fevereiro 23, 2024

******* 13 CINEASTAS FRANCESES ESQUECIDOS

henri-georges clouzot


“Sou apenas um artesão que trabalha numa indústria grande e importante pela influência social e poder na divulgação de ideias.”
JACQUES FEYDER
 
“Filmagens são absolutamente horríveis. Eu chamo isso de formalidade tediosa. Eu odeio filmar. Meu único alívio em todo esse negócio cansativo são os momentos maravilhosos em que estou dirigindo os atores.”
JEAN-PIERRE MELVILLE
 
 
A cinematografia francesa clássica foi muitas vezes rejeitada e maltratada, mas não há dúvidas de sua sofisticação e inovação. Desde 1895, na ocasião em que os irmãos Lumière projetaram uma imagem em movimento no Grand Café, em Paris, o cinema se tornou uma paixão nacional, resultando em obras impactantes. Essa tradição cinematográfica tem um dos mais ricos patrimônios do mundo. São filmes reconhecidos pela qualidade técnica, narrativa complexa, profundidade emocional e ousadia estética. Seus personagens e temas se tornaram ícones culturais e inspiraram a moda, a música e outras formas de arte.
 
No famoso artigo
“Uma Certa Tendência do Cinema Francês, publicado na lendária revista “Cahiers du Cinema” (n° 31, janeiro de 1954), o futuro cineasta François Truffaut atacou a “tradição de qualidade” desse cinema, desprezando impiedosamente diretores premiados e poupando apenas alguns eleitos – Jean Renoir, Jacques Becker, Jacques Tati, Robert Bresson, Jean Cocteau -, considerados “autores”. Nada mais do que um chilique esnobe, possivelmente direcionado para gerar polêmica. Fã de carteirinha dessa cinematografia, resgato treze cineastas que fizeram história com preciosos e esquecidos filmes. Confira.
 
01
GEORGES FRANJU
(1912 – 1987. Fougères, Ille-et-Vilaine / França)

Cineasta de primeira grandeza, dono de uma filmografia inventiva, interessante e com influência do surrealismo. Era um respeitável documentarista antes de fazer longas de ficção. Seu cinema alcança o insólito e a poesia.

Três Filmes:
A Cabeça Contra a Parede / La Tête Contre les Murs (1959)
Os Olhos sem Rosto / Les Yeux sans Visage (1960)
Relato Íntimo / Thérèse Desqueyroux (1962)
 
02
HENRI-GEORCES CLOUZOT
(1907 – 1977. Niort, Deux-Sèvres / França)

Admirado na sua época, ficou conhecido como “o Hitchcock francês”. Meticuloso e conhecedor dos truques técnicos da sétima arte, foi um dos mais célebres diretores do cinema europeu nos anos 40 e 50. Casou-se com a atriz brasileira Vera Amado.

Três Filmes:
Manon, Anjo Perverso / Manon (1949)
O Salário do Medo / Le Salaire de la Peur (1953)
As Diabólicas / Les Diaboliques (1955)
 
03
JACQUES BECKER
(1906 – 1960. Paris / França)

Apaixonado pelos seres humanos, seus filmes impressionam pela autenticidade.  Foi um dos poucos realizadores da velha guarda louvado pelos críticos da “Cahiers du Cinéma”, a começar por Truffaut, que encontrou nele fonte de inspiração.

Três Filmes:

Amores de Apache / Casque d'Or (1952)
Grisbi, Ouro Maldito / Touchez pas au Grisbi (1954)
Os Amantes de Montparnasse/ Les Amants de Montparnasse (1958)
 
04
JACQUES DEMY
(1931 – 1990. Pontchâteau, Loire-Atlantique / França)
O espaço para a música sempre foi sua particularidade, e seus longas contam com compositores renomados. O musical “Os Guarda-Chuvas do Amor” teve enorme sucesso e recebeu a Palma de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Cannes.

Três Filmes:
Lola, a Flor Proibida / Lola (1961)
A Baia dos Anjos / La Baie des Anges (1963)
Os Guarda-Chuvas do Amor / Les Parapluies de Cherbourg (1964)
 
05
JACQUES FEYDER
(1885 – 1948. Ixelles, Brabant / Bélgica)

Realizou grandes filmes tanto no cinema silencioso quanto no sonoro. Sabia conciliar arte e entretenimento. De origem belga, tornou-se cidadão francês em 1928. Conheceu a atriz Françoise Rosay no ambiente teatral e se casou com ela em 1917.

Três Filmes:
Visões de Criança / Visages d'Enfants (1925)
A Última Cartada / Le Grand Jeu (1934)
Quermesse Heróica / La Kermesse Héroïque (1935)
 
06
JEAN GRÉMILLON
(1901 – 1959. Bayeux, Baixa Normandia / França)

Nenhum de seus filmes obteve um verdadeiro sucesso comercial, mas estão entre os mais belos produzidos na França. Discreto e sensível, sempre interessado nas relações humanas, seus dramas muitas vezes giram em torno do mar.

Três Filmes:
Águas Tempestuosas / Remorques (1941)
Mulher Cobiçada / Pattes Blanches (1949)
O Amor de uma Mulher / L'Amour d'une Femme (1953)
 
07
JEAN-PIERRE MELVILLE
(1917 – 1973. Paris / França)

Admirador da cultura norte-americana, da qual derivou o seu nome artístico (homenagem ao autor de “Moby Dick”, Herman Melville). Nos seus policiais, uma galeria de solitários e marginais, intensidade dramática, sobriedade, ritmo lento.

Três Filmes:
O Samurai / Le Samouraï (1967)
O Exército das Sombras / L'Armée des Ombres (1969)
O Círculo Vermelho / Le Cercle Rouge (1970)
 
08
JULIEN DUVIVIER
(1896 – 1967. Lille / França)

Experimentou diversos gêneros. Com notável noção de cinema, realizou, com sensibilidade e beleza, filmes marcantes. Admirado por Ingmar Bergman e Jean Renoir, dirigiu seu primeiro filme em 1919 e filmou em Hollywood.

Três Filmes:
O Demônio da Algéria / Pépé le Moko (1937)
Um Carnê de Baile / Un Carnet de Bal (1937)
Pânico / Panique (1946)
 
09
MARCEL CARNÉ
(1906 – 1996. Paris / França)

Dirigiu seu primeiro filme aos 25 anos. Um dos mestres do expressivo movimento Realismo Poético Francês, seu clássico “O Boulevard do Crime” foi eleito no final de 1990 o Melhor Filme Francês do Século em votação de 600 críticos franceses.

Três Filmes:
Cais das Sombras / Le Quai des Brumes (1938)
Hotel do Norte / Hôtel du Nord (1938)
O Boulevard do Crime / Les Enfants du Paradis (1945)
 
10
MARCEL L'HERBIER
(1888 – 1979. Paris / França)

Estreou em 1919 com “Rose-France”.O cinema mudo revelou-se o seu período criativo mais fascinante.  No cinema falado dirigiu incansavelmente gêneros muito diversos até 1953. Em filmes notáveis, desenvolveu seu tema favorito, a ilusão.

Três Filmes:
O Dinheiro / L'Argent (1928)
A Felicidade / Le Bonheur (1934)
O Colar da Rainha / L'Affaire du Collier de la Reine (1946)
 
11
MARCEL PAGNOL
(1895 – 1974. Bouches-du-Rhône / França.)

Dramaturgo, romancista, roteirista e diretor. Fundou a influente revista “Les Cahier du Film”, em 1931. Tornou-se conhecido pela representação cômica da vida provinciana no sul de França em diversos filmes, marcados por diálogos espirituosos.

Três Filmes:
César / Idem (1936)
Colheita / Regain (1937)
A Mulher do Padeiro / La Femme du Boulanger (1938)
 
12
RENÉ CLAIR
(1898 – 1981. Paris / França)

Sua carreira vitoriosa durou mais de cinco décadas. Após o sucesso na França, realizou filmes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, voltando ao seu país natal no final dos anos 40. Ganhou reputação com sátiras sociopolíticas.

Três Filmes:
A Nós a Liberdade / À Nous la Liberté (1931)
Quatorze de Julho / Quatorze Juillet (1933)
As Grandes Manobras / Les Grandes Manoeuvres (1955)
 
13
RENÉ CLÉMENT
(1913 – 1996. Bordeaux, Gironde / França)

Depois de uma animação, curtas-metragens e documentários, levou dois prêmios de Melhor Direção em Cannes e dois Oscar de Filme Estrangeiro. Foi um dos principais diretores franceses, dirigindo com originalidade e virtuosismo técnico excelente filmes.

Três Filmes:
Brinquedo Proibido / Jeux Interdits (1952)
Gervaise - A Flor do Lodo / Gervaise (1956)
O Sol por Testemunha / Plein Soleil (1960)
 
jean gabin e michèle morgan em “águas tempestuosas”

janeiro 28, 2024

******************** O MAGNÍFICO G.W. PABST

louise brooks em diário de uma garota perdida

 

“Antes de tudo, um filme não deve ser exclusivamente uma diversão. Mesmo numa fita de opereta, gênero tão apreciado pelo público, pode-se exprimir ideias sociais.”
G. W. PABST
 
 
Estranhíssimo destino o de GEORG WILHELM PABST (1885 – 1967. Raudnitz, Boêmia / Tchecoslováquia), entre o considerável renome internacional que conheceu no cinema mudo e princípios dos anos trinta e o cancelamento depois disso. Um gigante do cinema alemão, inovador e versátil, apenas rivalizava com Fritz Lang em popularidade e reconhecimento. O outrora venerado cineasta experimentou o exílio, a emigração, uma temporada em Hollywood, um regresso fatídico à Europa e uma tentativa mal sucedida de recuperar o prestígio no pós-guerra. Por fim, sua obra se tornou subvalorizada e pouco vista.
 
Nasceu em Raudnice, na Boêmia, uma província do Império Austro-Húngaro, agora República Tcheca. Frequentou a escola em Viena, para onde a família se mudou quando ele era criança. Estudou engenharia até 1902. Em 1904 fez teatro e no ano seguinte mudou-se para Zurique, na Suíça. Nos quatro anos seguintes, circulou atuando por Salzburgo, St. Gallen e Danzig. Em 1910, em Nova York, dirigiu e atuou em peças de língua alemã. Voltou para a Europa em 1914, ao início da Primeira Guerra Mundial, quando, então, na França, foi detido como “estrangeiro inimigo”, mantido em um campo de prisioneiros durante a guerra.
 
Retornou a Viena depois que o armistício foi assinado em 1918, e se encaixou rapidamente no teatro de vanguarda. Dirigiu teatro expressionista em Praga, incluindo duas peças de Frank Wedekind. Em 1919, tornou-se chefe do Novo Palco de Viena, mas logo teve dúvidas sobre seu futuro artístico teatral e se interessou por cinema. Em Berlim, colaborou com o diretor Carl Froelich em “lm Banne der Kralle” (1921). Logo depois, em 1922, trabalhou como assistente de direção e roteirista de “Der Taugenichts” e “Luise Millerin”.

 
Dirigiu seu primeiro filme, “O Tesouro / Der Schatz”, em 1923, sobre um tesouro enterrado que destrói uma família feliz. Não foi um sucesso comercial. Em 1924, G.W. PABST se casou com Gertrude Henning. Em 1925, concluiu seu primeiro grande filme, “Rua das Lágrimas”, estrelado por Greta Garbo antes de mudar para Hollywood um ano depois. Nele, expressou o desespero e a resignação durante os anos da República de Weimar
que dominaram uma Alemanha derrotada. A abertura cita o “Inferno” de Dante, “Abandonem a esperança, todos os que entram aqui”. Na trama, assassinato, prostituição, fome e infortúnio econômico. Fez sucesso, embora os censores de todo o mundo tenham cortado cenas.
 
“Rua das Lágrimas” inaugurou o seu período áureo, marcado por filmes arrojados estética e tematicamente, e pelo frequente retrato de figuras femininas que se tornaram memoráveis. Durante esse período, em que rodou produções ambiciosas comercialmente e artisticamente, admirador de Sigmund Freud, voltou-se para o psicológico e o surreal em “Segredos de uma Alma / Geheimnisse einer Seele” (1926), um drama sobre ansiedade e impotência sexual, intercalado com hipnose e sequências de sonhos. Seu próximo filme, “O Amor de Jeanne Ney”, de 1927, teve origem no romance do autor russo Ilya Ehrenburg.
 
A seguir, fez a fita que mais gosto, “Crise” (1928). A frustração sexual de uma mulher casada que procura a companhia de outros homens, na Berlim dos anos loucos que antecederam o nazismo. Marcada pela expressiva presença de Brigitte Helm no papel principal, serve de pretexto a uma realização rigorosa, que explica as relações humanas pelo comportamento, as ações, o ambiente e os rostos. Cada elemento participa de uma narração visual, cujo ritmo é flexível.
 
brigitte helm e pabst
Ao fundir duas peças de Frank Wedekind, resultou em “A Caixa de Pandora”, geralmente considerada a sua obra-prima (eu prefiro outros). A escolha da norte-americana Louise Brooks para o papel de Lulu fez da atriz um ícone. Sua Lulu é ao mesmo tempo uma predadora sexual e uma inocente. Seduz e abandona homens e mulheres e até comete assassinato, mas permanece leal ao amor, quase é vítima de um traficante de escravos, se prostitui e termina nas mãos de Jack, o Estripador. G.W. PABST havia pensado em Marlene Dietrich para o papel, mas a diva não tinha a inocência necessária. O resultado final é um dos maiores filmes da era muda.
 
Louise Brooks aceitou o convite europeu apenas porque seu amante, George Preston Marshall, precisava de “uma viagem relaxante à Europa”. No set, seu colega de elenco, Fritz Kortner, não falava com ela, acreditando que ela simplesmente não sabia atuar. Além do diretor, a única pessoa que simpatizava com a atriz de 22 anos era seu figurinista, que a considerava perdida e “a pior atriz do mundo”. Brooks não levava seu trabalho a sério. Na maior parte do tempo, entregava-se a vida noturna de Weimar e a martinis matinais. Mesmo assim, rodou outro filme com G.W. PABST, “Diário de uma Garota Perdida / Tagebuch einer Verlorenen”, em 1929.
 
Também em 1929, o diretor co-dirigiu “O Inferno Branco de Pitz Palü”, em torno de uma tragédia no alpinismo, protagonizado por Leni Riefenstahl, que ganharia fama eterna como diretora de talentosos documentários nazistas. Os primeiros filmes falados de G.W. PABST são conhecidos como “trilogia social”. Incluem “Guerra, Flagelo de Deus” (1930), “A Ópera dos Três Vinténs” (1931) e “A Tragédia da Mina / Kameradschaft” (1932). O primeiro é a história de quatro soldados alemães nas trincheiras durante os meses finais da Primeira Guerra Mundial. Aclamado na época como o filme anti-guerra mais eficaz já feito e pouco depois proibido pelos nazistas.
 
Baseado na opereta de Bertolt Brecht e Kurt Weill, “A Ópera dos Três Vinténs” é um dos filmes mais vistos do diretor. Já o último da trilogia retrata a amizade entre franceses e alemães partindo de um desastre em uma mina de carvão na fronteira França-Alemanha. Significativamente, utilizou atores de ambos os países, cada um falando a sua própria língua, aumentando a tensão e o realismo. No mesmo ano, o governo francês concedeu o diretor com a Ordem da Legião de Honra.
 
Segunda adaptação ao cinema do romance de Pierre Benoît, depois da bela versão de Jacques Feyder, em 1921, “Atlântida” (1932) é uma extravagante narrativa que põe dois oficiais europeus, que foram à África em busca do mítico reino da Atlântida, diante de Antineia, a trágica rainha deste reino. Longe dos cenários naturais utilizados por Feyder, a versão dá à história da civilização perdida nas areias do Saara, uma atmosfera expressionista, explorando os cenários oníricos de Erno Mutzer com fotografia de Eugen Schuftan.
 
No dia em que Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha como chanceler, o diretor partiu para França, junto com muitos outros da indústria cinematográfica alemã. Lá permaneceu por oito anos, realizando seis filmes. Com um breve interlúdio nos Estados Unidos, numa experiência infeliz em Hollywood, fez “Herói Moderno / A Modern Hero”, estrelado por Richard Barthelmess e Jean Muir. A Warner Brothers reclamou que ele dava “muita liberdade” à sua atriz principal. A experiência foi desastrosa, e G.W. PABST partiu para Nova York em 1935, planejando a versão cinematográfica de “Fausto”, que seria estrelada por Greta Garbo e Louise Brooks, mas isso nunca se materializou. Ele então voltou para a França.
 
Em 1939, cinco meses antes do início da II Guerra Mundial, regressou à Áustria, agora sob controle nazista. Durante a guerra, Joseph Goebbels o encarregou de rodar três filmes. Isso causou danos irreversíveis à sua reputação. Depois do conflito, o diretor não ajudou sua causa ao não fazer qualquer declaração de arrependimento. O fato é que nunca mais recuperou o antigo prestígio. Décadas depois, sua viúva veio com uma história sobre como ficaram presos por uma série de circunstâncias na Áustria quando a guerra estourou. Poucos acreditaram, e a verdade sobre os motivos dele permanecer na Áustria nazista permanece um mistério.
 
O primeiro dos filmes que dirigiu para Goebbels foi “Comediantes / Komodianten” (1941), pelo qual ganhou a medalha de ouro de Melhor Direção no Festival de Cinema de Veneza. Em 1943 foi a vez de “Paracelsus / Idem”, um drama histórico sobre o metafísico do século XVI, e em 1944 “O Caso de Molander / Der Fall Molander”, filmado em Praga controlada pelos alemães, mas deixado inacabado quando o exército soviético libertou a cidade. Em 1947, com “O Julgamento / Der Prozess” ganhou novamente o prêmio de direção no Festival de Veneza. 
 
pabst e louise brooks
Antes da aposentadoria, fez mais sete filmes, incluindo dois antinazistas: “O Último Ato” (1955) e “Aconteceu em 20 de julho” (1955). Considerada sua última obra-prima, “O Último Ato” retrata a queda final do regime nazista. Já “Aconteceu em 20 de Julho”, narra uma tentativa de oficiais do exército alemão de assassinar Hitler. Depois deles, em 1956, realizou os seus dois últimos filmes: “Rosas para Bettina ou Ballerina / Rosen Fur Bettina” e “Através dos Bosques / Durch Die Walder, Durch Die Auen”.
 
Os críticos de cinema da sua época não encontraram uma terminologia que o classificasse dentro dos padrões vigentes, achando que ele oscilava entre o caligarismo e o naturalismo. Henri Agel, em “Les Grands Cinéastes” (1959), reconheceu se tratar de o mais indefinível entre os realizadores alemães. Por seu turno, Sifgried Kracauer, teórico e especialista do cinema alemão - autor de “De Caligari a Hitler – Uma História Psicológica do Cinema Alemão” (1947) - compara-o com Pudovkin, no tocante de contextos sociais definidos. “É um realista - a vida real é a sua verdadeira vocação no cinema”, disse.
 
O próprio G.W. PABST, numa entrevista, revelou que o problema era ultrapassar o real – “o realismo é um meio, e não um fim; é uma passagem”. E mais: “desde os primeiros filmes, escolhi temas realistas a fim de me manifestar decididamente como um estilista - o tema não importa”. Parte de sua filmografia implica em adaptações de romances e peças de teatro. Abordou vários temas, passando pelo intimismo, pelo espetacular, pela morbidez, pela euforia, pelo drama histórico, pela comédia e ainda a guerra, o meretrício, o crime, a luxúria. Notável diretor de atores, procurava imprimi-los na tela com uma adequação física e psicológica aos personagens e situações.
 
Ele elogiava René Clair. Numa entrevista feita em 1933, disse: “Sou admirador de Clair. Este artista de grande talento compreendeu a missão do cinema. Em cada uma de suas películas, sempre conferindo cuidados às formas estéticas, exprime uma ideia social”. A respeito de G.W. PABST, assim se manifestou, em 1963, outro magistral diretor, Jean Renoir: “É, entre os mestres, aquele sobre o qual todo mundo está de acordo. Sabe fazer brotar um universo estranho, com elementos captados da vida cotidiana. Sabe melhor do que ninguém como dirigir os atores”.
 
Durante as últimas décadas de vida, G.W. PABST sofreu de diabetes, e isso se complicou quando, em 1957, foi diagnosticado com Parkinson. Morreu em Viena em 29 de maio de 1967. Nos últimos anos, seus filmes voltaram a ser recuperados e reavaliados. Eu o considero um mestre.
 
FONTES
“O Cinema Alemão” (1971), de Roger Manvell e Heinrich Fraenkel. 
 
“De Caligari a Hitler – Uma História Psicológica do Cinema Alemão” (1947), de Sifgried Kracauer.
 
“Os Filmes de G.W. Pabst: Um Cinema Extraterritorial” (1990), de Eric Rentschler.
 
“G.W, Pabst” (1977), de Lee Atwell.
 
“Les Grands Cinéastes” (1959), de Henri Agel.

 
DEZ FILMES de PABST
(por ordem de preferência)
 
01
CRISE
(Abwege, 1928)
 
elenco: Gustav Diessl, Brigitte Helm e Hertha von Walther
 
02
ATLÂNTIDA
(Die Herrin von Atlantis, 1932) 
 
elenco: Brigitte Helm, Heinz Klingenberg, Gustav Diessl, Vladimir Sokoloff e Florelle
 
03
RUA das LÁGRIMAS
(Die Freudlose Gasse, 1925) 

elenco: Asta Nielsen, Greta Garbo, Ágnes Eszterházy e Werner Krauss
 
04
A CAIXA de PANDORA
(Die Büchse der Pandora, 1929) 
 
elenco: Louise Brooks, Fritz Kortner, Francis Lederer, Carl Goetz, Alice Roberts, Gustav Diessl e Sig Arno
 
05
GUERRA, FLAGELO de DEUS
(Westfront 1918: Vier von der Infanterie, 1930) 
 
elenco: Fritz Kampers, Gustav Diessl e Hans-Joachim Möbis
 
06
A ÓPERA dos TRÊS VINTÉNS
(Die 3 Groschen-Oper, 1931) 
 
elenco: Rudolf Forster, Albert Préjean, Florelle, Margo Lion, Fritz Rasp, Valeska Gert, Vladimir Sokoloff, Lotte Lenya e Antonin Artaud
 
07
O INFERNO BRANCO do PIZ PALÜ
(Die weiße Hölle vom Piz Palü, 1929) 
 
elenco: Gustav Diessl, Leni Riefenstahl, Ernst Petersen e Kurt Gerron
 
08
O AMOR de JEANNE NEY
 (Die Liebe der Jeanne Ney, 1927) 
 
elenco: Édith Jéhanne, Uno Henning, Brigitte Helm, Sig Arno e Vladimir Sokoloff
 
09
O ÚLTIMO ATO 
(Der Letzte Akt, 1955)
 
elenco: Albin Skoda, Oskar Werner, Lotte Tobisch e Willy Krause
 
10
ACONTECEU em 20 de JUNHO
(Es Geschah am 20. Juli, 1955) 
 
elenco: Bernhard Wicki, Karl Ludwig Diehl, Carl Wery e Erik Frey