“Oh, que
diabos, o público gostou de mim certa vez.
Seria um idiota se reclamasse da
vida. Fui um astro!”
JOHN GILBERT em 1933
JOHN GILBERT em 1933
Apelido: Jack
Altura: 1,80 cm
Cabelos: castanhos escuros
Olhos: castanhos
Bonito, cabelos escuros encaracolados, olhos cintilantes. O público feminino suspirava com suas cenas de amor. De presença magnética, intenso, sinceramente dedicado ao seu ofício. No auge da carreira, como estrela da Metro-Goldwyn-Mayer, saboreava a realeza de Hollywood. Alcançou o estrelato aos 28 anos, mas seis anos depois decaiu, após vários filmes falados desastrosos. No famoso “A Carne e o Diabo”, de 1926, iniciou romance com a diva Greta Garbo. Alcoólatra crônico com alterações de humor, mergulhava muitas vezes na depressão. Arruinado pela bebida, JOHN GILBERT (1897 – 1936. Logan, Utah / EUA) morreu aos 38 anos.
Desde o início da sua trajetória cinematográfica, em 1915, trabalhou ao lado de diretores importantes, incluindo Thomas Ince, Maurice Tourneur e John Ford. Na Metro-Goldwyn-Mayer, sua lista de diretores cresceu para Victor Sjöström, King Vidor, Erich von Stroheim, Edmund Goulding, Fred Niblo, Tod Browning e Rouben Mamoulian. Seus pais eram atores e ele estreou nos palcos ainda garoto. Apareceu em seu primeiro filme, sem crédito, em 1915. De 1916 a 1921, com o nome de Jack Gilbert, representou pequenos papéis em mais de 40 filmes, incluindo “Heart O'the Hills” (1919), com Mary Pickford. Em seu primeiro protagonismo, em “Shame” (1921), na Fox Film Corporation, já era JOHN GILBERT. Dos 21 filmes na Fox, sobreviveram apenas “Monte Cristo” (1922) e “Sota, Cavalo e Rei” (1923).
Contratado pela Metro-Goldwyn-Mayer em 1924, foi lançado como uma super estrela em 1925 interpretando um soldado traumatizado em “O Grande Desfile”, um dos dramas mais lucrativos da década de 1920, e a mais gratificante de suas cinco colaborações com King Vidor. Aclamado como “O Grande Amante”, fez “A Viúva Alegre” (1925), dirigido por Erich von Stroheim e coestrelado por Mae Murray, outro sucesso. A seguir, “O Cavalheiro dos Amores / Bardelys the Magnificent” (1926), aplaudido pela crítica e o público. Segundo o “New York Times”, “John Gilbert salta para o reino ativo de Douglas Fairbanks, John Barrymore… e daquele cowboy milionário, Tom Mix”. A “Time” postou: “John Gilbert dando saltos fairbanksianos”, elogiando a fotografia de William H. Daniels, incluindo a cena romântica entre os salgueiros.
Conhecido como perfeccionista e difícil de trabalhar, ele tinha verdadeiros embates no set com seus diretores e colegas atores. Em “A Carne e o Diabo”, um melodrama dirigido por Clarence Brown, viveu um explosivo triângulo amoroso com Greta Garbo e Lars Hanson. O erotismo foi, na verdade, alimentado pela paixão nos bastidores entre o ator e Garbo. As cenas de amor escaldantes emocionaram o público. Seu segundo filme com ela, “Anna Karenina / Love” (1927), versão do romance clássico de Leon Tolstoi, foi outro grande sucesso. O último filme mudo deles, “Mulher de Brio / A Woman of Affairs” (1928), também foi bem-sucedido.
No final das filmagens de “A Carne e o Diabo”, ele pediu a sueca Greta Garbo em casamento. De acordo com Clarence Brown, pareciam apaixonados, mas o ator muito mais apaixonado do que ela. King Vidor estava prestes a se casar com a atriz Eleanor Boardman, e em 1927 JOHN GILBERT , amigo deles, planejou um casamento duplo que encheu as páginas de revistas de cinema e enlouqueceu os fãs. Mas Garbo teve medo de perder sua liberdade e não apareceu na cerimônia sem nem mesmo avisar. O astro ficou terrivelmente perturbado. De acordo com Boardman, ele foi chorar no banheiro e Louis B. Mayer procurou consolá-lo, aconselhando: “Durma com ela, não se case”. Revoltado, ele deu um soco no rosto do poderoso chefão da M-G-M, que caiu, com os óculos quebrados, ameaçando: “Eu vou destruir você”.
greta garbo e john gilbert em 1926 |
Ele casou-se com Olivia Burwell em 1918, mas separaram-se um ano depois. Seu segundo casamento, com a atriz Leatrice Joy, de 1922 a 1925, terminou em meio a acusações de alcoolismo e infidelidade. A filha deles, chamada Leatrice, nasceu em 1924. Teve mais duas esposas, também atrizes, Ina Claire (1929 a 1931) e Virginia Bruce (1932 a 1934). Em 1928, renegociou seu contrato com a M-G-M, estipulando US$ 250.000 por filme, com um limite de dois filmes por ano. Infelizmente, o primeiro filme falado do astro, “Sua Noite Gloriosa / His Glorious Night” (1929), foi mal recebido pelo público. Rapidamente adquiriu o status mítico como o filme que o destruiu.
Hollywood é um lugar inconstante e ele se tornou uma das vítimas na transição do cinema mudo para o sonoro. Alguns suspeitam que Louis B. Mayer conspirou contra a sua estreia falada. Mayer desprezava o estilo de vida irresponsável do seu contratado e não perdoava o murro que tomou. Mas será que Mayer teria arriscado sua maior fonte de dinheiro por causa de uma egoísta vingança pessoal? King Vidor não pensava assim, descrevendo sua versão da decadência vertiginosa de JOHN GILBERT: “Ele não era centrado em um papel próprio na vida. Os caminhos que seguia no seu dia a dia eram influenciados pelos personagens que algum roteirista havia escrito para ele. Seja qual fosse o papel que estava desempenhando, literalmente continuava a vivê-lo fora da tela. Era uma existência claramente precária.”
ina claire e gilbert |
Carismático na cena muda, tornou-se rígido, artificial e tenso ao trabalhar com o som. Em 1930, o gosto do público mudou significativamente em relação aos ingênuos filmes mudos e a imagem do ator se desatualizou. Ainda assim, protagonizou dez longas falados. Nenhum deles restaurou sua antiga glória. Com a saúde em declínio. admitiu que fez muita besteira e abusou do álcool a maior parte de sua vida. Em 1933, Greta Garbo exigiu tê-lo como parceiro romântico em “A Rainha Cristina”, possibilitando um retorno glorioso. Ele se recompôs, parou temporariamente de beber, e se dedicou ao papel com afinco, mas não houve reconhecimento.
O contrato com a M-G-M findou em 1933 e não foi renovado. Em 1931, reportagem do “L.A. Times” o chamou de “o ator mais infeliz de Hollywood”, relatando que se esgueirava envergonhado pela cidade com o chapéu sobre os olhos. Na edição de março de 1934 da “Variety”, desesperado, ele publicou um anúncio: “A Metro-Goldwyn-Mayer não quer mais me oferecer trabalho.”. Paranoico, se sentia humilhado, acreditando que todos riam da sua decadência. Com a carreira cinematográfica de sua esposa Ina Claire, famosa nos palcos da Broadway, em ascensão, o casamento desmoronou. No seu último filme, “O Capitão Odeia o Mar / The Captain Hates the Sea” (1934), na Columbia Pictures, interpreta um escritor bêbado em um navio. Resultou em indiferença geral e ele não atuou mais em outro.
marlene dietrich e gilbert |
O fim chegou em sua mansão no topo de uma colina, em Beverly Hills, na madrugada de 9 de janeiro de 1936, quando seu coração ferido parou de bater. Na época, bebia cada vez mais, danificando sua saúde. Retratos confirmam seu declínio físico. Por fim, JOHN GILBERT foi bem definido pela historiadora de cinema Jeanine Basinger: “Amaldiçoado triplamente: esquecido, incompreendido e subestimado”.
john gilbert e lillian gish em “a boêmia” |
10 FILMES
de JOHN GILBERT
(por ordem de preferência)
01
A VIÚVA ALEGRE
(The Merry Widow, 1925)
(por ordem de preferência)
01
A VIÚVA ALEGRE
(The Merry Widow, 1925)
Direção: Rouben Mamoulian
Elenco: Greta Garbo, Lewis Stone e C. ubrey Smith
04
A BOÊMIA
(La Bohéme, 1926)
Direção: King Vidor
Elenco: Lillian Gish e Renée Adorée
05
A CARNE e o DIABO
(Flesh and the Devil, 1926)
Direção: Clarence Brown
Elenco: Greta Garbo e Lars Hanson
06
LÁGRIMAS de PALHAÇO
(He Who Gets Slapped, 1924)
Direção: Victor Sjöström
Elenco: Lon Chaney e Norma Shearer
07
Nos DOMÍNIOS das ILUSÕES
(The Masks of the Devil, 1927)
Direção: George W. Hill
Elenco: Renée Adorée, Erneste Torrence e Nils Asther
FONTES
“Dark Star: The Untold Story of the Meteoric Rise and Fall of Silent Screen Star John Gilbert” (1985), de Leatrice Gilbert Fountain;
“John Gilbert: The Last of the Silent Film Stars” (2013), de Eve Golden.
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