“Assim como Shakespeare está cada vez
mais vivo,
a despeito da agonia tão lenta do teatro,
Ford está cada dia mais
presente,
ainda que o cinema já não tenha mais a mesma alma”
Antonio Moniz Vianna, crítico de
cinema
Ele amava os heróis e se considerava um deles. A
biografia desse homem durão que se apresentava dizendo, firme: “Meu nome é John
Ford, eu faço faroestes”, confunde-se com a própria biografia do cinema. Aos 21
anos, aparece como figurante em “O
Nascimento de uma Nação / The Birth of a Nation” (1915), épico imortal de D. W.
Griffith, nas controversas sequências que retratam ações da Klu Klux Klan sob uma
luz perigosamente racista. Dois anos mais tarde, o cineasta começaria a fazer
seus primeiros filmes. Aos 25 anos havia realizado nada menos que 50. No
total, dirigiu 133 filmes (boa parte de suas películas mudas se perderam).
Inquestionavelmente, JOHN FORD (1894 - 1973) é um dos principais
responsáveis pelo status que o gênero faroeste adquiriu. A sua facilidade de
trabalhar com atores, fazendo-os improvisar e realizando poucas (às vezes
apenas uma) tomadas de cenas, era, na verdade, uma afirmação da sua capacidade
produtiva. Autoritário e de personalidade forte, soube, melhor que ninguém,
tirar proveito do sistema de produção dos poderosos estúdios. Trabalhou com
alguns dos maiores técnicos, roteiristas e fotógrafos da indústria hollywoodiana.
Henry Fonda, Will Rogers, Barry Fitzgerald, James Stewart, Maureen O’Hara, George O’Brien, Ward Bond, John Carradine, Jane Darwell, Victor McLaglen, e o seu ator-ícone e xará, John Wayne, estão em diversos trabalhos seus. Mas o rosto que se confunde com sua obra é o de John Wayne. Os dois fizeram 14 filmes juntos e tiveram uma relação turbulenta.
Henry Fonda, Will Rogers, Barry Fitzgerald, James Stewart, Maureen O’Hara, George O’Brien, Ward Bond, John Carradine, Jane Darwell, Victor McLaglen, e o seu ator-ícone e xará, John Wayne, estão em diversos trabalhos seus. Mas o rosto que se confunde com sua obra é o de John Wayne. Os dois fizeram 14 filmes juntos e tiveram uma relação turbulenta.
Sua arte cinematográfica foi marcada pela clareza de
opiniões sobre o homem, a história e a sociedade norte-americana. JOHN FORD
jamais intencionou manter uma postura socialmente crítica, mas sempre foi
profundamente dedicado à humanidade das pessoas, independentemente de sua
posição social (um presidente, um pistoleiro ou uma prostituta), desde que a
posição desses personagens ratificasse a ética valorativa dos pioneiros,
daqueles que enfrentaram as adversidades para construir uma nova ordem social. Segundo
Orson Welles, ele é “o maior poeta que o cinema já nos deu”.
Contraditório e complexo, compunha
imagens com delicadeza e sofisticação, mas cultivava a impressão de homem rude e
truculento. Tinha fama de ser um déspota no set, mas era chamado pelos atores e
pela equipe de “Pappy”. Considerado por muitos um reacionário, foi voz ativa
contra o macarthismo nos anos 1950. Como grande cineasta que era, percebeu que
havia sido injusto com os indígenas e se aproximou deles para fazer em 1947 “Sangue
de Heróis”, mais conhecido como “Fort Apache”, em que o foco é a crueldade dos
colonizadores aos lhes roubarem terras. O seu último faroeste também segue
linha similar. “Crepúsculo de uma Raça” — no original, “Cheyenne Autumn”, de 1964 —, uma história
emocionante que mostra como todo um povo foi devastado pela ganância do explorador.
Filho de imigrantes irlandeses, nasceu em Cape
Elizabeth, Maine, na fazenda de seus pais. Na nascente Hollywood, antes de
dirigir, foi figurante, ator, assistente de direção, câmera, entre outras
funções. Em 1924, ele teria o primeiro sucesso com “O Cavalo de Ferro”. De uma maneira geral, a década de
1920 representou o período em que conquistaria enorme notoriedade
e se consolidaria como importante diretor, com seu salário crescendo
exponencialmente.
Uma guinada na carreira do cineasta ocorreu quando o alemão Friedrich Wilhelm Murnau se mudou para os Estados Unidos a convite de William Fox e realizou “Aurora / Sunrise” (1927), que se tornaria um dos filmes mais influentes da história. O trabalho de Murnau provocou em JOHN FORD o interesse em trabalhar a cristalização estética como nunca havia feito antes, o que se consolidou ao longo dos anos como uma das características mais marcantes de seu cinema. Entre os diretores de Hollywood, ele foi um dos pioneiros a acreditar no som, realizando o primeiro filme inteiramente falado da Fox, “O Barbeiro de Napoleão / Napoleon´s Barber” (1928), que se perdeu.
Uma guinada na carreira do cineasta ocorreu quando o alemão Friedrich Wilhelm Murnau se mudou para os Estados Unidos a convite de William Fox e realizou “Aurora / Sunrise” (1927), que se tornaria um dos filmes mais influentes da história. O trabalho de Murnau provocou em JOHN FORD o interesse em trabalhar a cristalização estética como nunca havia feito antes, o que se consolidou ao longo dos anos como uma das características mais marcantes de seu cinema. Entre os diretores de Hollywood, ele foi um dos pioneiros a acreditar no som, realizando o primeiro filme inteiramente falado da Fox, “O Barbeiro de Napoleão / Napoleon´s Barber” (1928), que se perdeu.
Ao dirigir “Médico e Amante / Arrowsmith” (1931),
adaptado do romance de Sinclair Lewis (que acabava de ser o primeiro norte-americano
a conquistar o prêmio Nobel de literatura), foi reconhecido pela crítica, com
cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. O início da década de 1930
marcaria a parceria de JOHN FORD com Will Rogers, popular comediante com quem
fez três filmes: “Doutor Bull / Doctor Bull” (1933), “Juiz Priest / Judge
Priest” (1934) e “Nas Águas do Rio / Steamboat Round the Bend” (1935). O mais
provável é que Rogers se tornasse um ator de predileção de Ford (como John
Wayne e Henry Fonda) caso não tivesse falecido tragicamente em 1935.
Ainda em 1935, realizou o drama “O Delator”, que lhe
rendeu seu primeiro Oscar de Melhor Diretor. Com baixo orçamento e filmado em
apenas dezessete dias, o roteiro tem uma proposta muito pouco comercial, cheio
de simbolismos, neblinas e sombras. Conta o drama
de Gypo (Victor McLaglen, Oscar de Melhor Ator), um homem assombrado pelo
passado — e pelo presente — além de uma paixão pouco ortodoxa: uma loira que se
prostitui e cheia de pendências psicológicas com a vida. Em 1939, veio “No
Tempo das Diligências” e, enfim, o retorno ao gênero pelo qual ficaria
eternamente ligado.
O período pré-guerra seria um dos momentos mais
importantes da sua longa trajetória, incluindo a realização de seu primeiro
longa em cores, “Ao Rufar dos Tambores / Drums Along the Mohawk” (1939). Ele se
esmerou, registrando com gênio pictórico, belas imagens das florestas e dos
vales de Utah. Além dos aclamados dramas “A Mocidade de Lincoln / Young Mr.
Lincoln” (1939), “As Vinhas da Ira” - que lhe rendeu um segundo Oscar de Melhor
Direção -, e “Como era Verde meu Vale”, vencedor de cinco Oscars, incluindo os
de Melhor Filme e, novamente, Diretor. Durante esse período se firmou a
importante colaboração entre o cineasta e o ator Henry Fonda, que protagonizou
três dos filmes mencionados acima.
Com o bombardeio a Pearl Harbor em 1941 e a entrada
oficial dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, JOHN FORD, por iniciativa
própria, reuniu uma equipe de técnicos de Hollywood e se colocou à disposição
da Marinha de Guerra. Nomeado chefe do núcleo de fotografia de campo
do Departamento de Serviços Estratégicos (a futura CIA), tinha por objetivo
realizar registros para arquivo e para ajudar nas deliberações da Inteligência.
Durante esse período, realizou importantes documentários sobre alguns dos
eventos mais marcantes da Segunda Guerra, entre eles os vencedores consecutivos
do Oscar de Melhor Documentário, “A Batalha de Midway / The Battle of Midway” (1942)
e “December 7th” (1943), colocando-se na linha de frente do conflito para
registrá-los.
Ao retornar da guerra e após realizar “Paixão de Fortes”,
recebeu uma lucrativa proposta de Darryl F. Zanuck para trabalhar na 20th
Century-Fox, mas negou-a para fundar seu próprio estúdio, a Argosy Pictures. A
produtora contava com importantes financiadores, entre advogados e banqueiros,
e com a essencial presença de Merian C. Cooper na produção. Contudo, a estreia
da Argosy ocorreu com “Domínio de Bárbaros”, um absoluto fracasso comercial, e
JOHN FORD acabou retornando ao western para salvar a produtora da falência.
Assim nasceu a célebre “Trilogia da Cavalaria”, composta por “Sangue
de Herói / Fort Apache” (1948), “Legião Invencível” e “Rio Grande / Idem” (1950),
todos protagonizados por John Wayne.
Em 1952, realizou “Depois do Vendaval”, cujo projeto
existia desde a década de 1930. Este foi seu longa mais lucrativo, e teve sete
indicações ao Oscar, conquistando o quarto prêmio de Melhor Diretor. A partir
de 1953, voltaria a trabalhar diretamente para os grandes estúdios, e em 1955
foi contratado pela Warner para dirigir a comédia “Mister Roberts / Idem”, mas um desentendimento
com Henry Fonda, que acabou resultando em agressão física, ocasionou sua
demissão e o fim de uma longa relação pessoal e profissional com o ator. Concluído por
Mervyn LeRoy, tornou-se um enorme sucesso. Após este episódio, passou um longo
período isolado em seu barco, bebendo abusivamente e recusando-se a ver
qualquer pessoa. Também neste ano, o diretor trabalhou pela primeira vez na
televisão, dirigindo o episódio “Rookie of the Year”, para a série “Studio
Directors Playhouse”, e “The Bamboo Cross”, para a série “Fireside Theatre”.
Seu retorno ao cinema ocorreu com “Rastros de Ódio”, um dos filmes mais populares do ano, embora não tenha recebido nenhuma indicação ao Oscar. Sua reputação, no entanto, cresceu ao longo dos anos, a ponto de ser nomeado em 2008 pelo Instituto de Cinema Americano (AFI) como o melhor western de todos os tempos. A década de 1960 seria marcada pelo declínio das condições de saúde do veterano diretor. Sua visão começou a deteriorar-se rapidamente e a memória já não funcionava como outrora, necessitando de mais assistentes ao seu redor. Curiosamente, nesse período final, dirigiria um de seus filmes mais elogiados pela crítica, o western crepuscular “O Homem que Matou o Facínora / The Man Who Shot Liberty Valance” (1962). Faleceu em 31 de agosto de 1973.
Seu retorno ao cinema ocorreu com “Rastros de Ódio”, um dos filmes mais populares do ano, embora não tenha recebido nenhuma indicação ao Oscar. Sua reputação, no entanto, cresceu ao longo dos anos, a ponto de ser nomeado em 2008 pelo Instituto de Cinema Americano (AFI) como o melhor western de todos os tempos. A década de 1960 seria marcada pelo declínio das condições de saúde do veterano diretor. Sua visão começou a deteriorar-se rapidamente e a memória já não funcionava como outrora, necessitando de mais assistentes ao seu redor. Curiosamente, nesse período final, dirigiria um de seus filmes mais elogiados pela crítica, o western crepuscular “O Homem que Matou o Facínora / The Man Who Shot Liberty Valance” (1962). Faleceu em 31 de agosto de 1973.
Os que não conhecem a obra de JOHN FORD podem
estranhar o patriotismo exagerado ou o excesso de comédia.
Vencida a desconfiança inicial, vale mergulhar de cabeça, porque ele
influenciou de Ingmar Bergman a Akira Kurosawa, passando por Sergei Eisenstein,
Orson Welles, Alfred Hitchcock, Elia Kazan, David Lean, Martin Scorsese e
François Truffaut. A maioria de suas produções ainda servem de referencia a
novos cineastas e estudiosos. A sua extensa obra sobreviveu às inúmeras transformações estéticas sofridas pelo cinema em sua já centenária história,
especialmente após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada do chamado cinema
novo em diversos países, tanto do ocidente quanto do oriente.
O cinema de JOHN FORD é simples, claro, fluente, na
melhor tradição clássica. Ele espalha sobre seus filmes não somente seu estilo,
mas também seu espírito, sua poesia, seu sentimento, que tão profundamente nos
atinge. Um filme de sua autoria é antes de tudo um prazer visual.
Ele usa a câmera como um pincel, criando imagens bonitas. Para ajudar aos não
iniciados no universo fordiano, fiz uma lista com os meus dez filmes
favoritos (cinco westerns, cinco em outros gêneros).
CINCO GRANDES WESTERNS
(por ordem de predileção)
01
RASTROS de ÓDIO
Com John Wayne,
Jeffrey Hunter, Vera Miles, Ward Bond, Natalie Wood e Harry Carey Jr. Um
ex-confederado (Wayne em sua maior atuação) descobre que sua sobrinha foi
sequestrada durante um ataque de índios Comanche. Ao lado do sobrinho, ele
parte para resgatá-la, mas seu ódio crescente pelos índios confunde suas intenções. É a
obra-prima de John Ford. Homenageado por Martin Scorsese em “Motorista de Taxi
/ Taxi Driver” (1976) e por Wim Wenders em “Paris, Texas / Idem” (1984). Interpretações pulsantes, diálogos antológicos, trilha sonora inspirada
de Max Steiner e imagens inacreditáveis de Winton C. Hoch.
O roteiro de Frank S. Nugent explora diversas ambiguidades ao dosar revelações e omissões de informações no decorrer da narrativa. Aborda os grandes temas do western: o racismo, os problemas dos prisioneiros brancos, as guerras com os índios com seu cortejo de massacres de ambas as partes etc. Entretanto, o diretor se apega ao seu herói, este “homem só”, irremediavelmente perdido e afastado da civilização, do calor do lar e da vida, enigmático e taciturno, movido pelo ódio que, em busca da sobrinha, empreende uma imensa odisseia, que se desenrola sob a neve e no deserto, em uma impressionante variedade de paisagens.
O roteiro de Frank S. Nugent explora diversas ambiguidades ao dosar revelações e omissões de informações no decorrer da narrativa. Aborda os grandes temas do western: o racismo, os problemas dos prisioneiros brancos, as guerras com os índios com seu cortejo de massacres de ambas as partes etc. Entretanto, o diretor se apega ao seu herói, este “homem só”, irremediavelmente perdido e afastado da civilização, do calor do lar e da vida, enigmático e taciturno, movido pelo ódio que, em busca da sobrinha, empreende uma imensa odisseia, que se desenrola sob a neve e no deserto, em uma impressionante variedade de paisagens.
02
PAIXÃO dos FORTES
(My
Darling Clementine, 1946)
Com Henry Fonda,
Linda Darnell, Victor Mature, Cathy Downs, Walter Brennan, Tim Holt, Ward Bond,
John Ireland e Jane Darwell. Após o assassinato do irmão mais novo, cowboy
aceita o cargo de xerife, com a
determinação de vingar a morte do irmão. Nessa missão, envolve-se com o outrora
médico e agora um alcoólatra, assaltante e tuberculoso, sua ex-noiva enfermeira
e uma bela mexicana de vida suspeita. Baseado na história verídica do famoso
tiroteio no O.K. Corral, tem como tema a chegada da civilização no Oeste.
Ford faz um paralelo entre a transformação do vaqueiro independente em um homem da lei responsável e a transformação daquela vila da fronteira onde reina a anarquia, em uma comunidade ordeira. Destaque para a poética fotografia de Joe MacDonald, a beleza irradiante de Linda Darnell e a atuação antológica de Henry Fonda. Filmado em Kayenta, no Arizona, e no decantado Monument Valley, no Utah, figura entre os maiores westerns de todos os tempos. Marco importante nas carreiras de Ford e Fonda.
Ford faz um paralelo entre a transformação do vaqueiro independente em um homem da lei responsável e a transformação daquela vila da fronteira onde reina a anarquia, em uma comunidade ordeira. Destaque para a poética fotografia de Joe MacDonald, a beleza irradiante de Linda Darnell e a atuação antológica de Henry Fonda. Filmado em Kayenta, no Arizona, e no decantado Monument Valley, no Utah, figura entre os maiores westerns de todos os tempos. Marco importante nas carreiras de Ford e Fonda.
03
No TEMPO das DILIGÊNCIAS
(Stagecoach, 1939)
Com John Wayne, Claire Trevor, Andy Devine, John
Carradine, Thomas Mitchell, George Bancroft e Tim Holt. Um bêbado, uma
prostituta, uma grávida, um jogador, um banqueiro e um vendedor atravessam o
oeste dos EUA, dividindo a mesma diligência. Sua travessia é dificultada pelo
domínio indígena na região. Narrado com precisão, critica acidamente o
preconceito e a hipocrisia. É o primeiro dos quatorze filmes estrelados por
John Wayne. O cineasta escolheu um cenário grandioso, filmando pela primeira
vez no Monument Valley, área isolada da reserva dos índios Navajos, onde o Utah
faz limite com o Arizona. O instinto artístico de Ford parece ter sido
estimulado por esse panorama arrebatador, sendo admiráveis alguns planos gerais
da diligência correndo através dessa região. No mesmo local, ocorrem os
instantes mais excitantes de ação, quando os índios perseguem a diligência.
Esse faroeste é, sem cessar e ao mesmo tempo, uma epopeia trágica e um drama psicológico, uma aventura coletiva e uma série de aventuras individuais, destacando-se entre estas a do fora-da-lei heroico e a da prostituta de bom coração. Como o western na época passava por um enorme descrédito, John Ford enfrentou dificuldades em financiá-lo, e conseguiu apenas com o suporte de Walter Wanger, produtor independente da United Artists a quem recorreu após a recusa de David O. Selznick. Contrariando as exigências de Wanger, que desejava Gary Cooper no papel principal, convidou seu amigo John Wayne, na época um desconhecido ator de westerns B.
O arriscado investimento seria recompensado com um absoluto sucesso de bilheteria e sete indicações ao Oscar (levando o de Melhor Ator Coadjuvante para Thomas Mitchell e de Trilha Sonora), elevando Wayne ao status de estrela. Iria se tornar um dos filmes mais importantes do cinema norte-americano – Orson Welles disse tê-lo assistido 40 vezes durante a preparação de “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941).
Esse faroeste é, sem cessar e ao mesmo tempo, uma epopeia trágica e um drama psicológico, uma aventura coletiva e uma série de aventuras individuais, destacando-se entre estas a do fora-da-lei heroico e a da prostituta de bom coração. Como o western na época passava por um enorme descrédito, John Ford enfrentou dificuldades em financiá-lo, e conseguiu apenas com o suporte de Walter Wanger, produtor independente da United Artists a quem recorreu após a recusa de David O. Selznick. Contrariando as exigências de Wanger, que desejava Gary Cooper no papel principal, convidou seu amigo John Wayne, na época um desconhecido ator de westerns B.
O arriscado investimento seria recompensado com um absoluto sucesso de bilheteria e sete indicações ao Oscar (levando o de Melhor Ator Coadjuvante para Thomas Mitchell e de Trilha Sonora), elevando Wayne ao status de estrela. Iria se tornar um dos filmes mais importantes do cinema norte-americano – Orson Welles disse tê-lo assistido 40 vezes durante a preparação de “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941).
04
CARAVANA de BRAVOS
(Wagon
Maste, 1950)
Com Ben Johnson, Joanne Dru,
Harry Carey Jr., Ward Bond e Jane Darwell. Verdadeiro filme-poema, construído
episodicamente, no qual Ford expressa seu amor pelo Oeste e pelos verdadeiros
cowboys, usando imagens encantadoras e uma comovente trilha musical de hinos e
canções folclóricas, inclusive a obrigatória “Shall We Gather at the River”.
Alternando drama e humor em uma coleção de incidentes apresentados de maneira
natural, espontânea, singela, é obra-prima de um cineasta agindo como pintor e
músico (pelo seu andamento, pelas suas repetições), uma mistura de epopeia lírica com realidade cotidiana, impregnada de valores humanistas e religiosos
(a fé, os esforços e a tolerância dos mórmons, a amizade sincera e solidária
dos dois vaqueiros, a mulher perdida tocada pela graça, o valor da família, a
busca da paz etc.). “O western mais puro e mais simples que já fiz”, declarou o
cineasta, referindo-se a um de seus filmes prediletos.
05
O CAVALO de FERRO
(The Iron Horse, 1924)
Com George O'Brien, Madge Bellamy e Charles Edward
Bull. Para construir a primeira ferrovia transcontinental americana, um grupo
de homens enfrenta índios, bandidos e uma série de outros problemas em busca de
um sonho. Conjugando com felicidade a ação individual (a história privada de um
jovem que pretende vingar a morte do pai) e a epopeia coletiva (a construção da
ferrovia transcontinental), esta superprodução tem aspectos notáveis, entre
eles a magnificência visual dos cenários selvagens e de outros elementos originais
da mitologia do Oeste (rebanho de gado bovino, manada de búfalos, confrontos
com índios, tiroteio no saloon, contribuição das comunidades pioneiras
integradas por imigrantes chineses; aparição de figuras como Wild
Will Hickock e Buffalo Bill.
Filmado em locações no deserto de Nevada. Ao ser escolhido para o papel protagonista, depois de testados oitenta candidatos, George O`Brien só havia feito alguns pequenos papéis em filmes sem importância. Transformou-se em estrela da noite para o dia e um dos atores favoritos de Ford. Retratado pela magia da câmara de George Schneiderman, o espetacular ataque de índios à locomotiva marcou época.
Filmado em locações no deserto de Nevada. Ao ser escolhido para o papel protagonista, depois de testados oitenta candidatos, George O`Brien só havia feito alguns pequenos papéis em filmes sem importância. Transformou-se em estrela da noite para o dia e um dos atores favoritos de Ford. Retratado pela magia da câmara de George Schneiderman, o espetacular ataque de índios à locomotiva marcou época.
CINCO GRANDES FILMES em OUTROS GÊNEROS
(por ordem de preferencia)
01
As VINHAS da IRA
(The Grapes of Wrath, 1940)
Com Henry Fonda, Jane Darwell, John Carradine,
Charley Grapewin e Dorris Bowdon. Baseado no romance homônimo de John Steinbeck, narra a saga de uma família de miseráveis que, no auge da Depressão norte-americana, amontoa-se num caminhão e parte para a Califórnia em busca de trabalho e com esperança
de uma nova vida. As atuações vigorosas e sensíveis de Henry Fonda, John
Carradine e Jane Darwell, são marcantes.
A fotografia de Gregg Toland, inspirada nos retratos tirados por Walker Evans, é simplesmente esplendorosa. Sete indicações ao Oscar, ganhando o de Melhor Diretor e Melhor Atriz Coadjuvante (Darwell). Premios de Melhor Filme e Melhor Diretor do Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York.
A fotografia de Gregg Toland, inspirada nos retratos tirados por Walker Evans, é simplesmente esplendorosa. Sete indicações ao Oscar, ganhando o de Melhor Diretor e Melhor Atriz Coadjuvante (Darwell). Premios de Melhor Filme e Melhor Diretor do Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York.
02
COMO era VERDE o MEU VALE
(How Green Was My Valley, 1941)
Com Walter Pidgeon, Maureen O'Hara, Anna Lee, Roddy
McDowall, John Loder, Sara Algood e Barry Fitzgerald. Prestes a deixar a aldeia
mineradora onde cresceu, no interior do País de Gales, rapaz recorda os anos
vividos e as dificuldades que passou ao lado de sua família. Levou apenas duas semanas para ser realizado. Baseado no popular livro de Richard Llewellyn, marca a estreia da ruiva Maureen O`Hara no cinema fordiano. Fotografia sublime
do mestre Arthur C. Miller. Melhor Diretor do Círculo dos Críticos de Cinema de
Nova York. Cinco Oscars, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor , Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante (Donald Crisp).
03
DOMÍNIO de BÁRBAROS
(The Fugitive, 1947)
Com Henry Fonda, Dolores del Rio, Pedro Armendáriz,
J. Carrol Naish, Leo Carrillo, Ward Bond e Robert Armstrong. Em um ditatorial
país da América do Sul, onde a religião se tornou ilegal, um padre passa a ser
perseguido e luta contra sua consciência. Baseado no romance “O Poder e a
Glória”, de Graham Greene. Magnífica fotografia do mexicano Gabriel Figueroa, a
beleza e o talento da diva Dolores del Rio e Henry Fonda roubando a cena.
04
DEPOIS do VENDAVAL
(The Quiet Man, 1952)
Com John Wayne, Maureen O'Hara, Barry Fitzgerald, Ward
Bond, Victor McLaglen e Mildred Natwick. Boxeador encerra sua carreira e decide
voltar à Irlanda, seu país de origem, onde se apaixona por uma ruiva teimosa.
Contudo, para se casar com ela, terá de conquistar o consentimento do irmão de
sua pretendida. Diálogos inspirados, vivacidade nas interpretações e timing
perfeito de comédia. Indicado a sete Oscars, ganhou o de Melhor Diretor e
Melhor Fotografia (Winton C. Hoch e Archie Stout).
05
HORAS AMARGAS
(The Plough and the Stars, 1936)
Com Barbara Stanwyck, Preston Foster, Barry
Fitzgerald e Una O`Connor. Gerente de uma hospedaria em Dublim procura ficar
longe da agitação política em torno de sua região, de modo que se revolta ao
descobrir que seu marido se juntou a uma milícia de rebeldes irlandeses tentando
expulsar os britânicos. Ela teme pela segurança dele. Emocionante, com
magistral fotografia expressionista de Joseph E. August, coadjuvantes de luxo e
excelente interpretação de Barbara Stanwyck, merece ser valorizado pelos
cinéfilos.
ELENCO FORDIANO
BARRY FITZGERALD
(1888 – 1961)
5 Filmes:
“Horas Amargas” (1936), “Quatro Homens e
uma Prece” (1938), “A Longa Viagem de Volta” (1940), “Como Era Verde o Meu Vale” (1941) e “Depois do Vendaval” (1952)
GEORGE O'BRIEN
(1899 – 1985)
(1899 – 1985)
10 Filmes:
“O Cavalo de Ferro” (1924), “Thank You” (1925), “Coração Intrépido” (1925), “Três Homens Maus” (1926), “A Águia Azul” (1926), “Em Continência” (1929), “Sob as Ondas” (1931), “Sangue de Heróis” (1948), “Legião
Invencível” (1949) e “Crepúsculo de Uma Raça” (1964)
HENRY FONDA
(1905 – 1982)
7 Filmes:
“A Mocidade de Lincoln” (1939), “Ao Rufar
dos Tambores” (1939), “As Vinhas da Ira” (1940), “Paixão dos Fortes” (1946), “Domínio
dos Bárbaros” (1947), “Sangue de Heróis” (1948) e “Mister Roberts” (1955)
JANE DARWELL
(1879 – 1967)
(1879 – 1967)
6 Filmes:
“As Vinhas da Ira” (1940), “Paixão dos Fortes”
(1946), “O Céu Mandou Alguém” (1948), “Caravana de Bravos” (1950), “O Sol Brilha na Imensidão” (1953) e “O Último Hurra” (1958)
JOHN CARRADINE
(1906 – 1988)
(1906 – 1988)
11 Filmes:
“O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões” (1936), “Mary
Stuart, Rainha da Escócia” (1936), “O Furacão” (1937), “Quatro Homens e uma Prece” (1938), “Patrulha
Submarina” (1938), “Ao Rufar dos Tambores” (1939), “No Tempo das Diligências” (1939), “As Vinhas da Ira” (1940), “O Último Hurra” (1958), “O Homem que Matou o
Facínora” (1962) e “Crepúsculo de Uma Raça” (1964)
JOHN WAYNE
(1907 – 1979)
(1907 – 1979)
14 Filmes:
“No Tempo das Diligências” (1939), “A Longa
Viagem de Volta” (1940), “Fomos os Sacrificados” (1945), “Sangue de Heróis” (1948), “O Céu Mandou Alguém” (1948), “Legião Invencível” (1949), “Rio Bravo” (1950), “Depois
do Vendaval” (1952), “Rastros de Ódio” (1956), “Asas de Águias” (1957), “Marcha de Heróis” (1959), “O Homem
que Matou o Facínora” (1962), “A
Conquista do Oeste” (1962) e “O Aventureiro do Pacífico” (1963)
MAUREEN O`HARA
(nasceu em 1920)
5 Filmes:
“Como Era Verde o Meu Vale” (1941), “Rio
Bravo” (1950), “Depois do Vendaval” (1952), “A Paixão de uma Vida” (1955) e “Asas de
Águias” (1957)
MILDRED NATWICK
(1905 – 1994)
(1905 – 1994)
4 Filmes:
“A Longa Viagem de Volta” (1940), “O Céu
Mandou Alguém” (1948), “Legião Invencível” (1949) e “Depois do Vendaval” (1952)
VICTOR McLAGLEN
(1886 – 1959)
(1886 – 1959)
“Justiça do Amor” (1928), “A Guarda Negra” (1929), “A Patrulha Perdida” (1934), “O Delator” (1935), “Queridinha do Vovô” (1937), “Sangue de Heróis” (1948), “Legião Invencível” (1949), “Rio Bravo” (1950) e “Depois do
Vendaval” (1952)
WARD BOND
(1903 – 1960)
18 Filmes:
“Médico e Amante” (1931), “Patrulha
Submarina” (1938), “A Mocidade de Lincoln” (1939), “Ao Rufar dos Tambores” (1939), “As Vinhas da Ira” (1940), “A Longa Viagem de Volta” (1940), “Caminho Áspero” (1941), “Fomos
os Sacrificados” (1945), “Paixão dos Fortes” (1946), “Domínio dos Bárbaros” (1947), “Sangue de Heróis” (1948), “O Céu Mandou Alguém” (1948), “Caravana de Bravos” (1950), “Depois do Vendaval” (1952), “A Paixão de uma Vida” (1955), “Mister Roberts” (1955), “Rastros
de Ódio” (1956) e “Asas de
Águias” (1957)
31 comentários:
O maior cineasta de seu país, o maior cineasta de todos os tempos. Cinema é uma arte de expressão visual, de ideias que ganham forma em imagens. Ford tinha um domínio da linguagem cinematográfica absoluto, superior a qualquer outro, Nunca apelou para diálogos excessivos ou blá-blá-blá para caracterizar personagens, determinar contextos ou estabelecer climas emocionais. Apesar de mestre absoluto dos westerns, algumas de suas maiores obras não pertencem ao gênero: A PATRULHA PERDIDA, O DELATOR, AS VINHAS DA IRA, A LONGA VIAGEM DE VOLTA, COMO ERA VERDE O MEU VALE, FOMOS OS SACRIFICADOS, DEPOIS DO VENDAVAL...
Um destes artistas que jamais utilizam a palavra Arte, e um destes poetas que jamais falam de poesia - François Truffaut.
Excelente texto sobre Ford! Não sabia dessa briga dele com Henry Fonda... Será que houveram lesões?
Muito bom o texto !
Terá sido mesmo esta a resposta que John Ford deu à comissão que apurava supostas atividades antiamericanos no início dos anos 1950, auge do macartismo, quando interrogado e lhe pediram que se identificasse. Segundo li em algum lugar (faz tempo e onde não lembro), fizeram-lhe a pergunta, e ele respondeu na tampa, secamente: "Sou John Ford. Dirijo filmes". E se calou.
Como sempre, informações, fotos e novidades em um texto primoroso!!! Um dos maiores diretores de todos os tempos com uma filmografia imensa, magia pura!!! Obrigada pela lembrança, Antonio Nahud!
Um dos maiores cineastas de todos os tempos, indiscutivelmente.
Ah! Este sim. Meu "Muso", para sempre.
Top de Linha ...do Mundo-Filmes....
O Homem Que Matou o Facínora.....que belo filme!
demostrou ter u ma grande conscia moral e social em Sob o dominio de barbaros
Esse é o cara !
Como não reverenciar John Ford, mestre de joias como “Vinhas da Ira”, “Como era Verde o Meu Vale”, “Depois do Vendaval” e outras maravilhas em sua extensa filmografia. Ademais, a opinião de outro gênio que admiro, Orson Welles, já diz tudo! Obrigada por me marcar!
The One and Only...Obrigado , António.
Um cineasta da estirpe de David Lean.
Muito boa sua matéria Antonio Nahud. Como sempre caprichada.
Monstro sagrado.
grande cineastra hoje ja nao tem mais igual a ele.
Grande John Ford!
A verdadeira sintese do cinema e cultura americana, na linha de Griffith e Cecil B.de Mille
Super mega gênio do cinema. A m o !
eu li (um)a biografia dele, muito boa.
Obrigado querido. tudo que você escreve sobre filmes Cinema é fascinante .eu acompanho sua trajetória. e é um prazer ser amigo de um dotado de tanto .saber .cinematográfico.
Um gênio.
o melhor de todos
Que delicia lembrar dessas figuras!
Tem um em especial que eu amo: The Three Godfathers! Presenteei meu tio com um dvd.
O cinema americano por excelência !
Sou fã dele.
Adoro mergulhar de cabeça na obra de John Ford. Nunca vi um de seus filmes que tenha me decepcionado. "O Delator" é um dos meus favoritos de todos os tempos.
É interessante notar que, apesar de ele se apresentar como alguém que faz faroestes, não ganhou nenhum Oscar por dirigir um faroeste.
Ah, também acho interessante como ele sempre reservava um papel de extra para Mae Marsh.
Abraços!
Claro que ele não fazia só Far-West.Erá(é)um G~enio!
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