A
persona de ANNA MAGNANI (1908 - 1973. Roma / Itália) é avassaladora, graças a sua aparência expressiva,
seu modo visceral de atuar, e os melodramas associados a sua vida pessoal, de tal modo
que sua imagem ultrapassa em muito as narrativas cinematográficas nas quais
apareceu. Representa força emocional, desafio diante da adversidade,
exuberância e vitalidade. Nos palcos ou nas telas, em comédias ou dramas, fez como ninguém o tipo da
mulher suburbana, apaixonada, autêntica e maternal. Foi uma das maiores atrizes que a Itália já conheceu, considerada o
rosto do Neo-realismo e o estereótipo perfeito da “mamma” italiana.
Grande estrela durante mais de três décadas, ela não tem a beleza convencional e o glamour associados frequentemente ao termo. Ligeiramente gordinha, pequena (1,60 m), voz rouca, rosto expressivo emoldurado por cabelos negros despenteados, nariz aquilino, riso espontâneo, olhos profundos e olheiras marcantes. Ela é uma força da natureza, incontrolável, magnífica, temperamental. Nela, tudo é excessivo, impactante, vulcânico, latino, inclusive sua inteligência política e preocupação social.
Grande estrela durante mais de três décadas, ela não tem a beleza convencional e o glamour associados frequentemente ao termo. Ligeiramente gordinha, pequena (1,60 m), voz rouca, rosto expressivo emoldurado por cabelos negros despenteados, nariz aquilino, riso espontâneo, olhos profundos e olheiras marcantes. Ela é uma força da natureza, incontrolável, magnífica, temperamental. Nela, tudo é excessivo, impactante, vulcânico, latino, inclusive sua inteligência política e preocupação social.
Conhecida como “La Magnani” ou “Nannarella”, ainda hoje é considerada pelos italianos como o maior talento dramático desde Eleonora Duse. Ela
segue a trilha aberta por Francesca Bertini, atriz do cinema mudo que possuía uma amplitude
emocional que a permitia mudar de estilo e registro, passeando com extrema
facilidade da comédia ao drama realista, do melodrama à tragédia. Nascida filha ilegítima em Roma, na Itália, abandonada
pela mãe e criada por uma avó, aos 16 anos ANNA MAGNANI estuda na Academia de Arte
Dramática de Roma. Aos 17, ainda no curso, para se manter, canta baladas picantes num
cabaré de segunda classe. Em 1928, faz uma pequena figuração no filme “Scampolo”, trabalhando no teatro nos anos seguintes, onde estrela musicais, comédias
e melodramas.
“La Magnani é a quintessência da Itália, e também a personificação do verdadeiro teatro. Eu sou grato por ela ter simbolizado no meu filme todas as atrizes do mundo.”
Jean Renoir
Em
San Remo, conhece o cineasta fascista Goffredo Alessandri, casando-se com ele em 1933. Um relacionamento
atormentado, marcado por cenas de ciúmes por parte da atriz, culminando na
separação em 1942 e,
finalmente, no divórcio em 1950. Por influência do marido, consegue papéis simpáticos
no cinema. Em 1952 voltam a trabalhar juntos em “Anita Garibaldi”, mas os aborrecimentos da temperamental diva faz com que o diretor abandone as filmagens. O filme é concluído por Francesco Rosi. Antes, nos anos da Segunda Guerra Mundial, enquanto a Itália sofre, ANNA MAGNANI divide a ribalta com o famoso
comediante Totó, viajando com ele por toda a Itália. Em 1942 dá à luz a seu
único filho, Lucas, fruto de um rápido relacionamento com o ídolo das matinês Massimo Serato, que
a abandona quando ela fica grávida. O filho seria vítima da paralisia
infantil.
Luchino
Visconti queria que a atriz participasse de seu filme de estreia “Obsessão / Obsessione”, de
1943. Ela estava grávida de cinco meses, mas desejava tanto o papel que tentou
esconder a gravidez. Quando Visconti descobriu, ela continuou mentindo, dizendo
ter apenas dois meses de gravidez. Por fim, ele decidiu que ela seria substituída por Clara Calamai, levando a atriz às lágrimas. No entanto, a celebridade de ANNA MAGNANI foi conquistada pouco depois, como Pina, uma viúva grávida numa
Roma dominada pelos nazistas na obra-prima neo-realista “Roma, Cidade Aberta”
(1945), de Roberto Rossellini. A cena da sua morte continua sendo um dos
momentos mais devastadores do cinema. Apaixonada por Rossellini, um ex-playboy drogado cuja amante era uma atriz alemã nazista, ela
novamente vive uma tumultuada história de amor, que termina quando ele conhece Ingrid Bergman e a deixa de lado, publicamente aos prantos. O impacto do drama de guerra lhe abre as portas para uma carreira internacional. Em 1950, a revista “Life” declara que ANNA MAGNANI é “uma das atrizes mais impressionantes desde Garbo”.
O famoso caso “Guerra dos Vulcões (Magnani-Rossellini-Bergman)” começa em maio de 1948: Rossellini recebe uma carta de Hollywood, a atriz Ingrid Bergman diz que é uma fã de seu trabalho e gostaria de fazer um filme com o cineasta – segue-se uma chuva de telegramas entre a Itália e a Califórnia. A seguir, o cineasta voa para Los Angeles e assina com Ingrid o contrato para filmar “Stromboli / Idem” (1950). Irritada, ANNA MAGNANI aceita atuar em “Vulcano / Idem”, filme norte-americano em competição direta com “Stromboli” (1950), dirigido por William Dieterle e realizado em Vulcano, uma ilha ao sul de Stromboli. Rossellini e Ingrid se apaixonam. Numa explosão de raiva, La Magnani derrama um prato de macarrão na cabeça de Rossellini. O escândalo navega nas manchetes mundiais, e os fãs de cinema se dividem, uma metade apoiando a atriz italiana, enquanto a outra apoia a sueca. A pré-estreia de “Vulcano” é perturbada pelas notícias do nascimento do filho de Ingrid, acontecimento que eclipsa o filme; avisada, não comparece ao evento.
O famoso caso “Guerra dos Vulcões (Magnani-Rossellini-Bergman)” começa em maio de 1948: Rossellini recebe uma carta de Hollywood, a atriz Ingrid Bergman diz que é uma fã de seu trabalho e gostaria de fazer um filme com o cineasta – segue-se uma chuva de telegramas entre a Itália e a Califórnia. A seguir, o cineasta voa para Los Angeles e assina com Ingrid o contrato para filmar “Stromboli / Idem” (1950). Irritada, ANNA MAGNANI aceita atuar em “Vulcano / Idem”, filme norte-americano em competição direta com “Stromboli” (1950), dirigido por William Dieterle e realizado em Vulcano, uma ilha ao sul de Stromboli. Rossellini e Ingrid se apaixonam. Numa explosão de raiva, La Magnani derrama um prato de macarrão na cabeça de Rossellini. O escândalo navega nas manchetes mundiais, e os fãs de cinema se dividem, uma metade apoiando a atriz italiana, enquanto a outra apoia a sueca. A pré-estreia de “Vulcano” é perturbada pelas notícias do nascimento do filho de Ingrid, acontecimento que eclipsa o filme; avisada, não comparece ao evento.
“Com o devido respeito a todas as outras com quem trabalhei, ela era uma
atriz única, de grandeza e inteligência incomparáveis. E generosidade! Magnani foi uma gigante”
Marcello Mastroianni
Cativado
pela sua vivacidade e presença, o famoso dramaturgo norte-americano Tennessee Williams dedica-lhe a
peça “A Rosa Tatuada”. O inglês deficiente da atriz italiana não permite interpretar o personagem na Broadway, mas na hora de rodar o filme aceita o convite para protagonizar a adaptação cinematográfica, empolgando
a crítica numa poderosa e enérgica interpretação. Na pele de Serafina Delle
Rose, uma viúva siciliana cortejada por um caminhoneiro (Burt Lancaster, belo e muito engraçado), em um típico bairro italiano nos EUA, que reverencia
neuroticamente a memória do marido. Sensual, nos faz rir e chorar.
Na
noite dos Oscar, ela surpreende ao vencer as favoritas Katherine Hepburn e Susan Hayward,
arrecadando o galardão de Melhor Atriz. Não comparece à cerimônia por
considerar que não tinha a menor chance de ganhar. Estava dormindo na hora da
cerimônia, sendo acordada por um repórter italiano, que lhe deu a notícia. Torna-se
a primeira italiana a ganhar o Oscar. Com o mesmo filme arrebata o BAFTA, o
Globo de Ouro e o Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York de Melhor Atriz. Repete a nomeação ao Oscar dois anos depois em “A Fúria da Carne”, ao lado de Anthony
Quinn, levando o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim.
“O neorrealismo começou a emergir através das criações espontâneas dos atores, especialmente Anna
Magnani e Aldo
Fabrizi”
Roberto Rossellini
Ela recusa o papel principal de “Duas
Mulheres / La Ciociara” (1960), planejado para George Cukor. Sophia Loren faria sua filha. Sem a
presença de ANNA MAGNANI, Cukor deixa o projeto e é substituído por Vittorio
De Sica. Sophia troca os personagens, levando o Oscar. Após o fracasso de “Vidas
em Fuga / The Fugitive Kind” (1960), onde faz par romântico com Marlon Brando, procura concentrar as suas energias no teatro italiano (dirigida entre outros por
Franco Zefirelli). Intercala peças de prestígio com aparições em filmes
emblemáticos, como a pérola “Mamma Roma” (1962), de Pier Paolo Pasolini, encarnando o papel-título, uma madura prostituta que faz de tudo para que seu filho tenha uma
boa vida. Ela não mede esforços e deposita nele todos os seus anseios. Enquanto
isso, o garoto quer apenas vagabundear com os amigos. Numa relação à flor da pele com Pasolini, ele se arrepende de tê-la convidado para o filme, mas a produção alcança sucesso de público e crítica, e ela ganha a Taça
Volpi de Melhor Atriz no Festival de Veneza. Havia levado o mesmo prêmio em
1947, por “Angelina, a Deputada”.
Atua em diversos e significativos filmes para a televisão. Nessa época, estrela a superprodução “O Segredo de Santa Vitória
/ The Secret of Santa Vittoria”
(1969), ao lado de Anthony Quinn. Nos bastidores, os atores brigam
furiosamente, inclusive fisicamente. Sua última aparição no cinema foi como ela
mesma, sob as ordens do velho amigo Federico Fellini no autobiográfico “Roma de
Fellini / Roma”, de 1972, onde ela se despede de forma característica com um “Ciao,
Federico, va dormire va”. Em 1973, ANNA MAGNANI morre com a idade de 65 anos,
após uma longa batalha contra o câncer de pâncreas. Ao seu lado, seu filho Lucas e Roberto
Rossellini.
“Desconfiava daquele ar
sombrio de rainha dos ciganos, dos longos olhares silenciosos, inquisitivos,
das risadas roucas nos momentos mais inesperados. Parecia sempre ressentida,
entediada, altiva. E, no entanto, era uma garotinha tímida que atrás do aspecto
ameaçador, agressivo, escondia uma ingenuidade, um pudor selvagem, um
entusiasmo travesso e o sentimento forte, repleto, de uma verdadeira mulher,
daquelas que se gostaria de encontrar mais vezes”
Federico Fellini
la magnani e o oscar |
Seu
funeral em Roma, onde ela falece, um esmagador tributo à estrela, no qual
personalidades e grandes multidões prestam homenagem à atriz e ao mundo que
ela representa. Provoca uma enorme comoção, parando o país. Roma sai às ruas para
acompanhar seu enterro e louvar a atriz que, afinal de contas, é o próprio
símbolo de sua terra. Para ela foi dedicada uma cratera de 26 km de diâmetro no
planeta Vênus. Antes, quando a bordo da nave Vostok 1, em abril de 1961, o cosmonauta
soviético - o primeiro homem a viajar pelo espaço - Yuri Gagarin, ao fazer a rotação
em volta da Terra, disse: “Saúdo a irmandade dos homens, o mundo das artes, e
Anna Magnani.”
ANNA MAGNANI em DEZ
FILMES
(por ordem de preferência)
01
MAMMA ROMA
direção de Pier Paolo Pasolini
elenco: Ettore Garofolo e Franco Citti
02
ROMA, CIDADE ABERTA
direção de Roberto Rossellini
elenco: Aldo Fabrizi e Marcello Pagliero
03
O AMOR
direção de Roberto Rossellini
elenco: Federico Fellini
04
BELÍSSIMA
direção de Luchino Visconti
elenco: Walter Chiari e Tina Apicella
05
A CARRUAGEM de OURO
(Le Carrosse d'Or, 1952)
(Le Carrosse d'Or, 1952)
direção de Jean Renoir
elenco: Odoardo Spadaro
06
A FÚRIA da CARNE
direção de George Cukor
elenco: Anthony Quinn, Anthony Franciosa e Joseph Calleia
07
INFERNO na CIDADE
direção de Renato Castellani
elenco: Giulietta Masina, Renato Salvatori e Saro Urzi
08
A ROSA TATUADA
direção de Daniel Mann
elenco: Burt Lancaster e Marisa Pavan
09
ANGELINA, a DEPUTADA
direção de Luigi Zampa
elenco: Nando Bruno e Ave Ninchi
10
ANITA GARIBALDI
direção de Goffredo Alessandrini e Francesco Rosi
elenco: Raf Vallone, Alain Cuny, Jacques Sernas
e Serge Reggiani
GALERIA de FOTOS
12 comentários:
Lembro detalhes de A Rosa Tatuada , filme que amei
Enchia uma tela. Que presença, que força!
Ela foi grande, muito grande mesmo!
La Prima Donna Del Cinema Italiano !
Grande Diva italiana
Uma das maores atrizes de todos os tempos. Gosto muito de "Vidas em Fuga", embora tenha sido um fracasso. Três grandes atores: Anna, Marlon Brando e Joanne Woodward. Segundo Sophia Loren, Anna queria que o papel da filha em "Duas Mulheres" fosse de Pier Angeli, porque Sophia seria muito alta.
Magnífica Magnani...
Fera máxima. Amei sempre.
Tenho um "tesão" por esta grande atriz. Talento e uma beleza mística eu diria, unidos em um grande mito feminino da Sétima Arte. Parabéns Nahud por esta grande lembrança.
Ate hoje não teve na Itália uma atriz como ela. Lara a lado de Bete Davis que foram amigas. Dizem que lá Loren seria herdeira do talento de Annarella mas jamais terá uma outra atriz italiana como Anna!
Jamais ouve ou haverá uma atriz como Anna Magnani!
Já tinha visto filmes dela,era realmente uma atriz única e grande,pena hoje não ser tão reverenciada como merece!!!
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