junho 25, 2019

******* O CINEMA segundo RUBENS EWALD FILHO

gloria swanson e william holden 
ecrepúsculo dos deuses


“O cinema ensina a gente a sobreviver. A vida já é muito dura, se a agente não tem essas armas como o cinema, acho que é duro viver.”
RUBENS EWALD FILHO
                                                                                                       

O jornalista e crítico do cinema RUBENS EWALD FILHO acumulou mais de 35 transmissões como comentarista do Oscar e viu mais de 40 mil filmes ao longa dos seus 74 anos de vida. Com cinquenta anos de carreira, trabalhou em vários veículos de comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Record, TV Cultura, revista “Veja” e “Folha de São Paulo”, além de HBO, Telecine e TNT. É também dramaturgo e autor dos livros “O Oscar e Eu”, “Dicionário de Cineastas” e “O Cinema Vai à Mesa – Histórias e Receitas”.
rubens ewald filho

Ele marcou toda uma geração de cinéfilos, destacando-se pela maneira fácil de se fazer compreender e orientar os leitores, sem as tão comumente herméticas ou abstratas elucubrações dos analistas de cinema. EWALD FILHO também entrevistou inúmeras personalidades do cinema, como Janet Leigh, Jean Simmons, Harry Carey Jr., Ben Johnson e tantos outros.

Listo abaixo seus filmes e artistas favoritos, dados recolhidos de diversas entrevistas e do seu próprio blog. Ele diz que se trata de pesquisas e impressões dele, coletadas ao longo de vários anos trabalhando no meio cinematográfico como crítico e roteirista. Acha que cada um pode concordar ou discordar, levar em consideração ou não a seleção dele. Tem razão. Listas honestas se sustentam em seleção  pessoal e diferenciado.

“gritos e sussurros”

QUAIS são os seus FILMES FAVORITOS?

01
2001, uma ODISSÉIA no ESPAÇO
(2001, A Space Odissey, 1968)

Direção de Stanley Kubrick
Elenco: Keir Dullea e Gary Lockwood

“Eu o acho absolutamente fantástico, pois o filme tem 25 minutos de diálogo e o restante não tem mais, segue sem. É um filme que foi feito antes do homem chegar à Lua! E que transforma uma simples ficção em uma viagem religiosa. O extraordinário em 2001 – entre outras coisas – é sua importância profética. Kubrick mostra antes dos homens chegarem à Lua que a Terra é azul, que no espaço não existe o tempo e que o homem continua sendo o mesmo primata subdesenvolvido. Como tema musical ele escolheu (ou redescobriu) o “Danúbio Azul”, de Strauss que se tornou desde então a música oficial dos lançamentos dos projetos da NASA. A fita custou 12 milhões de dólares e foi rodada na Inglaterra a partir do primeiro “script” de Kubrick e Arthur C. Clarke. Na produção trabalharam 106 técnicos, inclusive da NASA, IBM e General Electric. O sucesso de 2001 foi devido principalmente às plateias jovens. Foram elas que descobriram a fantástica beleza visual e mensagem implícita na conquista do Espaço – inclusive tomando LSD para melhor apreciar o filme – foram elas que tornaram o filme um sucesso de bilheteria, apesar de ser também um filme difícil.”

“Mais tarde, Clarke transformou roteiro num livro, que explicava vários pontos obscuros. Já Kubrick na sua famosa entrevista à “Playboy” recusou-se a explicar o filme: “Tentei criar um experiência visual que ultrapassasse a comunicação verbal e penetrasse diretamente no subconsciente, com um conteúdo emocional e filosófico. Quis que o filme fosse uma experiência intensamente objetiva que atingisse o espectador, a um nível profundo de sensibilidade como faz a música”.”

“Continua Kubrick: “Vocês são livres para especular sobre o significado filosófico e cultural do filme. Não quero estabelecer um mapa verbal que todos sejam obrigados a seguir. A intenção é provocar no espectador uma reação que precisa – e não deve – ser explicada.”. Para mim é ainda a obra prima de Kubrick. Mudou a historia do gênero, do cinema e da própria ciência.”

02
FELLINI OITO e MEIO
(Fellini 8-1/2, 1963)

Direção de Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Sandra Milo e Claudia Cardinale

“Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro e figurino e do Grande Prêmio do Festival de Moscou. Foi homenageado por vários cineastas, entre eles Woody Allen (em "Memórias/ Stardust Memories", 1979; Bob Fosse "Allthat Jazz, o Show deve Continuar", 1979; Paul Mazursky, "Um Doido Genial/Alex in Wonderland", 1970, onde o próprio Fellini fez ponta). A fita é autobiográfica em todos os sentidos e apenas Mastroianni pôde ler o roteiro completo (ele compôs seu personagem usando chapéu, capa, tudo parecido com o diretor).’

“O filme foi notável por ter sido o primeiro a não explicar antes para o espectador o que está sucedendo. Passado, presente e imaginação podem estar convivendo no mesmo plano e tudo fica absolutamente claro. Mas na época era extremamente ousado e original. O filme começa com um pesadelo, esplendidamente fotografado em preto e branco por Gianni di Venanzo, que dali em diante se supera com contrastes fortes, chegando aos limites do que era possível naquele momento (infelizmente Venanzo morreu cedo).”

“Como num delírio, o cineasta feito por Marcello Mastroianni imagina unir na mesma dança, a esposa Anouk Aimée - que tenta parecer Giulietta, com a amante Sandra Milo (que era mesmo caso do diretor). Ou manter um harém com todas as mulheres de sua vida, que um dia resolvem se rebelar (no elenco feminino, Fellini chamou algumas das mulheres mais interessantes do momento, inclusive a atriz de fitas de terror, Barbara Steele, a estrela dos anos 40 Caterina Borato, a estrelinha Hedy Vessel, etc). Longe de ser um filme fácil, “Oito e Meio” é uma fita que resiste a análises e interpretações, muito ajudada pela magnífica trilha musical de Nino Rota, o colaborador mais fecundo e importante na carreira do diretor.

“A sequência final no circo, Fellini imaginou de última hora e por isso nem todo o elenco pode estar presente. Mas reflete muito sua visão de mundo. A vida é um circo, diz ele, e o único jeito de se continuar vivendo é nós todos nos darmos as mãos, nos aceitarmos e sairmos dançando pelo picadeiro.”

03
AMOR SUBLIME AMOR
(West Side Story, 1961)

Direção de Robert Wise e Jerome Robbins
Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno e George Chakiris.

“Versão musical de “Romeu e Julieta” de Shakespeare, transposta para o palco por Arthur Laurents e depois para o cinema por Ernest Lehman, com o mesmo coreógrafo Jerome Robbins (que fez parceria com o diretor Robert Wise). Na verdade, o filme é melhor que a peça, dramaticamente mais ajustado e muito cinemático. Embora Natalie e Richard tenham sido dublados (respectivamente por Marnie Nixon e Jim Bryant), isso não perturba o esplêndido resultado, que inclui os letreiros de abertura e final de Saul Bass (a fita tem overture como era moda na época), a ideia genial de começar a narrativa do outro lado do rio e depois contando a rivalidade entre as gangues através de uma longa coreografia.”

04
CRESPÚSCULO dos DEUSES
(Sunset Boulevard, 1950)

Direção de Billy Wilder
Elenco: William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson e Buster Keaton

05
GRITOS e SUSSURROS
(Viskningar Och Rop, 1972)

Direção de Ingmar Bergman
Elenco: Harriet Andersson, Liv Ullmann, Kari Sylwan, Ingrid Thulin e Erland Josephson

“Uma verdadeira obra de arte, acabada, perfeita, complexa, sujeita a mil interpretações e ainda assim simples e acessível ao nível de emoção. A ação se desenrola no começo do século, as mulheres vestem roupas caras, que as dissimulam e valorizam, mas o figurino pretende estar de acordo com o desejo do diretor de sugestão sensual.”

“Este filme é uma síntese de todos os temores, fraquezas, ilusões, misérias e alegrias da alma, é um grito desesperado, uma prece sussurrada, um uivo de desespero, é o ser humano desnudo e impotente diante dos grandes mistérios para os quais não há resposta: a vida, a morte, a felicidade, o relacionamento entre o homem e a mulher, entre irmãos e entre diferentes classes. O tempo impassível que devora as horas, tudo isso, Bergman filtrou nesta sua obra-prima. Uma fita que redime o cinema.”

“Diante de uma obra perfeita é difícil fornecer explicações. É uma aula de cinema. São quatro atrizes extraordinárias, impossíveis de serem destacadas. Tudo é feito à luz clara de uma tarde, que para Bergman não existe nada mais aterrador do que a luz forte do sol. O personagem da empregada Ana é o que mais surpreende (além de sua maravilhosa versão da obra Pietá de Michelangelo que é aqui recriada), já que representa outra classe e por isso é meio pária. Mas o importante é que ela ama de uma forma natural, instintiva, sem refletir e sem pedir nada em troca.”

“Talvez estejam certos também os que vem na fita uma homenagem ao autor russo Tchecov (que fez As Três Irmãs como um adeus à grandeza da burguesia decadente, o último suspiro de uma época pré-revolucionária). Ou mesmo os que admitem que o personagem de Thulin, essa dama intelectual e um pouco neurótica, tome frequentemente a forma de um auto-retrato do autor.”

06
A MALVADA
(All About Eve, 1950)

Direção de Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Marilyn Monroe e Thelma Ritter

“Um dos filmes mais inteligentes e bem escritos sobre o teatro e sobre o comportamento do ator e da atriz, vagamente inspirado em fato real acontecido com a estrela Tallulah Bankhead (Bette em certos momentos até a imita) e que serve de padrão para qualquer personagem que deseja subir na vida a qualquer preço, mesmo traindo amigos e parceiros. Um elenco excepcional inclui até mesmo uma pontinha de Marilyn, estrelinha em ascensão. Sempre um prazer sofisticado. E tem a Bette Davis , ela é um símbolo muito grande do cinema.”

07
Um CORPO que CAI
(Vertigo, 1958)

Direção de Alfred Hitchcock
Elenco: James Stewart, Kim Novak e Barbara Bel Geddes          

“Embora tivesse sido recebido com restrições em sua estreia - foi indicado apenas ao Oscar de direção de arte e som e esqueceram absurdamente a trilha musical. Mas acabou virando o favorito da crítica dentro da obra do diretor (em parte porque durante 20 anos Hitchcock não permitiu que ele fosse reapresentado). Eu o assisti ainda criança e desde logo adorei o resultado também em parte porque era encantado por Kim Novak, paixão esta que nunca passou mesmo agora quando ela é octogenária ainda a acho linda e misteriosa. De qualquer forma, naquele momento Kim era a maior estrela de Hollywood e infelizmente não fez outro filme da mesma qualidade, se afastando cedo demais (em parte porque precisava de um diretor forte como Hitch para conduzi-la, em parte porque acabou o sistema de estúdios e não se deu bem como free lancer).”

“Vertigo (Vertigem, literalmente) foi também um dos filmes mais imitados e homenageados de todos os tempos principalmente na obra do hoje decadente Brian De Palma que o recriou várias vezes (em Vestida para Matar, Estranha Obsessão, Doublê de Corpo). O papel central foi planejado para a descoberta de Hitch, Vera Miles (com quem este fez O Homem Errado e mais tarde Psicose).  Ela chegou a fazer os testes de guarda-roupa ,pousou para o quadro que aparece na historia mas a filmagem foi atrasada (inclusive porque Hitch foi operado) quando chegou a hora, ela anunciou que estava grávida e não podia fazer o filme. Este nunca a perdoou por ter perdido sua chance (Vera era casada na época com Gordon Scott, o halterofilista e Tarzan).”

“A ironia é que este é o mais celebrado de Hitchcock, o mestre do suspense, é uma história de obsessão, amor, traição e falsa identidade. A trama policial e mesmo a espiritualista são meras pistas falsas, para tornarem mais intrigantes as reviravoltas de um amor proibido. O clima inusitado já começa com os letreiros de apresentação do mestre Saul Bass, que procuram mergulhar o espectador num turbilhão de vertigens, já que o protagonista nunca está em controle da situação. Embora haja elementos de “thriller” e mesmo policial, o que realmente importa é a história de amor e justamente deve ser por causa disso que o filme manteve seu impacto. É um filme de sonho, de obsessão, de fantasia (varias cenas foram rodadas com um pano na frente da lente para lhe dar a impressão de que foram feitos com a nevoa de San Francisco). Tudo conduzido de forma brilhante através da trilha musical de Bernard Hermann, que praticamente fornece o tom e o ritmo da narrativa.”

08
RASHOMON
(Rashômon, 1950)

Direção de Akira Kurosawa
Elenco: Toshirô Mifune, Machiko Kyô e Masayuki Mori

“O primeiro grande sucesso internacional de Kurosawa, num filme muito imitado (os americanos o refilmaram como “Quatro Confissões / The Outrage”, 1964, de Martin Ritt, com Paul Newman, Claire Bloom e Laurence Harvey). Principalmente por sua estrutura, com narrativas contraditórias, provando que a verdade é uma coisa muito relativa. Indicado para o Oscar de Direção de Arte, foi premiado com um Oscar especial (não havia ainda a categoria de Filme em Língua Estrangeira). Também ganhou o Leão de Ouro e prêmio da Crítica no Festival de Veneza. Tem uma notável fotografia, ousada, com câmera na mão e luz natural que diferencia as diversas versões da história. Uma autêntica obra-prima e um filme seminal. O título original quer dizer “Na Floresta”.”

09
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
(Some Like it Hot, 1959)

Direção de Billy Wilder
Elenco: Marilyn Monroe, Tony Curtis, Jack Lemmon e George Raft

“Votado pelo American Film Institute como “a melhor comédia americana de todos os tempos”. Mas ganhou somente o Oscar de Figurino (embora tenha sido indicado como Roteiro, Diretor, Fotografia, Ator - Lemmon e Direção de Arte). Foi rodado em branco e preto porque não deu certo a maquiagem que aplicaram na dupla de atores (que ficavam ridículos). Os problemas maiores foram com Marilyn, que estava na época casada com o dramaturgo Arthur Miller (ela estaria grávida e perdeu o bebê durante as filmagens). Sempre atrasada, com depressão, com dificuldade de guardar os textos (há uma cena em que ela com Curtis no telefone fica visível que está lendo o texto num quadro negro). A repetição de muitas cenas até ela acertar provocou irritação nos colegas (Curtis chegou a dizer que preferia beijar Hitler) mas nada disso se vê nas telas, onde Marilyn está no auge de sua sedução.”

“Wilder originalmente queria Frank Sinatra no papel de Lemmon. Ele conseguiu que o veterano astro George Raft tivesse uma participação como Spats Columbo, parodiando a si mesmo num gesto com a moeda que ele fez no clássico “Scarface”. Na fita ele é morto pelo filho de um antigo rival nos filmes dos anos trinta, Edward Robinson Jr (que não fez carreira). Foi Raft quem deu lições de tango para o comediante Joe E. Brown na cena com Lemmon.”

“Marilyn Monroe faz uma entrada de estrela (na chegada na estação, o trem saltou um vapor assustando-a), fazendo o papel de Sugar Kane (Cana de Açúcar literalmente). Embora ela pudesse estar um pouco gordinha pelos padrões atuais, nunca esteve mais sensual com seu jeito inocente (a cena no trem em que divide seu leito) ou cantando de forma mais agradável (Marilyn canta com sua própria voz). A tal ponto que chega a ser difícil acreditar nos problemas que causou nas filmagens, porque o “timing” das cenas é impecável (inclusive quando resolve seduzir o milionário que se diz impotente).”

“Mas certamente é Jack Lemmon que está excepcional (o tango com Joe E Brown, conhecido no Brasil como o “Boca Larga”, um comediante que andava esquecido e foi resgatado por Wilder, e depois ele tocando as maracas no quarto são obras-primas de farsa). Sem dúvida, uma das grandes comédias do cinema, se não a maior.”

10
CANTANDO na CHUVA
(Singin' in the Rain, 1952)

Direção de Stanley Donen e Gene Kelly
Elenco: Gene Kelly, Donald O'Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Cyd Charisse e Rita Moreno

“Gosto muito porque ele é pura alegria! Existe algo mais maravilhoso, encantador, que faz você cantar e dançar na chuva, como o Gene Kelly. Foi votado pelo American film Institute como o melhor musical de Hollywood. Donald O´Connor ganhou o Globo de Ouro (o filme também foi indicado). Os diretores Stanley Donen e Gene Kelly foram indicados ao Sindicato dos Diretores. E os roteiristas Betty Comden e Adolph Green ganharam no Sindicato dos Roteiristas. Foi indicado ainda ao Oscar de trilha musical (para o pouco famoso Lenny Hayton, uma espécie de arranjador) e atriz coadjuvante, uma contratada da Metro, Jean Hagen, numa das composições humorísticas melhores de toda a história do cinema. Nada que explique sua incrível criação nesse musical! Um fenômeno! Fazendo o papel de Lina Lamont, a parceira de Kelly nos filmes mudos de aventura romântica, mas que tinha uma voz horrível e impossivelmente desafinada.”

limite”

QUAIS são os seus FILMES BRASILEIROS FAVORITOS?

“Esses filmes falam por si mesmos. Cada um, em suas respectivas épocas, foi o melhor produzido e realizado. Todos foram muito premiados e marcaram a nossa história”

01
LIMITE
(1931)

Direção de Mário Peixoto
Elenco: Olga Breno, Tatiana Rey e Raul Schnoor

02
CIDADE de DEUS
(2002)

Direção de Fernando Meirelles
Elenco: Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino, Matheus Nachtergaele, Seu Jorge e Alice Braga

03
TERRA em TRANSE
(1967)

Direção de Glauber Rocha
Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce rocha, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Joffre Soares e Paulo César Pereio

04
O BEIJO da MULHER ARANHA
(1985)

Direção de Hector Babenco
Elenco: William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga, José lewgoy, Milton Gonçalves, Miriam Pires e Wilson Grey

05
CENTRAL do BRASIL
(1998)

Direção de Walter Salles
Elenco: Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra, Othon Bastos e Matheus Nachtergaele

06
BYE BYE BRASIL
(1980)

Direção de Carlos Diegues
Elenco: José Wilker, Betty Faria, Fábio Jr., Zaira Zambelli, Carlos Kroeber, Joffre Soares e Rodolfo Arena

07
SÃO PAULO S.A.
(1965)

Direção de Luís Sergio Person
Elenco: Walmor Chagas, Ana Esmeralda, Eva Wilma, Otelo Zeloni e Darlene Glória

08
O HOMEM do SPUTNIK
(1959)

Direção de Carlos Manga
Elenco: Oscarito, Cyl Farney, Zezé Macedo, Norma Bengell e Fregoletente

09
FLORADAS na SERRA
(1954)

Direção de Luciano Salce
Elenco: Cacilda Becker, Jardel Filho, Ilka Soares, Célia Helena e Rubens de Falco

10
O CANCAGEIRO
(1953)

Direção de Lima Barreto
Elenco: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico e Adoniran Barbosa

clint eastwood em “por um punhado de dólares”
QUAIS são os seus FILMES de WESTERN FAVORITOS?

01
MATAR ou MORRER
(High Noon, 1952)

Direção de Fred Zinnemann
Elenco: Gary Cooper, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado e Grace Kelly

“Se não foi o primeiro, certamente é o mais famoso de um novo tipo de faroeste, o chamado western psicológico, onde a história se tornava mais rebuscada e o bandido podia ter complexos, medos e problemas, deixando de ser mera perseguição de bandidos e mocinhos (ou pele-vermelhas). “Matar ou Morrer” capturou a imaginação do público. Talvez por causa da imagem ideal de Gary Cooper para o gênero, com seu jeito muito norte-americano, taciturno, de poucas palavras e aparência de honesto. E que grande influência teve no gênero. O filme tornou-se uma tensa história de suspense; um homem traído por seus amigos – os mesmo que minutos antes foram festejar seu casamento agora lhe viram as costas – e que tem de enfrentar sozinho três pistoleiros em duelos que se tornariam clássicos.”

02
No TEMPO das DILIGÊNCIAS
(Stagecoach, 1939)

Direção de John Ford
Elenco: John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John Carradine, Thomas Mitchell, George Bancroft e Tim Holt

“Foi graças a Ford que o faroeste ganhou status de arte e grande aventura, não apenas diversão de matinês. Na verdade, Ford já era veterano de faroestes no cinema mudo, quando fez muitos do gênero com seu amigo Harry Carey. Embora esteja em oitavo lugar na lista do AFI (American Film Institute) é um dos melhores faroestes de todos os tempos. Este deve ser sem dúvida o mais importante, o que teve mais influência. Ele tem como maior mérito uma coisa que o tempo não lhe rouba: uma estrutura perfeita, uma narrativa orgânica, equilibrada entre todos os personagens que conseguem marcar sua presença (e até humanizá-los). Não é só ação e tiroteio, mas faz crítica social, mitifica a experiência do sonho de transformação do Oeste sem ser militarista ou populista (como, aliás, Ford era na vida real). Sem dúvida, uma obra-prima.”

03
RASTROS de ÓDIO
(The Searchers, 1956)

Direção de John Ford
Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Vera Miles, Ward Bond e Natalie Wood

“O mestre Ford praticamente deu ao western seu timbre de qualidade em “No Tempo das Diligências”, pois, até então, os filmes do gênero eram fitinhas ‘C’ de complemento de programa e Ford é um dos poucos cineastas de quem se pode dizer: nunca fez um filme ruim. Modesto, simples, objetivo – apresentava-se sempre desta forma: “meu nome é Ford, eu dirijo westerns” – rodando sempre apenas o que ia usar; ele era um mestre da narrativa e do gênero. Parece que Ford tinha consciência de que construía uma elegia ao gênero a partir do plano que abre (e depois fecha o filme). Filmado do interior de uma casa, uma porta se abre mostrando a pradaria e o deserto, o exterior para onde vai a família, percebendo a aproximação de um estranho, que vem a ser Wayne, voltando da Guerra Civil para reencontrar a família.”

“Um filme rodado em Vistavision na paisagem espetacular de Utah que ele (Ford) considerava sua verdadeira região. É um dos poucos westerns que nos envolve emocionalmente, talvez pelo conflito de gerações. (Jeffrey Hunter e seus olhos azuis brilhantes são de impressionante sinceridade e Vera Miles nunca aproveitou a sorte de ser a favorita de Ford e Hitchcock). Talvez pela sua simples humanidade.”

04
MEU ÓDIO SERÁ tua HERANÇA
(The Wild Bunch, 1969)

Direção de Sam Peckinpah
Elenco: William Holden, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Edmond O'Brien, Warren Oates, Ben Johnson e Albert Dekker

“Foi com este faroeste extraordinário que renasceu o gênero. Este filme mostra os heróis do Oeste sem sua áurea santificante e lendária. Eles matam a sangue-frio às vezes para não morrer; às vezes por descuido ou obrigação, raramente por um ideal. É a morte dura e cruel; a inevitabilidade da violência sobrepondo-se às necessidades do espetáculo. Peckinpah situou sua história no fim da conquista do Oeste. Os heróis estão velhos e decadentes, e os caçadores de recompensa os perseguem violentamente. A fuga para o México resolve temporariamente o problema. E é em plena Revolução Mexicana, como em “Os Profissionais”, que os bandidos são contratados para um serviço e, por fim, forçados a tomar uma posição ética.”

“A grande curiosidade é que apesar do filme ser o faroeste mais violento até então feito, a violência nunca é gratuita. Peckinpah mostra simplesmente como ela existia no Oeste. E morte com os detalhes verdadeiros: a surpresa, a podridão e a falta de razões. E um elemento discutível: a visão que o diretor dá aos mexicanos é extremamente folclórica, como se eles fossem nativos das ilhas do Sul – só falta dançarem o hula-hula. A caricatura fica assim muito carregada com o coronel mexicano, feito pelo famoso diretor Emílio Fernández. Mas depois do massacre do início, o ritmo decai, faz-se uma pausa até que as cenas fiquem realmente emocionantes: o mexicano matando - ao som de um palavrão – sua ex-amante, a explosão da ponte e o grande massacre final.”

05
TRILOGIA dos DÓLARES:
POR um PUNHADO de DÓLARES
(Per um Pugno di Dollari, 1964)
POR uns DÓLARES a MAIS
(Per Qualche Dollaro in Più, 1965)
TRÊS HOMENS em CONFLITO
(Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966)

Direção de Sergio Leone
Elenco: Clint Eastwood, Gian Maria Volontè e Marianne Koch

“Com três filmes, o diretor italiano revolucionou o gênero no começo dos anos 60 (deixando de ser realista e psicológico, voltando à ação e fantasia, imitando Kurosawa e utilizando brilhantemente a trilha musical de Ennio Morricone). Clint virou o novo Cooper nesses três faroestes. Leone fez ainda outro clássico: “Era uma Vez no Oeste”. Foi um sucesso mundial e lançou o novo gênero chamado Spaghetti-Western (um nome pejorativo que virou afetuoso). Ninguém sabia na época que faziam uma obra-prima de virtuosismo narrativo, muito ajudado pela trilha musical hoje clássica.”.

06
ONDE COMEÇA o INFERNO
(Rio Bravo, 1959)

Direção de Howard Hawks
Elenco: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan e Ward Bond

“Faroeste clássico, que lançou como estrela Angie Dickinson (embora já fosse veterana de vários filmes) num papel forte, lembrando outras heroínas do diretor (com frases de duplo sentido), foi várias vezes imitado e até refeito pelo próprio diretor. Um pouco longo, até lento, episódico e superestimado, tem interlúdio musical (para os dois cantores fazerem dueto em duas canções), mexicanos caricatos, mas há muito  que compensar. A sequência de introdução é um primor de clareza: Dean Martin como bêbado vai se humilhar, quando é  impedido pelo xerife Wayne, que é atacado pelo desordeiro Akins, que por sua vez mata um inocente desencadeando o conflito. Dean é melhor ator do que as pessoas lembram  e a interação entre os protagonistas funciona, até mesmo com o cantor de rock da época Ricky Nelson (que não fez carreira como ator e morreu em acidente de aviação em 1985, aos 45 anos).”

07
CONSCIÊNCIAS MORTAS
(The Ox-Bow Incident, 1943)

Direção de William A. Wellman
Elenco: Henry Fonda, Dana Andrews, Mary Beth Hughes, Anthony Quinn, William Eythe e Jane Darwell

“Depois de ter sido rejeitado por todos os estúdios como história, o diretor Wellman comprou os direitos para o livro de Walter Van Tilburg Clark (a única vez que pôs dinheiro dele num projeto). Em plena 2.ª Guerra Mundial querer fazer um filme sobre enforcamento de brancos era uma ousadia. Os críticos gostam muito (Melhor Filme do National Board of Review, Ator e Ator Coadjuvante) depois é indicado ao Oscar de Melhor Filme (mas nenhum outro). É preciso não esquecer que era uma época em que nos faroestes tudo era otimista e com música (Gene Autry e Roy Rogers) nada realistas e o filme era uma surpresa e realista. Na verdade, até hoje ainda é pouco conhecido (Fonda o considera o ponto alto de sua carreira e logo depois foi lutar na guerra). Discutindo linchamento e justiça, histeria coletiva, comportamento de grupo, direito, religião. O título se refere ao lugar onde se realiza o pseudojulgamento. É uma obra-prima praticamente desconhecida, também uma boa ocasião para fazer justiça ao grande diretor Wellman (1896 - 1965).”

08
OS BRUTOS TAMBÉM AMAM
(Shane, 1953)

Direção de George Stevens
Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Brandon De Wilde, Jack Palance e Ben Johnson

“Certamente há faroestes com mais ação, maior aprofundamento psicológico, mas nenhum é mais bonito, mais bem cuidado pictoricamente do que “Shane”. Cada plano é um primor de enquadramento, composição, equilíbrio, como se Stevens tivesse passado dias esperando pela nuvem perfeita para aquele momento (e é provável que tenha feito isso mesmo). Concebido como uma alegoria entre o Bem e o Mal é extremamente rigoroso e até acadêmico. Nada fora do lugar, tudo perfeitinho. O personagem central se tornou realmente exemplar: o sujeito que veio do nada, obviamente com um passado conturbado de pistoleiro (que nunca é desvendado), une-se por amizade ao garoto Joey (Brandon De Wilde, numa das interpretações mais sinceras e tocantes de um menino no cinema). O bom homem Shane é loiro, usa roupas claras; o pistoleiro Palance usa roupas escuras, está sempre de negro. Parece que a intenção do diretor é fazer uma elegia ao gênero e ao mito do western de forma lírica e nostálgica, muito ajudado por uma trilha musical emblemática de Victor Young, simbolizada principalmente pela idealização que o garoto faz do heróis Shane (Come back... Shane!)”

09
O HOMEM que MATOU o FACÍNORA
(The Man Who Shot Liberty Valance, 1962)

Direção de John Ford
Elenco: James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin, Edmond O’Brien e Andy Devine

“Um dos filmes mais famosos do mestre John Ford, nem por isso sua obra-prima. Há problemas dos que super-representam, descontrolados (como Edmond O’Brien, que faz o jornalista), tanto Wayne quanto Stewart estão velhos demais para os personagens (em particular Stewart, que usa perucas ridículas e maquiagem excessiva), humor inapropriado, uma produção excessivamente modesta. Tem pouca ação, mas nada justifica ter sido feito em preto e branco (numa época em que isso já não se usava e com uma foto medíocre). Até mesmo Lee Marvin repete seus trejeitos no papel do bandido-título.”

10
SETE HOMENS e um DESTINO
(The Magnificent Seven, 1960)

Direção de John Sturges
Elenco: Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, James Coburn e Vladimir Sokoloff

“Perfeita adaptação para o faroeste do clássico “Os Sete Samurais”, de Kurosawa. Eles agora são pistoleiros contratados por um povoado mexicano para lutar contra os bandidos. Filme famoso pela trilha musical de Elmer Bernstein e o fato de que muitos do elenco de apoio viraram astros. Yul Brynner em seu melhor momento seguido por Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn e Robert Vaughn.”

QUAL o seu DIRETOR, ATOR e ATRIZ FAVORITOS?

DIRETORES

AKIRA KUROSAWA
(1910 – 1998. Shinagawa, Tóquio, Japão)

Dois filmes: “Rashomon” (1950) e “Ran” (1985)

“Universalmente admirado e idolatrado como um mestre. Uma revisão de sua obra confirma seu status de um cineasta irretocável. Um grande artista. Seu sentido plástico, sua direção de atores, sua mise-em-scène perfeita, sua montagem rigorosa, tudo isto o consagra como um grande cuineasta.”

BILLY WILDER
(1906 – 2002. Sucha, Áustria)

Dois filmes: “Pacto de Sangue” (1944) e “Crepúsculo dos Deuses” (1950)

“Cínico, mordaz, sofisticado, à vontade na comédia e no drama. Seus filmes resistiram ao tempo e se tornaram clássicos. Excelente diretor de atores, conseguiu revelar a verdadeira atriz em Marlene Dietrich e fornecer Oscars a galãs ou vilões desacretidatos.”

FEDERICO FELLINI
(1920 – 1993. Rimini, Itália)

Dois filmes: “A Doce Vida” (1960) e “Amarcord” 91973)

“Um dos maiores gênios do cinema. Ninguém como ele conseguiu criar um universo tão rico, tão particular. Como um pintor, o seu tema é sempre o mesmo, autobiográfico, mas mostrado de forma diferente, recriado.”

ORSON WELLES
(1915 – 1985. Kenosha, Wisconsin, EUA)

Dois filmes: “A Dama de Shanghai” (1947) e “A Marca da Maldade” (1958)

“Deixou uma marca profunda logo no seu filme de estreia, sempre votado como o filme mais importante de todos os tempos pela crítica mundial. Sem sorte, seus vários planos e projetos permaneceram inacabados.”

STANLEY KUBRICK
(1928 – 1999. Nova York, EUA)

Dois filmes: “Lolita” (1962) e “Barry Lyndon” (1975)

“Foi o mais sério e importante cineasta norte-americano da década de 60. Fixado na Inglaterra, tinha carta branca para trabalhar nos projetos que mais lhe interessavam, com liberdade absoluta e total. O melhor que se pode dizer dele é que continuou fiel a si mesmo.”

ATORES

GARY COOPER
(1901 – 1961. Helena, Montana, EUA)

Dois filmes: 
“O Galante Mr. Deeds” (1936) e “Por Quem os Sinos Dobram” (1943)

HUMPHREY BOGART
(1899 – 1957. Nova Iorque, EUA)

Dois filmes: 
“Casablanca” (1942) e “Uma Aventura na África” (1951)

MARCELO MASTROIANNI
(1924 – 1996. Lazio, Itália)

Dois filmes: 
“A Doce Vida” (1960) e “Ciúme à Italiana” (1970)

PAULO JOSÉ
(1937. Lavras do Sul, Rio Grande do Sul)

Dois filmes: 
“O Padre e a Moça” (1966) e “Todas as Mulheres do Mundo” (1966)

SEAN CONNERY
(1930. Edimburgo, Escócia)

Dois filmes: 
“O Homem que Queria ser Rei” (1975) e “Os Intocáveis” (1987)

YVES MONTAND
(1921 – 1991. Monsummano Terme, Toscana, Itália)

Dois filmes: 
“O Salário do Medo” (1953) e “Z” (1969)

ATRIZES

ANNA MAGNANI
(1908 – 1973. Roma,  Itália)

Dois filmes: 
“Fúria da Carne” (1957) e “Mamma Roma” (1962)

ANECY ROCHA
(1942 – 1978. Vitória da Conquista, Bahia)

Dois filmes: 
“A Grande Cidade” (1966) e “A Lira do Delírio” (1978)

BETTE DAVIS
(1908 – 1989. Lowell, Massachusetts, EUA)

Dois filmes: 
“Jezebel” (1938) e “A Malvada” (1950)

DEBBIE REYNOLDS
(1932 – 2016. El Paso, Texas, EUA)

Dois filmes: 
“Cantando na Chuva” (1952) e “A Flor do Pântano” (1957)

GLAUCE ROCHA
(1930 – 1971. Campo Grande, Mato Grosso do Sul)

Dois filmes: 
“Os Cafajestes” (1962) e “Terra em Transe” (1967)

INGRID BERGMAN
(1915 – 1982. Estocolmo, Suécia)

Dois filmes: 
“À Meia-Luz” (1944) e “Sonata de Outono” (1978)

MARÍLIA PERA
(1943 – 2015. Rio de Janeiro, RJ)

Dois filmes: 
“Pixote, a Lei do mais Fraco” (1980) e “Central do Brasil” (1998)

ROMY SCHNEIDER
(1938 – 1982. Viena, Áustria)

Dois filmes: 
“As Coisas da Vida” (1970) e “Uma História Simples” (1978)

VANESSA REDGRAVE
(1937. Greenwich, Reino Unido)

Dois filmes: 
“Isadora” (1968) e “Júlia” (1977)

deborah kerr em “os inocentes”

PING-PONG com EWALD FILHO

Um filme que marcou a sua infância:

“Quando Canta o Coração / Two Weeks With Love” (1950). “Foi quando me apaixonei por Debbie Reynolds.”

Um filme que te deixou com medo:

“Os Inocentes / The Innocents (1961). “Deu arrepios para valer.”

Um filme que te fez chorar:

“O Barco das Ilusões / Show Boat (1951). “Um musical belo, por sinal.”

Um clássico que você não gosta:

“Tem alguns cineastas que considero superestimados. Jean Renoir acho um chato. Roberto Rosselini era outro.”

Um documentário inesquecível:

“Noite e Neblina / Nuit et brouillard (1956). “Uma obra-prima.”