abril 30, 2022

******* GÉRARD PHILIPE: um ASTRO, um MITO




“Quando o ator não está atuando, ele se sente doente, deprimido, inquieto”
GÉRARD PHILIPE
 
Altura: 1,83 m
Cor dos olhos: castanhos
Cor do cabelo: castanho claro
 
 
Um dos atores mais populares e versáteis da Europa, cujas brilhantes atuações no palco e na tela estabeleceram sua reputação. Bonito como um deus, comprometido, carismático, ele morreu jovem, com apenas trinta e seis anos, e o tempo o transformou em um mito. A sua arte é o retrato dos anos 1950. Desde seu primeiro papel, em 1943, até sua última aparição nas telas, GÉRARD PHILIPE (1922 - 1959. Cannes / França) encarnou o herói ideal da França, em uma carreira iluminada.
 
Ele escondeu de todos a tragédia que o atingiu na juventude: a condenação de seu pai pelos tribunais, em 1945, por colaborar com o nazismo, forçado ao exílio na Espanha para escapar de uma sentença de morte.  Um episódio doloroso. O ator nasceu nos Alpes-Maritimes. Ele e seu irmão, Jean, vivenciaram uma infância ensolarada. Em 1940, teve um encontro decisivo no Parc Hôtel Palace, em Grasse, dirigido por seu pai, com o cineasta Marc Allégret, refugiado como muitos artistas na Côte d'Azur. Este descobridor de talentos notou o jovem. No final de uma audição, ele o aconselhou a se matricular no Centre des Jeunes du Cinema, em Nice, e no Jean Wall, em Cannes. 

Em 1942, GÉRARD PHILIPE estreia no teatro e dois anos depois atua em seu primeiro filme, dirigido por Marc Allégret. Convidado para Paris, interpreta um anjo em “Sodoma e Gomorra”, uma performance que o torna uma estrela da noite para o dia, sendo notado pela crítica e elogiado por Jean Cocteau e René Clair. Seu sucesso no palco levou a ofertas de filmes e, em poucos anos, suas aparições na tela lhe trouxeram fama internacional. Marlene Dietrich viu uma de suas apresentações em Paris, no final dos anos 40, e tentou persuadir Ernst Lubitsch a fazer uma versão cinematográfica de “Der Rosenkavalier”, com ela como a condessa envelhecida, mas ainda adorável, e o ator francês como o amante mais jovem. 

A fama cinematográfica não diminuiu o entusiasmo de GÉRARD PHILIPE pelo palco. Ele criou papéis memoráveis em “Calígula” (1945), de Albert Camus; “O Príncipe de Hombourg” (1951), de Heinrich von Kleist; “Lorenzaccio” (1952), de Alfred de Musset; “Ruy Blas” (1954), de Victor Hugo, e “Richard II (1954), de Shakespeare. Foi aplaudido em “El Cid”, de Corneille, no Festival de Avignon, em 1951. No Théâtre National Populaire, dirigido por Jean Vilar, aderiu aos dogmas do grupo: uma aventura coletiva sem estrelato, marcada pela simplicidade a serviço de um público de todas as classes sociais, apresentando-se em subúrbios e províncias, em salas improvisadas, para performances acompanhadas de debates. 

Em 1951, casou-se com Nicole Fourcade. Jornalista, cineasta e etnóloga, ela acompanha o marido em suas viagens, realizando filmagens, apresentações teatrais e participando de festivais de cinema. O ator era recebido em todos os lugares como uma figura notável da cultura francesa. O casal aproveitava para explorar os contornos políticos e sociais de diversos países. O casamento deles foi uma intensa história de amor. Tiveram dois filhos. Ela adotou o pseudônimo Anne Philipe, escrevendo sobre seu marido nos livros “Souvenirs” (1960) e “Le Temps d'un Soupir” (1963). 

Em 1953, GÉRARD PHILIPE afasta-se dos papéis românticos, partindo para personagens complexos: um médico alcoólatra em “Os Orgulhosos / Les Orgueilleux” (1953), um almofadinha em “As Grandes Manobras”, um cínico empregado de loja em “As Mulheres dos Outros/ Pot-Bouille” (1958), o fraco secretário de “Os Ambiciosos / La Fièvre Monte à El Pao” (1959), entre outros. Gravou em discos textos literários de François Villon, Arthur Rimbaud, Paul Éluard e “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Em 1956 co-dirige com Joris Ivens o filme “As Aventuras de Till / Les Aventures de Till L'Espiègle”, um projeto sonhado por muitos anos, mas que não obteve êxito. 

O mistério e a aura o associam a atores como James Dean. Havia algo em sua atuação que era maduro e infantil ao mesmo tempo. Em vida era muito alegre, adorava fazer rir os que o rodeavam, uma atitude quase de um eterno adolescente. Seu eterno sucesso se deve ao fato de que ele foi tão bom nas telas quanto no palco, fazendo malabarismos com os dois mundos como poucos. Outra razão é a vastidão de sua filmografia e performances teatrais que ele realizou em um tempo muito curto. Em 1958, retornando ao Théâtre National Populaire, interpretou seu autor favorito, Alfred de Musset, em “Les Caprices de Marianne” e “On ne Badine pas avec l'amour”

Ator hipnótico, politicamente comprometido, ativista pela defesa de sua profissão, fundou o Sindicato Francês de Artistas (SFA). Além do astro de cinema que encantava multidões, era conhecido como generoso e discreto, bom pai de família, marido apaixonado, amigo leal, profissional dedicado à sua arte. No entanto, os diretores da Nouvelle Vague não gostavam dele. François Truffaut parece ter tido especial antipatia pela sua persona nas telas. Ele escrevia sobre o ator coisas como: “terror dos bons diretores de cinema”, “comprometido com personagens melancólicos e tuberculosos de olhar marejado”. Especula-se que essa atitude antagônica era causada por divergências ideológicas.
Teatro Gérard Philipe

Uma fadiga repentina invadiu GÉRARD PHILIPE na primavera de 1959. Ele normalmente era a própria vitalidade. Na época, fazia planos para começar a rodar uma versão cinematográfica de “O Conde de Monte-Cristo”. Estudava também a possibilidade de interpretar “Hamlet” nos palcos. Uma constante dor no ventre e um cansaço contínuo criavam indagações, mas não preocupação excessiva. Tinha acabado de voltar do México, onde trabalhou em um filme de Buñuel, “Os Orgulhosos”. A indisposição era atribuída aos hábitos alimentares adotados em Acapulco. Terminou hospitalizado e os médicos descobriram um tumor no fígado. Morreu dias depois de uma embolia brutal.
 
Manchetes em todo o mundo anunciaram seu fim. Partiu em plena glória e está enterrado em uma cova simples em um pequeno cemitério em Ramatuelle, perto da costa do Mar Mediterrâneo. Em 1961, seu retrato apareceu em um selo postal comemorativo francês. Em 1995, o governo francês lançou uma série de moedas de edição limitada que incluíam uma moeda de 100 francos com a imagem do ator. Além disso, escolas e teatros foram nomeados em sua homenagem, como o Collège Gérard Philipe, em Cogolin, e um teatro de Berlim, Alemanha. Eu vi a maioria dos seus trinta filmes. Ele é espetacular. Um dos monstros sagrados do cinema.


10 FILMES de GÉRARD PHILIPE
(por ordem de preferência)
 
01
Os AMANTES de MONTPARNASSE
(Les Amants de Montparnasse, 1958)

Direção de Jacques Becker
Elenco: Lilli Palmer, Anouk Aimée, Lila Kedrova e Lea Padovani
 
02
Uma PEQUENA PRAIA TÃO BONITA
(Une si Jolie Petite Plage, 1949)

Direção de Yves Allégret
Elenco: Madeleine Robinson, Jean Servais, Jane Marken e Julien Carette
 
03
CONFLITOS DE AMOR
(La Ronde, 1950)

Direção de Max Ophüls
Elenco: Anton Walbrook, Simone Signoret, Serge Reggiani, Simone Simon, Daniel Gélin, Danielle Darrieux, Fernand Gravey, Jean-Louis Barrault e Isa Miranda
 
04
À SOMBRA do PATÍBULO
(La Chartreuse de Parme, 1948)

Direção de Christian-Jaque
Elenco: Renée Faure, María Casares, Lucien Coëdel e Louis Salou
 
05
A BELEZA do DIABO
(La Beauté du Diable, 1950)

Direção de René Clair
Elenco: Michel Simon, Nicole Bernard e Paolo Stoppa
 
06
FANFAN la TULIPE
(Idem, 1952)

Direção de Christian-Jaque
Elenco: Gina Lollobrigida, Marcel Herrand e Geneviève Page
 
07
As GRANDES MANOBRAS
(Les Grandes Manoeuvres, 1955)

Direção de René Clair
Elenco: Michèle Morgan, Jean Desailly, Brigitte Bardot, Lise Delamare e Magali Noel
 
08
As LIGAÇÕES AMOROSAS
(Les Liaisons Dangereuses, 1959)

Direção de Roger Vadim
Elenco: Jeanne Moreau, Annette Stroyberg e Jean-Louis Trintignant
 
09
ADÚLTERA
(Le Diable au Corps, 1947)

Direção de Claude Autant-Lara
Elenco: Micheline Presle e Jacques Tati
 
10
JULIETA ou a CHAVE dos SONHOS
(Juliette ou La Clef des Songes, 1951)

Direção de Marcel Carné
Elenco: Suzanne Clouthier

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a casa do ator



7 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

Ótima análise como sempre.

Eulga Berger disse...

Grande ator!

Marlene Maria Schwertner disse...


"Foi o que pode ser, no tempo de vida, tão curto, a que teve direito".

Bettina Mueller disse...


Tanto no cinema quanto no teatro, sempre com desempenhos marcantes!

Marília Menezes disse...


Ele está maravilhoso em Fan-Fan la Tulipe!

Carolina Saboia disse...


Lindo!

Mario Catucci disse...

Olá
Me surpreendo com atores como este, que não conhecia, mas apenas — de nome — alguns de seus filmes. Pela sua crítica, nos revela ser um ator e figura humana especial. Sinto que cada vez sobra menos tempo para descobertas de outros caminhos no cinema, pois mal sobra para a família e para batalhar a vida. Tempos modernos, diria Chaplin.
Agradeço a oportunidade de seus textos, eles mostram que o cinema é rico e facetado, cheio de estórias diante e atrás das câmeras. Um abraço!