novembro 09, 2012

***** JEAN SEBERG: SUICÍDIO ou ASSASSINATO?

jean seberg


Ela não atingiu, como atriz, o prestígio de uma Romy Schneider, nem de Jane Fonda, Claudia Cardinale ou outros nomes femininos célebres na sua época. Foi, pode-se dizer, uma pequena star, deixando sua marca na história do cinema através de dois longas, o cult francês “Acossado / À Boute de Souffle” (1960) e o charmoso drama romântico “Bom Dia, Tristeza / Bonjour Tristesse” (1958), adaptação do best-seller de Françoise Sagan estrelado por David Niven e Deborah Kerr. Mesmo sem talento, a meiga JEAN SEBERG (1938 - 1979) venceu dezoito mil candidatas para representar o disputado papel-título de “Joana D'Arc /  Saint Joan” (1957), sua estreia no cinema aos dezenove anos. 

O drama religioso fracassou e o seu desempenho criticado (assisti há pouco tempo, o filme foi injustiçado, é bom, com brilhante direção de Otto Preminger – como sempre – e sensacional atuação de Richard Widmark como o delfim Charles VII, embora não aprecie a duvidosa história da Virgem de Orleans e concorde que Jean não tem força dramática para segurar seu personagem), mas o seu belo rosto de cabelos curtos tornou-se um ícone moderno, estampando capas de revistas e sendo cortejado em todo o mundo.

Vinte e dois anos depois, em 1979, aos 40 anos de idade, o corpo nu e sem vida da musa da Nouvelle Vague, envolto em um cobertor, seria encontrado no banco traseiro de um Renault às margens do rio Sena, em Paris. A causa da morte foi uma overdose de barbitúricos, finalizando uma atribulada existência. 

Surgiram rumores de que o “suicídio” camuflava um crime planejado pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), mas nunca provado. Enterrada em Paris, o seu funeral contou com celebridades como os escritores Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Muitos chegaram a afirmar que, na verdade, ela já havia morrido há algum tempo, dadas as dificuldades que encontrava para superar as sucessivas crises. Mais de 30 anos depois da sua morte, a bela e sofrida JEAN SEBERG continua a ser uma figura lembrada na Europa, especialmente na França.

jean e godard

Nascida em Marshalltown, Iowa, EUA, radicou-se na França, onde sempre viveu. Casou-se quatro vezes e confessou nunca ter sido feliz com nenhum dos maridos. O primeiro, o cineasta François Moreuil; depois, o escritor Romain Gary, o diretor Dennis Berry e o ator marroquino Ahmed Hasni. Seu badalado casamento com Romain Gary, tempestuoso e infeliz,  despertou-a intelectualmente. Bem mais velho do que ela, ele a fez ler Stendhal, Flaubert e Balzac, entre outros, e a estudar a história da arte. Meses após a morte da ex-esposa, Romain se matou com um tiro, deixando um bilhete esclarecendo que sua morte não tinha nada a ver com JEAN SEBERG. O fracasso dos relacionamentos da atriz levaram aos excessos de barbitúricos, tornando sua vida insuportável. 

Em constante estado de depressão, ela tentou o suicídio oito vezes, inclusive atirando-se sobre os trilhos do metrô parisiense. Depois de um período internada em uma clínica especializada em doenças nervosas, declarou, em entrevista, que se sentia extremamente confusa. “Sou um misto de fragilidade, de sinceridade e de orgulho”, confessou, afirmando ter caminhando sozinha pela vida, sem jamais receber ajuda e que desde garotinha aprendeu a enfrentar as dificuldades sem apoio dos outros.

belmondo e jean em acossado
Com o fiasco dos seus dois primeiros filmes, a atriz parecia não ter futuro em Hollywood. Teve sorte ao ser convidada por Jean-Luc Godard para contracenar com Jean-Paul Belmondo em “Acossado”. Na história, o malandro sedutor Michel Poiccard (Belmondo odiou o filme e nunca entendeu sua repercussão mundial) mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, persuadindo Patricia Franchisi (Seberg), estudante norte-americana, para escondê-lo até receber um dinheiro que lhe devem. No apartamento dela, conversam e namoram. 

A partir dessa obra-prima de Godard fez uma série de fitas sem êxito, dirigida vez ou outra por nomes de gabarito como Claude Chabrol e Joshua Logan. Intercalou produções francesas com norte-americanas, mas sempre sendo mais apreciada na Europa. Em 1964, teve um desempenho memorável como uma esquizofrênica em “Lilith / Idem”, de Robert Rossen, ao lado de Warren Beatty e Gene Hackman, pelo qual foi nomeada para o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática. Era o seu filme favorito.

Inacreditavelmente, recusou protagonizar A Primeira Noite de um Homem / The Graduate” (1967), “A Noite Americana / La Nuit Américaine” (1973) e “Esposas em Conflito / The Stepford Wives” (1975). Quase foi a Lara de “Doutor Jivago / Doctor Zhivago” (1965), mas David Lean felizmente terminou optando pela inglesa Julie Christie. Durante os anos 70, JEAN SEBERG continuou a fazer filmes ruins, destacando-se sua participação no famoso suspense-catástrofe “Aeroporto / Airport” (1970), de George Seaton, ao lado de Burt Lancaster e Jacqueline Bisset. 

Publicou também dois livros, “Blue Jean”, um ensaio sobre a esquizofrenia, e “How top Escape Oneself” (Como Escapar de Si Mesmo), um manual com instruções para o suicídio. Em 1979 interpretou o seu último papel no cinema, em “Le Bleu des Origines”, de Philippe Garrell, concluindo trinta e quatro filmes em sua não muito bem sucedida carreira. Um musical, intitulado “Jean Seberg”, baseado em sua vida, estreou no Royal National Theatre, em Londres, em 1983. Ele foi escrito por Julian Barry com música de Marvin Hamlisch e letra de Christopher Adler.


Ao apoiar o grupo antirracista “Panteras Negras”,  fechou muitas portas em Hollywood para o seu trabalho. Grávida, o FBI espalhou o boato de que o pai era um conhecido líder do movimento negro. A notícia correu os jornais, abalou o casamento da atriz e a criança nasceu prematura, morrendo dois dias depois. Para provar sua inocência, JEAN SEBERG exibiu a falecida em um caixão de cristal para que os linguarudos tivessem certeza que era branca. O incidente contribuiu para sua depressão persistente ao longo dos anos. Chocada emocionalmente, a cada aniversário de morte da filha, sucumbia à depressão. Se sentindo perseguida pelo órgão investigativo criminal norte-americano, contratou seguranças para acompanhá-la a qualquer parte e dizia que seu telefone estava grampeado. Muitos a consideravam paranoica. 

Nos anos seguintes, constatou-se que estava sendo realmente vigiada pelo FBI. Recentemente, seu filho Alexandre Diego Gary mobilizou a mídia francesa, acusando o FBI de ser responsável pela morte da mãe. No entanto, como o moço tem um passado marcado pelo alcoolismo e prostituição, não vem sendo levado a sério. Parece que essa morte mal contada nunca será devidamente esclarecida. Assim como aconteceu com Jean Harlow, Maria Montez, Marilyn Monroe, Linda Darnell, Natalie Wood, Pier Paolo Pasolini, Brandon Lee, River Phoenix e Heather Ledger.

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26 comentários:

João Roque disse...

Poucas actrizes representavam a mulher francesa como ela.

Marcos Pedini disse...

Joannna D"arc,ate que ejan seberg caiu bem no pale. O probema desse filme e seu timing extremamente teatral, e o Richard Widmark entao esta uma bichona perfeita, como o Delfim

Marco Antonio S F disse...

Daria um belíssimo filme a vida dessa misteriosa atriz.

Marcelo Castro Moraes disse...

Essa eu não sabia. Uma pena mesmo.

renatocinema disse...

Amigo belo texto.

Uma linda atriz, com rosto de anjo, a meu ver.

Adorei Acossado....amo de paixão esse filme.


Ela disse tudo: "Sou um misto de fragilidade, de sinceridade e de orgulho”. Uso as palavras dela, para, talvez, me definir também.


Parabéns.......amei seu texto, as imagens escolhidas.

Nota 10.

Enaldo Soares disse...

Eu acho inverossímel que o FBI "precise" matar qualquer ator.

Connie Schumacher disse...

From the film, Bonjour tristesse (French, "Hello Sadness"). Seaberg looked fab in that film. Her garments were by Hope Bryce & May Walding, VERY Hubert de Givenchy...

Fani Loss disse...

Muito triste a história de Seberg, mas uma bela história, já que costumam ser belas as histórias tristes... vejo tanta gente por aí a idolatrar celebridades como se fossem feitas de outro material, fossem diferentes de nós... e a realidade é essa, por mais belas, famosas ou icônicas que sejam, possuem uma vida, tristezas, momentos difíceis. Pessoas como qualquer outra, tão frágeis e vulneráveis como qualquer um de nós.

Polyanna Camêlo disse...

"Sou um misto de fragilidade, de sinceridade e de orgulho”, confessou, afirmando ter caminhando sozinha...
Intensa, misteriosa para olhos alheios, talentosa, bela, mas triste... Jean Seberg.

Lobo da Estepe disse...

Excepcional! Parabéns !

Jon Alonso disse...

Amigo, Antonio Eu não falo muito Português. Eu entendo que é uma linguagem similar ao Galego e italiano.Bem, agora em Espanhol.Amigo, buen blog, y exquisita Jean Seberg. Me voy a alojar en el apartamento 870. Atenciosamente, El inquietante Bypass JCA. Salud y Suerte

Anônimo disse...

Jean Seberg faz parte de um certo
tipo de celebridade, que tem tudo
a seu favor, beleza, sorte de conseguir se destacar em um meio
de muita competição, e digamos até
um pouco de talento. Entretanto não
consegue se situar no mundo real,
vivendo em crises e tendo um final
trágico. Uma pena porque ela era
muito bela.

Ana Paula Chagas disse...

Linda!

MarceloLeite disse...

Excelente post que faz jus ao blog!

Aceita parceria?!

Abraço!

fridencult.blogspot.com

Aleph Evelyn disse...

Muito legal o blog. Já esta nos meus favoritos. Parabéns.

Brenda Rosado disse...

Como ela ousou recusar "A noite americana"?

Darci Fonseca disse...

Nahud, merecia ser citado, com direito a foto, a participação de Jean Seberg naquele Jules et Jim em busca do ouro na Califórnia. Falo de Os Aventureiros do Ouro, com Lee Marvin e Clint Eastwood. - Darci Fonseca

disse...

Uma morte de fato misteriosa e que ainda vai gerar muita controversa. A primeira vez que a vi foi em "O rato que ruge" e fiquei impressionada por seus traços.
Abraços!

Fábio Henrique Carmo disse...

Bem, eu não sabia quase nada da vida de Jean Seberg. Nem mesmo que era americana (imaginava ser francesa). Que vida tulmultuada!

Quanto às perseguições pelo FBI, isso era algo bem comum nos anos 70. John Lennon, por exemplo, possuía uma extensa ficha no Federal Bureauo que acaba dando margens a essas teorias de que foi assassinado pelo governo americano, sendo Mark Chapman apenas um executor manipulado.

linezinha disse...

A Jean Seberg passava uma intensa doçura com seu belo rosto angelical,lamentavel sua morte precoce assim como da Romy Schneider. Em relação as perseguições do FBI tudo é possível. Abç

Rubi disse...

Não sabia que a morte de Jean Seberg era cercada de mistérios. Gosto da atuação dela em Acossado!

Anônimo disse...

Antonio


Adorei este post, pois Jean Seberg
é maravilhosa.
Em Bom dia Tristeza se uniu a outra atriz explendida:Deborah Kerr.
Fiquei imaginando que rumos teria tomado o filme Dr. Jivago com ela no papel de Lara...

abs
Marco Antonio

Sonia Dias Moreira Leser disse...

A Cecile de "Bom dia, Tristeza". Adoro esse filme!

Flávia D'Angelo disse...

''Bonjour, tristesse''!

luisdiascastro disse...

Como um suicida pode ser encontrado envolto num lençol branco no banco traseiro de um carro. Na certa foi o FBI que a suicidou. Ação tipica de orgãos de repressão como é o FBI.

Feio, pobre, mora longe e ganha pouco... disse...

Vim parar aqui após assistir a 'Seberg" (Benedict Andrews, 2019). E realmente, o FBI teve muito peso nessa história. Pena que com a pandemia do novo coronavirus, o filme não tenha ganhado a repercussão que merecesse. Não é uma obra prima (pena, de novo), mas nos ajuda a recuperar a memória de uma injustiçada atriz. Parabéns pelo blog.