março 07, 2020

***** EMIL JANNINGS: RETRATO de um ATOR NAZISTA



Altura: 1,83 m
Cabelos: castanhos


Ele foi um dos atores mais importantes do cinema mudo, desfrutando de um enorme sucesso internacional, antes de emprestar seus serviços ao Terceiro Reich. Durante muitos anos EMIL JANNINGS (1884 – 1950. Rorschach, Suíça) foi considerado o maior ator europeu, além de ser um dos mais bem pagos de sua época. Expressando magnificamente os medos e dúvidas de homens orgulhosos e de bom coração que são enganados. Foi premiado com o primeiro Oscar de Melhor Ator em 1927-1928.

Seu pai, um empresário norte-americano bem-sucedido, morreu precocemente quando o futuro ator era criança. Mudou-se com a mãe para Leipzig e depois para Görlitz, no extremo leste da Alemanha. Aos 16 anos fugiu de casa para se tornar marinheiro, mas rapidamente decidiu que queria ser ator. Sua primeira chance aconteceu quando ingressou na companhia de teatro do lendário Max Reinhardt, em Berlim, 1906. Terminaria se estabelecendo como um dos maiores talentos da indústria cinematográfica, estrelando filmes aclamados como “A Última Gargalhada” (1924) - que Alfred Hitchcock descreveu como “um filme quase perfeito”.  
 
emil e sua esposa gussy holl
Ao assinar contrato com a produtora UFA, brilhou em “Os Olhos da Múmia” (1918) e “Madame DuBarry” (1919), ambos com a estrela Pola Negri. Em 1925 interpretou o imperador Nero na fascinante superprodução ítalo-alemã “Quo Vadis?”, filmada em Roma com um elenco internacional, incluindo Lilian Hall-Davis, Alphons Fryland e Rina de Liguoro. Corpulento, projetando uma presença enorme na tela, EMIL JANNINGS era a figura trágica ideal. Graças ao sucesso na Europa, a Paramount Pictures contratou-o por três anos, apesar dos seus ataques histéricos e da fama de roubar a cena dos colegas. O contrato lucrativo incluía controle sobre roteiros, papéis e escolha de diretores.

Nos EUA fez seis filmes mudos, alguns perdidos para sempre.  Instalou-se com a esposa Gussy Holl na Hollywood Boulevard, em uma suntuosa réplica de uma mansão sulina, onde viveu cercado de cachorros da raça Chow, papagaios e pássaros. Era um anfitrião divertido, com sua ironia mordaz, brincadeiras eróticas e excessos gastronômicos. Adaptou-se facilmente ao turbilhão social de Hollywood - há fotos dele na intimidade com Greta Garbo de maiô -, mas para alguns era um tirano mal-humorado. Evelyn Brent, sua parceira em A Última Ordem” (1928), disse que ele era temperamental e mimado: “Podia ficar aborrecido com coisas insignificantes”. No entanto, a atriz reconhece que era “um ator esplêndido”.
 
evelyn brent e emil
Em um artigo de abril de 1929, no “Los Angeles Times”, o crítico de cinema Edwin Schallert descreveu-o como “o rei das estrelas do cinema europeu”. Na época, por interpretar um grão-duque em A Última Ordem” e um funcionário do banco em “Tortura da Carne” (1928), venceu o Oscar de Melhor Ator. Com o cinema falado, seu forte sotaque germânico foi rejeitado e ele regressou à Alemanha, onde imediatamente protagonizaria o excelente “O Anjo Azul” (1930), ao lado de Marlene Dietrich, ganhando aplausos por interpretar um professor idoso que é destruído por sua paixão pela cantora de cabaré Lola-Lola. A diva Dietrich, no entanto, o odiava e costumava chamá-lo de “presunto velho”.

Em março de 1933, quando Adolf Hitler assumiu o controle da Alemanha, Joseph Goebbels foi nomeado ministro da Propaganda do Reich. Ele escolheu EMIL JANNINGS como o ator emblemático do regime nazista e seu veículo propagandístico oficial. O primeiro filme desta união bizarra foi “Alma Mascarada / Der Alte und der Junge König - Friedrichs des Grossen Jugend”, de 1935, no qual retrata o rei prussiano Friedrich Wilhelm I, numa cinebiografia histórica destinada a exaltar o Führerprinzip, um conceito de obediência cega ao líder. 
 
emil e o oscar
Embora não fosse membro do partido, o ator era um defensor entusiástico da ideologia nazista. Autorizado a ter total controle sobre seus próprios filmes, foi o principal responsável por Ohm Kruger (1941), um dos longas mais caros da era nazista. O diretor Veit Harlan, que passou a ter grande conceito com Goebbels ao se divorciar da atriz judia Dora Gerson (morta em Auschwitz, em 1943, com toda sua família), foi escolhido para dirigir EMIL JANNINGS em “Crepúsculo / Der Herrscher”, de 1937. O filme agradou ao Führer e os laços estreitos entre ator e ditador foram selados quando ele fez campanha para Hitler nas eleições de 1938.

A Tobis Films, então nas mãos do governo, tinha EMIL JANNINGS como membro do conselho, além dos celebrados Willi Forst e Gustaf Gründgens. Em 1941, o ator foi agraciado como Artista do Estado (Staatsschauspieler), a maior honraria alemã concedida a um artista. Também recebeu o “Anel de Honra do Cinema Alemão”. Anos antes, em 1937, por “Crepúsculo”, venceria a Taça Volpi de Melhor Ator no Festival de Cinema de Veneza. Sua demonstração de lealdade ao nazismo rendeu um estilo de vida luxuoso e grande sucesso na sua carreira.
 
greta garbo, emil e gussy holl
Fritz Hippler, que pilotava o departamento de cinema do Ministério da Propaganda e dirigiu o anti-semita “O Eterno Judeu / Der Ewige Jude (1940), publicou o livro “Contemplations on Filmmaking” em 1942, tendo EMIL JANNINGS como autor do prefácio. O historiador Frank Noack, que escreveu sua biografia em 2012, diz que a mãe russa dele, que morava em Berlim, tinha origem judaica. Ele especula que manter a mãe segura foi fundamental em trabalhar para os nazistas.

No final da II Grande Guerra, quando as tropas aliadas tomaram Berlim, o ator mostrou sua estatueta, gritando: “Não atire, eu venci um Oscar!”. Não foi preso, mas sua reputação estava em frangalhos. Oficiais militares britânicos que o interrogaram rejeitaram as alegações de que havia trabalhado com relutância para o regime nazista. As filmagens do seu último filme, “Wo ist Herr Belling?” (1945), foram interrompidas e ele oficialmente proibido de fazer outro filme ou atuar no teatro. O homem que foi considerado o maior ator do mundo nunca mais trabalhou.
 
joseph goebbels e emil jannings
Passou a morar numa fazenda na Áustria, onde foi entrevistado pelo jornal novaiorquino “The Rochester Democrat and Chronicle”. A entrevista foi realizada pelo escritor Klaus Mann e publicada em 1945. Quando Mann perguntou sobre seu envolvimento com os nazistas, ele respondeu: “Resistência aberta significaria um campo de concentração”, garantindo que foi ordenado por Goebbels para fazer os filmes de propaganda. Em sua autobiografia “Life and Me”, de 1951, praticamente ignora sua conexão nazista.  

Os últimos dias de vida foram dolorosos. Convertido ao catolicismo, nada parecia lhe trazer paz. Passou a beber muito, falecendo de câncer de fígado em 1950, aos 65 anos. “Ele morreu sozinho, amargo e em desgraça”, disse seu biógrafo. EMIL JANNINGS foi casado com as atrizes Hanna Ralph, Lucie Höflich e Gussy Holl. Todos os casamentos terminaram em divórcio. No seu túmulo está escrito: “Tudo termina, as alegrias e as infinitas tristezas”. Seu Oscar está no Museu de Cinema de Berlim. Em 1960 foi homenageado com uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

emil jannings em “a última gargalhada”

18 FILMES de EMIL JANNINGS
(por ordem de preferência)

01
A ÚLTIMA GARGALHADA
(Der Letzte Mann, 1924)

Direção de F. W. Murnau
Elenco: Maly Delschaft

02
FAUSTO
(Faust: Eine Deutsche Volkssage, 1926)

Direção de F. W. Murnau
Elenco: Gösta Ekman e Camilla Horn

03
O ANJO AZUL
(Der Blaue Engel, 1930)

Direção de Josef von Sternberg
Elenco: Marlene Dietrich

04
QUO VADIS?
(Idem, 1925)

Direção de Gabriellino D'Annunzio e Georg Jacoby
Elenco: Elena Sangro, Rina De Liguoro, Lillian Hall-Davis e Andrea Habay

05
A ÚLTIMA ORDEM
(The Last Command, 1928)

Direção de Josef von Sternberg
Elenco: Evelyn Brent e William Powell

06
VARIETÉ – A TRAGÉDIA de um ARTISTA
(Varieté, 1925)

Direção de Ewald André Dupont
Elenco: Maly Delschaft e Lya De Putti

07
Os OLHOS da MÚMIA
(Die Augen der Mumie Ma, 1918)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Pola Negri e Harry Liedtke

08
ANNA BOLENA
(Anna Boleyn, 1920)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Henny Porten e Paul Hartmann

09
TARTUFO
(Herr Tartüff, 1925)

Direção de F. W. Murnau
Elenco: Lil Dagover e Werner Krauss

10
MADAME DuBARRY
(Idem, 1919)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Pola Negri e Harry Liedtke

11
ALTA TRAIÇÃO
(The Patriot, 1928)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Lewis Stone e Florence Vidor

12
TORTURA da CARNE
(The Way of All Flesh, 1927)

Direção de Victor Fleming
Elenco: Belle Bennett

13
AMORES de FARAÓ
(Das Weib des Pharao, 1922)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Harry Liedtke, Paul Wegener e Lyda Salmonova

14
O GABINETE das FIGURAS de CERA
(Das Wachsfigurenkabinett, 1924)

Direção de Paul Leni e Leo Birinsky
Elenco: Conrad Veidt e Werner Krauss

15
RUA do PECADO
(Street of Sin, 1928)

Direção de Mauritz Stiller
Elenco: Fay Wray e Olga Baclanova

16
OTHELLO
(Idem, 1922)

Direção de Dimitri Buchowetzki
Elenco: Werner Krauss, Ica von Lenkeffy e Lya De Putti

17
DANTON
(Idem, 1921)

Direção de Dimitri Buchowetzki
Elenco: Werner Krauss, Ossip Runitsch e Maly Delschaft

18
Os IRMÃOS KARAMAZOFF
(Die Brüder Karamasoff, 1920)

Direção de Carl Froelich
Elenco: Bernhard Goetzke, Werner Krauss e Hanna Ralph

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9 comentários:

Mario Catucci disse...

Se realmente morreu sozinho, talvez ninguém o amasse. Nossas escolhas constroem o destino e talvez ele tenha pedido mais que dado aos outros.

Magui disse...

Parabéns! Bela pesquisa e texto.

Mary Júlia Santos disse...

Triste fim, proibido de trabalhar. Não adiantou dinheiro, troféu ser o melhor, por seu temperamento terminou sozinho. Isso é pra quem se acha o melhor, esse é o fim.

Carlos Ismael disse...

"O Anjo Azul" foi o seu filme mais internacionalmente conhecido. Ele era o protagonista mas o carisma da Marlene fez que o mundo todo pensasse que ela era a estrela do filme.

Marcos Revolti disse...

Marlene Dietrich humilhando o professor em O anjo azul. Ele queria que o filme fosse dele. Foi absolutamente DELA.

Ivo Korytowski disse...

Sua interpretação do professor Rath no Anjo Azul é uma das melhores da história do cinema.

Marília Menezes disse...

Não o conhecia, mas amei o seu texto. Show de história do cinema. Vou procurar os filmes de Jannings.

Eduardo Cabús disse...

Há muito anos eu vi o Anjo Azul .

Gilca Borges disse...


TEM CARA DE BANDIDO MESMO !!!