Produzido e dirigido pelo cineasta de origem italiana Frank Capra (1897 - 1991), mestre em comédias que apresentam mensagens reforçando os valores humanos, a exemplo de “Do Mundo Nada se Leva / You Can’t Take It With You” (1938), esta fábula fala de amizade, compaixão, solidariedade, amor e honestidade, contando a história de George Bailey (James Stewart), um sujeito de bom coração. Seu maior sonho é cursar uma faculdade, viajar pelo mundo, sair de sua pequena cidade. Porém, sua bondade e seu desejo de ajudar as pessoas vão sempre adiando a realização de seus sonhos. A cada oportunidade surgida, um novo obstáculo se interpõe no caminho de suas realizações. Com o passar dos anos, George se vê cada vez mais preso aos negócios sempre instáveis da empresa que herdou do pai.
Ele é na verdade um realizador de sonhos. Através da pequena construtora herdada financia casas próprias para famílias pobres, cobrando juros tão baixos que mal consegue manter a sua própria família. Infelizmente, em virtude de grave problema financeiro, provocado por desonesto banqueiro (Lionel Barrymore), ele se vê prestes a perder a empresa, a reputação e a harmonia familiar. Na véspera do Natal, assumindo que fracassou, decide tirar a própria vida, saltando de uma ponte, mas é impedido pelo doce e atrapalhado aspirante a anjo, Clarence (Henry Travers), que mostra o quanto ele é importante para todos da sua comunidade.
Ele é na verdade um realizador de sonhos. Através da pequena construtora herdada financia casas próprias para famílias pobres, cobrando juros tão baixos que mal consegue manter a sua própria família. Infelizmente, em virtude de grave problema financeiro, provocado por desonesto banqueiro (Lionel Barrymore), ele se vê prestes a perder a empresa, a reputação e a harmonia familiar. Na véspera do Natal, assumindo que fracassou, decide tirar a própria vida, saltando de uma ponte, mas é impedido pelo doce e atrapalhado aspirante a anjo, Clarence (Henry Travers), que mostra o quanto ele é importante para todos da sua comunidade.
Filme lendário, certamente o melhor já feito com o Natal como pano de fundo – ao lado de “De Ilusão Também Se Vive / Miracle on 34th Street” (1947) -, foi produzido pela Liberty Films, uma companhia independente recém-criada, cujos donos, o próprio Capra, William Wyler, George Stevens e Sam Briskin, pretendiam ter liberdade e independência totais sobre suas próprias obras, ao contrário do que acontecia nos filmes feitos para os grandes estúdios. Mas faliu quando este filme fracassou, não conseguindo cobrir seu alto custo de produção - cerca de US$ 3 milhões e 700 mil.
Com o fim da Liberty Films, A FELICIDADE NÃO se COMPRA (It’s a Wonderful Life, EUA, 1946) não teve seus direitos autorais comprados por nenhum estúdio, e acabou deixando de ter copyright, tornando-se de domínio público, qualquer um poderia fazer qualquer coisa com ele (por mais estranha que possa parecer essa situação, ela é comum, aconteceu com vários filmes de Orson Welles, praticamente todos os de Charles Chaplin da fase muda e os da fase inglesa de Alfred Hitchcock, só para dar alguns exemplos). Por ser grátis, passou a ser um campeão de reprises nas tevês norte-americanas e do mundo afora – e, graças a isso, reconhecido e amado por novas gerações. Tradição de Natal nos Estados Unidos, é hoje um dos filmes mais amados da história, criando assim sua reputação de clássico imperdível.
Com emoção, humor ingênuo, toques lúdicos, ritmo e inteligência, o longa discute várias questões: o que é melhor, ter amigos ou se aproveitar das pessoas para vencer na vida? Será que nossas ações passam despercebidas? Quando encontramos um amor devemos embarcar nele ou deixá-lo para trás com receio de problemas futuros? São temas discutidos de maneira leve e sentimental. Ao invés de um aprofundamento, as situações vão acontecendo e nos absorvendo. Ao final, o público está completamente emocionado com tudo o que passou na vida de George, e a mágica está na ligação entre a vida desse personagem fictício com nossa própria vida.
O roteiro de Frances Goodrich, Albert Hackett e do próprio Capra, com diálogos adicionais de Jo Swerling, apresenta diversas ações sobre uma felicidade que o dinheiro simplesmente não pode comprar, como o romantismo de George e Mary Hatch passeando sob a luz do luar e se conhecendo. James Stewart, que já havia trabalhado com Capra em “Do Mundo Nada Se Leva” e “A Mulher Faz o Homem / Mr. Smith Goes to Washington” (1939), impõe o seu carisma, numa composição marcante. É uma das suas melhores interpretações – ele que foi dirigido por Billy Wilder, George Stevens, Alfred Hitchcock, Otto Preminger, Ernst Lubitsch, George Cukor, John Ford, William A. Wellman, King Vidor e Anthony Mann.
O curioso é que por pouco James Stewart não interpretou o generoso George Bailey, pois a primeira opção era Cary Grant, que recusou a excelente oportunidade, e ele queria descansar da Segunda Guerra, em que havia acabado de lutar, mas após muita insistência de produtor/diretor, aceitou o trabalho. Sua companheira de cena, Donna Reed (Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante como a prostituta de “A Um Passo da Eternidade / From Here to Eternity”, 1953), faz a mulher “perfeita” de tantos filmes hollywoodianos: compreensiva, amorosa e companheira em todas as situações. A atuação e a química entre os dois atores são tão incríveis que, se não funcionassem dessa maneira, o filme poderia cair na banalidade.
Capra queria sua atriz preferida, Jean Arthur, para a composição de Mary, mas ela estava comprometida com uma peça na Broadway. Então resolveu dar a primeira chance de estrela para essa jovem atriz da MGM. Ela disputou a personagem com Ann Dvorak, Ginger Rogers e Olivia de Havilland. Lionel Barrymore, que faz o terrível vilão, e que na vida real era realmente paralítico, aceitou fazer o filme sem ler o roteiro, mas Capra pensou também em Vincent Price, Claude Rains, Charles Coburn e Edgar Buchanan. Já para o papel do tio, feito por Thomas Mitchell, foram considerados Walter Brennan, Barry Fitzgerald, W.C. Fields e Adolphe Menjou. Outro destaque é a revelação de Gloria Grahame como Violet. Ela seria uma das principais femmes fatale do Film Noir e levaria o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Assim Estava Escrito / The Bad and the Beautiful” (1952). Neste filme, todos estão perfeitos, mas ninguém melhor do que a dupla central, em particular Jimmy Stewart, que faz o herói que vive numa cidadezinha qualquer sonhando em sair dela e viajar pelo mundo. Mas a vida nunca lhe permitiu.
Com inocência, ternura e sinceridade, A FELICIDADE NÃO se COMPRA é uma das mais belas e comoventes obras da história do cinema. E resistiu bem ao tempo, tanto por causa de sua mensagem humanitária, sua fé no homem comum e sua crença ingênua na bondade intrínseca do ser humano, como também pelo conjunto de talentos reunidos. Este foi o primeiro filme de Capra depois de um longo período em que trabalhou no esforço de Guerra, documentando o conflito, e o que passou certamente marcou sua vida, mas ainda assim não perdeu a confiança na humanidade. Tanto que preferiu voltar com esta fábula solidária.
A história original de Phillip Van Doren Stern nasceu como um conto, “The Greatest Gift / O Maior Presente”, que o autor mandou imprimir 200 cópias, enviando-as para os seus amigos como presente de Natal. A RKO Radio Pictures gostou do argumento e comprou os direitos por US$ 10 mil. Escreveram três roteiros em cima dele, mas acabaram desistindo do projeto. Quando Capra leu o projeto, comprou-o pelo mesmo preço. Era o seu filme predileto tanto quanto de James Stewart. Em sua autobiografia, Capra escreveu: “Acho que foi o maior filme que eu fiz. Mais ainda, eu acho que é o maior filme que qualquer um fez. Ele não foi feito para os críticos ou os literatos. É meu tipo de filme para o meu tipo de público”. Apesar do fracasso retumbante de bilheteria, chegou a ser indicado aos Oscars de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Montagem e Melhor Som. Não levou nada, foi o ano de “Os Melhores Anos de Nossas Vidas / The Best Years of Our Lives”, que arrebatou sete estatuetas. Mas ganhou o Globo de Ouro de Melhor Diretor.
Votado pelo American Film Institute (AFI) em primeiro lugar como o filme que mais inspira as pessoas e o mais poderoso de todos os tempos, ficou em terceiro no gênero fantasia e décimo primeiro dentre os 100 melhores de todos os tempos. A fábula de Frank Capra a cada ano se torna mais e mais irresistível. Sem cair em sentimentalismos desnecessários, versa sobre a importância de cada um, o impacto que cada pessoa tem no mundo.
E nos faz pensar em como seria o mundo sem que nós estivéssemos nele. É um exercício interessante e imprescindível. Ele nos faz pensar, e o mais surpreendente de tudo, faz com que a gente queira se transformar em uma pessoa melhor. É difícil não se emocionar com este filme, que embora siga uma fórmula de bondade e altruísmo pouco realista, o faz de forma tão convincente que não se pode escapar de suas armadilhas sentimentais.
O segredo para que a fita seja universal, e preserve ao longo do tempo sua força de esperança e fé no ser humano, está na crença de que a bondade é possível e habita sempre o coração dos homens. Quando a dirigiu, Capra tinha em mente passar ao público a sensação de que a vida, apesar das tragédias, vale a pena, que o simples fato de estar vivo já é motivo para ser celebrado. Talvez os traumas da guerra recém-terminada tenham enevoado a compreensão da platéia, mas o fato é que, da década de 1960 para cá, A FELICIDADE NÃO se COMPRA galgou o imaginário popular e se estabeleceu como um dos filmes que mais conseguiu influenciar a maneira do público em encarar as situações difíceis do cotidiano.
É impressionante como um simples filme tenha conseguido tanto. Ele é um daqueles longas necessários, que temos que assistir pelo menos uma vez na vida. Simplesmente Maravilhoso! Não importa quantas reprises a tevê exiba, não importa quantas décadas o atravessem, merecerá sempre os olhos lacrimejados de seus espectadores.
É impressionante como um simples filme tenha conseguido tanto. Ele é um daqueles longas necessários, que temos que assistir pelo menos uma vez na vida. Simplesmente Maravilhoso! Não importa quantas reprises a tevê exiba, não importa quantas décadas o atravessem, merecerá sempre os olhos lacrimejados de seus espectadores.
A FELICIDADE NÃO se COMPRA (It’s a Wonderful Life, EUA, 1946). Duração: 130 min; P & B; Produção e Direção: Frank Capra (Liberty Films); Roteiro: Frances Goodrich, Albert Hackett e Frank Capra; Fotografia: Joseph Walker e Joseph Biroc; Edição: William Hornbeck; Música: Dimitri Tiomkin; Cenografia: Jack Okey (d.a.), Emile Kuri (déc.); Vestuário: Edward Stevenson; Elenco: James Stewart (“George Bailey”), Donna Reed (“Mary Hatch”), Lionel Barrymore (“Henry F. Potter”), Thomas Mitchell (“Tio Billy Bailey”), Henry Travers (“Clarence”), Beulah Bondi (“Ma Bailey”), Ward Bond (“Bert”), Frank Faylen, Gloria Grahame (“Violet Bick”), H. B. Warner e Samuel S. Hinds.
Nota: ***** (ótimo)
Prêmios: Globo de Ouro de Melhor Direção