maio 29, 2011

**************** FREDRIC MARCH: o ATOR IDEAL




Premiado duas vezes com o Oscar, a primeira em 1932 com o clássico de Rouben Mamoulian, “O Médico e o Monstro / Dr. Jerkill and Mr. Hyde”, empatando com o Wallace Beery de “O Campeão / The Champ” - outro empate só aconteceria 36 anos depois, em 1968, com Katharine Hepburn e Barbra Streisand –, FREDRIC MARCH (1897 - 1975) foi um dos mais notáveis atores da história do cinema, atuando em mais de 70 filmes durante cinco décadas. Para o papel retirado do famoso romance de horror de Robert Louis Stevenson, o ator submetia-se a três horas diárias de maquiagem, resultando numa composição assustadora. A sua segunda premiação aconteceu em 1946, com “Os Melhores Anos de Nossas Vidas / The Best Years of Our Lives”, drama contemplado com oito prêmios da Academia e elogiadíssimo pela crítica. Um tour de force dramático no qual ele interpreta um veterano da Segunda Guerra Mundial que volta para casa encontrando a sua antiga rotina irremediavelmente alterada.

com gary cooper e miriam hopkins 
em “sócios do amor”
O ator começou sua vida profissional como bancário, mas em 1920 passou a figurar em filmes mudos e seis anos depois estreou na Broadway. Ao final da mesma década, assinou contrato com a Paramount Pictures e em 1930 já era uma estrela, recebendo sua primeira indicação ao Oscar por “The Royal Family of Broadway”, de George Cukor, no qual faz um personagem baseado no célebre ator John Barrymore.

Na Paramount brilhou em filmes como “O Sinal da Cruz / The Sign of the Cross” (1932) e “Sócios do Amor / Design for Living” (1933). Em 1927, FREDRIC MARCH casou-se com a atriz Florence Eldridge, permanecendo com ela por toda a sua vida, mesmo com inúmeros casos relâmpagos com outras atrizes. Com a esposa fez várias peças teatrais, alguns filmes e programas de televisão. Filiado ao Partido Democrático, defendia políticas liberais.

com florence eldridge, sua esposa
Depois de vencido o seu contrato com a Paramount, em 1933, resistiu a assinar outro de longo prazo, como era comum na época, o que lhe permitiu trabalhar independentemente e escolher os papéis que lhe eram oferecidos. Ao mesmo tempo em que fazia cinema, manteve sua carreira no teatro, ganhando duas vezes o Prêmio Tony de Melhor Ator: em 1947, por “Years Ago”, de Ruth Gordon, e em 1957 por “Longa Jornada Noite Adentro”, de Eugene O’Neill. 

Em 1937, FREDRIC MARCH conquistou grande popularidade como o astro decadente Norman Maine, na primeira versão de “Nasce uma Estrela / A Star is Born”, ao lado de Janet Gaynor. Também teria êxito com a versão cinematográfica de “A Morte do Caixeiro-Viajante / Death of a Salesman” (1951), de Laslo Benedek, baseado na famosa peça de Arthur Miller e ganhando com ela a Taça Volpi de Melhor Ator no Festival de Veneza e o Globo de Ouro. Outro fabuloso momento seu no cinema aconteceu em “O Vento Será Tua Herança / Inherit the Wind” (1960), atuando ao lado de Spencer Tracy e levando o prêmio de Melhor Ator no Festival de Berlim. Foi um dos seus papéis mais queridos. Em seu último filme, “The Iceman Cometh” (1973), foi bastante elogiado ao dar vida a um complicado barman irlandês. Morreria dois anos depois de câncer na próstata.

com carole lombard em nada é sagrado

Reconhecido por seu talento, FREDRIC MARCH nunca deixou de fazer sucesso, atuando em bons filmes mesmo quando a velhice chegou. Tinha uma voz potente e presença sofisticada. Embora trabalhasse de forma independente, seu salário era altíssimo, sendo listado em 1937 como a quinta pessoa mais bem paga dos Estados Unidos, recebendo em torno de meio milhão de dólares por filme. Ele também soube direcionar sua carreira com mão firme, destacando-se em “As Aventuras de Cellini / The Affairs of Cellini” (1934), com Constance Bennett e Fay Wray; “Os Miseráveis / Les Misérables” (1935); “Anna Karenina  / idem” (1935), ao lado de Greta Garbo; “O Anjo das Trevas / The Dark Angel” (‘935), com Merle Oberon; “Caminho da Glória / The Road to Glory” (1936); “Mary Stuart, Rainha da Escócia” (1936), com Katharine Hepburn; “Adversidade / Anthony Adverse” (1936), com Olivia de Havilland; “Nada é Sagrado / Nothing Sacred” (1937), com Carole Lombard; “Lafitte, o Corsário / The Buccaneer” (1938); “Uma Mulher Original / Susan and God” (1940), com Joan Crawford; “Vitória / Victory” (1940); “Casei-me com uma Feiticeira / I Married a Witch” (1941) e “As Aventuras de Mark Twain / The Adventures of Mark Twain” (1944), com Alexis Smith. Conhecido por seu profissionalismo e caráter amável, só teve problemas nos bastidores com as complicadas atrizes Tallulah Bankhead e Veronica Lake.

em o médico e o monstro
Nos anos 50 continuaria em primeiro plano com “Os Saltimbancos / Man on a Tightrope” (1953), “10 Homens e Um Destino / Executive Suite” (1954), “As Pontes de Toko-Ri / The Bridges at Toko-Ri” (1954), “Horas de Desespero / The Desperate Hours” (1955), “O Homem do Terno Cinza / The Man in the Gray Flanel Suit” (1956) e “Alexandre, o Grande / Alexander the Great” (1956). Confessou certa vez que William Wyler e William A. Wellman eram seus diretores favoritos. 

Nos anos 60 brilharia em produções do porte de “O Condenado de Altona / I Sequestrati di Altona” (1962) e “Sete Dias de Maio / Seven Days in May” (1964), onde teve um desempenho soberbo como o presidente enfermo dos Estados Unidos que é forçado a enfrentar uma tentativa de golpe militar. Ganhou com este papel o David di Donatello de Melhor Ator Estrangeiro. “Ele foi um dos atores mais talentosos e um dos homens mais gentis que conheci. Muitas vezes, no final de suas cenas, era aplaudido pelos técnicos”, disse John Frankenheimer, que o dirigiu duas vezes. O certo é que FREDRIC MARCH causou impacto em Hollywood, com uma coleção impressionante de prêmios, admiração do público e reconhecimento como extraordinário intérprete. Sua mansão em Hollywood, de 22 quartos e 14 banheiros, foi comprada por Brad Pitt e Jennifer Aniston. Hoje é propriedade de Madonna.


10 GRANDES MOMENTOS de FREDRIC MARCH
(por ordem de preferência)

01
Norman Maine em
NASCE uma ESTRELA
(A Star is Born,1937)
de William A. Wellman

02
Al Stephenson em
Os MELHORES ANOS de NOSSA VIDA
(The Best Years of Our Lives, 1946)
de William Wyler

03
Jean Valjean em
Os MISERÁVEIS
(Les Misérables, 1935)
de Richard Boleslawsky


04
Conde Vronsky em
ANNA KARENINA
(Idem, 1935)
de Clarence Brown

05
Wally Cook em
NADA é SAGRADO
(Nothing Sacred, 1937)
de William A. Wellman

06
Thomas B. Chambers em
SÓCIOS do AMOR
(Design for Living, 1933)
de Ernst Lubitsch

07
Dan C. Hilliard em
HORAS de DESESPERO
(The Desperate Hours, 1955)
de William Wyler

08
Presidente Jordan Lyman em
SETE DIAS de MAIO
(Seven Days in May, 1964)
de John Frankenheimer

09
Willy Loman em
A MORTE do CAIXEIRO-VIAJANTE
(Death of a Salesman, 1951)
de Laslo Benedek

10
Matthew Harrison Brady em
O VENTO SERÁ tua HERANÇA
(Inherit the Wind, 1960)
de Stanley Kramer

com janet gaynor 
em nasce uma estrela

**************** F. SCOTT FITZGERALD e o CINEMA

f. scott fitzgerald


MEDIOCRIDADE e INCOMPREENSÃO no CINEMA

Sabe-se que o escritor F. SCOTT FITZGERALD teve uma relação difícil com Hollywood.  Precisando manter a mulher mentalmente perturbada, Zelda, em tratamento, e dependendo de vigorosos porres para escrever, ele precisava da profissão de roteirista. E, no entanto, não conseguia fazer o que lhe era pedido, talvez por ser literato demais e não entender as demandas dos diretores e produtores por histórias menos sofisticadas e matizadas psicologicamente. Hollywood queria profissionais que simplesmente respeitassem as regras daquele jogo, pagando-os bem para isso. Mas FITZGERALD era desajeitado ou orgulhoso demais para seguir aquelas regras – queria, como todo escritor que valha a definição, estabelecer as suas. E quebrava a cara, naturalmente, porque há pouca discussão possível com os que só têm o lucro como mirada e acham que pruridos artísticos são, no máximo, frescura.

O folclore em torno de dois grandes escritores americanos e suas dificuldades em Hollywood, ele e William Faulkner, é bastante conhecido. Entre os escritores, há uma espécie de compreensão respeitosa e solidariedade inevitável com o que eles padeceram; entre homens de cinema, como o diretor Billy Wilder, que também foi roteirista (ver entrevista no livro “As Entrevistas da Paris Review”), há uma visão um pouco diferente: para Wilder, FITZGERALD, como outros escritores (Dorothy Parker, entre eles) que tinham ido de New York para Hollywood atraídos pelo dinheiro fácil do cinema nunca se deram ao trabalho de entender como funcionava o trabalho de roteirista realmente. Não tinham, em resumo, respeito por Hollywood e por isso não sabiam veicular suas idéias fazendo as devidas concessões ao “box-office”. Talvez pareça filisteísmo de Wilder, mas é também sua visão pragmática e esperta do que era sobreviver naquela selva iletrada. FITZGERALD e Faulkner abominavam tudo isso e se amargavam com as concessões e mais: se fizessem sucesso nos termos exigidos por Hollywood, cairiam no total auto-desprezo. Um impasse que nunca foi resolvido e, que com o tempo, parece purista e ingênuo, visto que muita gente aprendeu as regras do jogo muito bem e acharia esse sofrimento todo desnecessário, hoje em dia. Mas também hoje a condescendência com o lixo aumentou terrivelmente. Atualmente, cineastas e roteiristas se improvisam como homens de negócios com maior facilidade e até leviandade e blefam com menos penitência e mais competência para fazer o que querem fazer, ainda que os resultados do “box-office” continuem como sempre implacáveis e tirem do jogo os fracassados, sem maior consideração pela arte ou pelas generosas idéias embutidas em projetos grandiosos. Nada mudou, para a indústria: filme bom é aquele que dá lucro.

clara bow em “grit”

Sob esse ponto de vista, natural que os filmes que Hollywood fez a partir de livros de FITZGERALD pareçam sempre dominados pela mediocridade e talvez por um desprezo inconsciente dos produtores e diretores pelo escritor, como uma revanche. Andei vendo alguns desses filmes, e, francamente, não os recomendo a ninguém, a não ser como curiosidades e por alguns atrativos aqui e ali, especialmente para os que curtem nostalgia sem maior senso crítico.

DRAMALHÕES, MISCASTING e OUTRAS FALHAS

gregory peck e deborah kerr 
em “o ídolo de cristal”
O filme está em DVDs pelas bancas até e vai iludir muita gente pelo chamariz dos astros, Gregory Peck e Deborah Kerr, e os ares de importância, mas é um fracasso constrangedor. Chama-se “O Ídolo de Cristal”, é de 1959 e foi dirigido por Henry King. É a história da relação amorosa de FITZGERALD com a colunista inglesa Sheila Graham, que reinou em Hollywood com suas notícias e fofocas sobre o mundo do cinema. O tema era promissor, mas o “miscasting” foi fatal: nem Gregory Peck tinha jeito para incorporar o FITZGERALD embriagado, lúcido e amargo sob o despotismo de Hollywood que temos em imaginação nem Kerr, sempre encarnando a virtude e a elegância de senhora burguesa, era apropriada para passar a língua ferina e a ambição desvairada de Graham. O filme até começa bem, quando Sheila aparece já com uma frase peçonhenta dita a uma atriz medíocre durante uma filmagem, mas daí a pouco ela vai se tornando a santa mulher apaixonada pelo marido e abnegada, disposta a sofrer todos os caprichos masculinos por amor, de todos os melodramas. E o filme até comove os de choro fácil, mas como “novelão”, pois sente-se que um manto de falsidade e pieguice conveniente cobriu todo o projeto – FITZGERALD e Graham jamais seriam aqueles dois. Curiosamente, o filme só é convincente num curto trecho em que os dois brigam feio, ele embriagado, partindo até para a violência sobre ela. E há algo de forte quando ele morre, em meio à criação daquele que Edmund Wilson consideraria seu melhor romance, o inacabado “O Último Magnata”. Mas é só.

joan fontaine, jason robards jr. 
e jennifer jones em “suave é a noite”
O curioso é que o diretor, King, não se mancou: em 1962 voltou ao terreno de FITZGERALD, mas aí saindo da biografia dúbia e partindo para a ficção do próprio, e realizou “Suave é a Noite”, baseado no romance homônimo bem conhecido. A produção foi cara, a fotografia é bonita, o figurino é convincente, mas o pecado capital foi cometido a partir do elenco, novamente: como acreditar em Jason Robards no papel do psiquiatra Dick Diver? Ele tinha que carregar o filme nas costas, e Robards não tinha matizes suficientes para dar conta do personagem – era apenas uma versão inferior de Humphrey Bogart. Jennifer Jones se esforçou para ser Nicole e conseguiu dar um pouco de vida ao personagem, mas já era uma atriz veterana e não conseguia esconder certas marcas de envelhecimento (ou plásticas mal feitas?) que a tornaram um pouco esquisita (em “Adeus às armas”, contracenando com Rock Hudson, isso já era notório). Tom Ewell como o amigo pianista de Diver estava constrangedor, e a música da trilha-sonora, com Earl Grant (gravada em versão brasileira por Moacyr Franco), fez sucesso. Mas o filme, revisto, parece longo, interminável, e oprime, porque sabemos que a história – ainda que não tenhamos lido o livro original - só poderá terminar mal. Para quem é nostálgico, um ou outro trecho pode ser compensador. Mas, no conjunto, o filme é medíocre e a gente mais o tolera que o vê.

elizabeth taylor e roger moore
e
m
a última vez que vi paris

Parece que os atores ruins, chatos ou inexpressivos ficavam sempre à frente dos projetos baseados em livros de FITZGERALD. Outro caso é “A Última Vez que Paris”, filme de 1954  baseado no conto “Babylon Revisited”. O inexpressivo da vez foi Van Johnson, que tinha que fazer um escritor alcoólatra que retorna a Paris no fim da Segunda Guerra Mundial e recorda o romance que teve com uma garota americana, e Johnson seguiu sua lógica de canastrão esforçado, pois não era mais que isso. O diretor, Richard Brooks, dizem, estava apaixonado por Elizabeth Taylor (ele e o resto da população masculina da Terra), e o filme só se sustenta pelo encanto da estrela e a beleza de uma canção da trilha sonora, até hoje muito lembrada. Além do mais, circula em DVD brasileiro numa cópia sofrível.

Pensava-se que FITZGERALD seria um dia redimido pelo cinema americano, mas nos anos 70, o que aconteceu? Ver “O Grande Gatsby”, de 1974, chega a dar pena: um filme que tinha um orçamento gigantesco, um roteirista que era ninguém menos que Francis Ford Coppola, astros como Robert Redford e Mia Farrow nos papéis principais e a direção do inglês Jack Clayton (que fez a obra-prima “Os Inocentes”), simplesmente se afundou na inexpressividade e na indiferença, só chegando a ter algum sucesso de público por impor à moda uma voga passageira de roupas e carros dos anos 20. Nele, o estigma de papel principal estragado ficou para Robert Redford, que não conseguiu injetar paixão alguma a um personagem apaixonado que chega ao gangsterismo por amor. E nem o objeto de sua paixão convenceu ninguém – Mia Farrow está simplesmente esquisita, ora histérica ora apática como Daisy Buchanan, tanto que o filme foi escandalosamente roubado por dois atores menores, Bruce Dern e Karen Black, fazendo um casal secundário. Aliás, um outro escritor, Truman Capote, ficou incumbido do roteiro no início, mas a Paramount não gostou do que ele fez e ele, profético, ao sair da produção, disse: “Eles terão problema com o filme”.

robert de niro em 
“o último magnata”
Quanto a “O Último Magnata”, de 1976, quem topar com ele nas locadoras vai se deslumbrar com o elenco: De Niro, Tony Curtis, Robert Mitchum, John Carradine, Jeanne Moreau, Jack Nicholson e Anjelica Huston. E com o nome da direção: Elia Kazan. Tudo o recomenda, porque traz ainda a fama de obra-prima inconcluída do original. Mas é um filme que ninguém verá duas vezes, a menos que seja um caso de devoção masoquista. Lento, amargo, abordando a vida do grande produtor dos anos dourados de Hollywood, Irving Thalberg, traz esses atores que valem ser vistos, seguindo um roteiro do célebre dramaturgo Harold Pinter, mas, decididamente, não deu certo. E como, nesse caso, tudo, do elenco ao diretor, passando pelo diretor, conspirava para que fosse um clássico indispensável, é quase infalível concluir que FITZGERALD dava azar com o cinema.

Melhorou alguma coisa a adaptação do conto “O Estranho Caso de Benjamin Button”, realizado em anos recentes, com Brad Pitt à frente do elenco e David Fincher na direção? Há muita gente que considera este filme uma alegoria poética bem realizada. Quanto a mim, achei-o visualmente bonito e insosso, como uma versão catatônica de “Forrest Gump”, e Fincher, o diretor, não é bom nem para melodrama, porque a história não chega a comover, a despeito do personagem apelativo de Cate Blanchett que nos quer fazer chorar no seu leito de morte, onde relembra seu amado Button. Claro que Brad Pitt às vezes até surpreende (eu o acho bom é para comédias) num filme ou noutro, mas não sei se não deve ser enfileirado entre os muitos atores fracos que vieram liderando elencos dos vários filmes adaptados de histórias de FITZGERALD até hoje.

PROMESSAS ou AMEAÇAS?

brad pitt e cate blanchett
em
“o curioso caso 
de benjamin button
Eu não poderia concluir este artigo sem dizer que estou apreensivo por três novas adaptações de obras de FITZGERALD que apontam no horizonte e poderão estar circulando pelos cinemas em 2012: “O Grande Gatsby”, “Suave é a Noite” e “Belos e Malditos”. Os erros das adaptações de Jack Clayton e Henry King devem ter convencido alguns diretores que, com remakes apropriados, talvez FITZGERALD finalmente pudesse ser salvo. Quanto a “Belos e Malditos”, até onde sei, não foi adaptado para o cinema e passará por sua prova de fogo. Anuncia-se que “Suave é a Noite” pode voltar com Matt Damon e Keira Knightley. São dois bons atores, e Keira provou talento especial como a excelente Cecília de “Desejo e Reparação”. Curiosamente, é o nome dela que é cogitado também para viver Zelda, a mulher de FITZGERALD, na adaptação de “Belos e Malditos”, que seria dirigida por Nick Cassavetes (este me dá medo, pois fez aquele dramalhão constrangedor com Denzel Washington, “Um Ato de Coragem”). Mas o que me inspira mais apreensão é a notícia de que Baz Luhrman, diretor voltado para a estética pop de “Moulin Rouge” ou o drama épico fracassado de “Austrália”, estaria filmando “O Grande Gatsby”. É pelo menos um alívio saber que esse novo Jay Gatsby será vivido por Leonardo DiCaprio, ator que foi se tornando cada vez melhor e tem o tipo físico adequado para o papel, mas ainda assim, temo que Luhrman faça um Gatsby rodopiante, musical, estridente, “pop”, em suma, diluindo por completo o romance original. É pagar para ver. Com FITZGERALD, marcado pela sombra do bico do urubu em sua vida de roteirista falhado e de romancista incompreendido por Hollywood, os azares têm se provado sucessivos, mas pode ser que este novo milênio venha a dar filmes sobre ele ou a partir das obras dele que sejam finalmente dignos e “fitzgeraldianos”.

Texto de 
CHICO LOPES
escritor

“o grande gatsby” (1926)

F. SCOTT FITZGERALD no CINEMA

THE CHORUS GIRL’S ROMANCE 
(1920)
direção de William C. Dowlan

THE HUSBAND HUNTER 
(1920)
direção de Howard M. Mitchell

THE OFF-SHORE PIRATE 
(1921)
direção de Dallas M. Fitzgerald

BELOS e MALDITOS
(The Beautiful and Damned (1922)
direção de William A. Seiter

GRIT 
(1924)
direção de Frank Tuttle

O GRANDE GATSBY
(The Great Gatsby, 1926)
direção de Herbert Brenon




O GRANDE GATSBY
(The Great Gatsby, 1949)
direção de Elliott Nugent

A ÚLTIMA VEZ que VI PARIS
(The Last Time I Saw Paris, 1954)
direção de Richard Brooks

O ÍDOLO de CRISTAL
(Beloved Infidel, 1959)
direção de Henry King

SUAVE é a NOITE
(Tender is the Night, 1962)
direção de Henry King

O GRANDE GATSBY
(The Great Gatsby, 1974)
direção de Jack Clayton

O ÚLTIMO MAGNATA
(The Last Tycoon, 1976)
direção de Elia Kazan

SUAVE é a NOITE
(Tender is the Night, 1985)
direção de Robert Knights

EINER MEINER ALTESTEN FREUNDE
(1994)
direção de Rainer Kaufmann

O GRANDE GATSBY
(The Great Gatsby, 2000)
direção de Robert Markowitz

O ESTRANHO CASO de BENJAMIN BUTTON
(The Curious Case of Benjamin Button, 2008)
direção de David Fincher

BELOS e MALDITOS
(The Beautiful and Damned, 2010)
direção de Richard Wolstencroft

mia farrow como daisy 
em “o grande gatsby”

maio 23, 2011

******** Um SÉCULO de REVISTAS de CINEMA

jane wyman


As revistas de cinema foram inicialmente concebidas como instrumento publicitário direto dos setores de exibição e distribuição dos estúdios cinematográficos. Só depois é que nasceram projetos editoriais mais arrojados, com um teor mais jornalístico. A Motion Picture Story Magazine”, a primeira publicação popular cinematográfica dos Estados Unidos, mudou definitivamente o perfil do setor. O dilúvio de periódicos que surgiu depois ajudou a criar o glamour das estrelas de Hollywood, a promover as suas bases de fãs, os novos filmes e a esculpir a mitologia da história do cinema. A capa da primeira edição, de fevereiro de 1911, não apresentava uma estrela de cinema, mas o inventor Thomas Edison, que lançou a indústria do cinema com seu Kinetescope. 

No mesmo ano surgiu a PHOTOPLAY, da cidade de Chicago, reproduzindo as tramas e personagens de filmes da época. Em 1915, ela partiu para o formato de sucesso que celebrava a vida privada das estrelas, tornando-se conhecida como a primeira publicação com tal ideia: a invasão de privacidade. Atingiu seu ápice nas décadas de 20 e 30, considerada bastante influente dentro da indústria cinematográfica. As suas capas eram verdadeiras obras de arte geralmente assinadas por Earl Christy e Charles Sheldon, mas com o avanço da fotografia a cores, passou a utilizar fotografias de estrelas (a partir de 1937). Tinha na sua equipe colunistas famosos como Hedda Hopper, Walter Winchell, Louella Parsons e Sheila Graham, além dos conselhos de beleza e saúde da guru Sylvia de Hollywood. A revista premiava anualmente o melhor filme do ano com a Medalha de Ouro e promovia verdadeiras eleições entre os leitores, como a que escolheu Clark Gable para o protagonista de “... E o Vento Levou”. PHOTOPLAY deixou de ser publicada em 1980, depois de quase sete décadas de popularidade.

Em setembro de 1920 apareceu a grande concorrente da PHOTOPLAY, a SCREENLAND, uma revista de Los Angeles que também atravessou décadas, foi muito influente e só fechou as portas em 1971.  Ela enfrentou muitos processos legais por suas reportagens audaciosas. No Brasil, a Scena Muda, lançada em 1921, foi a primeira revista de cinema realmente popular e reproduzia basicamente material estrangeiro. Todas essas revistas são documentos de valor histórico, imprescindíveis para a preservação da memória do cinema. Abaixo, capas da PHOTOPLAY e da SCREENLAND.

joan bennett

miriam hopkins
marion davies 
martha mansfield
lillian e dorothy gish
pola negri
greta garbo
esther ralston
may mcavoy
luise rainer
nita naldi