deborah kerr em “narciso negro” |
O cinema sempre manifestou um particular interesse pelo sagrado. Os filmes religiosos estão entre os primeiros da história da indústria cinematográfica, refletindo transformações sociais, culturais e teológicas. Mesmo desejando o entretenimento, muitos deles também ambicionam confirmar a fé do público, levá-la a quem não tem, informar sobre ela, posicionar-se diante dos valores do mundano, instigar o comportamento dos fiéis ou delimitar seu espaço de crença em relação a outras confissões religiosas. Essa filmografia pode ser categorizada nos mais variados grupos: a epopeia de Jesus Cristo, documentários, épicos bíblicos e narrativas centradas na fé (ou na falta dela) de padres e freiras. Não se pode dizer que seja um gênero, pois não obedece em seu conjunto a regras específicas, mas o “divino” pode ser reconhecido através de crenças, ritos e práticas que concerne ao espiritual.
Como o tema é complexo, ficamos com os longas que abordaram a espiritualidade de FREIRAS. Entre sacrilégios, desejos carnais, lesbianismo, sacrifício e compaixão, monjas retratadas por estrelas em dramas, comédias, musicais, ou no trash, como Florinda Bolkan em “Flávia, a Freira Muçulmana / Flavia, la Monaca Musulmana” (1974) ou Anita Ekberg em “A Freira Assassina / Suor Omicidi” (1979).
Mais recentemente, Anne Bancroft em “Agnes de Deus / Agnes of God” (1985), Susan Sarandon em “Os Últimos Passos de Um Homem / Dead Man Walking” (1995) e Meryl Streep em “Dúvida / Doubt” (2008) concorreram ao Oscar por vibrantes atuações como freiras. Sarandon saiu vitoriosa. As quase sempre esquecidas atrizes coadjuvantes também se destacaram como religiosas, de Gladys Cooper a Ethel Barrymore, de Celeste Holm a Lilia Skala. Às vezes penso que seria muito instigante ver Elizabeth Taylor na pele de uma monja. Já pensou nos seus olhos violetas cintilando no austero hábito católico, caro(a) leitor(a)? Fulminante! Como isso não aconteceu, conformo-me com Carmen Maura e Marisa Paredes na comédia maluca “Maus Hábitos / Entre Tinieblas” (1983). Nele, Almodóvar escracha a dedicação das “Filhas de Cristo”, mostrando o convento das “Redentoras Humilhadas”, onde freiras que já foram prostitutas, assassinas ou cafetinas, continuam a praticar antigos vícios.
Quando penso em FREIRAS no cinema me lembro imediatamente de Deborah Kerr, Ingrid Bergman e Audrey Hepburn. São realmente convincentes, milagrosas, marcadas por uma certa “centelha divina”. Elas estão entre as quinze maiores interpretações de religiosas nas telas. Assim acredito. Segue a lista.
Mais recentemente, Anne Bancroft em “Agnes de Deus / Agnes of God” (1985), Susan Sarandon em “Os Últimos Passos de Um Homem / Dead Man Walking” (1995) e Meryl Streep em “Dúvida / Doubt” (2008) concorreram ao Oscar por vibrantes atuações como freiras. Sarandon saiu vitoriosa. As quase sempre esquecidas atrizes coadjuvantes também se destacaram como religiosas, de Gladys Cooper a Ethel Barrymore, de Celeste Holm a Lilia Skala. Às vezes penso que seria muito instigante ver Elizabeth Taylor na pele de uma monja. Já pensou nos seus olhos violetas cintilando no austero hábito católico, caro(a) leitor(a)? Fulminante! Como isso não aconteceu, conformo-me com Carmen Maura e Marisa Paredes na comédia maluca “Maus Hábitos / Entre Tinieblas” (1983). Nele, Almodóvar escracha a dedicação das “Filhas de Cristo”, mostrando o convento das “Redentoras Humilhadas”, onde freiras que já foram prostitutas, assassinas ou cafetinas, continuam a praticar antigos vícios.
Quando penso em FREIRAS no cinema me lembro imediatamente de Deborah Kerr, Ingrid Bergman e Audrey Hepburn. São realmente convincentes, milagrosas, marcadas por uma certa “centelha divina”. Elas estão entre as quinze maiores interpretações de religiosas nas telas. Assim acredito. Segue a lista.
LILLIAN GISH
A IRMÃ BRANCA
(The White Sister, 1923)
direção de Henry King
Garota rejeita o casamento arrumado por seu pai com um banqueiro, em favor de um soldado. Quando este é declarado morto na Primeira Guerra Mundial, ela entra para um convento, mas após receber os votos descobre que o amado está vivo. Primeiro filme de Lillian pós Griffith. Em 1933, Helen Hayes repetiria o papel ao lado de Clark Gable.
INGRID BERGMAN
Os SINOS de SANTA MARIA
(Bell’s of St. Mary’s, 1945)
direção de Leo McCarey
Padre se desentende com freira sobre a educação na falida escola paroquial de Santa Maria. Em meio ao conflito dos dois, um ganancioso empresário, vizinho da paróquia, quer demolir o lugar. Agora só uma ajuda divina poderá resgatar o espaço católico das mãos deste empresário. Simpática e divertida continuação do êxito de “O Bom Pastor / Going my Way” (1944), do mesmo diretor, concorreu a 8 Oscars.
DEBORAH KERR
NARCISO NEGRO
(Black Narcissus, 1947)
direção de Michael Powell e Emeric Pressburger
Cinco freiras, chefiadas por uma inexperiente irmã, passam a tomar conta de um convento no isolado Himalaia, em meio a um povo não-católico. Contando com a ajuda de um inglês, a trama funciona como um estudo sutil, quase inconsciente, do desejo carnal dessas jovens freiras. Grandes atuações de Kerr e Kathleen Byron. Kerr, depois desse sucesso, tornou-se uma das maiores estrelas de Hollywood.
LORETTA YOUNG
FALAM os SINOS
(Come to the Stable, 1949)
direção de Henry Koster
Duas freiras se mudam para os Estados Unidos em busca da realização de um sonho: construir um hospital infantil. Indicado ao Oscar de Atriz, Atriz Coadjuvante (Celeste Holm e Elsa Lanchester), Roteiro, Direção de Arte, Fotografia e Canção. O inexpressivo diretor Henry Koster faria logo depois “O Manto Sagrado / The Robe” (1953).
SILVANA MANGANO
ANNA
(Idem, 1951)
direção de Alberto Lattuada
Estrelado pelo mesmo trio do celebrado “Arroz Amargo / Riso Amaro” (1949) – Mangano, Raf Vallone e Vittorio Gassman – fala de um homem que sofre um acidente de carro e é levado para um hospital, onde uma irmã cuida dele. Casualmente, ele é a razão pela qual ela se tornou freira, deixando para trás uma vida como cantora de boate. Um dos sucessos do cinema italiano. Homenageado em “Cinema Paradiso / Idem” (1988) e “Caro Diário / Idem” (1993). Como roteiristas, os futuros diretores Franco Brusati e Dino Risi.
CLAUDETTE COLBERT
AGONIA de uma VIDA
(Thunder on the Hill, 1951)
direção de Douglas Sirk
Condenada por assassinato, surpreendida por uma inundação, abriga-se em hospital de um convento. Uma irmã-enfermeira se convence da sua inocência e decide encontrar o assassino. Excelente atuação de Colbert sob a direção sensível do mestre Sirk.
ANNA MAGNANI
IRMÃ LETIZIA
(Suor Letizia, 1956)
direção de Mario Camerini
Uma freira, que foi missionária na África por 20 anos, é mandada para um convento perto de Nápoles, onde ela se afeiçoa a um menino cujo pai morreu e a mãe indiferente está prestes a emigrar para a América do Norte. Camerini é um dos maiores diretores da Itália. Magnani, soberba, divide a cena com outra diva: Eleonora Rossi Drago.
DEBORAH KERR
O CÉU é TESTEMUNHA
(Heaven Knows, Mr. Allison, 1957)
(Heaven Knows, Mr. Allison, 1957)
direção de John Huston
Fuzileiro e freira isolados em uma ilha do Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial, tentam passar despercebidos pelos nipônicos do local. A atração sexual entre eles é inevitável. Pela belíssima interpretação, Kerr teve uma de suas seis indicações ao Oscar, mas injustamente não levou. Roteiro bem escrito e ótima fotografia de Oswald Morris.
AUDREY HEPBURN
Uma CRUZ à BEIRA do CAMINHO
(The Nun’s Story, 1959)
direção de Fred Zinnemann
Religiosa belga não se conforma com as desigualdades sociais. Suas ações sociais acabam conflitando com os votos que firmou como freira, tais como silêncio, pobreza e castidade. Indicado à oito Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz.
JEANNE MOREAU
ASSIM DEUS MANDOU
(Le Dialogue des Carmélites, 1960)
direção de Philippe Agostini
e Raymond Leopold Bruckberger
e Raymond Leopold Bruckberger
Durante a Revolução Francesa, mulher refugia-se em convento de religiosas carmelitas, mas padre é contra sua permanência no local. Inspirado no romance de George Bernanos, conta com excelentes atores europeus: Alida Valli, Madeleine Renaud, Pierre Brasseur, Jean-Louis Barrault etc. Grande sucesso dirigido por um magistral diretor de fotografia, destaca-se pela reconstituição fiel de rituais religiosos (como a adoração a Jesus Crucificado, a eleição da Madre Superiora e o corte dos cabelos das noviças).
LUCYNA WYNNICKA
MADRE JOANA dos ANJOS
(Matka Joanna od aniolów, 1961)
direção de Jerzy Kawalerowicz
No século XVII, a história de um convento com freiras possuídas pelo demônio. Um dos primeiros filmes a tocar no tema do exorcismo, é um clássico do cinema europeu, ganhador do Prêmio de Júri no Festival de Cannes de 1961. Arrebatador e imperdível.
JULIE ANDREWS
A NOVIÇA REBELDE
(The Sound of Music, 1965)
direção de Robert Wise
Uma noviça que não consegue seguir as rígidas regras do convento, por se sentir livre e amar as montanhas, vai trabalhar na casa de um charmoso capitão, viúvo, pai de sete filhos, que os educa com uma forte disciplina. A chegada dela une a família através da música. Um dos musicais mais queridos de todos os tempos. Originou-se de um espetáculo da Broadway, ganhando o Oscar de Melhor Filme.
ANNA KARINA
A RELIGIOSA
(La Religieuse, 1966)
direção de Jacques Rivette
Adaptado de uma obra de Denis Diderot, é um dos melhores exemplos do cinema austero e sem concessões do diretor mais radical e rigoroso da Nouvelle Vague: Rivette. Fala de uma bela jovem trancada em um convento pelos pais burgueses contra sua vontade, num verdadeiro calvário. O relato denuncia as barbáries cometidas entre religiosos, contendo críticas severas a Igreja da época.
VANESSA REDGRAVE
Os DEMÔNIOS
(The Devils, 1971)
direção de Ken Russell
Durante o violento regime católico que tomou conta da França no século XVII, um convento de freiras sexualmente reprimidas torna-se o centro de uma disputa pelo poder. Baseados em fatos históricos narrados em livro pelo grande Aldous Huxley, foi proibido em muitos países católicos. Ótima e visceral atuação de Vanessa.
SOPHIA LOREN
O PECADO
(Bianco, Rosso..., 1972)
direção de Alberto Lattuada
Sentimentos velados entre uma freira e um jovem com idéias comunistas. Aos 38 anos de idade, vestida quase sempre de monja, Sophia passa uma carga de sensualidade como poucas vezes em sua carreira. Ao seu lado, o comediante Adriano Celentano.