Uma das raras atrizes do cinema mudo a continuar estrela também no sonoro. A Metro-Goldwyn-Mayer a promovia como “A Primeira Dama das Telas” ou “Rainha da M-G-M”, no período áureo do estúdio que tinha como slogan “mais estrelas do que as que existem no céu”. Beleza de olhos azulados, esbanja charme no papel-título da extravagante superprodução
“Maria Antonieta / Marie Antoinette” (1938). Foi o primeiro filme dela que vi e
nunca mais a perdi de vista. Era uma das atrizes mais populares da
Hollywood dos anos trinta. Diziam: na M-G-M, Greta Garbo faz a arte, NORMA SHEARER (1902 - 1983) ganha as
produções mais caprichadas, Joan Crawford e Jean Harlow fazem o dinheiro para
pagar o prestígio das duas primeiras.
De
origem escocesa, nascida em Montreal, Canadá, teve uma infância
difícil. Viveu num humilde subúrbio depois da falência dos negócios paternos. Em 1920, mudou com a mãe e a irmã para Nova Iorque à procura de trabalho, conseguindo emprego como vendedora de pautas musicais num pequeno teatro da Oitava Avenida. Sonhando em subir na vida, figurou
em diversos filmes, entre eles, “Horizonte Sombrio / Way Down East” (1020), de
D. W. Griffith, aparecendo na dramática sequência em que, numa tempestade noturna, Lillian Gish é expulsa pelos puritanos. Durante as filmagens conheceu
o todo-poderoso diretor e ele garantiu que ela nunca iria se tornar uma
estrela.
Com a
ajuda do produtor Hal Roach, partiu para Hollywood em 1924. Um dia após sua chegada, encontrou casualmente Irving G. Thalberg, jovem produtor da M-G-M (então Companhia Mayer), conhecido como “The Boy Wonder” (O Menino Prodígio). Ela o confundiu com um office-boy, até
vê-lo colocar os pés em cima de uma mesa. Ficaram encantados um pelo outro. Irving pelo carisma dela, ela pelo enorme poder dele.
Imediatamente foi convidada para assinar contrato com Louis B. Mayer. O sucesso
não foi instantâneo, cresceu a
cada filme. Em 1927, com o êxito de “O Príncipe Estudante / The Student
Prince in Old Heidelberg”, consagrou-se como estrela.
Ao se
casar com o modesto e seguro de si Thalberg, em 1927, passou a escolher papéis e diretores. Muitos
acreditavam que era uma oportunista, mas NORMA SHEARER trabalhou duro para
provar seu talento. Conseguiu elogios ao estrelar o primeiro
filme falado do estúdio, “O Julgamento de Mary Dugan / The Trial of Mary Dugan”. O sotaque canadense
foi bem recebido. Aproveitou para deixar de lado personagens ingênuos, que
fazia até então, criando uma imagem moderna, elegante e liberada.
oscar de melhor atriz 1930 |
Teve
dois filhos com o franzino e de coração fraco Thalberg, vivendo com ele até sua morte precoce, em 1936, aos 37 anos, vitimado pela pneumonia. Na cripta foi gravado pela viúva: “Meu querido, para sempre”. Sua morte abalou a indústria cinematográfica. Com ele, encerrava-se uma era e Hollywood perdia mais que um gênio, perdia quem primeiro entendera o tênue equilíbrio entre arte e comércio, quem estabelecera a equação completa do cinema, quem desenvolveu um estilo administrativo eficiente e flexível, disciplinado sem ser desumano, extravagante mas não esbanjador. Thalberg moldara o estúdio e embora a M-G-M continuasse com invejável sucesso por décadas, nunca mais seria a mesma. F. Scott Fitzgerald o tomou como modelo para “O Último Magnata / The Last Tycoon”, seu romance inacabado.
Inconformada com a morte de Thalberg, NORMA SHEARER tentou se aposentar,
mas o contrato de trabalho não permitiu. Dois anos mais adiante, em 1938, envolveu-se num tórrido romance
com o ator Mickey Rooney, um ídolo juvenil então com 18 anos. Louis B. Mayer conseguiu evitar o escândalo, e a história somente foi revelada na autobiografia de
Mickey. David O. Selznick lhe ofereceu o papel de Scarlett O`Hara em “...E o Vento Levou / Gone with the Wind”, e ela recusou para a glória de
Vivien Leigh. “Não gosto de Scarlett. Muito melhor seria interpretar Rhett
Butler”, disse para ele.
com o figurino de “romeu e Julieta” |
Também
não aceitou ser a protagonista do premiado drama “Rosa da Esperança / Mrs. Miniver” (1942), Oscar de Melhor Atriz para Greer Garson. Aos 40 anos, sentindo-se velha
para papéis românticos e com o
fracasso do seu último filme, a comédia “Idílio a Muque / Her Cardboard Lover” 1942), aposentou-se. Havia contracenado com grandes astros (John Gilbert, Lionel Barrymore, Lon
Chaney, Robert Montgomery, Clark Gable, Fredric March, Leslie
Howard, John Barrymore, Tyrone Power, Robert Taylor, Melvyn Douglas, George
Sanders) e dirigida por cineastas célebres como Victor Sjostrom, Ernst Lubitsch, George Cukor, John M.
Stahl, Clarence Brown e Edmund Goulding.
Deixando de atuar, rica, ela continuou vivendo em Hollywood, onde descobriu e lançou a atriz Janet Leigh. Ao conhecer Martin Arrouge, um instrutor de esqui, 20 anos mais novo que ela, casou-se com ele em 1942. Formavam um par perfeito: ela queria continuar vivendo na intimidade como estrela e ele queria alguém para adorar. Permaneceram casados até a morte dela, em 1983, com ele enfrentando terríveis momentos. A família da atriz tinha um histórico de doença mental. Sua irmã Athole (casada com o cineasta Howard Hawks) passou a vida entrando e saindo de hospitais psiquiátricos, seus pais e o irmão Douglas tinham manias esquisitas. O mesmo aconteceu com a atriz.
Com dois filhos, NORMA SHEARER não aceitava ser mãe, alegando não ter instinto maternal. Depressiva e alcoólatra, ela se tornou obcecada pela aparência e em idade avançada teve graves problemas de saúde, sucumbindo à deficiência visual e a demência, muitas vezes confundindo seu segundo marido, Martin, com Irving G. Thalberg. Faleceu aos 80 anos, depois de sofrer três derrames. O auge da sua carreira aconteceu entre 1930 e 1936, embora seja mais recordada por dois filmes posteriores, “Maria Antonieta” e “As Mulheres / The Women” (1939).
Deixando de atuar, rica, ela continuou vivendo em Hollywood, onde descobriu e lançou a atriz Janet Leigh. Ao conhecer Martin Arrouge, um instrutor de esqui, 20 anos mais novo que ela, casou-se com ele em 1942. Formavam um par perfeito: ela queria continuar vivendo na intimidade como estrela e ele queria alguém para adorar. Permaneceram casados até a morte dela, em 1983, com ele enfrentando terríveis momentos. A família da atriz tinha um histórico de doença mental. Sua irmã Athole (casada com o cineasta Howard Hawks) passou a vida entrando e saindo de hospitais psiquiátricos, seus pais e o irmão Douglas tinham manias esquisitas. O mesmo aconteceu com a atriz.
Com dois filhos, NORMA SHEARER não aceitava ser mãe, alegando não ter instinto maternal. Depressiva e alcoólatra, ela se tornou obcecada pela aparência e em idade avançada teve graves problemas de saúde, sucumbindo à deficiência visual e a demência, muitas vezes confundindo seu segundo marido, Martin, com Irving G. Thalberg. Faleceu aos 80 anos, depois de sofrer três derrames. O auge da sua carreira aconteceu entre 1930 e 1936, embora seja mais recordada por dois filmes posteriores, “Maria Antonieta” e “As Mulheres / The Women” (1939).
FONTE
“Norma: The Story of Norma Shearer”, de
Lawrence J. Quirk, e “The Filmes of Norma Shearer”, de Jack Jacobs e Myron
Braum.
10 FILMES de NORMA SHEARER
(por ordem de preferência)
01
As MULHERES
direção de George Cukor
elenco: Joan Crawford, Rosalind Russell
e Joan Fontaine
e Joan Fontaine
02
ROMEU e JULIETA
direção de Geoge Cukor
elenco: Leslie Howard, John Barrymore
e Basil Rathbone
e Basil Rathbone
03
MARIA ANTONIETA
direção de W.S. Van Dyke
elenco: Tyrone Power, John Barrymore
e Anita Louise
e Anita Louise
04
Uma ALMA LIVRE
direção de Clarence Brown
elenco: Leslie Howard, Lionel Barrymore
e Clark Gable
e Clark Gable
05
O PRÍNCIPE ESTUDANTE
direção de Ernst Lubitsch
elenco: Ramon Novarro e Jean Hersholt
06
ESTE MUNDO LOUCO
(Idiot's Delight, 1939)
direção de Clarence Brown
elenco: Clark Gable, Charles Coburn
e Burgess Meredith
e Burgess Meredith
07
IRONIA da SORTE
(He Who Gets Slapped, 1924)
direção de Victor Sjöström
elenco: Lon Chaney e John Gilbert
08
VIDAS PARTICULARES
(Private Lives, 1931)
direção de Sidney Franklin
elenco: Robert Montgmery
09
A DIVORCIADA
direção de Robert Z. Leonard
elenco: Robert Montgomery, Chester Morris
e Conrad Nagel
e Conrad Nagel
10
A FAMÍLIA BARRETT
direção de Sidney Franklin
elenco: Fredric March e Charles Laughton
GALERIA de FOTOS
elenco: Fredric March e Charles Laughton
GALERIA de FOTOS
23 comentários:
Adorei a postagem sobre NORMA SHEARER, ela era MARAVILHOSA e que olhos!!!
Abraços
Por que não se fazem mais estrelas como antigamente? Musas como Norma Sharer encantava só com o olhar.
Ela foi muita perseguida por Joan Crawford, que chegou a dizer que seus filmes eram bem feitos porque "ela dormia com o patrão". A Norma era soberba, poderia ter trabalhado com diretores melhores, ter aproveitado melhor o poder que tinha. Está muito bem em "As Mulheres", num verdadeiro e inesquecível duelo com a Crawford.
A carreira de Norma é bem interessante, Jamil. Mesmo quando trabalhava com diretores menores, como Robert Z. Leonard, seus filmes tinham conteúdo e força.
Norma tinha carisma, presença, charme e elegância que só vemos nas grandes estrelas de outros tempos. Parabéns pela postagem.
A Primeira Dama da Metro?? Ouvi e li muito sobre ela mas infelismente não vi nenhum filme. Locadora é fogo atualmente, por mais que tenha boas locadoras na capital de Porto Alegre, sempre falta um ou outro filme e as vezes nenhum de um determinado ator.
Mas tentarei dar uma pesquisada.
Abraços amigo
Parabéns pelo lindo trabalho divulgando cada vez mais a tão amada sétima arte.
Norma Shearer ... Achei o nome familiar, mas agora pesquisando sua filmografia notei que não vi nada dela.
Sobre a Norma Shearer eu sei pouca coisa. Ela era uma linda atriz dos anos 30, esposa de um dos maiores produtores de Hollywood (Irving Talberg) e fez alguns filmes dos quais gosto bastante. Adoro a versão de Romeu e Julieta de 36, com ela e Leslie Howard (versão bastante criticada pela crítica, aliás). Outro do qual gosto é "The divorcée", que lhe deu o Oscar de Melhor atriz em 1931. É um filme pré-hays code, que fala de modo ácido sobre fidelidade conjugal.
Eu destacaria também "The Women" (1939), não porque seja ótimo, mas porque é um daqueles "all star picture" que Hollywood gostava de rodar, no qual atuam todas as musas da época (além dela, lá estão Joan Crawford, Rosalind Russell, Paulette Godard e Joan Fontaine). O mais curioso do filme é que nele não atuam homens (Meg Ryan rodou uma versão bem ruim da fita uns anos atrás, chamado nos USA "The Women" e por aqui, "Mulheres, o sexo forte"). A ausência do sexo oposto faz com que ele não seja tão bom, na minha opinião.
Norma começou a carreira no início dos anos 20. Voltando aos meus favoritos, há um silent que ela rodou em 1924, "He who gets slapped" (1924), em que ela faz par romântico com John Gilbert e ambos dividem a cena com Lon Chaney (que está arrebatador, então acaba roubando a cena...).
Bjs e até logo, menino!
Dani
Bom!Me obrigo a dizer que não vi muita coisa de Norma Shearer. Ou vi e à época não era tão apaixonado por cinema á ponto de registrar nomes. Com certeza posso falar 3 títulos:A Dama da Noite, A Divorciada & The Women (George Cukor).
Sei que vc deva ter visto muito mais...mas o foda de se gostar de cinema é que consciente ou inconscientemente a gente acaba privilegiando os prediletos.Minha predileta nesse item é Ingrid Bergman!
Tenha uma semana cinematográfica, grande cara!!
Cara, vc tem bom gosto. Eu simplesmente AMO a Norma Shearer, apesar de não achá-la bonita, ela tinha um inegável carisma e talento. Fiquei muito triste ao saber que ela virou alcóolatra e que tinha uma família perturbada. Odeio quem a critica, que fala que ela só tinha status pq era mulher do Irving Thalberg. Acho que esse povo tem é inveja. Assisti apenas dois de seus filmes, até pq não saiu mta coisa por aqui, mas poderíamos organizar um abaixo assinado para que lancem mais filmes dela em DVD por aqui.
Muito obrigado por aparecer e comentar no meu blog, em breve estarei fazendo uma matéria sobre o Centenário de Jean Harlow.
Dani, nunca vi "A Divorciada", tampouco o filme de 1924. Gosto da Julieta de Norma. E "As Mulheres" para mim é um filme maravilhoso, ótimo, já vi inúmeras vezes, morro de ri. O duelo Shearer-Crawford é fenomenal. A Rosalind Russell está hilária. "Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos" tem muito dele.
DarkNinja, aguardo a matéria sobre o centenário de Jean Harlow.
Fiquei ansioso.
Desconhecia o fato de ter sido Norma Shearer o "Anjo de Guarda" de uma das minhas atrizes favoritas: Janet Leigh.
Voltarei aqui, com certeza!
Querido Antonio, seu blog é o melhor do MUNDO !!!!!!! Adorei a matéria da Norma STAR Shearer.... Muito obrigado
abraços
Não conheço muito o trabalho dela, mesmo tenho quase todos os seus filmes sonoros, mas é uma boa atriz, só não está entre as minhas favoritas.
era das maiores dos anos 30.
Matéria sobre o Centenário de Jean Harlow:
http://vivaatrizes.blogspot.com/2011/01/centenario-de-jean-harlow.html
só cheguei aqui hoje... Norma, uma de minhas grandes prediletas!!!!!
Amei a postagem... voce assitit Barrets of Wimpole Street? Divina...
Após a morte de Thalberg, ela teve um breve romance com o jovem estreante James Stewart...
Só gosto dela em Maria Antonieta, nos outros filmes ela me parece sempre anêmica sem brilho.
MARAVILHOSA!
Fascinante.
Norma Shearer. Simplicidade, caráter e talento em uma única pessoa.
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