maio 15, 2025

* LUISA FERIDA e OSVALDO VALENTI: PAIXÃO e CRIME

osvaldo valenti e luisa ferida em a bela adormecida
 

 
O cinema é a arma mais forte
do regime fascista.
BENITO MUSSOLINI
(1883 – 1945. Predappio / Itália)

 
 
Assisti seis dos dez filmes em que eles atuaram juntos. Tinham carisma, talento e eram famosos no cinema italiano do final da década de 30 e início dos 40. Viveram uma avassaladora história de amor que terminou tragicamente em Milão, 30 de abril de 1945, pouco antes da meia-noite. Chovia muito, a cidade estava deserta e um caminhão parou na Via Poliziano, no Hipódromo San Siro. Alguns partidários da Brigada Pasubio fizeram um homem e uma mulher saírem do veículo. Iluminados pelos faróis, LUISA FERIDA (1914 - 1945. Castel San Pietro Terme, Emilia-Romagna / Itália) e OSVALDO VALENTI (1906 – 1945. Istambul / Turquia) foram executados com rajadas de metralhadora. De uma casa paroquial próxima, o padre Dom Adolfo Terzoli viu a chacina e depois se aproximou, concedendo a extrema unção. Ela segurava o sapatinho de lã do seu filho Kim, que morreu com apenas cinco dias de vida em 1942. Assim terminou um invejado e glamourizado romance, que encheu páginas e mais páginas de jornais e revistas, com o crime causando incômodo na opinião pública daqueles dias confusos.
 
Notável por sua beleza de traços morenos e pela sensualidade de seus movimentos, a presença de LUISA FERIDA permanece como uma das mais relevantes do universo cinematográfico europeu do período de 1939-1945. Filha de um rico proprietário de terras, que morreu quando ela era criança, iniciou sua carreira como atriz de teatro, participando da companhia de Ruggero Ruggeri e Paola Borboni. Em 1935 fez a primeira aparição no cinema em um papel coadjuvante no policial “Flecha de Ouro / Freccia d'oro” (1935). Por causa de sua fotogenia, logo se destacou em filmes como a comédia histórica “Il Re Burlone” (1935), com Armando Falconi. Entre 1937 e 1938, formou uma dupla de sucesso com Amedeo Nazzari. Em 1939, o celebrado diretor Alessandro Blasetti a escolheu como protagonista de “Romântico Aventureiro”. Segundo o cineasta, ela chegou ao set disposta a tudo, deixando claro que “não seria indiferente aos seus desejos como diretor ou homem”. Blasetti pediu a OSVALDO VALENTI que explicasse para ela que de fato era “uma mulher maravilhosa, mas que ele tinha outros interesses sentimentais”. 
 
luisa ferida
O ator passou tão bem a mensagem que, apesar de um caso sexual com a atriz anos antes, ela ainda em início de carreira, resultou em um romance irresistível entre eles. Os dois se tornaram inseparáveis. Assim nasceu a união que pode ser definida como amaldiçoada. Em 1941, filmaram “A Coroa de Ferro”, novamente dirigidos por Blasetti, ao lado de Massimo Girotti, Gino Cervi e Elisa Cegani. LUISA FERIDA interpreta a Princesa Tundra, uma mulher de beleza selvagem, e OSVALDO VALENTI, Eriberto, um feroz príncipe tártaro. Enquanto isso, ela havia se tornado uma das divas mais populares, repetindo na tela muitas vezes o papel de garota má e devassa, e ele o de vilão. Em 1942, continuaram sob a orientação de Blasetti em “A Farsa Trágica”. Outro êxito. Os diretores mais populares ofereceram para eles filmes importantes. Nos primeiros anos de 1940, estavam no auge e desempenharam personagens memoráveis. Estrelaram com Amedeo Nazzari o drama “A Bela Adormecida” (1942), que pertence ao estilo Caligrafismo, bastante expressivo em complexidade e lidando com material literário.
 
Filho de uma família rica, OSVALDO VALENTI estudou Direito em Milão, mas abandonou os estudos para circular por Paris e Berlim. Em 1928, estreou no cinema na Alemanha em “O Iate dos Sete Pecados / Die Yacht der Sieben Sünden”, com Brigitte Helm. Na década de 1930, retornou à Itália, filmando com Mario Bonnard e Amleto Palermi. Dirigido por Alessandro Blasetti fez filmes decisivos para sua carreira, estabelecendo sucesso entre a crítica e o público italiano. Consolidou-se como um dos atores mais requisitados e bem pagos, atuando em filmes de diretores de prestígio como Goffredo Alessandrini, Carmine Gallone, Duilio Coletti e Camillo Mastrocinque. De charme indiscutível e rosto ambíguo vagamente melancólico, era perfeito para papéis de vilão. Conhecido entre os colegas como mitomaníaco e cínico, falava quatro idiomas e mantinha boas relações com fascistas de alto escalão. Inquieto e exagerado, recebia autoridades e suas amantes em seu iate, ancorado em Fregene, Fiumicino, divertindo os convidados com imitações debochadas de Adolf Hitler (ele nunca escondeu seu desprezo pelos nazistas).
 
osvaldo valenti
Quando Benito Mussolini foi deposto em 25 de julho de 1943, o astro comemorou a decadência do fascismo, mas muitos o lembraram de seus laços estreitos com o regime e que futuramente poderia pagar caro pela ostentação de riqueza, enquanto boa parte dos italianos apertava o cinto. Em 1944, em “A Bela Adormecida”, de Luigi Chiarini, teve seu melhor desempenho no cinema. O vínculo sentimental entre ele e a amada seria sempre intenso e violento, principalmente por causa do abuso de cocaína. Em 1942, ela deu à luz um filho, que morreu alguns dias depois. A droga e a insensatez de OSVALDO VALENTI o levaram a percorrer caminhos cada vez mais perigosos, entre o mercado negro e a obsessão por dinheiro que sustentasse seu alto padrão de vida. Ingressou na República Social Italiana (RSI), alistando-se na Décima Flotilha do MAS, comandada pelo príncipe Valério Borghese, com a patente de tenente. Em Veneza, de uniforme oficial militar, foi fotografado para o semanário “La Domenica del Corriere”.
 
As duas estrelas viviam em um luxo desenfreado como em uma pequena corte. Tinham agente, governanta, secretário, mordomo, cozinheiro, garçons, tratador de cães e até mesmo um poeta particular para escrever madrigais para a diva. Por algum tempo, OSVALDO VALENTINI foi comissário de entretenimento e acalentou dirigir seus próprios filmes. No verão de 1943, o colapso do fascismo e os bombardeios aéreos em Roma interromperam a atividade cinematográfica. A indústria foi reativada meses depois, no norte do país, resultando no Cinevillaggio. Eles estavam entre os poucos artistas que acreditaram na recém-criada República Social Italiana. Atuaram em “Notícia”, que foi um total fracasso e o último filme deles. Criticado por sua suposta ideologia fascista, o ator renunciou ao cargo de comissário, enquanto sua parceira abortava acidentalmente um segundo e tão desejado filho. Eles nunca aderiram oficialmente ao fascismo, mas ao decidirem não se mudar para a Espanha, onde continuariam o trabalho como atores, e voltarem a Milão na primavera de 1944, assinaram um trágico destino.
 
Em Milão, atraído pela facilidade de drogas, OSVALDO VALENTI frequentou a sinistra Villa Triste, na Via Paolo Uccello, quartel da unidade especial de polícia política, conhecida como Banda Koch, responsável pela tortura e assassinato de opositores do regime. Devido à sua brutalidade sádica, Pietro Koch revelou-se impopular até em hierarcas fascistas, sendo preso pela polícia de Salò em dezembro de 1944, por ordem do próprio Benito Mussolini. Na ocasião, LUISA FERIDA e o marido viviam no luxuoso Hotel Continental, na Via Manzoni, frequentado por fascistas e nazistas. A guerra estava prestes a terminar, os pelotões de fuzilamento partidários atuavam intensamente, matando suspeitos de fascismo. O casal entregou-se à Brigada Pasubio e foram presos, após a denúncia de um fascista que confessou tê-los visto na Villa Triste. Levados para uma fazenda nos arredores de Milão, ocuparam uma sala e um quarto em um primeiro andar, vigiados por uma mulher denominada Senhora Rossi, que se responsabilizou por uma fortuna em liras e uma caixa de joias da atriz.
 
O partidário Giuseppe Marozin, codinome “Vero”, aparecia com frequência na improvisada prisão dos atores, garantindo: “Vocês estão em boas mãos. É questão de tempo, logo estarão livres.” Quando a rádio divulgou a falsa notícia de que OSVALDO VALENTI havia sido baleado, LUISA FERIDA se apavorou, não saindo mais do quarto, insone e com frequentes crises de choro. O primeiro julgamento do ator durou um dia inteiro até o pôr do sol. Ele confessou que sua relação com Pietro Koch era somente pelo fornecimento gratuito de cocaína, negando a participação ou testemunho em torturas. Ao retornar, tentou tranquilizar a esposa: “Eu pedi uma investigação mais aprofundada, haverá outro julgamento. E em qualquer caso, não precisa ter medo, seu nome nem foi mencionado.” Ele a chamava de Luisina, enxugando suas lágrimas, mas ela repetia: “Eu sei que eles vão nos matar”. Nos últimos dias de abril de 1945, depois de submetidos a um julgamento sumário, acusados de cumplicidade dos horrores cometidos por Koch, foram considerados culpados. Para eles, o triste destino estava selado.
 
Assassinados, LUISA FERIDA, aos 31 anos, estava grávida de quatro meses, e OSVALDO VALENTI tinha 39 anos. Seus cadáveres foram exibidos em público, junto aos de outras vítimas executadas, e depois enterrados um ao lado do outro, no cemitério Maggiore di Musocco, em Milão. Suas malas, deixadas no hotel, cheias de roupas, peles, dinheiro e joias, foram roubadas no dia do crime. Da casa em Milão saquearam um autêntico tesouro, do qual o chefe partidário Giuseppe “Vero” Marozin admitiu anos passados o “confisco”, mas alegando não se lembrar onde esses bens foram parar. Ele declarou também que a execução foi ordenada por Sandro Pertini, mais tarde presidente da república italiana. Na década de 1950, a empobrecida mãe de LUISA FERINA solicitou ao governo uma pensão de guerra, uma vez que sua filha era sua única fonte de renda. Foi, portanto, necessária uma investigação cuidadosa para apurar as reais responsabilidades da atriz. Ao final da qual, se concluiu que ela, injustamente assassinada, não foi culpada de nenhum crime de guerra. Sua mãe, portanto, obteve a pensão, incluindo os valores em atraso.
 
A história infeliz dos icônicos atores, depois de esquecida durante décadas, voltou à tona em 2008 com o filme dirigido por Marco Tullio Giordana, “Sangue de Guerra / Sanguepazzo”, com Luca Zingaretti e Monica Bellucci como o casal trágico, apresentado no Festival de Cinema de Cannes em 18 de maio de 2010. Dias depois, a RAI 1 transmitiu a versão completa em uma minissérie de dois episódios que alcançou grande audiência. Esse amor maldito foi contado anteriormente em um telefilme, em 1993, “Jogo Perverso / Gioco Perverso”, com Fabio Testi e Ida Di Benedetto.
 

FONTES
    “A Fábrica de Sonhos de Mussolini:
o Estrelato do Cinema na Itália Fascista”
(2013)
de Stephen Gundle
 
“Jogo Perverso - a Verdadeira História
de Osvaldo Valenti e Luisa Ferida
entre Cinecittà e a Guerra Civil”
(2007)
de Italo Moscati
 
“Luisa Ferida e Osvaldo Valenti –
a Ascensão e Queda de Duas Estrelas de Cinema”
(2007)
de Edward Reggiani

 
massimo girotti e luisa ferida em a coroa de ferro
LUISA e OSVALDO JUNTOS na TELA
 
01
ROMÂNTICO AVENTUREIRO
(Un'avventura di Salvator Rosa, 1939)

direção de Alessandro Blasetti
elenco: Gino Cervi, Rina Morelli e Paolo Stoppa
 
02
A COROA de FERRO
(La Corona di Ferro, 1941)

direção de Alessandro Blasetti
elenco: Elisa Cegani, Rina Morelli, Gino Cervi,
Massimo Girotti e Paolo Stoppa
 
03
A FARSA TRÁGICA
(La Cena delle Beffe, 1942)

direção de Alessandro Blasetti
elenco: Amedeo Nazzari, Clara Calamai,
Valentina Cortese e Elisa Cegani
 
04
A BELA ADORMECIDA
(La Bella Addormentata, 1942)

direção de Luigi Chiarini
elenco: Amedeo Nazzari
 
05
HORIZONTE de SANGUE
(Orizzonte di Sangue, 1942)

direção de Gennaro Righelli
elenco: Valentina Cortese
 
06
FEDORA
(Idem, 1942)

direção de Camillo Mastrocinque
elenco: Amedeo Nazzari e Rina Morelli
 
07
CAVALEIROS do DESERTO
(I Cavalieri del Deserto, 1942) 
direção de Gino Talamo e Osvaldo Valenti
elenco: Luigi Pavese e Guido Celano
 
08
ENCONTRO SANGRENTO
(Harlem, 1943)

direção de Carmine Gallone
elenco: Massimo Girotti, Amedeo Nazzari, Vivi Gioi
e Elisa Cegani
 
09
A DONA da POUSADA
(La Locandiera, 1944)

direção de Luigi Chiarini
elenco: Armando Falconi, Camilo Pilotto, Elsa De Giorgi,
Paola Borboni e Gino Cervi
 
10
NOTÍCIA
(Fatto di Cronaca, 1945)
direção de Piero Ballerini
elenco: Anna Capodaglio

 

LEIA TAMBÉM
 
TELEFONE BIANCHI – o CINEMA FASCISTA ITALIANO
https://ofalcaomaltes.blogspot.com/2024/07/telefoni-bianchi-o-cinema-fascista.html
 
ÍDOLOS do CINEMA NAZI
https://ofalcaomaltes.blogspot.com/2017/04/idolos-do-cinema-nazi.html

GALERIA de FOTOS 


abril 26, 2025

******** CHARLTON HESTON: ÉPICO e ATIVISTA



 

O politicamente correto é apenas tirania
com boas maneiras. Uma praga sobre a terra
tão devastadora quanto os gafanhotos
que Deus lançou sobre os egípcios.
É preciso coragem para ser contra 
a doutrinação. A coragem é a face 
admirável da História.
 
Opinar sobre raça não nos faz racistas.
Ver distinções entre os sexos não nos faz 
machistas. Pensar criticamente sobre uma 
religião não nos faz anti-religião. Aceitar, 
mas não celebrar, a homossexualidade,  
não nos faz homofóbicos.
CHARLTON HESTON
 
Cabelos: castanho-claros
Olhos: azuis
Apelidos:  Chuck e Charlie
Altura: 1,98 m

 
 
Uma lenda do cinema. Deixou um legado de grandes clássicos e deu vida a figuras históricas emblemáticas como Moisés, El Cid, Michelangelo, Marco Antônio, João Batista, Andrew Jackson e, acima de tudo, Ben Hur – personagem que lhe rendeu um Oscar. Alto, de feições belamente rudes e voz profunda, seu físico imponente e semblante másculo abriram muitas portas em Hollywood. O dono de um circo em “O Maior Espetáculo da Terra” (1952) foi seu trampolim para o estrelato. Ganhou o Oscar de Melhor Filme, e CHARLTON HESTON (1923 - 2008. St. Helen, Michigan / EUA) seguiu a caminho de uma das carreiras cinematográficas mais memoráveis. Quatro anos depois, o mesmo diretor e o ator se reuniriam em “Os Dez Mandamentos”, épico bíblico que o colocou na vanguarda dos protagonistas. Segundo consta, o veterano realizador Cecil B. DeMille o escolheu porque o achou semelhante a escultura de Moisés feita por Michelangelo. Nunca mais foi esquecido, brilhando em inúmeros outros êxitos.
 
De ativismo conservador, destoava numa Hollywood que nunca escondeu as suas simpatias comunistas. Tornou-se defensor do porte de armas, bandeira que abraçou com fervor. Contra o aborto, exaltava a família, os bons costumes e os direitos dos artistas. Ele foi muito além de um homem comum. Foi Ben-Hur, o indômito judeu que conduziu seu povo a se rebelar contra os conquistadores romanos no filme homônimo. Foi El Cid, o comandante da resistência espanhola contra os invasores mouros, no filme com o mesmo nome do herói. Incorporou, ainda, Moisés, que conduziu os escravos a se libertarem do reino tirano do Egito, na refilmagem de “Os Dez Mandamentos”, e pintou a Capela Sistina, como Michelangelo, em meio a diferenças artísticas com o Papa, em “Agonia e Êxtase”. CHARLTON HESTON foi mais do que um herói do cinema, mais do que um ator de épicos, foi um astro épico! Atlético, determinado, leal e corajoso. “Uma figura heroica incomum no cinema norte-americano”, disse seu agente Michael Levine.
 
heston em el cid
Defendia causas relacionadas com os direitos humanos desde os anos 60, quando apoiou Martin Luther King, a quem chamava de
“um Moisés do século XX”, tendo participado da histórica Marcha de 1963, em Washington, junto com Burt Lancaster, Marlon Brando, Sidney Poitier e Bob Dylan, mostrando uma faixa onde se lia “Todos os homens nascem iguais”. Republicano, bateu boca via imprensa com colegas esquerdistas, entre eles Barbra Streisand, Paul Newman, Robert De Niro, Rod Steiger e Jack Nicholson. Defensor da Segunda Emenda da Constituição, serviu como presidente da Associação Nacional de Rifles (NRA) por cinco vezes, o que resultou no ódio dos vermelhos de Hollywood, para quem ele era a própria encarnação do mal (George Clooney chegou ao absurdo de fazer deboche quando soube que o ator sofria de Alzheimer). Além de lutar pela liberdade de expressão, era opositor ferrenho dos malditos dogmas politicamente corretos.

 
Fez campanha intensa para os candidatos presidenciais de direita Ronald Reagan (1984), George Bush (1988) e George W. Bush (2000). Possuía uma coleção de mais de 400 armas modernas e antigas. Oponente do aborto, participou da introdução em um documentário antiaborto “Eclipse of Reason” (1987), de Bernard Nathanson. Em 2003, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade. Numa era tão escassa de artistas defensores da liberdade, nunca é demais homenageá-lo recordando sua gloriosa trajetória. Garoto tímido e com poucos amigos, passou a juventude em uma cidade do interior de Michigan. A família mudou-se para os subúrbios de Chicago, onde ele fez parte do grupo de teatro da sua escola. Gostava de fingir ser outras pessoas, resultando em uma bolsa de estudos para um curso de arte dramática na North Western University, onde conheceu Lydia Clarke, com quem se casou em 1944, e logo seguiram para a Broadway, depois dele servir na Força Aérea na Segunda Guerra Mundial.
 
heston e o oscar em 1960
Sua estreia no teatro foi em
“Antônio e Cleópatra”, de William Shakespeare, na companhia de Katharine Cornell, em 1947. A peça foi um sucesso, seguindo-se papéis principais em “Leaf and Bough” e “Design for a Stained Glass Window”. No início dos anos 50, quando a televisão transmitia regularmente dramas clássicos, apareceu em “Macbeth”, “A Megera Domada”, “Servidão Humana”, “Jane Eyre” e “O Morro dos Ventos Uivantes”. Tinha no currículo apenas um filme, “Peer Gynt”, produção independente de 1941, quando os letreiros de Hollywood se iluminaram para ele. O produtor Hal B. Wallis o viu em “Jane Eyre” e o convidou para “Cidade Negra / Dark City” (1950), thriller noir de William Dieterle. Recusou o papel que terminaria sendo de Gary Cooper em “Matar ou Morrer / High Noon” (1952) e de contracenar com Marilyn Monroe na comédia “Adorável Pecadora / Let`s Make Love” (1960) para ser dirigido em uma montagem teatral de Sir Laurence Olivier. Protagonizou o clássico “Ben-Hur” depois que o ateu Burt Lancaster desistiu do cobiçado papel por não querer promover o catolicismo.

 
Muitas maldades foram faladas na mídia socialista na tentativa de macular sua imagem, simplesmente por sua defesa do direito do cidadão em portar armas. No documentário “Tiros em Columbine / Bowling for Columbine” (2002), denunciando o uso de armas, o vigarista Michael Moore tentou constranger CHARLTON HESTON em sua própria casa. Na época, o ator idoso já sofria os primeiros sintomas do Alzheimer. O diretor democrata, numa suja armadilha, procurou provocá-lo falando sobre a morte de uma menina por causa de uma arma. O ator se levantou e abandonou a entrevista. Embora o astro conservador e o democrata Kirk Douglas divergissem na política eram amigos muito próximos. Douglas declarou que nunca perdoaria Michael Moore pela maneira desumana como tratou seu amigo. Clint Eastwood, republicano e defensor das armas, enviou uma mensagem a Moore: “Se você chegar perto da porta da minha casa, eu o mato”.
 
Entre um filme e outro, ele encontrou tempo para continuar sua carreira no palco estrelando “O Homem que Não Vendeu sua Alma”, de Robert Bolt; “As Bruxas de Salem”, de Arthur Miller; “Macbeth”, com Vanessa Redgrave; “Longa Jornada Noite Adentro”, com Deborah Kerr; “O Mistério do Forte Vermelho”, “Chaga de Fogo” e “A Nave da Revolta”. Seu último papel no teatro foi ao lado da esposa em “Cartas de Amor”, em Londres, 1999. CHARLTON HESTON trabalhou em prol das artes. Presidente do conselho do Center Theatre Group em Los Angeles e membro do Conselho Nacional de Artes, presidiu por sete mandatos o Screen Actors Guild. Presidente do American Film Institute, foi escolhido pelo presidente Ronald Reagan para co-presidir a Força-Tarefa da Casa Branca para Artes e Humanidades. Em 1967, recebeu o Prêmio Cecil B. DeMille no Globo de Ouro. Dez anos depois, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas o homenageou com o Prêmio Jean Hersholt por suas atividades humanitárias.

margaret thatcher, reagan e heston
Entre todos os seus filmes, considerava o faroeste
“...E o Bravo Ficou Só / Will Penny” (1967) o seu preferido e “Catástrofe nas Selvas / The Call of the Wild” (1972) seu pior filme. Dos diretores com quem trabalhou, gostou principalmente da experiência com Orson Welles. “Welles é um dos poucos talentos autênticos no ramo”, afirmou. Laurence Olivier, Gregory Peck e Burgess Meredith eram seus atores favoritos e Susan Hayward, Ingrid Bergman, Judith Anderson e Viveca Lindfors as atrizes que mais admirava: “Todas elas profissionais de ponta – e sem frescuras”. Gostava de música clássica. Leitor voraz por natureza, costumava pesquisar as figuras históricas que frequentemente interpretava e os períodos que seus filmes refletiam. Recusou o papel do delegado de polícia Martin Brody em “Tubarão / Jaws” (1975). Descartou também “A Profecia / The Omen” (1976) e a comédia de Steven Spielberg “1941: Uma Guerra Muito Louca / 1941 (1979), por considerar que insultava os veteranos da Segunda Guerra Mundial.

 
Nos anos 80 e 90, trabalhou mais em teatro e na TV, com participações especiais em séries, documentários e filmes. Sua derradeira atuação no cinema foi em 2003, no brasileiro “Meu Pai / My Father, Rua Alguem 5555”. Os últimos anos de vida de CHARLTON HESTON foram marcados pelo mal de Alzheimer. Faleceu no dia 8 de abril de 2008, em sua casa, em Beverly Hills, Los Angeles. Além da esposa, com quem foi casado por 64 anos, deixou dois filhos e três netos. Um dos filhos, Fraser Clarke Heston, é diretor de filmes e atuou como Moisés bebê em “Os Dez Mandamentos”. O seu funeral contou com centenas de pessoas, incluindo a ex-primeira-dama Nancy Reagan, Arnold Schwarzenegger, Olivia de Havilland, Pat Boone, Tom Selleck e Oliver Stone.
heston e a esposa lydia
FONTES
“Charlton Heston: an Incredible Life” (2008)
de Michelle Bernier
 
“Charlton Heston: Hollywood's Last Icon” (2017)
de Marc Eliot
 
“In the Arena: an Autobiography” (1995)
de Charlton Heston
 
john derek, heston e vincent price em os dez mandamentos
TREZE FILMES de CHARLTON HESTON
(por ordem de preferência)
 
01
BEN-HUR
(Idem, 1959)

direção de William Wyler
elenco: Jack Hawkins, Stephen Boyd, Haya Harareet,
Hugh Griffith, Martha Scott, Cathy O´Donnell,
Sam Jaffe e Frank Thring
 
Oscar de Melhor Ator
David Di Donatello de Melhor Ator Estrangeiro
 
02
A MARCA da MALDADE
(Touch of Evil, 1958)

direção de Orson Welles
elenco: Orson Welles, Janet Leigh, Marlene Dietrich,
Joseph Calleia, Akim Tamiroff e Zsa Zsa Gabor
 
03
Os DEZ MANDAMENTOS
(The Ten Commandments, 1956)

direção de Cecil B. DeMille
elenco: Yul Brynner, Anne Baxter, Edward G. Robinson,
Yvonne De Carlo, Debra Paget, John Derek,
Cedric Hardwicke, Nina Foch, Martha Scott,
Judith Anderson e Vincent Price
 
04
Da TERRA NASCEM os HOMENS
(The Big Country, 1958)

direção de William Wyler
elenco: Gregory Peck, Jean Simmons, Carroll Baker,
Burl Ives e Charles Bickford
 
05
EL CID
(Idem, 1961)

direção de Anthony Mann
elenco: Sophia Loren, Raf Vallone, Geneviève Page,
Hurd Hatfield e Frank Thring
 
06
FÚRIA do DESEJO
(Ruby Gentry, 1952)

direção de King Vidor
elenco: Jennifer Jones, Karl Malden
e Josephine Hutchinson
 
07
O ÚLTIMO GUERREIRO
(Arrowhead, 1953)

direção de Charles Marquis Warren
elenco: Jack Palance, Katy Jurado e Brian Keith
 
08
TRÁGICA EMBOSCADA
(The Savage, 1952)

direção de George Marshall
elenco: Susan Morrow
 
09
O MAIOR ESPETÁCULO da TERRA
(The Greatest Show on Earth, 1952)
 

direção de Cecil B. DeMille
elenco: James Stewart, Betty Hutton, Cornel Wilde,
Dorothy Lamour, Gloria Grahame e Henry Wilcoxon
 
10
O PLANETA dos MACACOS
(Planet of the Apes, 1968)

direção de Franklin J. Schaffner
elenco: Roddy McDowall, Kim Hunter, Maurice Evans,
James Whitmore e Linda Harrison
 
11
No MUNDO de 2020
(Soylent Green, 1973)

direção de Richard Fleischer
elenco: Edward G. Robinson, Leigh Taylor-Young
e Joseph Cotten
 
12
AGONIA e ÊXTASE
(The Agony and the Ecstasy, 1965)

direção de Carol Reed
elenco: Rex Harrison, Diane Cilento, Harry Andrews,
Adolfo Celi e Tomas Milian
 
13
HAMLET
(Idem, 1996)

direção de Kenneth Branagh
elenco: Kenneth Branagh, Julie Christie, Derek Jacobi,
Kate Winslet, Richard Attenborough, Judi Dench,
e Gérard Depardieu
 
heston em ben-hur
“Charlton é o ator ideal para o épico. Além de seus atributos físicos, ele pode manejar um cavalo, uma espada, uma carruagem, uma lança, qualquer coisa, como se tivesse sido feito para isso. Ele é incrível. Coloque uma toga nele e ele ficará perfeito.”

ANTHONY MANN
diretor de “El Cid”
    
GALERIA de FOTOS
 
heston e o presidente dos EUA ronald reagan