É considerado o maior ator da Itália e um dos melhores de
todos os tempos. MARCELLO MASTROIANNI (Fontana Liri, Itália. 1924 - 1996) tinha
a alcunha de latin lover -
que ele achava ridículo. De imenso êxito internacional durante cinco décadas, o
mito se traduz em um olhar manso, encanto pessoal e elegância sutil. A virtude
destas características aliada a uma bem medida dose de meiguice, hipnotizava a plateia. Ator fetiche de cineastas geniais como Federico Fellini e Vittorio De Sica,
começou fazendo figuração, em 1939. Depois de um breve romance com a então desconhecida Silvana
Mangano, aconteceu a estreia no cinema em 1948, como um
revolucionário em “Os Miseráveis – Tempestade em Paris / I Miserabili”, de
Riccardo Freda, adaptação do livro de Victor Hugo estrelada por
Valentina Cortese e Gino Cervi.
Nesta época, depois de pequenas participações na ribalta, foi
contratado para a companhia teatral de Luchino Visconti, destacando-se em 1949
como Mitch em “Um Bonde Chamado Desejo”, de Tennessee Williams. Nos bastidores
conheceu Flora Carabella, que interpretava um papel menor na peça. Os dois se
casaram em 1950 e tiveram uma filha, Barbara. Depois de interpretar diversos
papéis em comédias, apresentou-se no drama “Um Rosto na Noite / La Notti
Bianche” (1957), de Luchino Visconti, baseado no conto de Dostoievski, onde interpreta
um jovem apaixonado por uma garota misteriosa (a sensacional alemã Maria
Schell).
A afirmação definitiva do seu talento chegou com a comédia “Os
Eternos Desconhecidos / I Soliti Ignoti” (1958), “A Doce Vida” (1960) - no auge
da beleza e do charme – e “A Noite” (1961), de Michelangelo Antonioni. Com
“Divórcio à Italiana” (1961) ganhou sua primeira indicação ao Oscar de Melhor
Ator. As duas obras-primas de Federico Fellini, “A Doce Vida” e “Fellini 8½”
(1963), proporcionaram-lhe reconhecimento mundial. Rejeitando o rótulo de sex symbol, interpretou um impotente em “O Belo Antônio” (1960). Em 1962, a revista “Time”
designou-o como o ator estrangeiro mais admirado nos Estados Unidos. O fascínio
não vinha apenas da beleza viril e das interpretações impecáveis, mas também de
um certo descaso, às vezes discreto, em que parecia revelar melancolia e, por
vezes, timidez.
Sob a direção de Vittorio De Sica e com Sophia Loren como
parceira, MARCELLO MASTROIANNI atuou em sucessos retumbantes: “Ontem, Hoje e
Amanhã / Ieri, Oggi, Domani” (1963), “Matrimonio à Italiana” (1964) e “Os
Girassóis da Rússia” (1970). Foi uma das duplas mais bem sucedidas
do cinema, desdobrando-se em filmes memoráveis, culminando com o clássico
“Um Dia Muito Especial” (1977), onde interpreta um dos seus personagens mais notáveis,
um radialista homossexual assediado por uma vizinha carente interpretada com fulgor por Sophia. Em 1966, por cerca de três meses, fez Rodolfo Valentino na comédia musical “Ciao,
Rudy”. Cantava e dançava todas as noites tentando superar a reputação de
preguiçoso.
Em 1968, filmou “Um Lugar para os Amantes / Amanti”, novamente sob
a direção de Vittorio De Sica. Durante as filmagens teve um romance muito
comentado com Faye Dunaway, embora continuasse casado. Arriscou-se também em
alguns filmes em língua inglesa, mas diferente de Sophia Loren, que fala um
inglês perfeito, ele tinha dificuldades com o idioma, limitando sua atuação em
Hollywood. Ao filmar “Liza / idem”, em 1972, conheceu Catherine Deneuve, com a
qual teve um longo relacionamento, e do qual nasceu Chiara. No ano seguinte,
mudou-se para Paris, trabalhando em inúmeros filmes franceses. Retornando à
Itália, continuou filmando com excelentes diretores, ganhando duas vezes o
prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes: em 1970 por “Ciúme à Italiana” e,
em 1987, por “Olhos Negros / Oci Ciornie”, interpretando um homem de meia idade
que viaja pela Europa atrás de uma grande paixão, vivenciando situações
antológicas e mantendo uma vida dupla com a mulher e a amante.
Seria complicado listar as melhores atuações de MARCELLO
MASTROIANNI, pois protagonizou mais de 140 filmes, quase sempre com encanto e
perícia, trabalhou com excepcionais diretores (Valerio Zurlini, Mario
Monicelli, Ettore Scola, Elio Petri, Marco Ferreri, os irmãos Taviani,
Polanski, Bellocchio, Angelopoulos, Altman etc.) e interpretou papéis que
abarcam uma abundância de tipos sociais, numa versatilidade de difícil comparação. Fez o impotente de “Casanova 70 / Casanova’70” (1965), que
só consegue manter relações sexuais quando exposto a altos riscos; o grotesco
playboy de “A Comilança / La Grande Bouffe” (1973), que sustenta a atmosfera
sedutora, apesar das alegorias de anti-galã; o medonho e maquiado Casanova de
“Casanova e a Revolução” (1982), que tem sua voluptuosidade latente ainda na
velhice; o decadente dançarino de “Ginger e Fred / idem” (1986); o simpático
idoso de “Estamos Todos Bem / Stanno Tutti Bene” (1990) etc.
Do diretor brasileiro Bruno Barreto, ele fez “Gabriela, Cravo
e Canela”, com Sonia Braga, em 1983, no papel do turco Nacif, criação de
Jorge Amado. Em 1996, descobriu um câncer de pâncreas, mas continuou
trabalhando no seu derradeiro filme, “Viagem ao Princípio do Mundo” (1997), do
português Manoel de Oliveira, interpretando um nostálgico diretor de cinema, e
nos intervalos gravou um belo documentário sobre sua vida (“Mi Ricordo, sì… Mi
Ricordo”, direção de Annamaria Tatò, sua companheira), considerado por muitos o
seu testamento espiritual. O ator morreu aos 72 anos, em
Paris. Catherine Deneuve estava ao seu lado.
Em mais de 50 anos de carreira, ele manteve um magnetismo viril e
uma porção exata de inocência, sua singularidade em relação aos demais atores
na arte de interpretar. Dentro do burlesco ou sem o recurso da sensualidade, o
ator também construiu tipos encantadores. Até em personagens em que a repulsa é
a reação mais esperada do público, o olhar amigável e a expressão fraterna
modificam a percepção de quem está acomodado na poltrona. Este truque é típico
nas performances do italiano, sendo um contraponto aos atores hollywoodianos. Não é à toa que MARCELLO MASTROIANNI nunca cobiçou a indústria cinematográfica
norte-americana.
15 FILMES de MASTROIANNI
(por ordem de preferência)
01
A DOCE VIDA
direção de Federico Fellini
elenco: Anita Ekberg, Anouk
Aimée, Yvonne Furneaux,
Magali Noël, Alain Cuny, Laura Betti,
Lex Barker e Jacques Sernas
Magali Noël, Alain Cuny, Laura Betti,
Lex Barker e Jacques Sernas
02
Um DIA MUITO ESPECIAL
direção de Ettore Scola
elenco: Sophia Loren e John Vernon
03
A NOITE
direção de Michelangelo Antonioni
elenco: Jeanne Moreau, Monica Vitti e Bernhard
Wicki
04
FELLINI OITO e MEIO
direção de Federico Fellini
elenco: Anouk Aimée, Claudia Cardinale, Sandra Milo
e Barbara Steele
05
O BELO ANTONIO
direção de Mauro Bolognini
elenco: Claudia Cardinale, Pierre Brasseur, Rina Morelli
e Tomas Milian
06
direção de Ettore Scola
elenco: Monica Vitti, Giancarlo Giannini e Marisa Merlini
07
DIVÓRCIO à ITALIANA
direção de Pietro Germi
elenco: Daniela Rocca, Stefania Sandrelli, Leopoldo Trieste
e Lando Buzzanca
e Lando Buzzanca
08
MATRIMÔNIO à ITALIANA
direção de Vittorio De Sica
elenco: Tecla Scarano e Marilù Tolo
09
DOIS DESTINOS
direção de Valerio Zurlini
elenco: Jacques Perrin, Sylvie, Salvo Randone,
Valeria Ciangottini e Serena Vergano
Valeria Ciangottini e Serena Vergano
10
CASANOVA e a REVOLUÇÃO
direção de Ettore Scola
elenco: Hanna Schygulla, Harvey Keitel, Jean-Claude
Brialy,
Andréa Ferréol, Laura Betti e Daniel Gélin
Andréa Ferréol, Laura Betti e Daniel Gélin
11
Os COMPANHEIROS
direção de Mario Monicelli
elenco: Renato Salvatori, Folco Lulli, Bernard Blier,
Raffaella Carrà, François Périer e Annie Girardot
Raffaella Carrà, François Périer e Annie Girardot
12
ALLONSANFANT
direção de Paolo e Vittorio Taviani
elenco: Lea Massari, Mimsy Farmer e Laura Betti
13
O TERRAÇO
direção de Ettore Scola
elenco: Vittorio
Gassman, Ugo Tognazzi, Jean-Louis Trintignant,
Stefania Sandrelli, Carla Gravina e Serge Reggiani
Stefania Sandrelli, Carla Gravina e Serge Reggiani
14
Os GIRASSÓIS da RÚSSIA
direção de Vittorio De Sica
elenco: Sophia Loren
15
VIDA PRIVADA
direção de Louis Malle
elenco: Brigitte Bardot
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