agosto 31, 2022

************* A CATIVANTE CLAUDETTE COLBERT



“Tive uma vida adorável. Fui abençoada. Conheci o sucesso nos palcos e no cinema”.
 
“Sempre acreditei que atuar é um instinto. Ou você tem ou não tem”.
CLAUDETTE COLBERT
 
Altura: 1,64 m
Olhos: negros
Cabelos: castanhos-avermelhados
Apelido: Lírio e Tio Claude
 
 
Ela foi uma estrela por quase três décadas. Desfrutou de popularidade do início dos anos 1930 até meados da década de 1950. Famosa por comédias malucas, era também uma excelente atriz dramática. Seu êxito nas telas começou realmente em 1932, com uma cena sensual em “O Sinal da Cruz”, do mítico Cecil B. DeMille. Seguiu-se uma série de sucessos. Em 1935, recebeu o Oscar de Melhor Atriz. Logo seria conhecida pela respeitável marca da atriz mais bem paga, superando Greta Garbo, Barbara Stanwyck, Bette Davis ou Joan Crawford. Em 1938, seu salário de US$ 426.944 foi nomeado pelo Departamento do Tesouro como o segundo maior em Hollywood (depois do chefão da M-G-M, Louis B. Mayer) e o quarto nos EUA.
 
Com grandes olhos castanhos, eternas franjas, bochechas de maçã e pernas deslumbrantes, CLAUDETTE COLBERT (1903 - 1996. Paris / França) parecia que jamais envelheceria, continuando sensacional por muitos anos. Não era uma aparência artificial, mas de uma naturalidade encantadora. Da geração de estrelas que devia a si mesmo e ao seu público ter a melhor aparência possível. Certa vez, a famosa e ferina colunista Hedda Hopper a definiu como “a mais inteligente, mais suave e mais sagaz senhora de 18 quilates que eu já vi em Hollywood.”
 
Trouxe uma inteligência instantânea e autoconfiança para uma ampla gama de papéis. Essas qualidades brilharam na tela em mais de 60 filmes. Podia ser engraçada, comovente, espirituosa, atordoada, sofisticada, sexy. No set, fazia exigências sobre como deveria ser iluminada e fotografada, e só trabalhava até as 17 horas. Segundo o diretor de fotografia Joseph August, Frank Capra e ela “acabaram se odiando” nas filmagens de  “Filhos da Fortuna / For the Love of Mike” (1927), piorando a situação em “Aconteceu Naquela Noite”
 
Seja por causa de seu intenso treinamento na Broadway, ou simplesmente porque tinha o talento nato para se comportar na frente da câmera, as suas performances se mantém notavelmente atuais. Apesar dos penteados estranhos, dos vestidos glamourosos e das sobrancelhas desenhadas, a galante CLAUDETTE COLBERT exala frescor entre artistas que acreditavam que atuar no cinema significava caras e bocas. Ela tinha uma mistura sedutora de sofisticação, encanto e realidade, independentemente de o filme exigir que fosse cômica, pungente, sensual ou romântica. 

Ao contrário de sua imagem pública graciosa e elegante, a deusa do celulóide era determinada e podia ser dura com colegas artistas/técnicos que não atendiam aos seus padrões de profissionalismo. Descontente, xingava como um brutamontes. Era uma empresária astuta, negociando termos favoráveis para atuar em filmes ou peças. Além disso, se alguém tentasse mexer em seu imutável penteado ou maquiagem, descartava com as palavras “Estou no negócio de Claudette Colbert há muito tempo”.
 
Não era bonita. Tinha um rosto em forma de coração e um sorriso brilhante. A maioria dos seus filmes mostra seu perfil esquerdo. Ela considerava seu melhor lado e raramente permitia fotos de rosto inteiro ou de perfil direito. Uma lesão no nariz havia criado uma insignificante protuberância à direita. Certa vez, um set teve que ser reconstruído para que ela não mostrasse seu lado direito, resultando que Mary Astor apelidou o perfil direito do seu rosto de “o lado escuro da lua”.
 
Uma vez disse que nunca considerou atuar a coisa principal em sua vida, afirmando que nunca teve a intenção de ser atriz. Nascida Lily Claudette Chauchoin, em um subúrbio de Paris, seu pai era dono de uma confeitaria. A família mudou-se para Nova York em 1906, quando ela tinha três anos. A futura estrela queria ser pintora, estudando arte e design. Após a formatura, conseguiu um emprego em uma loja de roupas para aprender mais sobre moda e dava aulas de francês para aumentar sua renda. Ao longo da vida, continuou a pensar, sonhar e orar em francês, e falava em sua língua nativa com a mãe.
 
Ao conhecer a dramaturga Anne Morrison, em 1923, foi convidada por ela para um pequeno papel em uma peça de teatro, “The Wild Westcotts”, com Edna May Oliver. Durante os ensaios, mudou de nome, adotando o CLAUDETTE COLBERT. Nos três anos seguintes, a jovem atriz fez papéis menores e turnês mal sucedidas. Em 1927 teve sua chance em “The Barker”. A peça teve 172 apresentações na Broadway. Em 1928, casou-se com o ator e diretor Norman Foster, divorciando-se em 1935. No mesmo ano, casou-se com o cirurgião Joel Pressman, até a morte dele em 1968.

Seu primeiro filme, o drama mudo “Filhos da Fortuna”, dirigido por Frank Capra, fracassou. Desanimada com os resultados pouco inspirados, jurou nunca mais atuar nas telas. No entanto, com a crise na Broadway, aceitou o contrato oferecido pela Paramount Pictures, fazendo um filme atrás do outro, geralmente papéis ingratos de mocinhas doces e virtuosas. Seu talento finalmente foi revelado em “O Sinal da Cruz”, como a lasciva e cruel imperatriz Pompéia. A cena em que nua toma banho de leite de burra foi uma bomba para a época pudica. Seguiu como a principal estrela feminina da Paramount por quinze anos, finalizando o contrato em 1944. Versátil, escolhia os papéis que queria, adorando trabalhar e estando constantemente ocupada.

clark gable e colbert
em “aconteceu naquela noite”
Em 1934, atraída pela possibilidade de atuar ao lado do lendário Clark Gable e também pelo alto salário oferecido, aceitou ser emprestada para a Columbia Pictures, estrelando “Aconteceu Naquela Noite”. Trata-se de uma comédia inteligente sobre uma herdeira mimada fugitiva que se apaixona por um jornalista charmoso e desempregado. 

Antes dela, Miriam Hopkins, Myrna Loy, Margaret Sullavan e Constance Bennett foram convidadas para protagonizar o futuro clássico. Todas recusaram, mas CLAUDETTE COLBERT aceitou a tarefa, mesmo sem acreditar no projeto e odiando o diretor. Para espanto de todos, o filme foi indicado a cinco prêmios da Academia e ganhou em todas as categorias: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Diretor e Melhor Roteiro. CLAUDETTE COLBERT não tinha esperanças de vencer e, na noite da cerimônia, estava pegando um trem para Nova York, quando foi levada por funcionários do estúdio para o Biltmore Hotel, onde recebeu a estatueta.
 
A atriz protagonizou inúmeros sucessos nos anos 1930. Durante a Segunda Guerra Mundial, seu preço por filme oscilava entre US$ 150.000 e US$ 200.000, e ela fazia cerca de dois por ano. Cooperou na Cruz Vermelha, na Hollywood Victory Caravan e se preocupou com parentes presos na França ocupada. A guerra inspirou duas de suas performances mais poderosas: a enfermeira do Exército durante a batalha de Bataan, em “A Legião Branca / So Proudly We Hail” (1943), e a esposa e mãe em “Desde que Partiste”, ganhando uma terceira indicação ao Oscar.

recebendo o oscar das mãos de shirley temple
Conseguiu elogios da crítica com “Feras que Foram Homens / Three Came Home” (1950), um relato angustiante da vida real de uma mulher em um campo de prisioneiros de guerra japonês. Infelizmente sofreu uma lesão nas filmagens, quebrando uma vértebra em uma cena violenta. 

Hospitalizada, perdeu o papel principal de “A Malvada / All About Eve” para Bette Davis. Entre 1951 a 1953 fez dois filmes na Europa. Embora sua carreira cinematográfica estivesse em um declínio irreversível, financeiramente, pelo menos, ela estava em excelente forma. Por fim, sua última aparição na tela foi em “No Vale das Grandes Batalhas / Parrish” (1961).

Em 1956, CLAUDETTE COLBERT retornou à Broadway, substituindo Margaret Sullavan por dois meses em “Janus”, de Carolyn Green. Em 1958, reuniu-se com Charles Boyer em “The Marriage-Go-Round”, de Leslie Stevens, que teve 450 apresentações e percorreu 13 estados. Ela voltou regularmente ao teatro até meados dos anos 80. Sua última peça foi “Are't We All?”, de 1985, com Rex Harrison, que viajou por todo o país e por cinco meses na Austrália. Ao mesmo tempo, participou de vários programas de TV, atuou em produções especiais e em 1957 numa produção da CBS, “One Coat of White”, com Paul Henreid. Apresentou uma série de documentários, “Woman”, e estrelou ao lado de Edward G. Robinson o programa “Maxwell House Coffee”, nas temporadas de 1963 a 1965.
 
Sua aparição final diante das câmeras foi em uma minissérie da NBC, “O Crime do Século / The Two Mrs. Grenvilles” (1987), interpretando uma matrona nobre que protege sua nora homicida. Baseada no best-seller de Dominick Dunne, o produtor queria Loretta Young para o papel, mas ela recusou. Ginger Rogers, Bette Davis, Olivia de Havilland e Jane Wyman lutaram por ele. CLAUDETTE COLBERT acabou ganhando o Globo de Ouro e uma indicação ao Emmy. Ao aposentar-se, morando em Barbados, nas Antilhas, numa casa de fazenda do século 18, hospedava celebridades como Frank Sinatra, Mia Farrow, Ronald Reagan e esposa.

marlene dietrich e colbert
A estrela nunca assumiu que era lésbica nem que viveu casamentos de aparência. Não dividia a mesma casa em Hollywood com seu primeiro marido, Norman Foster. Vivia com sua mãe dominadora. Com o segundo marido, Joel Pressman, também moravam em residências separadas. Ficavam juntos apenas em eventos sociais. 

Em meados da década de 1950, quando CLAUDETTE COLBERT mudou-se para Nova York, continuaram separados, mas eram bons amigos e a morte dele foi um choque para ela. Diversos livros e artigos afirmam que a atriz teve casos com Joan Crawford, Barbara Stanwyck e Marlene Dietrich. Com a rica artista plástica Verna Hull, a união durou de 1958 a 1967. Terminando num rompimento brusco.
 
Ao longo dos anos, ela teve várias amigas íntimas. Talvez o relacionamento com Helen O'Hagan, executiva da Saks, tenha sido o mais importante. Sua companheira por 20 anos, viveram uma vida glamorosa. Embora fosse quase 30 anos mais velha, viajavam juntas, se divertiam em Barbados e dividiam um apartamento em Nova York. Helen conhecia toda a história da parceira, ano por ano, filme por filme. Ela a idolatrava. Em 1993, CLAUDETTE COLBERT teve um derrame, Helen cuidou dela. Quando faleceu, deixou a maior parte da sua fortuna para a amada.
 
Em 30 de julho de 1996, às 15h15, a estrela morreu aos 92 anos, olhando pela janela para o mar. Beulah, a cozinheira, desmaiou. Catherine, outra cozinheira, se jogou no chão, soluçando. O padre Jim Grear pediu que todos dessem as mãos. Suas cinzas foram colocadas em uma caixa de mogno no túmulo ao lado do marido e da mãe. E ela não foi esquecida. Recentemente ficou no décimo segundo lugar entre as 50 maiores lendas do cinema, na conceituada lista do American Film Institute (AFI). 
 
fredric march e colbert em “o sinal da cruz”
15 FILMES de CLAUDETTE COLBERT
(por ordem de preferência)
 
01
A OITAVA ESPOSA do BARBA AZUL
(Bluebeard's Eighth Wife, 1938)

Elenco: Gary Cooper, Edward Everett Horton e David Niven
 
02
ACONTECEU NAQUELA NOITE
(It Happened One Night, 1934)

Direção de Frank Capra
Elenco: Clark Gable, Walter Connolly e Alan Hale
 
03
MULHER de VERDADE
(The Palm Beach Story, 1942)

Direção de Preston Sturges
Elenco: Joel McCrea, Mary Astor e Rudy Vallee
 
04
CLEÓPATRA
(Cleopatra, 1934)

Direção de Cecil B. DeMille
Elenco: Warren William, Henry Wilcoxon, Joseph Schildkraut e C. Aubrey Smith
 
05
DESDE que PARTISTE
(Since You Went Away, 1944)

Direção de John Cromwell
Elenco: Jennifer Jones, Joseph Cotten, Shirley Temple, Monty Woolley, Lionel Barrymore, Robert Walker, Hattie MacDaniel, Agnes Moorehead, Alla Nazimova, Keenan Wynn e Guy Madison
 
06
IMITAÇÃO da VIDA
(Imitation of Life, 1934)

Direção de John M. Stahl
Elenco: Warren William, Rochelle Hudson, Louise Beavers e Alan Hale
 
07
O SINAL da CRUZ
(The Sign of the Cross, 1932)

Direção de Cecil B. DeMille
Elenco: Fredric March, Elissa Landi e Charles Laughton
 
08
FRUTO PROIBIDO
(Boom Town, 1940)

Direção de Jack Conway
Elenco: Clark Gable, Spencer Tracy, Hedy Lamarr, Frank Morgan e Chill Wills
 
09
ZAZÁ
(Zaza, 1938)

Direção de George Cukor
Elenco: Herbert Marshall, Bert Lahr, Helen Westley e Constance Collier
 
10                    
Ao RUFAR dos TAMBORES
(Drums Along the Mohawk, 1939)

Elenco: Henry Fonda, Edna May Olivier, John Carradine e Ward Bond
 
11
MEIA-NOITE
(Midnight, 1939)

Direção de Mitchell Leisen                                        
Elenco: Don Ameche, John Barrymore, Mary Astor e Monty Wooley
 
12
O TENENTE SEDUTOR
(The Smiling Lieutenant, 1931)

Direção de Ernst Lubitsch
Elenco: Maurice Chevalier, Miriam Hopkins, Charles Ruggles e Elizabeth Patterson
 
13
O LÍRIO DOURADO
(The Gilded Lily, 1935)

Direção de Wesley Ruggles
Elenco: Fred MacMurray, Ray Milland e C. Aubrey Smith
 
14
SONHA, MEU AMOR
(Sleep, My Love, 1948)

Direção de Douglas Sirk
Elenco: Robert Cummings, Don Ameche e Rita Johnson
 
15
LEVANTA-TE, MEU AMOR
(Arise, My Love, 1940)

Direção de Mitchell Leisen
Elenco: Ray Milland, Dennis O`Keefe e George Zucco
 
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