junho 28, 2022

***** KATHARINE HEPBURN – Uma SENHORA ATRIZ




“Nunca fui vítima da época em que vivi. Na verdade, fui um sucesso. Meu estilo de personalidade se tornou o estilo da época. Eu era uma espécie de Nova Mulher.”
KATHARINE HEPBURN
 
Altura:  1,73 m
Cabelos: ruiva
Olhos: azuis
Apelidos: Primeira-dama do Cinema, Kate, A Grande Kate e Kathy

 
 
Inteligente, classuda e nada convencional. Ela era estranha. Sardenta, magra e ambígua, mas sua determinação e talento a levaram longe, conquistando o respeito da indústria e o amor de seus fãs. Apesar do comportamento duro e por vezes temperamental, KATHARINE HEPBURN (1907 – 2004. Hartford, Connecticut / EUA) provou muitas vezes ser leal e de bom coração.  Grande atriz no drama e na comédia, ganhou quatro Oscars da Academia e recebeu outras oito indicações.
 
Não se dobrava facilmente diante das tramoias da vida. Aos doze anos, encontrou o irmão Tom, três anos mais velho, enforcado no sótão. Respirou fundo, chorou, mas a vida tinha de continuar. Quase cinco décadas depois, em 1967, enfrentou mais um rude golpe: Spencer Tracy, amado companheiro durante 25 anos, com quem viveu uma relação delicada (foi a outra na vida dele, o ator nunca se separou legalmente da esposa oficial, Louise), morreu de ataque cardíaco.
 

A atriz respirou fundo outra vez, chorou novamente, mas a vida tinha de continuar. E como continuou! Permaneceu lépida e fagueira. Sempre agitada, ganhou mais três Oscars e foi indicada a dois Tony Awards, em 1970 por “Coco” e em 1982 por “The West Side Waltz”. Em 1991 lançou a autobiografia “Me – Stories of my Life” e aos 84 anos costumava pedalar bicicleta pelo Central Park, em Nova Iorque. Na época, afirmou que não tinha tempo de temer a morte, “mas se ela chegar, vai ser um alívio”.
 
Filha de um urologista e uma pioneira do feminismo, KATHARINE HEPBURN sempre teve personalidade forte. Sabia o que queria e, principalmente, fazia o que queria. Aos três anos já era escalada para atuar em espetáculos criados pela mãe, propagandeando a ideia do voto entre as mulheres. Aos nove, decidiu se transformar em menino, raspou a cabeça e disse a todo mundo que seu nome era Jimmy. A brincadeira acabou depois de algum tempo, mas a postura masculina diante da vida perduraria para sempre.
 
Aos dezessete anos, entrou para a faculdade, pensando em estudar Medicina, e seus modos nada femininos chocaram colegas mais conservadoras. Começou no teatro aos 21 anos, fazendo pequena participação num espetáculo intitulado “Czarina”. Em seguida, ganhou outros papéis em peças montadas na Broadway. O pai não gostou, mas ela, obstinada, bateu pé firme e venceu. Além disso, casou-se com Ludlow Ogden Smith, da alta sociedade da Filadélfia e tornou-se dona do próprio nariz.
 
O casamento não durou, mas a paixão pela arte de representar seria para sempre. Aos 25 anos, surgiu o primeiro expressivo papel no teatro e, logo em seguida, veio o convite para fazer cinema. Desinteressada, pediu um cachê astronômico. Os produtores, no entanto, aceitaram a proposta e ela estreou em “Vítimas do Divórcio / A Bill of Divorcement” (1932), dirigido por George Cukor. Dois filmes depois, atuando em “Manhã de Glória / Morning Glory” (1933), ganhou o primeiro Oscar de Melhor Atriz.
 
Indomada, ela não se submetia à ditadura dos executivos dos estúdios, que determinavam como as estrelas deveriam se comportar. Fazia tudo o que irritava os chefões: fugia de caçadores de autógrafos (achava-os chatos), mantinha a vida particular em segredo (escondeu o relacionamento com o bilionário Howard Hughes, com quem viveu alguns anos) e, mais grave para os rígidos padrões morais da época, não abria mão das calças compridas, que usava estivesse onde estivesse.
 
As histórias começaram a vazar. Falava-se de seu comportamento arrogante e sua recusa em jogar o jogo de Hollywood, sempre usando calças e sem maquiagem, nunca posando para fotos ou dando entrevistas. O público terminou chocado com seu comportamento nada convencional e seus filmes deixaram de fazer sucesso. Em 1939, apaixonada pelo papel de Scarlett em “... E o Vento Levou / Gone With the Wind”, submeteu-se aos testes para a escolha da protagonista, mas foi recusada. Rotulada de “veneno de bilheteria”, voltou a Broadway em “The Philadelphia Story” (1938). Foi um sucesso. Ela comprou os direitos da peça e os vendeu para a M-G-M, assumindo o papel principal. A versão cinematográfica foi um êxito de bilheteria, e a atriz ganhou sua terceira indicação ao Oscar.
 
Em 1942, juntou-se a Spencer Tracy pela primeira vez, em “A Mulher do Ano”, e assim começou um dos maiores pares românticos na história do cinema - e um dos mais controversos casos de amor fora das telas. Ele era o par perfeito para aquela mulher inteligente, dura e peculiar. A abordagem dela mais cerebral das coisas era o oposto dos métodos naturais e instintivos de Spencer. Sua atuação sutil a deixou impressionada. Ela a princípio o desconcertou, mas depois o seduziu com sua lealdade, e caráter firme. Também agiu como protetora, mantendo o ator complexo e atormentado longe da bebida e ensinando-lhe que poderia superar seu vício. Ele desfrutaria de alguns dos mais longos períodos de sobriedade sob sua vigilância.

spencer tracy e kate
O fato de que forças tão opostas da natureza e amantes improváveis devam se unir é um mistério em si. De alguma forma, os dois se apaixonaram, e seu caso fora e na tela durou 25anos. Foi um caso, já que Spencer era casado com Louise Treadwell desde 1923. KATHARINE HEPBURN não foi seu primeiro flerte extraconjugal, nem seria o último, e os mesmos demônios que o enviaram continuamente em busca de refúgio na garrafa também o levaram a pular de cama em cama. Durante o relacionamento deles, ela foi uma fonte de conforto nos seus momentos atormentados. Quando Spencer desaparecia por até meses, ela estava pronta para cuidar dele quando voltasse.
 
Muitos historiadores afirmam que KATHARINE HEPBURN era lésbica e que o relacionamento com Spencer não passava de um estratagema para encobrir suas preferências sexuais. Em contrapartida, os amigos íntimos descrevem os altos e baixos do casal, sua devoção um ao outro e o profundo e permanente amor. No livro “Serviço Completo - A Secreta Vida Sexual das Estrelas de Hollywood”, de Scotty Bowers e Lionel Friedberg, um famoso cafetão de Hollywood garante que a atriz era uma lésbica insaciável, e que ao longo dos anos levou cerca de 150 jovens mulheres para ela. Segundo ele, Spencer era bissexual e o affair apenas uma bonita amizade.
 
Acho até possível a atriz apreciar mulheres, ela tem todas as ferramentas para isso, mas creio no romance com Spencer Tracy. Uma coisa não impede a outra. Eles fizeram nove filmes e ela estava com ele na noite em que morreu. O ator havia se levantado no meio da noite para pegar um copo de leite. Ela o seguiu o até a cozinha, mas antes de chegar lá ouviu um vidro se estilhaçar e depois um baque alto. Encontrou Spencer morto. Havia sofrido um ataque cardíaco fulminante.
 
Na década de 1950, com “Uma Aventura na África”, recebeu sua quinta indicação ao Oscar. Suas performances no cinema diminuíram nos anos 60, dedicando o seu tempo ao parceiro enfermo. Por uma de suas aparições na tela, em “Longa Jornada Noite Adentro”, recebeu sua nona indicação ao Oscar. Nos anos 1970, fez bons filmes para a TV, entre eles “Algemas de Cristal / The Glass Menagerie” (1973), “Um Amor Entre Ruínas / Love Among the Ruins” (1975) e “O Coração Não Envelhece / The Corn Is Green” (1978). No cinema brilhou em “Justiceiro Implacável / Rooster Cogburn(1975), com John Wayne, e “Num Lago Dourado / On Golden Pond” (1981), com Henry Fonda, rendendo sua quarta vitória ao Oscar.
 
Seu último longa foi “Segredos do Coração / Love Affair” (1994), com Warren Beatty e Annette Bening, e seu derradeiro filme para TV, “O Poder do Natal / One Christmas” (1994). Com a saúde em declínio, aposentou-se, morrendo aos 96 anos. Além do marido e de Spencer Tracy, teve como amantes Howard Hughes, Humphrey Bogart, John Ford e o empresário Leland Hayward. De acordo com biógrafo A. Scott Berg, “A Mulher que Soube Amar / Alice Adams” (1935) e “Longa Jornada Noite Adentro” eram seus filmes favoritos. Suas atrizes preferidas, Bette Davis e Vanessa Redgrave. Adorava Vanessa e dizia que ela era uma emoção de se ver e ouvir.

De fato, KATHARINE HEPBURN sempre se recusou a ser rotulada, constrangida ou predeterminada por quaisquer estatutos sociais sobre o “comportamento feminino convencional”. Ela foi uma das poucas estrelas de Hollywood que não fez nenhuma tentativa de adoçar sua verdadeira personalidade, claramente anti-glamour, sincera e mal-humorada. Além de extraordinária atriz, era conhecida também por ser uma ótima jogadora de golfe, tenista e nadadora. Realmente, uma mulher original.

cary grant e kate em “núpcias do escândalo”

10 FILMES de KATHARINE HEPBURN
(por ordem de preferência)
 
01
NÚPCIAS do ESCÂNDALO
(The Philadelphia Story, 1940)

direção de George Cukor
elenco: Cary Grant, James Stewart e Ruth Hussey
 
02
De REPENTE, no ÚLTIMO VERÃO
(Suddenly, Last Summer, 1959)

direção de Joseph L. Mankiewicz
elenco: Elizabeth Taylor, Montgomery Clift, Albert Dekker e Mercedes McCambridge
 
03
Uma AVENTURA na ÁFRICA
(The African Queen, 1951)

direção de John Huston
elenco: Humphrey Bogart e Robert Morley
 
04
QUANDO o CORAÇÃO FLORESCE
(Summertime, 1955)

direção de David Lean
elenco: Rossano Brazzi e Isa Miranda
 
05
A COSTELA de ADÃO
(Adam's Rib, 1949)

direção de George Cukor
elenco: Spencer Tracy, Judy Holliday, Tom Ewell e Jean Hagen
 
06
As TROIANAS
(The Trojan Women, 1971)

direção de Michael Cacoyannis
elenco: Vanessa Redgrave, Genèvieve Bujold e Irene Papas
 
07
LONGA JORNADA NOITE ADENTRO
(Long Day's Journey Into Night, 1962)

direção de Sidney Lumet
elenco: Ralph Richardson, Jason Robards e Dean Stockwell
 
08
LEVADA da BRECA
(Bringing Up Baby, 1938)

direção de Howard Hawks
elenco: Cary Grant, Charles Ruggles e Barry Fitzgerald
 
09
A MULHER do DIA
(Woman of the Year, 1942)

direção de George Stevens
elenco: Spencer Tracy, Fay Bainter e William Bendix
 
10
O LEÃO no INVERNO
(The Lion in Winter, 1968)

direção de Anthony Harvey
elenco: Peter O´Toole, Anthony Hopkins e Timothy Dalton
 
ENTREVISTANDO KATHARINE HEPBURN
Barbara Walters,1981
 
Hepburn: “Eu não vivi como mulher. Eu vivi como um homem... Acabei fazendo o que eu queria e ganhei dinheiro suficiente para me sustentar. E não tenho medo de ficar sozinha.”
Walters: “É por isso que você também usa calças?”
Hepburn: “Não, eu só uso calças porque são confortáveis.”
Walters: “A propósito, você já usou saia?”
Hepburn: “Eu tenho uma.”
Walters: “Você tem uma?”
Hepburn: “Vou usá-lo no seu funeral.”

 
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