outubro 31, 2022

**************** TRIBUTO a CHARLES LAUGHTON



“Hollywood é um lugar estúpido. Mas eu gosto. É a casa perfeita dos caricatos. Se eu não fosse um pouco louco, não moraria lá.”
CHARLES LAUGHTON
 

Nasceu em uma família rica de proprietários de hotéis. Após a morte do seu pai, CHARLES LAUGHTON (1899 – 1962. Scarborough, Yorkshire / Inglaterra) estudou atuação e rapidamente se tornou um bem sucedido ator. Construiu uma filmografia expressiva, mesmo que sua figura corpulenta e seu rosto nada bonito significassem que a maioria dos papéis principais não estava disponível para ele. Recebeu três indicações ao Oscar de Melhor Ator, ganhando em 1933 por “A Vida Privada de Henrique VIII”. Foi o primeiro ator britânico a arrebatar a famosa estatueta dourada.

Presença imponente no palco e na tela, estrela de cinquenta filmes e quarenta peças, ele infelizmente está esquecido nos dias de hoje. Extremamente talentoso e complexo - uma lenda artística que, no entanto, vivia em conflito com seu rosto pouco atraente e o corpo obeso. Sua personalidade abrigava uma alma torturada e insegura, um menino-homem desajeitado. Perfeccionista, achava o teatro frustrante, preferindo as possibilidades do cinema. Apesar do sucesso imediato e duradouro, ele nunca estava satisfeito e se considerava um fracasso. 

laughton e o oscar
Estudou na Royal Academy of Dramatic Art de Londres e fez sua primeira aparição no palco em 1926, em “O Inspetor Geral”, de Gogol. Depois de performances bem sucedidas no West End londrino, estreou no cinema em 1928, numa comédia silenciosa, “Blue Bottles”. Em uma peça, “Mr Prohack”, conheceu sua futura esposa, Elsa Lanchester, com quem se casou em 1929. Em 1931, se apresentou em Nova York e no ano seguinte faria seu primeiro filme em Hollywood, “The Old Dark House / A Casa Sinistra”. Retornou à Inglaterra em 1933 para quatro peças de Shakespeare no Old Vic: “Macbeth”, “Henrique VIII”, “Medida por Medida” e “A Tempestade”. Em 1936, em Paris, brilhou em um clássico de Molière na Comédie Française.

Exuberante, CHARLES LAUGHTON era um ator excelente, encarnando personagens sádicos e cordiais, assassinos e advogados, artistas e simplórios, e todos com o mesmo poder de convicção. Voz poderosa e penetrante, interpretava com paixão e imaginação. Muito longe do protótipo de um astro pela sua gordura, traços exagerados e voz peculiar, tornou-se uma presença estelar no cinema de Hollywood, especializando-se em papéis ambíguos. Seu modo particular de abordar o personagem conseguia dotá-lo de um pano de fundo de moralidade suspeita.

No histórico “A Vida Privada de Henrique VIII” (1933), fez um monarca vigoroso. Pouco depois foi a vez do tirânico Capitão Bligh em “O Grande Motim” (1935) e outros filmes populares. Originalmente escalado para “David Copperfield / The Personal History, Adventures, Experience, & Observation of David Copperfield the Younger” (1935), clássico de George Cukor adaptado de Charles Dickens, abandonou as filmagens. Na época, nos bastidores, foi dito que ele assediou sexualmente o ator infantil Freddie Bartholomew. WC Fields ficou com o papel de Micawber. Convidado para “O Corcunda de Notre Dame” (1939), adaptado de Victor Hugo, hesitou diante do deformado e patético Quasimodo, já que tinha problemas com sua própria aparência. Por fim, assumiu o projeto, tornando-se o seu filme mais popular.

laughton e elsa lanchester
Em 1937, em sociedade com Erich Pommer, formou sua própria companhia cinematográfica, a Mayflower Pictures Corp., produzindo três filmes, um deles dirigido por Alfred Hitchcock. No mesmo ano, estrelou a versão cinematográfica do romance
“I, Claudius”, de Robert Graves, que terminou abandonada após os ferimentos sofridos por Merle Oberon em um acidente de carro. Com a Segunda Guerra Mundial, a produtora fechou as portas e CHARLES LAUGHTON voltou para Hollywood.

A voz clara e distinta do ator fez muito sucesso em leituras no palco de grandes obras da literatura, viajando pela América do Norte e Inglaterra. As leituras começaram como entretenimento para as tropas hospitalizadas na Segunda Guerra Mundial, e mais tarde se desenvolveram em performances públicas aclamadas e altamente populares. Foram centenas de espetáculos. No palco, de uma sacola cheia de livros, selecionava trechos de obras de Charles Dickens, Thomas Wolfe, William Shakespeare, Esopo e, muitas vezes, a “Bíblia”. Muitas das leituras foram preservadas em gravações de áudio e na série de televisão “This is Charles Laughton” (1953).
 
O ator não temia a experimentação, colaborando com Bertolt Brecht em 1947 em “A Vida de Galileu”. Na direção, Joseph Losey. Um de seus sucessos mais notáveis no teatro foi ao interpretar o Diabo em “Don Juan no Inferno”, de Bernard Shaw, em 1950. Ele dirigiu várias peças na Broadway. Desde um poema épico da Guerra Civil, em 1953, estrelado por Tyrone Power, a “A Nave da Revolta”, em 1954, um sucesso estrelado por Henry Fonda que teve 415 apresentações. Também foi um conceituado professor de teatro, tendo entre seus alunos, Albert Finney.

Para dissipar sua solidão, CHARLES LAUGHTON procurava a companhia de belos jovens, muitos dos quais começavam como seu massagista ou assistente pessoal. Com alguns deles, desenvolveu longos relacionamentos românticos. Ele era feliz e produtivo quando envolvido nesses romances, mas quando se separavam, entrava em crise. Em “O Grande Motim”, a homofobia de Clark Gable criou tanta tensão no set que o produtor Irving Thalberg teve que intervir. Casado com Elsa Lanchester, ele estava profundamente descontente com suas tendências homossexuais. Permaneceu com a esposa até sua morte e, embora tivesse vários amantes, nunca teve um parceiro significativo.

Embora temesse um escândalo, sempre trazia amantes para as filmagens para ajudá-lo a relaxar. O seu pior medo se materializou enquanto dirigia Henry Fonda em “A Nave da Revolta” (1954). Fonda, irritado com o desenvolvimento da peça, atacou o diretor na frente de todos: “O que você sabe sobre os homens, sua bicha gorda?”. Parte da homofobia internalizada de CHARLES LAUGHTON foi aliviada em 1960, depois que ele e sua esposa compraram uma casa em Santa Monica, ao lado do escritor gay Christopher Isherwood e seu companheiro Don Bachardy. Os dois casais se tornaram amigos íntimos, e o orgulho gay de Isherwood e Bachardy ajudaram o ator a alcançar uma certa aceitação emocional.

Dirigiu apenas um filme, “O Mensageiro do Diabo / The Night of the Hunter, de 1955, estrelado por Robert Mitchum, Shelley Winters e Lillian Gish. Embora tenha sido um fracasso de crítica e bilheteria, desde então vem sendo citado como um dos maiores filmes da década de 1950. Na vida privada, CHARLES LAUGHTON tinha o ator Burgess Meredith como um dos seus melhores amigos. Homem sensível, apaixonado pela arte japonesa, era um conhecedor de arte, acumulando uma coleção valiosa.

laughton e lanchester
Seu casamento não era feliz, e eles seguiam caminhos separados na maior parte do tempo, embora nunca se separassem. Um dos últimos projetos de direção dele foi um espetáculo que criou para a esposa, em 1960, “Elsa Lanchester – Ela Mesma”. Após a morte dele, Elsa escreveu um livro alegando que eles nunca tiveram filhos porque não faziam sexo, mas não se considerava enganada, sabia que ele era homossexual quando se casaram. Atormentado pelo desejo, o ator vivia envergonhado de seus anseios homossexuais. Nunca discutiu publicamente ou declarou sua homossexualidade, exceto para sua esposa.

Suas últimas peças foram “Sonhos de Uma Noite de Verão” e o papel título de “Rei Lear”, em 1959. Foi muito elogiado por seu retrato de um senador desonesto em seu derradeiro filme, “Tempestade em Washigton”. Em 1962, diagnosticado com câncer na coluna, seu peso caiu para apenas quarenta quilos. Ficou em coma e morreu em dezembro do mesmo ano. Talento criativo completo, certa vez Daniel Day-Lewis o citou como uma de suas inspirações: “Ele foi o melhor ator de cinema da sua época. Tinha algo notável. Sua generosidade como ator alimentava seu trabalho e impedia o público de tirar os olhos dele em cena.”

no premiado “a vida privada de henrique VIII”

DEZ FILMES de CHARLES LAUGHTON
(por ordem de preferência)
 
01
Os MISERÁVEIS
(Les Misérables, 1935)

Direção de Richard Boleslawski
Elenco: Fredric March, Cedric Hardwicke, Rochelle Hudson e Florence Eldridge
 
02
TESTEMUNHA de ACUSAÇÃO
(Witness for the Prosecution, 1957)

Direção de Billy Wilder
Elenco: Tyrone Power, Marlene Dietrfich, Elsa Lanchester e Una O'Connor
 
03
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1939)

Direção de William Dieterle
Elenco: Maureen O´Hara, Cedric Hardwicke, Thomas Mitchell e Edmond O´Brien
 
04
O GRANDE MOTIM
(Mutiny on the Bounty, 1935)

Direção de Frank Lloyd
Elenco: Clark Gable, Franchot Tone, Donald Crisp, Spring Byington e Movita
 
05
TEMPESTADE sobre WASHINGTON
(Advise & Consent, 1962)

Direção de Otto Preminger
Elenco: Franchot Tone, Lew Ayres, Henry Fonda, Walter Pidgeon, Don Murray, Peter Lawford, Gene Tierney e Burgess Meredith
 
06
SPARTACUS
(Idem, 1960)

Direção de Stanley Kubrick
Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Peter Ustinov, Nina Foch, John Gavin e John Ireland
 
07
O SINAL da CRUZ
(The Sign of the Cross, 1932)

Direção de Cecil B. DeMille
Elenco: Fredric March, Claudette Colbert e Elissa Landi
 
08
ESTA TERRA é MINHA
(This Land Is Mine, 1943)

Direção de Jean Renoir
Elenco: Maureen O´Hara, George Sanders, Walter Slezak e Una O´Connor
 
09
Os AMORES de HENRIQUE VIII
(The Private Life of Henry VIII, 1933)

Direção de Alexander Korda
Elenco: Robert Donat, Merle Oberon e Elsa Lanchester
 
10
O RELÓGIO VERDE
(The Big Clock, 1948)

Direção de John Farrow
Elenco: Ray Milland, Maureen O`Sullivan, George Macready e Elsa Lanchester

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5 comentários:

Alan Dos Santos disse...


A 123 anos nascia o grande astro inglês Charles Laughton vencedor do Oscar de melhor ator do filme Rembrandt e astro dos filmes clássicos: A grande revolta , Henrique 8 e suas mulheres, Agonia do amor , A testemunha de acusação e Spartacus e foi diretor do ótimo O Mensageiro do Diabo com Robert Mitchum em 1961 aos 61 anos nos deixou depois de sofrer um ataque cardíaco mas sempre será lembrado

Silvio Crisostamo DA Silva disse...


Entre outros papéis, foi o melhor Quasimodo do cinema (O Corcunda de Notre Dame, 1939)..

Erica disse...

Foi um grande ator mesmo, esse Testemunha de acusação e Spartacus são tampa demais ✌️

Paulo Tadeu Amaral Cesar disse...


Seu trabalho em Testemunha de acusação é simplesmente inesquecível !

Mario Catucci disse...

O notei pela primeira vez em Spartacus. E, sim, me marcou exatamente a ambiguidade do personagem. Em Testemunha de Acusação me pareceu histriônico demais, acho que foi a mão de Billy Wider nesse caso.
Dos demais fimes que citou vi apenas O Grande Motin, ele está ótimo como o detestável Blight.
Parabéns pelo seu texto completo. Não sabia de todas as facetas e história profissional de Charles Laughton.
Obrigado e um abraço!