Poucos
conhecem a verdadeira história de HEDY LAMARR (1914 - 2000. Viena / Áustria),
considerada a estrela de cinema mais bela de todos os tempos (prefiro Ava
Gardner, Sophia Loren ou Gene Tierney). Uma vida de folhetim, embora com material biográfico pouco confiável. Existem vários episódios curiosos contados ao longo do tempo, numa teia de
verdade e mito. Formosa, inteligente, culta, moderna, liberada sexualmente e
atriz limitada, teve um destino trágico: a fama durou pouco,
passando o resto da vida esquecida e na pobreza. O seu
papel mais conhecido, a protagonista-título de “Sansão e Dalila / Samson and
Delilah” (1949), superprodução bíblica de Cecil B. DeMille, encantou
multidões. Como esquecer a paixão arrebatadora entre o herói danita e a linda
filistéia que descobre onde reside a força de Sansão e o trai por puro
despeito? Até os anos 1970, em cidades interioranas brasileiras, reprisava-se esse
épico religioso na Semana Santa quando “O Rei dos Reis / King of Kings”
(Nicholas Ray, 1961) ou “Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments” (também de
DeMille, 1956) não estavam disponíveis. Depois passou a ser exibido na tevê na
mesma data. Não é um bom filme, beira à caricatura e as caretas de Victor
Mature desestimulam – o papel foi pensado para Burt Lancaster, que infelizmente
(ou sabiamente) o recusou.
victor mature e hedy em “sansão e dalila” |
Com o
sobrenome Kiesler, ela nasceu em Viena, Áustria, filha de uma família judia
burguesa, estudando balé e piano até os 10 anos de idade. Muito jovem,
abandonou a escola secundária para atuar no teatro alemão, na companhia do
lendário Max Rheinhardt, que a considerava a “mais bela mulher da
Europa” (e ele já tinha lançado outra beldade, Marlene Dietrich). Estreou
no cinema em 1930 com “Geld auf der Strabe”, mas seria o seu quinto trabalho
cinematográfico que a levaria direto para a fama internacional, o checo-austríaco “Êxtase /
Ekstase” (1933). Nessa película mais falada que vista, ela aparece
completamente despida, correndo num bosque, mergulhando em um lago e simulando
um orgasmo. As cenas de nudez, discretas para os padrões de hoje, causaram
sensação e resultaram na proibição do filme nos EUA.
hedy em “êxtase” |
Em Hollywood, com o novo sobrenome dado por Mayer (em homenagem a estrela do cinema mudo Barbara La Marr, que morreu em 1926 de overdose) e a promessa – também de Mayer – de vir a ser uma nova Greta Garbo, estreou ao lado de Charles Boyer no clássico “Argélia” (1938), um remake do francês “O Demônio da Algéria / Pepé Le Moko” (1937). Rapidamente se tornaria uma das atrizes mais bem sucedidas do final dos anos 1930 e ínicio dos 1940, escalada quase sempre para papéis de sedutoras e exóticas, ao lado de Clark Gable, James Stewart, Robert Taylor, William Powell, John Garfield e Spencer Tracy. Era a bombástica resposta morena para as famosas atrizes louras. Não tardou que um livro pirata e anônimo, “As Mil Formas de Amar de Hedy Lamarr” – uma espécie de “Kama Sutra” -, surgisse como um verdadeiro best-seller no mercado negro. Apesar da beleza clássica, HEDY LAMARR nunca teve o status de Garbo, o que é atribuído pelos seus biógrafos à falta de um agente hábil que administrasse a sua carreira, cheia de erros inconvenientes ou mesmo drásticos. Por exemplo, em 1942, cogitada pela Warner Brothers para ser a Ilsa Lund de “Casablanca / Idem”, simplesmente recusou o papel, assim como não aceitou a Paula Alquist de “À Meia Luz / Gaslight” (1944), que deu o Oscar a Ingrid Bergman.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, a atriz e um vizinho, o músico de vanguarda George
Antheil, começaram a pensar numa maneira de ajudar a combater o nazismo. Ainda
em Viena, ela havia sido casada com um magnata que negociava com armamento e,
por tabela, adquirira uma certa familiaridade com a produção de armas, passando
a imaginar como tornar mais eficaz o movimento e a pontaria dos torpedos. Por
fim, desenvolveu um mecanismo chamado de frequency hopping (“frequência alternada”), cujo
objetivo era o de direcionar o movimento dos torpedos a fim de que atingissem o
alvo com um mínimo de erro. Ao submeter o invento aos militares
norte-americanos, eles o recusaram, alegando que ela seria mais útil ao país
vendendo beijos aos soldados para levantar fundos de guerra. O que fez, sem desistir do invento, devidamente patenteado.
Mais de uma década
depois, engenheiros descobriram o aparelho sofisticado e, com novo nome (Spread Spectrum), o utilizaram com sucesso na crise dos mísseis cubanos nos
anos sessenta. Com o tempo, a criação de HEDY LAMARR ganhou nova dimensão e
novo emprego, sendo fundamental para o desenvolvimento de micro-chips, mas, sobretudo, essencial no aperfeiçoamento da
tecnologia relativa à telefonia celular. Segundo consta, a tecnologia celular
não teria o desenvolvimento que teve no final do século 20 sem esse invento
básico, tanto é assim que, em 1998, em sinal de reconhecimento, a
atriz/cientista foi premiada pela importante Electronic Frontier Foundation
(EFF). Idosa e reclusa, ela pediu ao filho para receber o prêmio, a quem
comentou: “Já era tempo”. Mesmo assim, nunca lucrou pela sua fundamental invenção.
Entre
1937 e 1950, HEDY LAMARR rodou 21 filmes, depois entrou em declínio,
esporadicamente estrelando um ou outro longa, um dos quais como Joana D’Arc no
épico de Irwin Allen “A História da Humanidade / The Story of Mankind” (1957).
No intervalo de um dos seus casamentos escandalosos (foram seis ao todo, entre eles com o roteirista Gene Markey e o ator inglês John Loder), a deusa namorou
o sortudo playboy brasileiro Jorginho Guinle. Contratada para o esquecível
“Picture Mommy Dead” (1966), perdeu o papel ao não aparecer no primeiro dia de
filmagem, sendo substituída por Zsa Zsa Gabor. Na época, dona da mansão usada
no musical “A Noviça Rebelde / The Sound of Music” (1965), desfigurada por
inúmeras cirurgias plásticas (tinha seios pequeninos, mas para atender ao gosto
norte-americano deixou-os enormes, sendo uma das primeiras a fazer implante de
silicone) e arruinada financeiramente (um dos maridos, o magnata do petróleo W.
Howard Lee, depois marido de Gene Tierney, na ocasião do divórcio se queixou
que ela gastava loucamente, quase o levando à ruína), foi detida por furto na
década de 1960, numa famosa loja de departamentos. Considerada inocente, continuou
roubando e em 1991 foi presa, passando um ano em liberdade condicional.
Inteligente,
sincera e magoada, confessou em sua autobiografia que para se tornar estrela em
Hollywood é preciso ir para a cama com agentes, atores, diretores e produtores.
“E nessa ordem. É brutal, mas é a realidade”, garantiu. Inspiração para a
Branca de Neve de Walt Disney e também para a replicante Rachel (Sean Young) de
“Blade Runner – O Caçador de Andróides / Blade Runner” (1982), foi homenageada
como personagem do romance “Púbis Angelical” (1979), do escritor
argentino Manuel Puig. Seu look,
copiado por inúmeras atrizes, nunca foi
superado, firmando a fama de uma das mulheres mais bonitas do mundo.
Mesmo longe dos holofotes, sua popularidade continuou, atravessando décadas, celebrando seu fascínio para sempre. Os últimos anos de vida da atriz foram terríveis: solitária, sem dinheiro, deformada por plásticas baratas e escrava da beleza perdida, evitava aparições públicas, mantendo contato com os filhos e amigos íntimos apenas por telefone. Processou a empresa de software Corel Corporation por usar sua imagem em um dos seus produtos e o diretor/comediante Mel Brooks por ridicularizá-la em “Banzé no Oeste / Blazing Saddles” (1974). HEDY LAMARR morreu aos 86 anos de idade e suas cinzas foram espalhadas na floresta Wienerwald, na Áustria, conforme seu desejo.
Mesmo longe dos holofotes, sua popularidade continuou, atravessando décadas, celebrando seu fascínio para sempre. Os últimos anos de vida da atriz foram terríveis: solitária, sem dinheiro, deformada por plásticas baratas e escrava da beleza perdida, evitava aparições públicas, mantendo contato com os filhos e amigos íntimos apenas por telefone. Processou a empresa de software Corel Corporation por usar sua imagem em um dos seus produtos e o diretor/comediante Mel Brooks por ridicularizá-la em “Banzé no Oeste / Blazing Saddles” (1974). HEDY LAMARR morreu aos 86 anos de idade e suas cinzas foram espalhadas na floresta Wienerwald, na Áustria, conforme seu desejo.
10 FILMES de HEDY LAMARR
01
ARGÉLIA
ARGÉLIA
(Algiers, 1938)
direção de John Cromwell
elenco: Charles Boyer
direção de John Cromwell
elenco: Charles Boyer
FRUTO PROIBIDO
(Boom Town, 1940)
direção de Jack Conway
elenco: Clark Gable e Spencer Tracy
03
03
O INIMIGO X
(Comrade X, 1940)
direção de King Vidor
elenco: Clark Gable
04
04
SOL de OUTONO
(H. M. Pulham, Esq., 1940)
direção de King Vidor
elenco: Robert Young
05
05
BOÊMIOS ERRANTES
(Tortilla Flat, 1942)
direção de Victor Fleming
(Tortilla Flat, 1942)
direção de Victor Fleming
elenco: Spencer Tracy e John Garfield
O DEMÔNIO do CONGO
(White Cargo, 1942)
direção de Richard Thorpe
elenco: Walter Pidgeon
07
direção de Richard Thorpe
elenco: Walter Pidgeon
07
Os CONSPIRADORES
(The Conspirators, 1944)
direção de Jean Negulesco
com elenco: Paul Henreid
08
08
IDÍLIO PERIGOSO
(Experiment Perilous, 1944)
direção de Jacques Tourneur
elenco: George Brent e Paul Lukas
09
09
FLOR do MAL
(The Strange Woman, 1946)
direção de Edgar G. Ulmer
direção de Edgar G. Ulmer
elenco: George Sanders e Louis Hayward
10
10
A MULHER sem NOME
(A Lady Without Passaport, 1950)
direção de Joseph H. Lewis
elenco: John Hodiak e James Craig
direção de Joseph H. Lewis
elenco: John Hodiak e James Craig
HEDY LAMARR por ERROL FLYNN
“Uma
noite David Niven e eu fomos convidados para a casa de Hedy Lamarr. Ela era
casada com John Loder na época. Reginald Gardiner e sua deliciosa esposa russa
estavam lá, e alguns outros. Eu considerava Hedy uma das atrizes mais
subestimadas, sem sorte o suficiente para obter papéis interessantes. Conhecia
algumas atuações suas brilhantes. Achava que tinha um grande talento, e na
medida em que sua beleza clássica estava em causa, não poderia, então, nem
talvez mesmo agora, encontrar outra atriz para superá-la. Provavelmente é uma
das mulheres mais bonitas dos nossos dias. Naturalmente, eu fazia questão de
conhecê-la - e, posteriormente, desejei que ela fizesse o principal feminino no
meu fiasco italiano “Guilherme Tell”, mas o filme nunca entrou em produção
devido a problemas financeiros. Eu lamento o fato. Enquanto esperávamos Hedy na
sua sala de estar, David me dizia que a considerava a criatura mais encantadora
que conhecia. Quando ela surgiu, ele sussurrou: "Por Deus, ela é linda,
mesmo sem as joias", continuando "Será que vai contar sobre como
fugiu da Áustria com suas joias?”. Claro que não iria lhe pedir para me contar
sobre sua vida privada, mas estava intrigado com os comentários que tinha
ouvido falar. Hedy e eu conversamos por um bom tempo. Ela estava deslumbrante.
Comecei a tocar no assunto que me despertava a curiosidade, mas de uma forma
diplomática, e, finalmente, ela fez a pergunta: "Onde está Mandl
agora?". Mandl era o seu ex-marido. Então, a bela criatura, irada, rosnou:
"Ele é um filho da puta!", enquanto cuspia com asco e se afastava,
dando atenção a outros convidados”
(Fonte: “My Wicked Wicked Ways”, de Errol Flynn)
24 comentários:
Linda sem mtas opções e sem plásticas.
Belíssima... e inteligente.
Ela também era muito inteligente. Quando era nova, Inventou um sistema de comunicação.
Maravilhosa !
Tão linda que ninguém esperava que fosse boa atriz. E não era mesmo.
Linda!!!
Uma Diva!
LINDA
Uma divindade. E uma nulidade como atriz.
Era inventora. Criou o protótipo que deu origem à telefonia celular. Atriz mediocre, foi presa, na velhice, por furtar um frasco de shampoo numa farmácia em Los Angeles...
Lamarr, muito jovem, aparece nua nesse filme austríaco, feito antes de sua ida para Hollywood. Seu futuro marido, um nobre europeu, gastou zilhões tentando destruir todas as cópias. Não conseguiu, para nosso deleite.
Linda!!!
Autom bomb
Excelente postagem!!!!!!!!
Na velhice, passou vários anos cega. Seus filhos, James Loder e Anthony John Loder tem perfil no Facebook.
A mais linda do mundo.
Não só encantou como encanta!
Supreme !
Ah se toda austríaca fosse bonita assim... hi hi hi!
one of the most beautiful creatures i ever seen, and so intelligent not only a movie star! thanks to her vision we have wi-fi
Hedy é completamente magnética, não? É impossível desviar o olhar desta grande diva. E inventora! Acredito que ela deveria ser mais conhecida por sua grande invenção que por seus "dotes" artísticos.
Abraços!
Ola,realmente é uma mulher muitooooooooo linda.Não cheguei a assistir nenhum de seus filmes,portanto não poderia opinar sobre suas interpretações. mas acredito que ao lado de tanta beleza devia haver um bom talento também.E maravilhosa também está a super postagem que nos brindastes.... Fotos sensacionais e conhecimentos que só aqui poderíamos obter.Meu querido amigo mais uma vez Parabéns e meu grande abraço.SU
Muito linda e adorava pérolas, mulher de grande talento.
Hedy Lamarr era mesmo linda, mas para mim a mais bela atriz do cinema clássico é a belíssima morena alemã Greta Schroeder, estrela de Nosferatu.
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