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clark gable e vivien leigh |
Os fãs norte-americanos de E o VENTO LEVOU / Gone with the Wind (1939) puderam
apreciar novamente o filme, vencedor de 10 prêmios Oscar, nas comemorações de
75 anos de seu lançamento, com exibições especiais nas salas de cinema dos
Estados Unidos. Nos dias 28 de setembro e 1º de outubro, quase 650 salas de
cinema do país exibiram o filme em seu formato original, com uma apresentação
especial por iniciativa do canal Turner Classic Movies (TCM), que preparou para
a ocasião um DVD/Blu Ray especial de aniversário. O filme de 224 minutos de
duração, adaptação do livro de mesmo nome de Margaret Mitchell, vencedor do
prêmio Pulitzer, foi exibido pela primeira vez na cidade de Atlanta (Geórgia)
em 15 de dezembro de 1939 e, desde então, foram nove relançamentos. A história
de Scarlett O'Hara durante a conturbada Guerra de Secessão recebeu 10
estatuetas do Oscar, incluindo o primeiro prêmio da Academia para uma atriz
afro-americana, Hattie McDaniel, vencedora na categoria Melhor Atriz Coadjuvante
pelo papel da aia Mammy. Segundo o site especializado Box Office Mojo, E o VENTO LEVOU ostenta o recorde de filme mais rentável de todos os tempos, com
US$ 1,6 bilhão (reajustados de acordo com a inflação), à frente de “Guerra
nas Estrelas / Star Wars” (1977), que arrecadou US$ 1,45 bilhão.
Associado ao TCM, o Harry Ransom Center da Universidade do Texas, em
Austin, que abriga os arquivos do produtor independente David O. Selznick,
apresenta desde o início de setembro e até 4 de janeiro de 2015 uma exposição
sobre a história do filme. O vestido confeccionado com uma cortina verde de
Scarlett e o vestido vermelho que ela usa no aniversário de Melanie, ambos de
Walter Plunkett, estão entre os destaques da mostra. A exposição conta ainda
com páginas do roteiro, que mostram que a famosa resposta final de Rhett Butler
- “Frankly, my dear, I don`t give a damn” (“Francamente, minha
querida, eu não dou a mínima”) - quase foi alterada pela frase “Eu
não me importo” porque a frase original em inglês tem um impacto mais
profundo do que pode ser traduzido. A exposição recorda que Talullah Bankhead,
Paulette Goddard, Susan Hayward, Lana Turner e Jean Arthur estavam entre as
estrelas da época que fizeram testes para o papel de Scarlett, que finalmente
acabou com Vivien Leigh. Cadiz, em Ohio, cidade natal de Clark Gable, que teve
a casa transformada em museu, e a localidade vizinha de New Philadelphia,
também celebrarão o aniversário na próxima semana com uma exibição do filme e o
leilão de objetos relacionados com o longa-metragem.
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olivia de havilland |
DUAS ou TRÊS
COISAS sobre “...E o VENTO LEVOU”
Símbolo máximo do romantismo, duelo entre o cinismo do galã e o
mau-caratismo da mocinha, E o VENTO LEVOU, um dos clássicos mais populares da
história do cinema, dirigido oficialmente por Victor Fleming e produzido por
David O. Selznick, tem nos papéis principais Vivien Leigh como Scarlett O’Hara,
Clark Gable como Rhett Butler, Olivia de Havilland como Melanie Hamilton e
Leslie Howard como Ashley Wilkes. Trata-se de um suntuoso épico com a Guerra de
Secessão (1861 - 1865) como pano de fundo - conflito armado entre os estados
confederados (sul) e abolicionistas (norte), um dos mais sangrentos dos Estados
Unidos, com 620 mil soldados mortos. Enquanto fortunas e famílias são
destruídas, acompanhamos o percurso de altos e baixos da determinada Scarlett: juventude
luxuosa e mimada; a paixão não correspondida; o falecimento da mãe e a
loucura do pai; pobreza e fome; casamentos oportunistas; união interesseira com um aventureiro, numa relação de amor e ódio; a morte da filha etc.
Mocinha egoísta e sem escrúpulos, Scarlett defende sua terra, Tara, a
qualquer custo.
Para os cinéfilos de plantão, uma obra obrigatória. Gostando ou não, ver E o VENTO LEVOU é uma experiência fundamental. Eu o assisti duas vezes, uma ainda
menino, na tevê, dublado, e a segunda poucos anos atrás. Honestamente, não faz
parte da minha lista de filmes favoritos. Inclusive, considero “O Morro dos
Ventos Uivantes / Wuthering Heights”, do mesmo ano, superior. Admiro a
fotografia espetacular, trilha sonora, cenografia, figurino, o esforço colossal
do genial Selznick e as atuações de Clark Gable, Olivia de Havilland, Thomas
Mitchell, Hattie McDaniel e Ona Munson, mas o argumento me parece arrastado e
Scarlett é uma das anti-heroínas mais intragáveis do cinema – amo Vivien Leigh
por interpretações futuras. Além disso nunca
consegui engolir a substituição de George Cukor pelo inexpressivo Victor
Fleming. Mas é uma questão de opinião. O evidente é que faz parte do
imaginário coletivo e é amado por muitos.
ANTES das FILMAGENS
Margaret Mitchell, autora do romance no qual o filme se baseou,
escreveu-o entre 1926 e 1929. Um mês após o seu lançamento, em 1936, o
produtor Selznick comprou os direitos de filmagem por 50 mil dólares - a mais
alta quantia paga até então pela adaptação do primeiro livro de um autor -,
embora certa hesitação, motivada pelo tema (a Guerra Civil não
garantia bilheteria) e a grandiosidade do projeto;
Sidney Howard (que morreu antes da estreia do filme) condensou as 1.037
páginas do futuro best-seller, mas o seu trabalho sofreria sucessivas
alterações por outros roteiristas, entre os quais os famosos escritores F.
Scott Fitzgerald e William Faulkner, todos procurando cumprir as exigências do
produtor que ordenava extrema fidelidade ao texto original. Somente o nome de
Howard figuraria nos créditos;
A primeira convidada para o papel principal, a superstar da Metro-Goldwyn-Mayer,
Norma Shearer, odiou o personagem. Bette Davis
desistiu por achar que teria que contracenar com um ator que odiava, Errol
Flynn, na ocasião o mais cotado para Rhett Butler;
Ficou famosa a disputa pelo papel de Scarlett. Mais de 1.400 atrizes
foram entrevistadas, sendo que mais de 400 fizeram leitura filmada do roteiro.
Dentre as atrizes testadas estão Paulette Goddard (que por pouco não ganhou o
papel), Jean Arthur, Lucille Ball, Tallulah Bankhead, Claudette Colbert, Miriam Hopkins, Joan
Crawford, Katharine Hepburn, Carole Lombard, Barbara Stanwyck, Loretta Young,
Joan Bennett, Lana Turner, Susan Hayward e Margaret Sullavan. Com as filmagens
iniciadas sem protagonista, o irmão de Selznick, Myron, visitou os sets com Laurence Olivier e sua namorada Vivien Leigh, uma inglesa
de 27 anos. A apresentação de Vivien por Myron tornou-se célebre: “David, quero
que conheça Scarlett O’Hara”. A busca chegara ao fim;
Desde que leu o livro, Vivien Leigh sonhou com o papel
de Scarlett. Chegou a dizer em 1937, ainda em Londres: “Eu serei
Scarlett O’Hara. Esperem e verão”. Isto era, no mínimo, curioso, uma vez que
ela era na ocasião uma desconhecida em Hollywood;
Chamada para o papel da irmã mais nova de Scarlett, Judy Garland terminou em “O Mágico de Oz / The Wizard of Oz” (1939), sendo
substituída por Ann Rutherford;
Gary Cooper recusou interpretar Rhett Butler, alegando que o filme seria
o maior fracasso da história de Hollywood. Errol Flynn e Ronald Colman também
foram pensados para o papel, mas o público escolheu Gable por votação, em um
concurso da revista Photoplay. A autora Margarert Mitchell queria Basil
Rathbone. Gable, na verdade, nunca pensou em fazer o papel de Butler e levou
muito tempo para ler E o VENTO LEVOU, lendo-o mais por insistência da esposa
Carole Lombard e de amigos;
A fim de conseguir Gable, o produtor entrou em acordo com seu sogro Louis B. Mayer, que cederia o astro, mas em troca entraria
com participação de metade do investimento previsto para a realização, faria a distribuição e receberia 50% dos lucros;
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leslie howard |
Para Ashley Wilkes, Selznick tinha em mente Leslie Howard desde sempre,
embora Melvyn Douglas, Ray Milland e Lew Ayres chegaram
a ser cogitados;
A contratação de uma atriz para a bondosa Melanie não tardou. Na lista de
candidatas, Maureen O’Sullivan, Janet Gaynor, Geraldine Fitzgerald, Frances Dee
e Joan Fontaine, mas venceu a irmã desta última, a rainha das matinês da
Warner, Olivia de Havilland;
A competição para o papel de Mammy foi acirrada. A primeira dama dos EUA, Eleanor Roosevelt, escreveu para o produtor
do filme pedindo que o papel fosse dado à sua empregada. Entretanto, Clark Gable
queria Hattie para o papel, o que ajudou bastante;
Foram confeccionados 2.500 figurinos para a superprodução.
DURANTE as FILMAGENS
Foram rodados 113 minutos da primeira cena filmada, a do incêndio em
Atlanta, queimando-se cenários de filmes (“O Rei dos Reis / The King of
Kings”, 1927; “King Kong / Idem”, 1933, etc.). Contudo, o fogo provocado foi
tão intenso que moradores próximos ligaram para os bombeiros,
pensando que a RKO estivesse ardendo em chamas;
As filmagens propriamente ditas começaram em 26 de janeiro de 1939 por
George Cukor, que dirigiu apenas 4% da fita, mesmo sendo amigo pessoal e homem
de confiança de Selznick. Ele iniciou a sequência do baile de Atlanta e, logo
depois, foi despedido devido ao tom intimista que imprimia à narrativa e a
influência de Clark Gable, que entrara em choque com o caráter disciplinador do
diretor e não queria ser dirigido por um homossexual bem próximo ao seu passado
de garoto de programa;
Desejando uma narrativa épica, Selznick pensou até em convocar o pioneiro
D. W. Griffith (“Intolerância / Intolerance”, 1916) para prestar consultoria;
Visando agradar Gable, Selznick forneceu uma lista de diretores
disponíveis: King Vidor, Jack Conway, Robert Z. Leonard e Victor Fleming. Sem
vacilar, o galã optou por um dos mais fracos, Fleming,
que dirigiu aproximadamente 45% do filme;
Esgotado pelos aborrecimentos seguidos com Vivien Leigh (que, a exemplo
de Olivia de Havilland, ia ensaiar, em sigilo, na casa de Cukor), e
insatisfeito com as reclamações constantes do tirano Selznick, Victor Fleming
sofreu um colapso nervoso;
Sam Wood assumiu a direção, com 15% de participação no filme.
Quando Fleming se recuperou, os dois diretores continuaram
na direção, mas em horários e sets diferentes. William Cameron Menzies e Sidney
Franklin também dirigiram várias cenas;
Cerca de mil figurantes, misturados bonecos de cera,
contribuíram para a sequência em que Scarlett caminha entre os
corpos de sobreviventes da batalha de Gettysburg;
Vivien Leigh trabalhou nos sets de filmagem por 125 dias, recebendo a
quantia de 25 mil dólares, já Clark Gable trabalhou por 71 dias e ganhou 120
mil dólares;

Vivien odiava o hálito de seu parceiro – ele comia cebolas de propósito e
bebia licor poucas momentos antes de gravar –, deixando-a com náuseas. Ele
revelou que, quando a beijava, pensava em um bife. Na pele de Rhett Butler e
Scarlett O'Hara ou na de Clark Gable e Vivien Leigh, eles jamais se entenderam;
As diferenças entre o produtor e o fotógrafo Lee Garnes culminaram com a
demissão deste, sendo substituído por Ernest Haller, que nunca havia feito um filme colorido antes. Garmes queria tons suaves,
mas Selznick insistia em cores artificiais de cartão-postal.
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clark gable |
DEPOIS das FILMAGENS
Em 1º de julho de 1939 terminaram as filmagens e Selznick tinha para editar cerca de 60.000 metros de filme,
equivalente a 28 horas de projeção;
A trilha sonora é uma das mais longas concebidas para um filme. No mesmo ano, o vienense Max
Steiner criou nada menos que outras 11 partituras;
Trancado dia e noite com o editor Hal C. Kern e seu assistente, James E.
Newcom, o produtor montou a fita sem consultar nenhum dos diretores que nela
tomaram parte e ordenou a filmagem de cenas adicionais, como a que Scarlett se
esconde debaixo da ponte numa tempestade enquanto uma tropa da União passa
sobre a mesma;
A produção custou pouco mais de cinco milhões de dólares e, quatro anos
depois de seu lançamento, a renda obtida nas bilheterias superava a marca dos
32 milhões de dólares;
A famosa frase de Rhett: “Frankly, my dear, I don’t give a
damn / Francamente, querida, eu pouco me importo”, foi censurada pelo Código
Hays. “Damn” era considerado pesado, mas ao pagar a multa
de 5 mil dólares, Selznick conseguiu a liberação;
O filme idealiza a sociedade branca do velho sul dos Estados Unidos: os
senhores de escravos são protetores benevolentes e a causa confederada uma
nobre defesa da terra natal e de um modo de vida. Com isso, apresenta
tendenciosamente uma visão positiva sobre a sociedade sulista ou o próprio
conceito sulista sobre a Guerra Civil;
Enquanto uma multidão de um milhão de pessoas se acotovelava pelas
calçadas e ruas de Atlanta – então com 300 mil habitantes -, na Geórgia, uma
pequena carreata rumava lentamente ao cinema Loew’s Grand, com a fachada
decorada como a mansão de Twelve Oaks. Nesta noite gelada de 15 de dezembro de
1939, os atores Vivien Leigh, Clark Gable e Olivia de Havilland receberam o
público na cerimônia de estreia. “Foi o maior evento que presenciei no sul dos
EUA”, disse o ex-presidente Jimmy Carter;
O elenco negro sequer foi convidado para a première, devido as
leis racistas da Geórgia;
No Brasil, a estreia de gala aconteceu no Rio de Janeiro, no Cine Metro,
em 12 de setembro de 1940, às 20h45m, com os 1.400 lugares do cinema
inteiramente ocupados. A primeira dama do país, Darcy Vargas, patrocinou o
evento, leiloando exemplares da obra de Margaret Mitchell autografados pelos
astros principais do filme. No mesmo dia, diretamente de Hollywood, numa
transmissão da Hora do Brasil, Gable, Vivien Leigh e Selznick saudaram o evento
e contaram alguns detalhes da filmagem. O filme permaneceu oito semanas em
cartaz com casa cheia;
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selznick, vivien e o oscar |
Na mesma cerimônia da Academia em que E o VENTO LEVOU arrebatou o Oscar
de Melhor Filme, o versátil Thomas Mitchell - que faz Gerald O’Hara, pai de
Scarlett - ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante por “No Tempo das Diligências / Stagecoach”,
de John Ford, como o bêbado doutor Josiah “Doc” Boone. Neste mesmo ano, ele
faria três outros clássicos: “Paraíso Infernal / Only Angels Have Wings” (Howard Hawks), “A Mulher Faz
o Homem / Mr. Smith Goes
to Washington” (Frank Capra) e “O Corcunda de Notre Dame / The Hunchback of Notre Dame” (William
Dieterle);
Quarto de cinco filmes em que o diretor Victor Fleming e
Clark Gable trabalham juntos. Os demais foram “Terra de Paixão / Red Dust”
(1932), “A Irmã Branca / The
White Sister” (1933), “Piloto de Provas / Test Pilot” (1938) e “Aventura / Adventure” (1945);
Nos 10 primeiros dos 100 Filmes de Todos os Tempos do
American Film Institute (AFI);
Do elenco, ainda está viva Olivia de Havilland, aos 98 anos de idade;
Lady Vivien Leigh (1913 - 1967. Darjeeling / Índia), uma das maiores atrizes do teatro
britânico, teve morte súbita por tuberculose aos 54 anos. Ao concluir “Os
Desajustados”, O “Rei de Hollywood” Clark Gable (1901 - 1960) sofreu um infarto
do miocárdio e morreu dez dias depois, em 1960.
Leslie Howard (1893 - 1943. Londres / Reino Unido) partiu para sempre durante a Segunda Guerra
Mundial, aos 50 anos, quando o avião em que viajava de Lisboa para a Inglaterra
foi abatido por aviões alemães. Hattie McDaniel (1895 - 1952. Wichita / Kansas) faleceu aos 57
anos, na Califórnia. Thomas Mitchell (1892 - 1962. Nova Jersey / EUA), um dos maiores coadjuvantes
do cinema, aos 70 anos.
3 comentários:
tao difícil se encontrar fotos "desconhecidas" de GWTW, nao é? Mesmo assim voce colocou duas que eu nao conhecia! Parabéns!
Um dos meus filmes favoritos. De vez em quando revisito ele e sempre me encanto com essa história. A história da produção é tão interessante quanto o proprio filme. Os extras presentes no DVD são um deleite pra quem gosta dessas coisas.
http://filme-do-dia.blogspot.com.br/
Aonde consigo reassistir? Eliana
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