fevereiro 15, 2025

***** A VIDA e os FILMES da BELA TÔNIA CARRERO



 

Era de tal beleza que encabulei 
e não consegui olhá-la nos olhos.
CARLOS DRUMMOND de ANDRADE
(1902 – 1987. Itabira / Minas Gerais)
 
A mulher bonita precisa ter certas qualidades 
para que sua beleza se torne menos esmagadora.
ANÍBAL MACHADO
(1894 – 1964. Sabará / Minas Gerais)
 
Votei e fiz campanha para José Serra na eleição presidencial em 2002. Não votei no Lula. Acho ele engraçadíssimo. Parece um ator cômico. Ele fala besteira, muitas gafes. Não tem cultura nenhuma. Diz que seu governo está preocupado com a fome, embora, verdade seja dita, não esteja resolvendo o problema da fome.
TÔNIA CARRERO
Folha de S. Paulo
agosto de 2004
 
Olhos: azuis
Cabelos: loiros
Apelidos: Mariinha e Tônica
 

 
Ela foi uma das mulheres mais bonitas do Brasil e durante décadas a nossa mais bela atriz. Sua beleza era um elixir, um bálsamo, um imã. Arrancava suspiros por onde passava. “Ela iluminava Ipanema, as salas, as praias, as ruas…”, escreveu Paulo Mendes Campos. Dona de formosura estonteante, batalhou para se tornar atriz respeitada. Não era levada a sério no início da carreira. Nasceu em uma família de militares. O patriarca, um intelectual, recebia em casa artistas famosos como Procópio Ferreira, Oscarito, Grande Otelo e Dulcina de Moraes. Casou-se cedo com o artista plástico e diretor de cinema Carlos Thiré, e tornou-se mãe de Cecil, futuro ator. Em seguida, TÔNIA CARRERO (1922 – 2018. Rio de Janeiro / RJ) estudou teatro na França com o lendário Jean-Louis Barrault, fazendo o curso “Éducation par le Jeu Dramatique”. Ao voltar de Paris, estreou aos 25 anos no filme “Querida Suzana”, ao lado de Anselmo Duarte e Nicette Bruno. Apadrinhada por Rubem Braga, é contratada por Fernando de Barros para os filmes “Caminhos do Sul” (1949) e “Perdida pela Paixão” (1950). 
 
O cinema é o primeiro palco da estrela. Em 1949 assiste Paulo Autran em cena, e o convida para seu lançamento no teatro em “Um Deus Dormiu lá em Casa”, de Guilherme Figueiredo. A bem-sucedida montagem e a alquimia entre os dois atores são o ponto de partida para diversos outros espetáculos.
A convite do empresário Franco Zampari, entra para a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o estúdio paulistano que alimentou o sonho de um cinema industrial nacional e lançou diversos nomes ao estrelato. Nele, ela protagoniza dois dramas, “Apassionata” (1952) e “Tico-Tico no Fubá” (1952), e a comédia “É Proibido Beijar” (1954). O segundo, dirigido por Adolfo Celi, foi um estrondoso sucesso de bilheteria e ganhou vários prêmios importantes. Trata-se de uma biografia romanceada do popular compositor Zequinha de Abreu (1880 – 1935). Um quarto filme na Vera Cruz, “Ana Terra”, baseado no romance de Érico Veríssimo, ficou incompleto com a falência do estúdio. 
 
Projetada como diva, TÔNIA CARREIRO recebeu convite para jantar – e aceitou! - com Getúlio Vargas, o ditador-presidente do Brasil à época, no Palácio do Catete. Em 1953, de volta ao palco, estreou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) na comédia “Uma Certa Cabana”, com direção do italiano Adolfo Celi. Depois da Vera Cruz, nunca deixou de filmar, inclusive participando de produções internacionais, mas não fez grandes filmes em sua longa carreira. Resumindo sua trajetória cinematogáfica, o melhor deles foi o policial “Tempo de Violência”, de 1969, com Raul Cortez, Glauce Rocha, Mário Lago e Isabel Ribeiro no elenco. Interpreta Marta, a esposa de bancário que presencia o assassinato de um jornalista e é perseguido implacavelmente pelos criminosos. Separada de Thiré, se relacionou com Celi, que tinha um caso com Cacilda Becker, a primeira-dama do teatro brasileiro, gerando tensão no meio teatral. As duas só fizeram as pazes pouco antes da morte de Cacilda em 1969. Tônia já estava separada de Celi e Cacilda apaixonada por Walmor Chagas. Numa conversa franca, revelou que Cacilda era seu paradigma de atriz. Resolveram as diferenças. Em 1956, o casal mais Paulo Autran formaram a Companhia Tônia-Celi-Autran, estreando em “Otelo”, de William Shakespeare. Seu desempenho rendeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte de Melhor Atriz.  
 
nelson xavier e tonia em navalha na carne
Na década de 60, ela ingressa na Excelsior, na telenovela histórica
“Sangue do Meu Sangue” (1969), fazendo enorme sucesso como a atriz Pola Renon. Em 1967, como a prostituta Neusa Sueli de “Navalha na Carne”, desempenha um dos seus papéis mais emblemáticos. Abandona padrões de beleza e dá vida ao texto de Plínio Marcos. A peça marca o seu reconhecimento profissional, recebendo o Prêmio Molière de Melhor Atriz. Foi um dos espetáculos mais aplaudidos da temporada, além de divisor de águas em sua brilhante carreira no teatro, que inclui clássicos de Tchekhov, Albee, Sartre, Pirandello, Shaw, Shakespeare e Ibsen.
Entre outras, participou das telenovelas “Pigmalião 70” (1970) e “Água Viva” (1980), interpretando Stella Simpson, uma socialite excêntrica. Acompanhei essa última do início ao final, uma impactante criação de Gilberto Braga e Manoel Carlos. Pouco depois,
morei um ano e meio no Rio de Janeiro, fazendo amizades com artistas – Jorge Fernando, Antônio Cícero, Lauro Corona, Maria Sílvia, Edson Celulari, Elke Maravilha, Caíque Ferreira etc. - e figuração em programas de humor da Rede Globo. 
 
Nessa época, soube de diversas verdades secretas da classe artística. Uma delas, sobre TÔNIA CARRERO, afirmava que era “um amor de pessoa”, mas bebia sem limites e costumava assediar sexualmente jovens atrizes. Não sei se é verdade, mas quem me confidenciou, um conhecido diretor de telenovelas, era sério. Vi a atriz em cena apenas uma vez, em 1999, no drama “Um Equilíbrio Delicado”, de Edward Albee, dividindo palco com Walmor Chagas, Ítala Nandi e Camila Amado, e comemorando meio século de ribalta. Com quase 80 anos, ainda bonita, chamava a atenção, roubando a cena. No entanto, parecia de pileque. Com atuações marcantes e uma ousada presença de palco, a diva permanece como uma referência na arte da interpretação. Heroína, vilã ou cortesã, personificou inúmeros tipos. Uma das maiores estrelas brasileiras do século 20, mulher de fibra e talento, despertou paixões arrebatadoras. Foi amante do cronista Rubem Braga, que dedicou inspiradas crônicas à amada. Inteligente, engraçada e irônica, tinha Paulo Autran, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Nelson Rodrigues, Villa-Lobos, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Vinicius de Moraes como amigos da vida inteira.
 
No seu último filme, “Chega de Saudade” (2008), TÔNIA CARRERO interpreta dona Alice, frequentadora do clube de dança de salão que dá nome ao longa. Ela faleceu aos 95 anos, de parada cardíaca. Deixou um legado de 54 peças, 19 filmes e 15 telenovelas.
 

FONTES
“Tônia Carrero: O Monstro de Olhos Azuis” (1986)
de Tônia Carrero
 
“Tônia Carrero: Movida pela Paixão”
(2008)
de Tania Carvalho

 
“Eu acho que poderia ter sido uma boa atriz de cinema. O teatro iria me ajudar a ser uma atriz de cinema. Mas cinema no Brasil é quase impraticável. Cinema é indústria e precisa de dinheiro. Sem dinheiro, fica difícil. É claro que aqui acontece uma ou outra produção que acaba dando certo, mas, na maioria das vezes, não sai nada que preste.”
TÔNIA CARRERO
 
anselmo duarte e tônia
 

TODOS os FILMES de TÔNIA
 
QUERIDA SUSANA (1947)

direção de
Alberto Pieralisi

elenco: Anselmo Duarte e Nicette Bruno

CAMINHOS do SUL (1949)

direção de
Fernando de Barros

elenco: Maria Della Costa, Orlando Villar e Sadi Cabral
 
QUANDO a NOITE ACABA (1950)

direção de
Fernando de Barros

elenco: Roberto Acácio, José Lewgoy e Nídia Lícia
 
APASSIONATA (1952)

direção de Fernando de Barros

elenco: Anselmo Duarte, Alberto Ruschel, Ziembinski
e Paulo Autran
 
TICO-TICO no FUBÁ (1952)

direção de Adolfo Celi

elenco: Anselmo Duarte, Marisa Prado e Ziembinski
 
É PROIBIDO BEIJAR (1954)

direção de Ugo Lombardi

elenco: Mário Sérgio, Ziembinski, Otelo Zeloni
e Inezita Barroso
 
MÃOS SANGRENTAS (1955)

direção de
Carlos Hugo Christensen

elenco: Arturo de Córdova, Sadi Cabral e Dionísio Azevedo
 
ALIAS GARDELITO (1961)      

direção de
Lautaro Murúa

elenco: Alberto Argibay e Walter Vidarte
 
COPACABANA PALACE (1962)

direção de Steno

elenco: Sylva Koscina, Walter Chiari e Mylène Demongeot
 
ESSE RIO QUE EU AMO (1962)

direção de
Carlos Hugo Christensen

elenco: Agildo Ribeiro, Daniel Filho e Hugo Carvana
 
SÓCIO de ALCOVA (1962)

direção de
George Cahan

elenco: Jean-Pierre Aumont, Jardel Filho e Norma Bengell
 
TEMPO de VIOLÊNCIA (1969)

direção de
Hugo Kusnet

elenco: João Bennio, Raul Cortez, Hugo Carvana,
Glauce Rocha, Isabel Ribeiro, Mário Lago
e Rubens de Falco
 
GORDOS e MAGROS (1976)

direção de Mário Carneiro

elenco: Roberto Bonfim, Sérgio Britto, Hugo Carvana
e Carlos Kroeber
 
SONHOS de MENINA MOÇA (1988)

direção de
Tereza Trautman

elenco: Marieta Severo, Louise Cardoso, Zezé Motta,
Jofre Soares e Selma Egrei
 
A BELA PALOMERA (1988)

direção de Ruy Guerra

elenco: Ney Latorraca, Cláudia Ohana, Chico Díaz,
Dina Sfat e Cecil Thiré
 
FOGO e PAIXÃO (1989)

direção de Marcio Kogan e Isay Weinfeld

elenco: Mira Haar, Cristina Mutarelli, Carlos Moreno,
Fernanda Montenegro e Paulo Autran
 
O GATO de BOTAS EXTRATERRESTRE (1990)

direção de Wilson Rodrigues

elenco: Maurício Mattar, Zezé Motta, Carmem Silva
e Jofre Soares
 
VINICIUS (2005)

direção de Miguel Faria Jr.

 
CHEGA de SAUDADE (2008)

direção de Laís Bodanzky

elenco: Leonardo Villar, Cássia Kiss, Betty Faria
e Selma Egrei
 
“Tônia Carrero é uma lenda brasileira. Uma lenda que se deixou impregnar pela beleza, luta, o talento, o espírito de aventura, o obstinado trabalho, sua severa paixão.”
NÉLIDA PIÑON
(1937 – 2022. Rio de Janeiro / RJ)
 

QUINZE PEÇAS de TÔNIA CARRERO
 
CÂNDIDA
de Bernard Shaw
direção de Ziembinski
1954
 
ENTRE QUATRO PAREDES
de Jean-Paul Sartre
direção de Adolfo Celi
1956
 
OTELO
de William Shakespeare
direção de Adolfo Celi
1956
 
SEIS PERSONAGENS à PROCURA de um AUTOR
de Luigi Pirandello
direção de Adolfo Celi
1959
 
Os CORRUPTOS
de Lillian Hellman
direção de João Augusto
1967
 
NAVALHA na CARNE
de Plínio Marcos
direção de Fauzi Arap
1967
 
MACBETH
de William Shakespeare
direção de Fauzi Arap
1970
 
CASA de BONECAS
de Henrik Ibsen
direção de Cecil Thiré
1971
 
CONSTANTINA
de Somerset Maugham
direção de Cecil Thiré
1974
 

DOCE PÁSSARO da JUVENTUDE
de Tennessee Williams
direção de Carlos Kroeber
1976
 
QUEM TEM MEDO de VIRGÍNIA WOOLF?
de Edward Albee
direção de Antunes Filho
1978
 
A DIVINA SARAH
de John Murrell
direção de João Bethencourt
1985
 
QUARTETT
de Heiner Müller
direção de Gerald Thomas
1986
 
O JARDIM das CEREJEIRAS
de Anton Tchekhov
direção de Élcio Nogueira
2000
 
A VISITA da VELHA SENHORA
de Friedrich Dürrenmatt
direção de Moacyr Góes
2002
 
“Ser bom faz bem à alma, e à face, e nada envelhece mais que a mesquinharia gravado na cara; nada embeleza tanto quanto a doçura interior. Tônia é toda bela.”
RUBEM BRAGA
(1913 – 1990. Cachoeiro do Itapemirim / Espírito Santo)
 

A LISTA de TÔNIA CARRERO
 
GOSTO
Carlos Drummond de Andrade
Teatro
Dança
Bom papo
Júlio Iglesias
Dostoievski
Perfume
Crianças
Ingmar Bergman
Millôr Fernandes
Futebol
Champanha
Mar
Sol
Beijo demorado
 
DETESTO
Telefonemas longos
Cabelos maltratados
O som dos nossos cinemas
O sofrimento das crianças pobres
Ruas sujas
Dormir cedo
Falta de educação
Teatro vazio
Lula da Silva
Sentir medo
Amores curtos
Aperto de mão frouxo
Chiclete
Falta de responsabilidade
Tráfico intenso
 
GALERIA de FOTOS
 
 


26 comentários:

Lu Terezio Terezio disse...

Assisti muitas peças da Tônia, no teatro Mesbla. Ela era casada com Adolfo Celi naquela época. Teatro Tonia,Celi,Autran. Paulo Autran. Também trabalhava a Mona Delaci, mãe da Cristiane Torloni e seu Geraldo. O Manolo saudoso contra Regra. Floriza Xavier guarda roupa. Saudades, saudades.

Teresa Garcia Gonçalves disse...

Paulo Autran também era fantástico. Assisti a peça "Liberdade, Liberdade", com ele (do Millôr Fernandes e Flávio Rangel), em pleno regime militar. Eu era adolescente.

Solange Brito disse...

Lindíssima, voz inesquecível.

Nadir Lopes disse...

Era uma atriz muito querida e talentosa .👏👏🌹

Yanê Amorim Mendes disse...

Maravilhosa mesmo.

Helena Fernandes disse...

Muito linda ! Qdo criança, via as fotos dela estampadas nas revistas que meu pai assinava. Me tornei adulta, e continuei admirando não só a beleza física, mas o talento como atriz.

Deise Augusto disse...

Quando a beleza e o talento era o que era!

Arthur Cardenes disse...

Lindíssima!!!

Lu Terezio Terezio disse...

A Tônia era maravilhosa como atriz e como uma pessoa iluminada e de bom coração.

Noelia Paula disse...

Linda mulher!

Marília Menezes disse...

Maravilhosa. Vi diversas peças suas.

Lurdinha Teles disse...

Eu era muito jovem, e ficava encantada com a beleza de Tônia Carrero. Acompanhava sua trajetória através da revista O Cruzeiro, e outras pequenas revistas da época. Assisti dois filmes com ela: Tico-tico no Fuba e A Passonata. Saudade do cinema em Ibicaraí.

Murilo Fonseca Costa disse...

Tive o prazer de conhece-la nos anos 80 .Almoçamos juntos no restaurante Lá in quando visitava a cidade de Ilhéus com um monólogo. Fui apresentado em seu camarim após apresentação à convite da amiga que também já virou estrela no céu, Carla Mendes.Linda e simpatissisima ❤️

Maristela Gerhardt disse...

Lindíssima!

Mary Ferreira disse...

Era muito linda!

Pedro Pólvora disse...

Sem botox! Maravilha!

Renate M. Ludewig disse...

Além de bela uma atriz espetacular.
Velhos tempos belos dias

Clarice Zipp disse...

Linda! O cabelo dela sempre foi copiado!

Marilu Solange disse...

Linda!

Nanci Oliveira Nader disse...

Fantástica!

Ivone Scotti disse...

Grande artista! Lindíssima.

Jocelen Arruda Leite disse...

Belíssima!

Herci Bonini Bragança disse...

Era muito linda e talentosa.

Yara Cunha Palazzo disse...

Nossa! Como ela foi linda!

Noelia Paula disse...

Era arrasadora! Belíssima

Rosana Fonseca disse...

Era linda, maravilhosa🙏💐
Uma Diva!