Finalmente terminei minha lista dos MELHORES FILMES lançados nos cinemas brasileiros em 2010. Foi uma tarefa árdua, não pela imensidão de excelentes obras, muito pelo contrário, mas pela dificuldade de encontrar dez deles convincentes e capazes de figurar numa lista dos melhores do ano. Ainda mais porque as coqueluches do momento não raro se revelam atraentes, superficiais e esquecíveis, caso do arrasa-quarteirão “A Rede Social” ou da comédia previsível “Minhas Mães e Meus Pais” (sustentada principalmente no talento de Annette Bening). No ano passado, o lendário Clint Eastwood decepcionou com “Invictus”, Polanski não surpreendeu com o sem fôlego “O Escritor Fantasma” e Woody Allen não trouxe nada de novo com “Você Vai Conhecer o Homem de Seus Sonhos” e “Tudo Pode Acontecer”. Como cinéfilo, compreendo que um novo filme de Allen é sempre um privilégio e que ele se reinventa no mesmo, mas desde o charmoso e tenso “Match Point – Ponto Final”, um thriller de 2005 com a abominável Scarlett Johansson como protagonista, que não me encanto com nenhum filme de sua lavra. “Toy Story 3” e “Tropa de Elite 2”, dois grandes sucessos de bilheterias, são ousados, bem feitinhos e merecem ser vistos – ficando por aí. “A Estrada” despontou como um título cheio de possibilidades, mas é por demais pesado, sombrio. O evidente é que 2010 foi um ano fraco para o cinema. Ainda assim, fiz um balanço do que foi visto nos cinemas brasileiros, concluindo que não se pode confiar no julgamento dos críticos, que têm errado ao premiar banalidades. E o pior, muitas vezes seguidos pelo público nesses equívocos. Sem mais, vamos à lista, em ordem de mérito:
VENCER
(Vincere)
Itália e França
direção de Marco Bellocchio
(Vincere)
Itália e França
direção de Marco Bellocchio
Entre o melodrama e o épico histórico, a reconstrução da juventude do sórdido líder fascista Benito Mussolini (Felippo Timi). A história, revelada em livro há pouco tempo, destaca a primeira mulher (Giovanna Mezzogiorno) do futuro ditador. Rejeitada pelo marido quando ele alcança o poder, passa a persegui-lo e ele termina por interná-la num sanatório. Bellocchio reafirma sua vitalidade, enquanto Mezzogiorno – atualmente a melhor atriz do cinema italiano - nos brinda com uma poderosa performance.
02
A ILHA do MEDO
(Shutter Island)
EUA
direção de Martin Scorsese
(Shutter Island)
EUA
direção de Martin Scorsese
Desconforto e apreensão numa aula de cinema. Dois delegados federais chegam até uma prisão isolada numa ilha, que funciona como sanatório para doentes mentais, atrás de um fugitivo que teria escapado do lugar. Suspense sombrio com um elenco impecável, reforçando o cinema grandioso e versátil do mestre Scorsese.
A FITA BRANCA
(Das Weisse Band)
Alemanha, Áustria, França e Itália
direção de Michael Haneke
(Das Weisse Band)
Alemanha, Áustria, França e Itália
direção de Michael Haneke
Palma de Ouro no Festival de Cannes, austero e insólito, reflete sobre as origens do nazismo numa sociedade rígida, preconceituosa e extremamente rigorosa nos seus códigos educacionais. A ação se passa pouco antes da Primeira Guerra Mundial, numa aldeia alemã protestante, onde crianças e adolescentes são vítimas de estranhos incidentes que tomam a forma de um ritual punitivo. Destaque para a fotografia claustrofóbica em preto e branco de Christian Beger.
04
BAARIA – A PORTA do VENTO
(Baaria)
Itália e França
direção de Giuseppe Tornatore
(Baaria)
Itália e França
direção de Giuseppe Tornatore
Saga poética e nostálgica, embalada pela bonita trilha de Ennio Morricone, onde Tornatore recorda-se da juventude numa região siciliana, através do acompanhamento de seu personagem alter-ego desde os anos 30. Resulta em um painel admirável sobre quatro décadas da história italiana.
Um HOMEM SÉRIO
(A Serious Man)
EUA, Inglaterra e França
direção de Ethan e Joel Coen
(A Serious Man)
EUA, Inglaterra e França
direção de Ethan e Joel Coen
Uma história em que o tom cômico anda de mãos dadas com a gravidade. Densos e espirituosos, céticos e cinicos, os irmãos Coen mais uma vez traduzem a crise do homem comum, da família e da própria nação norte-americana. Como sempre, sem qualquer tipo de pregação ou conclusão moral. Sobra talento.
EDUCAÇÃO
(An Education)
Inglaterra e EUA
direção de Lone Scherfig
(An Education)
Inglaterra e EUA
direção de Lone Scherfig
Com roteiro firme do escritor inglês Nick Hornby e atuação certeira da novata Carey Mulligan, o filme é cativante, exaltando o charme da Inglaterra da década de 1960. Conta como uma estudante brilhante, que tem pressa de viver a vida adulta, conhece um homem elegante e mais velho, modificando irresponsavelmente o seu cotidiano.
07
DIREITO de AMAR
(A Single Man)
EUA
direção de Tom Ford
(A Single Man)
EUA
direção de Tom Ford
O título nacional estúpido felizmente não compromete este longa elegante e delicado, baseado em um romance do ótimo e esquecido britânico Christopher Isherwood, que causou polêmica ao ser lançado, em 1964. Tudo acontece num dia de um professor universitário, homossexual, que se vê no limite da sua vida com a morte do companheiro, com quem viveu por 16 anos. Colin Firth brinda o público com uma comovente atuação.
08
A ORIGEM
(Inception)
EUA e Inglaterra
direção de Christopher Nolan
EUA e Inglaterra
direção de Christopher Nolan
O inglês Nolan acerta outra vez nesta inovadora criação sobre como viajar no cérebro das pessoas para inserir sonhos ou capturá-los. Com um elenco de peso, tendo o excelente Leonardo DiCaprio como pilar, une entretenimento e reflexão. Um pouco confuso, é certo, mas plenamente vigoroso.
O SEGREDO dos seus OLHOS
(El Secreto de sus Ojos)
Argentina e Espanha
direção de Juan José Campanella
(El Secreto de sus Ojos)
Argentina e Espanha
direção de Juan José Campanella
O filme mais visto desde sempre no seu país de origem, conquistou o Oscar de Melhor Produção Estrangeira. Romântico e político, esse suspense policial reafirma o talento do novo cinema argentino. Fala de um ex-funcionário público que resolve escrever um livro quando se aposenta. O tema que ele escolhe para o seu livro é um caso criminal que mais marcou a sua carreira. Carismática presença em cena de Ricardo Darín.
10
O MUNDO IMAGINÁRIO do DR. PARNASSUS
(The Imaginarium of Doctor Parnassus)
Inglaterra, Canadá e França
direção de Terry Gilliam
(The Imaginarium of Doctor Parnassus)
Inglaterra, Canadá e França
direção de Terry Gilliam
Surrealismo e deslumbre visual nesta delirante epopéia cinematográfica. Filme-sonho, de devaneios sinistros, uma viagem ao criativo subconsciente de seu criador Terry Gilliam, marcado pelo refinamento e humor ácido, e contrariando a lógica do cinema atual.
MENÇÃO HONROSA
MINHA TERRA ÁFRICA
(White Material)
França e Camarões
direção de Claire Denis
MINHA TERRA ÁFRICA
(White Material)
França e Camarões
direção de Claire Denis
Praticamente desconhecida no Brasil, a cineasta Claire Denis trata aqui dos fantasmas da colonização francesa em um país africano, onde uma fazendeira branca (soberba Isabelle Huppert) labuta para colher café em meio a uma guerra civil que ameaça dizimar sua família. Nada didático ou panfletário, já que o cinema da autora está mais interessado em transmitir uma experiência do que em explicar uma realidade.