“Quando o
ator não está atuando, ele se sente doente, deprimido, inquieto”
GÉRARD
PHILIPE
Altura: 1,83
m
Cor dos olhos: castanhos
Cor do
cabelo: castanho claro
Um dos
atores mais populares e versáteis da Europa, cujas brilhantes atuações no palco
e na tela estabeleceram sua reputação. Bonito como um deus, comprometido, carismático,
ele morreu jovem, com apenas trinta e seis anos, e o tempo o transformou em um
mito. A sua arte é o retrato dos anos 1950. Desde
seu primeiro papel, em 1943, até sua última aparição nas telas, GÉRARD PHILIPE (1922
- 1959. Cannes / França) encarnou o herói ideal da França, em uma
carreira iluminada.
Ele
escondeu de todos a tragédia que o atingiu na juventude: a condenação de seu pai pelos
tribunais, em 1945, por colaborar com o nazismo, forçado ao exílio na Espanha
para escapar de uma sentença de morte. Um
episódio doloroso. O ator nasceu nos Alpes-Maritimes. Ele e seu irmão, Jean,
vivenciaram uma infância ensolarada. Em 1940, teve um encontro decisivo no Parc
Hôtel Palace, em Grasse, dirigido por seu pai, com o cineasta Marc Allégret,
refugiado como muitos artistas na Côte d'Azur. Este descobridor de talentos notou o jovem. No final de uma audição, ele o aconselhou a se
matricular no Centre des Jeunes du Cinema, em Nice, e no Jean Wall, em Cannes.
Em 1942, GÉRARD
PHILIPE estreia no teatro e dois anos depois atua em seu primeiro filme, dirigido por Marc Allégret. Convidado para Paris, interpreta um anjo em “Sodoma e Gomorra”, uma performance
que o torna uma estrela da noite para o dia, sendo notado pela crítica e
elogiado por Jean Cocteau e René Clair. Seu sucesso no palco levou a ofertas de
filmes e, em poucos anos, suas aparições na tela lhe trouxeram fama
internacional. Marlene Dietrich viu uma de suas apresentações em
Paris, no final dos anos 40, e tentou persuadir Ernst Lubitsch a fazer uma versão
cinematográfica de “Der Rosenkavalier”, com ela como a condessa envelhecida,
mas ainda adorável, e o ator francês como o amante mais jovem.
A fama cinematográfica não diminuiu o entusiasmo de GÉRARD PHILIPE pelo palco. Ele
criou papéis memoráveis em “Calígula” (1945), de Albert Camus; “O
Príncipe de Hombourg” (1951), de Heinrich von Kleist; “Lorenzaccio”
(1952), de Alfred de Musset; “Ruy Blas” (1954), de Victor Hugo, e “Richard II”
(1954), de Shakespeare. Foi aplaudido em “El
Cid”, de Corneille, no Festival de Avignon, em 1951. No Théâtre
National Populaire, dirigido por Jean Vilar, aderiu aos dogmas do grupo: uma aventura coletiva sem estrelato, marcada pela simplicidade a serviço de um público de todas as classes sociais,
apresentando-se em subúrbios e províncias, em salas improvisadas, para performances
acompanhadas de debates.
Em 1951, casou-se
com Nicole Fourcade. Jornalista, cineasta e etnóloga, ela acompanha o marido em
suas viagens, realizando filmagens, apresentações teatrais e participando de festivais de cinema. O ator era recebido em todos os lugares como uma figura
notável da cultura francesa. O casal aproveitava para explorar os
contornos políticos e sociais de diversos países. O casamento deles foi uma
intensa história de amor. Tiveram dois filhos. Ela adotou o pseudônimo
Anne Philipe, escrevendo sobre seu marido nos livros “Souvenirs” (1960) e
“Le Temps d'un Soupir” (1963).
Em 1953, GÉRARD
PHILIPE afasta-se dos papéis românticos, partindo para personagens complexos: um médico alcoólatra em “Os
Orgulhosos / Les Orgueilleux” (1953), um almofadinha em “As Grandes Manobras”, um
cínico empregado de loja em “As Mulheres dos Outros/ Pot-Bouille” (1958), o
fraco secretário de “Os Ambiciosos / La Fièvre Monte à El Pao” (1959), entre
outros. Gravou em discos textos literários de François Villon, Arthur Rimbaud,
Paul Éluard e “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Em 1956 co-dirige
com Joris Ivens o filme “As Aventuras de Till / Les Aventures de Till
L'Espiègle”, um projeto sonhado por muitos anos, mas que não obteve êxito.
O
mistério e a aura o associam a atores como James Dean. Havia algo em sua
atuação que era maduro e infantil ao mesmo tempo. Em vida era muito alegre,
adorava fazer rir os que o rodeavam, uma atitude quase de um eterno
adolescente. Seu eterno sucesso se deve ao fato de que ele foi tão bom nas
telas quanto no palco, fazendo malabarismos com os dois mundos como poucos.
Outra razão é a vastidão de sua filmografia e performances teatrais que ele
realizou em um tempo muito curto. Em 1958, retornando ao Théâtre National
Populaire, interpretou seu autor favorito, Alfred de Musset, em “Les Caprices
de Marianne” e “On ne Badine pas avec l'amour”.
Ator
hipnótico, politicamente comprometido, ativista pela defesa de sua
profissão, fundou o Sindicato Francês de Artistas (SFA).
Além
do astro de cinema que encantava multidões, era conhecido como generoso e
discreto, bom pai de família, marido apaixonado, amigo leal, profissional
dedicado à sua arte. No entanto, os diretores da Nouvelle Vague não gostavam dele.
François Truffaut parece ter tido especial antipatia pela sua persona nas
telas. Ele escrevia sobre o ator coisas como: “terror dos bons diretores de
cinema”, “comprometido com personagens melancólicos e tuberculosos de olhar
marejado”. Especula-se que essa atitude antagônica era causada por divergências
ideológicas.
Uma
fadiga repentina invadiu GÉRARD PHILIPE na primavera de 1959. Ele normalmente era
a própria vitalidade. Na época, fazia planos para começar a rodar uma versão cinematográfica de “O Conde de Monte-Cristo”. Estudava
também a possibilidade de interpretar “Hamlet” nos palcos. Uma constante dor no
ventre e um cansaço contínuo criavam indagações, mas não preocupação excessiva.
Tinha acabado de voltar do México, onde trabalhou em um filme de Buñuel, “Os
Orgulhosos”. A indisposição era atribuída aos hábitos alimentares adotados em
Acapulco. Terminou hospitalizado e os médicos descobriram um tumor no
fígado. Morreu dias depois de uma embolia brutal.
Manchetes
em todo o mundo anunciaram seu fim. Partiu em plena glória e está enterrado em
uma cova simples em um pequeno cemitério em Ramatuelle, perto da costa do Mar
Mediterrâneo. Em 1961, seu retrato apareceu em um selo postal comemorativo
francês. Em 1995, o governo francês lançou uma série de moedas de edição
limitada que incluíam uma moeda de 100 francos com a imagem do ator. Além
disso, escolas e teatros foram nomeados em sua homenagem, como o Collège Gérard
Philipe, em Cogolin, e um teatro de Berlim, Alemanha. Eu vi a maioria dos seus trinta filmes. Ele é espetacular. Um dos monstros sagrados do cinema.
10 FILMES
de GÉRARD PHILIPE
(por
ordem de preferência)
01
Os
AMANTES de MONTPARNASSE
(Les
Amants de Montparnasse, 1958)
Direção
de Jacques Becker
Elenco:
Lilli Palmer, Anouk Aimée, Lila Kedrova e Lea Padovani
02
Uma
PEQUENA PRAIA TÃO BONITA
(Une si
Jolie Petite Plage, 1949)
Direção
de Yves Allégret
Elenco:
Madeleine Robinson, Jean Servais, Jane Marken e Julien Carette
03
CONFLITOS
DE AMOR
(La
Ronde, 1950)
Direção
de Max Ophüls
Elenco:
Anton Walbrook, Simone Signoret, Serge Reggiani, Simone Simon, Daniel Gélin,
Danielle Darrieux, Fernand Gravey, Jean-Louis Barrault e Isa Miranda
04
À SOMBRA
do PATÍBULO
(La
Chartreuse de Parme, 1948)
Direção
de Christian-Jaque
Elenco:
Renée Faure, María Casares, Lucien Coëdel e Louis Salou
05
A BELEZA
do DIABO
(La
Beauté du Diable, 1950)
Direção
de René Clair
Elenco:
Michel Simon, Nicole Bernard e Paolo Stoppa
06
FANFAN la
TULIPE
(Idem,
1952)
Direção
de Christian-Jaque
Elenco:
Gina Lollobrigida, Marcel Herrand e Geneviève Page
07
As
GRANDES MANOBRAS
(Les
Grandes Manoeuvres, 1955)
Direção
de René Clair
Elenco:
Michèle Morgan, Jean Desailly, Brigitte Bardot, Lise Delamare e Magali Noel
08
As
LIGAÇÕES AMOROSAS
(Les
Liaisons Dangereuses, 1959)
Direção
de Roger Vadim
Elenco:
Jeanne Moreau, Annette Stroyberg e Jean-Louis Trintignant
09
ADÚLTERA
(Le
Diable au Corps, 1947)
Direção
de Claude Autant-Lara
Elenco:
Micheline Presle e Jacques Tati
10
JULIETA
ou a CHAVE dos SONHOS
(Juliette
ou La Clef des Songes, 1951)
Direção
de Marcel Carné
Elenco:
Suzanne Clouthier
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