Ela atuou em trinta filmes em vinte anos de carreira: quatro deles na Suécia, um na Alemanha e quinze mudos. Ao deixar o cinema por uma existência reclusa, GRETA GARBO desprezou diversas propostas tentadoras de retornar à cena: de “Agonia de Amor / The Paradine Case” (Alfred Hitchcock, 1947) a “Eu Te Matarei, Querida / My Cousin Rachel” (Henry Koster, 1952), de “A Vida de Um Sonho / I Remember Mama” (George Stevens, 1948) a “Anjos Rebeldes / The Trouble with Angels” (Ida Lupino, 1966), pelo qual recebeu a oferta de um milhão de dólares para interpretar a hilária Madre Superiora, que terminou nas mãos de Rosalind Russell. Recusou também o papel de Norma Desmond no drama noir de Billy Wilder, “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard” (1950). Listo aqui, por ordem de preferência, os meus cinco filmes favoritos da diva misteriosa.
NINOTCHKA/idem (1939), direção de Ernst Lubitsch. Com Melvyn Douglas, Ina Claire e Bela Lugosi.
Dizia a publicidade desse filme inteligente: “GARBO ri”. Habituada ao papel de sofredora em tragédias e dramalhões, a estrela pela primeira vez atuava numa comédia e presenteava o mundo com sua bela risada. A história fala de agente soviética mal-humorada, enviada a Paris para vender jóias expropriadas de nobres russos, que resiste ferreamente às investidas de um conde francês, em nome da moral comunista. Elegância, ironia e malícia – a quintessência do cinema de Lubitsch – estão presentes nesta farsa irresistível, que o tempo só tornou ainda mais atual. Diversos atores foram cotados para par romântico da protagonista, de Spencer Tracy a Cary Grant, mas este último ficou tão nervoso em contracenar com a estrela que acabou sendo vetado pela própria.
RAINHA CRISTINA/Queen Christina (1933), direção de Rouben Mamoulian. Com John Gilbert e Lewis Stone.
Como uma rainha sueca que, no século 17, enfrenta a corte e a população para viver um grande amor, GARBO encontrou um conjunto de elementos harmoniosamente entrosados a favor de sua figura mítica. O papel do embaixador espanhol seria interpretado por Laurence Olivier, mas a protagonista infelizmente pediu que fosse substituído por Gilbert.
ANNA KARENINA/idem (1935), direção de Clarence Brown. Com Fredric March, Basil Rathbone, Freddie Bartholomew e Maureen O’Sullivan.
GARBO, que já fizera a mesma personagem de Tolstoi em 1928, neste melodrama comprovou seu notável magnetismo e a capacidade de passar numa mesma cena de uma reação para outra (luxúria, amor maternal) com incrível força interior. Na Rússia de 1897, Anna Karenina, casada com o austero e egoísta Alexei Karenin, torna-se amante do Conde Vronsky e, apesar do afeto do filho, abandona o lar. Sabendo do hábito de Fredric March de assediar as atrizes com quem contracenava, a sueca mascava alho antes de fazer cenas românticas, ficando com mau hálito e assim evitando suas investidas. Com esse filme ela ganhou o prêmio de Melhor Atriz do Círculo de Críticos de Cinema de Nova Iorque.
A DAMA das CAMÉLIAS/Camille (1937), direção de George Cukor. Com Robert Taylor, Lionel Barrymore e Laura Hope Crews.
Nesta adaptação do famoso romance de Alexandre Dumas Filho, a radiante GARBO faz Marguerite Gautier, uma prostituta francesa na Paris do século 19. Ela se apaixona por um jovem estudante, filho de uma família aristocrática, mas sua má reputação não favorece o affair e ela termina por morrer de tuberculose. O mundo inteiro derramou lágrimas com esse estrondoso sucesso, que valeu para ela mais um prêmio do Círculo de Críticos de Cinema de Nova Iorque, além de ser o seu filme favorito.
GRANDE HOTEL/Grand Hotel (1932), direção de Edmund Goulding. Com John Barrymore, Joan Crawford, Wallace Beery, Lionel Barrymore e Jean Hersholt.
Irving Thalberg colocou cinco dos maiores astros de seu estúdio num só filme, lançando a primeira produção all-star de Hollywood. Passa-se num hotel de luxo, em Berlim, e GARBO é uma bailarina russa que namora o barão falido interpretado por John Barrymore. Êxito garantido, teve lucro de 8 milhões de dólares, recebeu elogios da crítica e foi premiado com o Oscar de Melhor Filme.
17 comentários:
Ótimas escolhas, pelo visto. Estou em débito com a Garbo, ainda não vi nenhum de sua filmografia :(
Greta Garbo. Talvez a melhor e mais linda atriz do cinema mudo e também de seu tempo. Seus filmes são maravilhosos, ela consegue transmitir uma mensagem muito interessante neles. Infelizmente ela nunca teve o reconhecimento merecido da Academia dos Críticos de Cinema de Hollywood. E o pior: sempre acabou perdendo a estatueta para atrizes medíocres, com exceção de Norma Shearer que eu também amo assim como amo Greta Garbo.
Assisti todos esses filmes citados e realmente são os melhores e mais bem lembrados da atriz. Para mim, foi a melhor atriz de todos os tempos e que a admiro pelo fato de jamais ter sucumbido as regras impostas do estúdio, mas sim ter mantido sua personalidade propia e forte. Ela pode ter partido cedo do mundo do cinema e vivido reclusa, mas saiu com luz propia e com a dignidade intacta.
O blog tá uma delicia. Passo dias sem ver por causa do trabalho e faculdade.Hj perdi a noção do tempo.Muito bom!
GARBO, ERA MESMO DIVINA!
Nahud, você sabia que, numa das raras vezes que saia, foi para assistir a nossa CARMEN MIRANDA?
Eu acho que Robert Patterson não vai ser outro Leonardo DiCaprio ou Brad Pitt. Não levo fé nomoço.
Bem já se disse que nunca houve rosto como esse...Pra falar de Garbo, não tem outro jeito: é preciso ser poeta. Não era à toa que o Drummond a adorava...(e o Jorge Luis Borges também)
Comecei a filmografia errado, pela comédia Ninotchka! Tenho esperança de assistir a todos os filmes dela.
Falando em poetas, lembro-me de "Os 27 filmes de Greta Garbo", de Drummond. Lindíssimo!
Abraços, Lê
Excelente matéria sobre Garbo, Antonio!
Pessoalmente, eu não sei, mas em termos de exibição sim...
Antônio, suas escolhas foram simplesmente o crème de la crème! Todos os filmes que mais gosto de Garbo. Também gosto muito de A carne e o diabo e Anna Christie.
Ah sim! Estou ansiosíssima para o novo projeto de Cronenberg.
Antonio, concordo assino embaixo de quase toda a sua lista. Acho que a Greta foi uma perfeita atriz de silents. Adoro "The Temptress", "Flesh and the devil", "The Gosta Berling Saga". Dos falados, também gosto muito de "Anna Christie" e "Conquest".
Inté!
Dani
Caro,
Ótimo blog!! Parabéns!
Passarei por aqui com mais frequência! Tenho muito para ler... sei mais de diretores, mas atores não são meu forte. Só por essa primeira semana de posts que li já dá pra ver que aprenderei bastante.
Abraços cinéfilos!
Antonio, tenho todos esses em avi, funcionando bem (o primeiro, mudo, não veio com faixa de audio). Posso mandá-los pra você um dia desses!
Bjs
Dani
Antonio, gostei das escolhas, menos Grand Hotel. Neste filme ela tem momentos bonitos, como as cenas de romance com Barrymore, por exemplo, mas em alguns trechos ela parece um pouco exagerada. Eu colocaria Mata Hari ou Susan Lenox. Talvez um outro filme mudo: Terra de Todos é muito bom. Mas Grande Hotel, não.
Amo Garbo. Adorei as homenagens. Vou fazer uma pra setembro tb, pra ela.
Um abraço,
Dani
Darkninja, eu respeito a Norma Shearer. Adoro-a em The Women(1939), mas ela não era páreo para Garbo. Quanto à Academia: aquilo é uma palhaçada. Foi, é e sempre será. Lembra de Chaplin e Hitchcock? Pois é, isto é Hollywood...
Meryl Streep nem foi à cerimônia deste ano, depois da vergonha que passou ao lado da medíocre Sandra Bullock. Ela não falou, claro, é uma dama, mas a gente sente.
Um abraço,
Dani
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