Este
ano a alegórica cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas acontece dia 28 de fevereiro, no Teatro Dolby, em Los Angeles,
Califórnia (EUA), e será transmitida ao vivo pela ABC. Como anfitrião, o
comediante Chris Rock, o mesmo de 2005.
“O
Regresso / The Revenant” lidera com doze nomeações. “Mad Max: Estrada Da Fúria
/ Mad Max: Fury Road” aparece logo atrás com dez. Outros bons filmes estão na
disputa. Assisti a maioria. Portanto, a lista abaixo dos melhores foi feita a
partir de crítica pessoal, mas teve alguma influência, acatando tendências do
burburinho de cinéfilos de plantão.
A
produção hollywoodiana de 2015 que realmente me derreteu foi “Carol / Idem”. Levou seis indicações ao OSCAR. O número é respeitável, mas é uma pena que tenha
ficado de fora das categorias Melhor Filme e Melhor Diretor para Todd Haynes.
Por
fim, os preferidos do nosso blogue. Como sempre, existem algumas suposições
surpreendentes, algumas ausências lamentáveis, e fatos que merecem ser
lembrados sobre concorrentes ao prêmio máximo do cinema nas categorias Filme,
Direção, Atriz, Ator, Filme Estrangeiro, Documentário, Animação, Atriz
Coadjuvante e Ator Coadjuvante.
MELHOR FILME
“O REGRESSO”
Há
competidores fortes nesta categoria, favorecendo a divisão de votos. Adaptando
ao cinema o livro “The Revenant: A Novel of Revenge”, de Michael Punke, “O
Regresso” é uma história real, acompanhando um guia de expedições de caça que ferido
é abandonado pelos companheiros em um ambiente inóspito, no extremo norte dos
EUA de 1820. À beira da morte, sobrevive e parte em busca de vingança.
Esperava-se
que levasse várias indicações, mas os doze troféus aos quais concorre foram admiráveis.
Há muita neve, muito frio, muito sangue e muito sofrimento no filme. Nem todo
mundo suporta. Trata de sobrevivência num território selvagem e também é uma
clássica trama de vingança.
Alegoria
da desarmonia entre homem e natureza, presta reverência ao meio ambiente com inúmeros
planos abertos, ressaltando a pequenez das pessoas diante da imensidão que as
cerca. “O Regresso” tem muitas chances de levar a principal estatueta. E seria
merecido. Ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA, o Oscar britânico.
MELHOR DIREÇÃO
ALEJANDRO G. IÑÁRRITU
“O Regresso”
O
OSCAR 2016 de Direção deveria cair nas mãos sensíveis de Todd Haynes. “Carol” é
delicado, envolvente, fascinante. Entretanto, como já disse, Haynes não ficou entre os cinco
indicados. Ridley Scott era um dos favoritos ao prêmio por “Perdido em
Marte / The Martian”, mas nem foi indicado. Steven Spielberg também saiu sem
indicação pelo bonito “Ponte dos Espiões / Bridge of Spies”.
Mesmo
concorrendo alguns diretores de currículo pouco expressivo, a disputa é
difícil. Como o mexicano Iñárritu venceu no ano passado, os votos podem se
dividir e qualquer um ganhar. Torço por um segundo prêmio para ele. O seu drama
é magistral. Basta
lembrar a impressionante cena em que o grupo é atacado por índios e empurrado
para a selva coberta de neve.
MELHOR ATOR
LEONARDO DiCAPRIO
“O Regresso”
Todo
mundo tá dizendo que será esse o ano de DiCaprio. Escutei isso outras vezes e
não deu em estatueta nenhuma. Mas estou com ele, é um dos atores que me faz
amar e ir ao cinema. Ele interpreta alguém real, Hugh Glass, numa caracterização
sofrida. Sua transformação propriamente dita se dá quando quase é comido
vivo por um urso, em uma das mais virulentas sequências do cinema.
Levará
merecidamente o OSCAR. É a sua quinta indicação e arrebatou o Globo de Ouro. Os
outros concorrentes também estão brilhantes, mas terão novas oportunidades para
se aproximar da estatueta.
MELHOR ATRIZ
CHARLOTTE RAMPLING
“45 Anos / 45 Years”
As cinco
indicadas estão excelentes. Brie Larson, de “O Quarto de Jack / Room”, é a
favorita. Ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA. Este drama sobre uma jovem mãe que
cria seu filho em cativeiro recebeu indicações a Melhor Filme, Melhor Diretor e
Melhor Roteiro Adaptado. A performance de Brie vem sendo considerada a que tem
mais carga dramática entre as competidoras.
Prefiro
a respeitável atriz britânica Charlotte Rampling, que inclusive entrevistei.
Neste papel ela levou prêmios no Festival de Berlim, European Film Awards e
Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles. Seu belo filme mostra um
casal se preparando para celebrar um aniversário de casamento, quando recebe
notícias chocantes.
Outro
OSCAR para Cate Blanchett também seria uma ótima opção. Seu desempenho em
“Carol” emociona. Apaixonada por uma mulher, casada e mãe de uma menina, ela
ousa lutar contra um casamento de conveniência. Adorada pelo público, já existe
uma fila de pessoas esperando pela terceira estatueta de Cate. Se ganhar, ela
entra para o seleto grupo dos três Oscars composto por Walter Brennan, Ingrid
Bergman, Jack Nicholson, Meryl Streep e Daniel Day-Lewis.
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
“FILHO de SAUL”
(Saul fia)
HUNGRIA
de László Nemes
Com
“Cinco Graças / Mustang” é a 37º vez que a França chega perto da estatueta
dourada. Conseguiu doze vitórias. É a 9º indicação da Hungria ao OSCAR. Ganhou
com “Mephisto / Idem” (1981). O húngaro “O Filho de Saul” reina como favorito
absoluto. Não é para menos. Longa metragem de estreia do diretor, impressiona
pela originalidade em um tema bastante utilizado no cinema.
Em
Auschwitz, prisioneiro judeu é obrigado a trabalhar recolhendo os corpos da
câmara de gás para que sejam encaminhados aos fornos de cremação. A certa
altura, se depara com o cadáver de um menino e inicia um obsessivo esforço para
dar a ele um sepultamento judaico em vez da cremação comum.
O
longa não segue o caminho da manipulação sentimental fácil. A dureza da sua
história é carregada de um sentimento seco, angustiante. Um grande filme sobre
o Holocausto.
MELHOR DOCUMENTÁRIO
“AMY”
(Idem)
de Asif Kapadia e James Gay-Rees
Disputada
acirrada. Bonitos trabalhos. Aposto em “Amy”, um retrato comovente da vida
complicada da arrebatadora cantora britânica Amy Winehouse. Ela recebe um
tratamento honesto, sem floreios ou sensacionalismo. Entre relatos ora
emocionados, ora resignados de amigos de infância e adolescência, e graças a um
vasto material preservado, brota uma personalidade doce e fragilizada que
encontrava sua sobrevivência emocional na música e nas relações amorosas. Também
ficaria contente com a vitória de “What Happened, Miss Simone?”, em pauta outra
diva musical: Nina Simone.
MELHOR ANIMAÇÃO
“As MEMÓRIAS de MARNIE”
(Omoide no Mânî)
de Hiromasa Yonebayashi
Dos indicados,
vi apenas o japonês “As Memórias de Marnie”. Muito bom. Na trama, uma menina de
12 anos, filha de pais adotivos, solitária e não exatamente feliz, conhece uma
garota loira de vestido branco em um castelo numa ilha isolada. Mas descobrirá
que a nova amiga não é exatamente quem parece ser.
Os
cinéfilos dizem que “Divertida Mente / Inside Out” é o mais cotado para levar a
estatueta (ganhou o Globo de Ouro). Conta como crescer pode ser uma jornada
turbulenta. Uma garota é
retirada de sua vida no meio-oeste norte-americano quando seu pai arruma um
novo emprego em São Francisco.
A
tristeza de muita gente por não ter “Que Horas Ela Volta?” entre os indicados a
Melhor Filme Estrangeiro foi parcialmente compensada pela presença brasileira
entre as melhores animações. Segundo dizem, “O Menino e o Mundo” é excelente e conquistou uma
merecida indicação, roubando a vaga de “O Bom Dinossauro / The Good Dinosaur” ou
de “Snoopy & Charlie Brown - Peanuts, O Filme / The Peanuts Movie”. Tomara
que surpreenda. Na opinião dos críticos, não será nada fácil.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
MARK RYLANCE
“Ponte dos Espiões”
Claramente
uma legião de fãs e a mídia estão juntas na torcida para que Sylvester Stallone
ganhe a sua primeira estatueta, aos 69 anos, por “Creed: Nascido para Lutar / Creed”. “Rocky: um
Lutador / Rocky” acaba de fazer 40 anos, venceu as categorias de Melhor Filme e
Melhor Direção, e é sabido que a Academia adora grandes retornos de estrelas. Esse
pode ser o trunfo do veterano ator.
Como nunca
gostei de Stallone, fico com o ator inglês Rylance, do eficiente thriller de Steven Spielberg. Numa interpretação discreta, ele faz Rudolf Abel, preso pelo FBI acusado de ser um espião estrangeiro agindo a mando da União Soviética. Acredito também que o personagem do mal de Tom Hardy tem mais chances
do que imagina. É um vilão para ficar na história do cinema. O
ator tem uma interpretação magnífica, além de ter protagonizado “Mad Max:
Estrada da Fúria”, segundo filme com mais indicações do OSCAR deste ano.
Ficaria
feliz também com a vitória de Mark Ruffalo - “Spotlight: Segredos Revelados /
Spotlight” -, um velho conhecido desta categoria. Esta é sua terceira indicação.
Seu filme, baseado em uma história real, mostra um grupo de jornalistas em
Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de
abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes
religiosos ocultaram os casos transferindo os padres de região, ao invés de puni-los.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
JENNIFER JASON LEIGH
“Os Oito Odiados / The Hateful Eight”
A
extraordinária Kate Winslet é a favorita por “Steve Jobs / Idem”. A vitória no
Globo de Ouro e no BAFTA é um bom sinal. Ela e Leonardo DiCaprio, a dupla de “Titanic
/ Idem” (1997), como vencedores do ano seria uma bomba! Interpreta belamente
Joanna Hoffman, uma das mais importantes executivas de marketing da Apple e um
dos pilares da companhia. Aos 40 anos, é a 6.ª indicação de Kate, considerada a
melhor atriz britânica de sua geração.
Adoro
Kate e ela está magnífica, mas seria mais justo a estatueta nas mãos de
Jennifer, uma atriz pouco reconhecida, que tem no currículo filmes dirigidos
por Robert Altman, David Cronenberg, Sam Mendes, Ethan Coen e Joel Coen. É sua
primeira indicação. Está na disputa como a assassina Daisy Domergue. Ganhou o
National Board of Review. A transformação do seu personagem e o apogeu final
são impactantes, valem uma bem merecida estatueta.
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
JOSH SINGER e TOM MCCARTHY
“Spotlight: Segredos Revelados”
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
PHYLLIS NAGY
“Carol”
MELHOR FOTOGRAFIA
EMMANUEL LUBEZKI
“O Regresso”
MELHOR TRILHA SONORA
ENNIO MORRICONE
“Os Oito Odiados”
MELHOR EDIÇÃO
MARGARET SIXEL
“Mad Max: Estrada da Fúria”
MELHOR DIREÇÃO de ARTE
COLIN GIBSON e LISA THOMPSON
“Mad Max: Estrada da Fúria”
MELHOR FIGURINO
JENNY BEAVAN
5 comentários:
Bela matéria.
Ah, Nahud, vamos torcer pelo Sylvester Stallone! O cara tem história. Rocky, Rambo etc. É kitsch, trash... mas é a vida real...
Não! O Regresso é intragável! A Garota Dinamarquesa é muito mais bonito!! A atuação dos protagonistas são sensacionais!
Preciso ver ainda 45 Anos. Vi O Regresso ontem e me surpreendi com o teor épico e universal da história. Não vi todos os outros indicados, mas seria uma vitória merecida. Tom Hardy está muito bom e digno do nosso ódio, mas há toda a história e sentimentalismo por trás da figura de Stallone.
O Menino e o Mundo é surpreendentemente profundo, assim como Mad Max, que vai além da ação desenfreada e sem motivo.
Abraços!
Lê
Acertou de montão!
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