Segundo o crítico de cinema Inácio Araújo, “nos anos 60, Ann-Margret proclamava que não era uma boneca de carne. Anos pedantes, em que ser mulher e bonita era um pecado original e confinava a atriz no gueto dos ‘sex symbols’. Para existir de pleno direito, ela devia demonstrar que sua beleza era uma excrescência suportável desde que, comprovadamente, ela fosse apenas um atributo anexo a essa coisa misteriosa que se chama talento” (...) “chegamos a uma década em que a beleza não precisa se explicar. Ela existe e ponto. Melhor assim”. Exato, Inácio. Lembro do tempo em que a beleza e a sensualidade da brasileira SONIA BRAGA eram esnobadas, como se fosse pouca coisa. O tempo passou, a idade chegou, mas a atriz seguiu adiante, imune à críticas, e atuando entre o Brasil e os Estados Unidos. Nos últimos tempos, destacou-se em episódios das badaladas séries “Sex and the City” (no papel de uma lésbica), “Brothers & Sisters”, “As Cariocas” e “Tapas & Beijos”.
Era fascinado por ela na adolescência. Certa vez, em Salvador, pedi um autógrafo seu, alimentando o sonho de um garoto que colecionava mais de uma centena de fotos da deusa em um enorme álbum e discutia com quem duvidava do seu talento. Considero SONIA BRAGA uma linda mulher. No entanto, toda paixão esmorece um dia e acabei por deixar de lado a morena de Maringá. Quando rodou “Tieta do Agreste” (1986) na minúscula Picado, Bahia, entrevistei-a no set de filmagem para o “Diário de Notícias” (de Lisboa), procurando disfarçar a emoção que sentia com suas gostosas risadas. Estava diante de um ícone. Ela movia-se com graça natural, o corpo dançando e o sorriso sem acanhamento.
Apaixonei-me pela atriz ao assistir “Dona Flor e seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto. Seria um dos três ilustres personagens de Jorge Amado imortalizados por ela. Sua entrega foi tão essencial que ainda hoje não é possível ler um desses romances sem enxergar SONIA BRAGA em Gabriela, Dona Flor ou Tieta. Estreando na tevê no programa infantil “Jardim Encantado”, da Tv Tupi, aos 15 anos, subiu aos palcos em 1969, no musical “Hair”, totalmente nua. Em 1970, em “Irmãos Coragem”, da Globo, como Lídia Siqueira, iniciou seu fluxo em telenovelas, marcando época com “Selva de Pedra” (1972), “Fogo Sobre Terra” (1974), “Gabriela” (1975), “Saramandaia” (1976) e “Dancin’Days” (1979).
Disputadíssimo por inúmeras atrizes, o papel principal de “Gabriela” terminou nas mãos da jovem brejeira quase desconhecida depois de muito alarme falso. “Na época estava sem trabalho, namorando um playboy carioca que era dono de um barco. Eu andava nua pelo barco, fui ficando morena e meu cabelo cresceu, o que entusiasmou Walter Avancini”, disse a atriz numa entrevista. Após uma série de filmes interessantes, alcançou o estrelato com “Dona Flor e seus Dois Maridos”, um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema brasileiro. “A Dama do Lotação” (1978), de Neville D’Almeida, e “Eu Te Amo” (1980), de Arnaldo Jabor, também fizeram história. Com o segundo ganhou o prêmio Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado.
Posou para a Playboy norte-americana em 1984 e 1986. Em 1985 protagonizou com William Hurt e Raul Julia “O Beijo da Mulher Aranha / Kiss of the Spider Woman”, pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante.
A partir desse filme, mudou-se para os Estados Unidos, atuando em “Luar sobre Parador / Moon Over Parador” (Paul Mazursky, 1988), “Rebelião em Milagro / The Milagro Beanfield War” (Robert Redford, 1988), “Rookie – Um Profissional do Perigo / The Rookie” (Clint Eastwood, 1990), “Amazônia em Chamas / The Burning Season” (John Frankenheimer, 1994), “Morte Dupla / Two Deaths” (Nicolas Roeg, 1995) e “Olhar de Anjo / Angel Eyes” (Luis Mandoki, 2001). Com alguns deles concorreu aos prêmios Emmy, BAFTA e novamente ao Globo de Ouro. Entre um filme e outro, namorou Robert Redford e Clint Eastwood.
como gabriela |
com mauro gonçalves e josé wilker em “dona flor” |