Aos
69 anos, ela concorre este mês ao Oscar pelo magnífico “45 Anos / 45 Years”, drama
pelo qual arrebatou prêmios de Melhor Atriz no Festival de Berlim, European Film
Awards e Associação dos Críticos de Los Angeles. Compõe com Tom Courtenay um
casal prestes a celebrar 45 anos de casados, mas que é sobressaltado por uma
dúvida que ficara enterrada no passado.
Entrevistei CHARLOTTE RAMPLING há 15 anos, em Barcelona. A oportunidade surgiu durante a coletiva que concedeu à imprensa espanhola ao lançar o premiado “Sob a Areia / Sous le Sable”. Entrevista publicada no jornal “A Tarde” e no livro “ArtePalavra – Conversas no Velho Mundo” (2003).
Vale ainda hoje pela autenticidade da estrela. A sua postura é honesta. Mostra-se como é. Com o seu olhar do qual não ousamos desviar a atenção. Deslumbrante. O momento ficou. Confira.
Entrevistei CHARLOTTE RAMPLING há 15 anos, em Barcelona. A oportunidade surgiu durante a coletiva que concedeu à imprensa espanhola ao lançar o premiado “Sob a Areia / Sous le Sable”. Entrevista publicada no jornal “A Tarde” e no livro “ArtePalavra – Conversas no Velho Mundo” (2003).
Vale ainda hoje pela autenticidade da estrela. A sua postura é honesta. Mostra-se como é. Com o seu olhar do qual não ousamos desviar a atenção. Deslumbrante. O momento ficou. Confira.
Atriz
de olhar enigmático e voz profunda, desnuda-se de corpo e alma no papel de Marie
Drillon, uma professora de literatura desesperada diante do enigma do desaparecimento
de seu marido, Jean (Bruno Cremer), que possivelmente se afogou numa praia da
cidade onde o casal passava suas férias. “Sob a Areia”, um drama psicológico do
francês François Ozon, tem recebido críticas entusiasmadas, principalmente pela
atuação comovente da protagonista. Este ano, ela abriu o Festival de Cannes, recebeu
o prêmio César especial por sua longa carreira e atuou em quatro filmes,
alimentando uma filmografia atraente e versátil.
Praticamente adotada pelo cinema francês, a veterana inglesa CHARLOTTE RAMPLING debutou no cinema aos 19 anos, numa pontinha em “A Bossa da Conquista / The Knack and How to Get It” (1965), de Richard Lester, uma comédia que capta o clima moderninho do swinging London. O reconhecimento internacional veio pelo clássico “Os Deuses Malditos / La Caduta degli Dei” (1969), do mestre italiano Luchino Visconti, reafirmado com o escândalo provocado ao estrelar “O Porteiro da Noite / Il Portiere di Notte” (1974), fazendo uma judia sobrevivente do nazismo que transa com seu torturador.
Nascida
em Gibraltar, acabaria por dividir a sua vida (e carreira) entre vários países,
tornando-se inclassificável. Um talento moldado
por cineastas consagrados e diversos como John Boorman, Patrice Chéreau, Liliana
Cavani, Arturo Ripstein, Woody Allen, Sidney Lumet, Michael Cacoyannis e Nagisa
Oshima, entre muitos outros, associando seu nome a personagens misteriosos. Foi casada
quase 20 anos com o músico Jean-Michel Jarre. CHARLOTTE RAMPLING, ainda hoje,
seduz com penetrantes olhos azuis e elegante fragilidade. Não é à toa que foi
considerada pela revista “Empire” como uma das 100 estrelas mais sensuais da
história do cinema.
Parabéns por este filme magnífico. Ozon ficou satisfeito em tê-la como protagonista e a crítica exalta sua atuação. Foi difícil encontrar o ponto exato para dar vida à sofrida Marie?
Obrigada,
ainda bem que gostou. Não usei nenhum método diferenciado de interpretação,
nenhuma técnica especial. O personagem me caiu como uma luva. Eu simplesmente
utilizei a memória, porque havia passado por algo parecido. Tive uma grave
depressão e um sentimento de perda com a morte precoce de minha irmã Sarah. Com
a Marie repeti na ficção a dor e a incredulidade sentidas com o desaparecimento
repentino de um ser amado. É um personagem complexo. Acho formidável quando no
meio do seu desespero se dá conta, depois de tantos anos, que não conhece
realmente o marido, não sabe como ele é de verdade. Mas o filme antes de tudo é
uma história de amor que fala de perda e obsessão. Marie na verdade só se dá
conta de que ama muito o marido depois de perdê-lo. E isso acontece na vida das
pessoas. Muitas vezes, só valorizamos algo depois que não o possuímos mais.
Prefere
personagens densos e estranhos?
As
almas que habitam os nossos papéis, somos nós. Talvez por isso prefira a força
dramática dos personagens introspectivos. Necessito de papéis que me alimentem
emocionalmente. Não me atraem personagens superficiais, caricatos. Afinal, é a
viagem da minha alma. Preciso de alguma interioridade para fazer este tipo de
profissão. Nem todos, mas muitos dos personagens que interpretei têm uma parte
da minha intimidade. É isso que me interessa. É isso que me torna a atriz que
eu sou. É isso que transparece nesses papeis. Sei que esse direcionamento limita
minha carreira, mas não estou no cinema para acumular todo tipo de filmes ou
ganhar rios de dinheiro, prefiro fazer o que me dá prazer. Evito fitas
simplórias, descartáveis, mesmo que o público se incomode com as minhas
escolhas.
Como foi trabalhar com François Ozon?
Já
trabalhei com grandes diretores do cinema francês e posso dizer que Ozon dirige
como um veterano. Ele tem um bom caráter e se envolve com sua equipe,
permitindo um resultado empolgante. A filmagem foi muito agradável. Ele é um
tipo comum, sem esquisitices. O “cinema de autor” de antes era muito mais
complicado.
Falando
em “cinema de autor”, tem boas recordações de Luchino Visconti?
Eu
era muito jovem, desconhecia o mundo em que Visconti vivia e fiquei bastante
impressionada. Ele me ensinou a apreciar filmes
profundos e extravagantes. Nunca mais pude rodar filmes convencionais. Uma pena que não foi concretizada a nossa segunda
colaboração. Havia me convidado para fazer um dos papéis centrais de “Em
Busca do Tempo Perdido”, adaptação da obra de Marcel Proust, mas infelizmente o projeto não teve continuidade.
Visconti marcou a sua carreira. Ele a lançou mundialmente. “Os
Deuses Malditos” hoje é um clássico.
Engraçado,
muita gente pensa isso. Realmente Visconti foi importante para a minha
carreira, jamais negaria, porém a influência de Woody Allen foi bem maior.
Quando fiz “Memórias / Stardust Memories”, em 1980, Allen foi vital na minha
vida pessoal e profissional. Eu estava perdida, fragilizada, sem saber como
agir e ele me ensinou que a vida poderia ser divertida.
Passados quase trinta anos, ainda é lembrada pela Lúcia de “O Porteiro da Noite”. Incomoda-se?
Com
ela encontrei a minha linha de interpretação, o meu estilo. Ela me revelou o
que eu queria fazer. Sei que muita gente se chocou com o filme e eu poderia ter
direcionado minha carreira para outros papéis após o escândalo mundial, mas
preferi seguir a intuição, investindo na luminosidade
enigmática do personagem. Acredito que foi uma decisão acertada.
Por
que focou sua carreira no cinema francês?
Filmei
em diversos países. Itália, Espanha, Grécia, Suécia, Estados Unidos, Inglaterra... Com o
cinema francês tenho um relacionamento amoroso. Ele é generoso com atrizes de
qualquer idade. A maturidade não é um problema, como acontece habitualmente em
outras cinematografias.
A
imprensa tem alardeado sua volta, mas nunca deixou de filmar.
Exatamente.
Eu nunca abandonei o cinema. Tenho uma visão poética de minha carreira,
preferindo atuar em filmes significativos, e muitos deles são de baixo
orçamento ou de distribuição deficiente, passando despercebidos em inúmeros
países. Entusiasmo-me correndo riscos, optando por produções irreverentes. Nos
últimos meses, fui dirigida por Cacoyannis, Tony Scott e John Irvin.
No momento, preparo-me para rodar a comédia francesa “Beije Quem Você Quiser / Embrassez
qui Vous Voudrez”, de Michel Blanc, com Jacques Dutronc e Carole Bouquet. Jamais deixei de filmar. Pretendo continuar nas telas por muitos
anos.
10 FILMES de CHARLOTTE RAMPLING
01
Os DEUSES MALDITOS
direção de Luchino Visconti
com Dirk Bogarde, Ingrid Thulin, Helmut Berger
e Florinda Bolkan
02
GIORDANO BRUNO
(Idem, 1973)
direção de Giuliano Montaldo
com Gian-Maria Volonté e Mathieu Carrière
03
O PORTEIRO da NOITE
direção de Liliana Cavani
com Dirk Bogarde, Gabrielle Ferzetti e Isa Miranda
04
A MARCA da ORQUÍDEA
(La Chair de l’Orchidée, 1975)
direção de Patrice Chéreau
com Bruno Cremer, Edwige Feuillère, Simone Signoret
e Alida Valli
05
MEMÓRIAS
direção de Woody Allen
com Woody Allen e Marie-Christine
Barrault
06
O VEREDITO
(The Verdict, 1982)
direção de Sidney Lumet
com Paul Newman e James Mason
07
VIVA LA VIE!
(1984)
direção de Claude Lelouch
com Michel Piccoli, Jean-Louis
Trintignant e Anouk Aimée
08
MAX MON AMOUR
(1986)
direção de Nagisa Oshima
com Anthony Higgins e Victoria Abril
09
CORAÇÃO SATÂNICO
(Angel Heart, 1987)
direção de Alan Parker
com Mickey Rourke e Robert De Niro
10
SOB a AREIA
direção de François Ozon
com Bruno Cremer
48 comentários:
Que atriz maravilhosa. Que mulherão.
Nossa! Que chique entrevistar ela! Realmente ela é uma presença e tanto.
Um olhar peculiar, mas belo.
Continua com tudo em cima.
http://avozdocinefilo.blogspot.com.br/
Nahud, quais seriam as duas publicações que mantiveram você ausente por um pequeno período de tempo? Seria possível conseguir algum exemplar? Abraço.
A Charlotte é um arraso de mulher,só assisti dos seus filmes o polêmico " O porteiro da noite",só acho que ela não é muito lembrada pela crítica,me fazendo lembrar também da Kristin Scott Thomas. Abç
Ola meu amigo ,que bom saber que o sumiço já terminou,pois as saudades estavam batendo na porta.Excelente entrevista,meus parabéns.Tenhas um ótimo fim de semana e abração pelo retorno aos amigos blogueiros.
Adoro O Porteiro da Noite o magistral.......Coração Satânico.
Obras-primas.
Ela é simplesmente maravilhosa!!!
Belo artigo, Antônio. Parabéns mesmo pelo trabalho.
A carreira de Charlotte Rampling é muito engraçada sob alguns aspectos - principalmente quando temos em mente que trabalhara no tosco Orca, A Baleia Assassina.
Abs!
Injeção Cinéfila
Linda demais, não, e que olhar!
E além de bela uma grande atriz. Parabéns pela entrevista Antonio!!!
Ela é linda. Excelente post.
Grande abraço.
Maxx.
http://telecinebrasil.blogspot.com
Ótima escolha! Charlotte Rampling é uma das minahs atrizes favoritas, uma das mis belas e interessantes desde os anos '60.
Ótima postagem, eu não a cochecia.
Adoro esta actriz.
Para mim o seu melhor papel é no "Porteiro da Noite".
E gostei imenso dela num filme muito antigo, ela era lindíssima e contracenava com um actor muito belo também, Fabio Testi, que era seu irmão na película e com o qual tinha uma relação incestuosa.
Ola Antonio. Sim, amo cinema!! E acompanharei com prazer o blog. Abraços!
Belo texto, entrevista e fotos de uma das mais belas e intrigantes atrizes sempre.
Gosto demais de um filme dela de época, que se passa em Veneza. Não lembro o título.
Creio que o único passo em falso de Charlotte foi "Orca, a baleia assassino". Ela está maravilhosa em "Melancolia", de Von Trier.
Nossa, que linda! não a conhecia. Bem como não me lembrava também deste filme do Dirk Bogarde, O Porteiro da Noite até consultar aqui. Não falam muito bem a respeito dele, mas não importa. Irei assistir.
Abraços
Rodrigo, publiquei recentemente o livro de contos "Pequenas Histórias do Delírio Peculiar Humano" e amanhã será lançado a biografia "Agnelo Alves - 8 Décadas". Ambos edições independentes, dificultando a circulação além do Rio Grande do Norte. Posso enviá-los via correios. Combinamos detalhes por e-mail. Escreva para mim. Abraços, obrigado.
ofalcaomaltes41@gmail.com
Tem razão, Linezinha. As trajetórias das sensacionais Rampling e Scott Thomas são raramente enaltecidas pelos críticos e pouco lembradas pela mídia.Reconhecem o talento delas, mas dão em troca um silêncio respeitoso, se isso é possível.Rampling durante alguns anos, justamente após "Sob a Areia", teve o seu "boom" de prêmios e reconhecimento crítico.
Obrigado, Suzane. Bom estar de volta.
Eu também, Renato. "Coração Satânico" vi adolescente e nunca o esqueci. O demo de De Niro é eterno. Temo revê-lo e me decepcionar, como aconteceu com outros filmes de Alan Parker. "O Porteiro da Noite" é incrível, marcante. Belos filmes. "O Veredito", de Lumet, é outro grande momento de Rampling. Se não viu, fica a recomendação.
Victor, ORCA, A BALEIA ASSASSINA é o momento mais comercial da carreira da atriz. Mas está longe do trash. Vale a pena vê-lo como diversão. E ao lado de Rampling está o ótimo Richard Harris. No final dos anos 70, a carreira da atriz não ia nada bem. Ela só voltou a crescer quando filmou MEMÓRIAS, de Woody Allen.
João, vi esse filme. Belo. No Brasil foi intitulado ADEUS, IRMÃO CRUEL. Produção italiana de 1971, dirigida por Giuseppe Patroni Griffi.
Obrigado, Anne Denise. Apareça sempre.
É o mesmo filme que o João Roque citou, Brenda: ADEUS, IRMÃO CRUEL.
É o mesmo filme que o João Roque citou, Brenda: ADEUS, IRMÃO CRUEL.
Concordo, Nasser. Ela tem participação expressiva em MELANCOLIA, assim como em outros filmes recentes: EM DIREÇÃO AO SUL, CAÓTICA ANNA, A DUQUESA e NÃO ME ABANDONE JAMAIS.
Renato, a Liliana Cavani é o tipo de cineasta que se ama ou se odeia. Ela não me empolga, mas percebo que tem bons momentos e O PORTEIRO DA NOITE é um deles, assim como o bonito BERLIM AFFAIR. São filmes sensuais, sensíveis e perversos.
magnífica.
Grande Atriz!
Digo mais uma vez que os posts com entrevistas são um deleite!
Muito bacana que ela tenha trabalhado com mestres como Woody Allen e Luchino Visconti, além de Sidney Lumet no ótimo O veredicto.
Abraços!
Nahud - Boa Noite, Sarah era sua irma que morava na Argentina e se suicidou (que vc se refere como filha dela)
Abs.
Adoro Charlotte Rampling, principalmente nos filmes de François Ozon, mas ela está maravilhosa em todos os filmes que atuou.
Muy bella Rampling, una mirada que atemoriza, muy segura, bellos ojos claros, he apuntado la de Parker y la de Ozon para verla, las otras ya las conozco, también aparece en Melancholia de Trier, un papel corto pero lleno de fuerza como los suyos. Muy buena entrevista, te felicito, un placer sin duda entrevistar a tan guapa y talentosa mujer. Un abrazo.
Ela é realmente incrível - como a entrevista. Boa tacada. Abraços. cinemavelho.com
Excelente post do Falcão Maltês, excelente tema, excelente texto.
Sonja, a história foi contada pela própria Charlotte numa entrevista coletiva.
O Ozon deu bons papeis para Charlotte, Gilberto.
Com certeza Antonio,em troca elas tem a tranquilidade e nos presenteiam com brilhantes interpretações! e a Kristin Scott Thomas merece um post aqui no falcão. Abç
Com certeza, Linezinha. Um dia desses a Kristin estará por aqui.
Chiquérrima, elegantíssima, charmosa, bela e talentosa. Quantas Charlotte Ramplings temos hoje, hein? Gosto muito de Os deuses malditos e Coração satânico e tenho verdadeiro fascínio por O porteiro da noite.
Abraços cinéfilos!
Charlotte Rampling, atriz internacional !
Que honra. Entrevistar essa fantástica atriz
Legal mesmo, uma grande atriz
Fabulosa
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