinema, escreveu: “Tourneur realizou uma pequena obra-prima, em essência, silenciosa”.
A MORTA-VIVA
(I Walked with a Zombie, 1943)
com Frances Dee, James Ellison e Tom Conway
Enfermeira canadense chega às Antilhas para cuidar de inválida, apaixona-se pelo marido da paciente e termina por descobrir que a rival é um zumbi. Dirigido com inspiração, fotografia poética e uma Frances Dee lembrando Greta Garbo, é considerado por muitos o melhor da série.
O HOMEM-LEOPARDO
(The Leopard Man, 1943)
Numa pequena cidade do Novo México, um leopardo que se apresentava num espetáculo, foge e mata uma garota, sendo perseguido, enquanto um demente aproveita o pânico para cometer alguns assassinatos. A narrativa, sem personagens centrais, é um tanto fragmentada e confusa. Filmado em um mês, deu bons lucros.
A SÉTIMA VÍTIMA
(The Seventh Victim, 1943)
com Kim Hunter e Tom Conway
Garota chega a Nova Iorque à procura da irmã desaparecida. A investigação leva a um culto diabólico. Atmosfera macabra, trama intricada e personagens solitários e dúbios. No entanto, não há como negar a fragilidade do roteiro, apostando somente nos momentos de suspense. A insossa Hunter ganharia o Oscar de Atriz Coadjuvante com o clássico “Uma Rua Chamada Pecado / A Streetcar Named Desire” (1951), de Elia Kazan.
O FANTASMA dos MARES
(The Ghost Ship, 1943)
com Richard Dix, Russell Wade e Edith Barrett
Jovem oficial percebe que seu comandante autoritário é um assassino psicopata, responsável pela morte de vários tripulantes. Acusado de plágio, o filme foi retirado das salas de cinema, prejudicando sua trajetória. Belo visualmente e estrelado por um galã do cinema mudo, as cenas de horror apoiam-se mais em efeitos sonoros do que visuais.
A MALDIÇÃO do SANGUE de PANTERA
(The Curse of the Cat People, 1944)
com Simone Simon e Kent Smith
Garota que vive num mundo de fantasia, acredita ter contato com a primeira esposa do pai, que falecera acreditando ser uma mulher-pantera. Fascinante análise da psicologia infantil, marcada por uma atmosfera gótica. Iniciado por Fritsch, que atrasou as filmagens e foi substituído por Wise (de “A Noviça Rebelde / The Sound of Music”, 1965).
A ILHA dos MORTOS
(Isle of the Dead, 1945)
com Boris Karloff e Ellen Drew
Um grupo em quarentena numa ilha grega, suspeita da existência de demônios no local. Trágico, tétrico, angustiante e considerado pelo famoso crítico James Agee, “um dos melhores filmes de horror de todos os tempos”.
O TÚMULO VAZIO
(The Body Snatcher, 1945)
com Boris Karloff, Henry Daniell, Bela Lugosi e Russell Wade
Baseado num conto de Robert Louis Stevenson (“O Médico e o Monstro”), passa-se na Escócia, onde um médico que dirige uma escola de medicina é chantageado por cocheiro, antigo parceiro no roubo de cadáveres. Com belas cenas e atuações marcantes de Karloff, Daniell e Lugosi.
ASILO SINISTRO
(Bedlam, 1946)
com Boris Karloff e Anna Lee
A trama bizarra fala de uma atriz preocupada com as tristes condições de um asilo de loucos dirigido por um sádico. Clima asfixiante, excelente fotografia do mestre noir Nicholas Musuraca e mais uma performance sensacional de Karloff, que acaba sendo sepultado vivo. Com orçamento de filme classe A, fracassou na bilheteria, embora apreciado pela crítica.