fevereiro 28, 2022

************ DISPONÍVEL para AMAR: 20 FILMES

celia johnson e trevor howard em “desencanto”

 

“Eu sei que jamais terei forças para deixá-lo novamente”
A Ilsa de Ingrid Bergman em “Casablanca”
 
 
Reuni 20 FILMES ROMÂNTICOS. Felizes ou trágicos, têm em comum estarem subordinados ao sortilégio do amor, algo típico desde o início do cinema. O amor nas telonas, representando a vida real, acende aquela faísca inexplicável, a atração instantânea, a sensação de “amor à primeira vista”, para depois brincar com os corações enamorados e parti-los, colá-los e por fim voltar a quebrá-los.
 
Assim como nos filmes, o destino pode nos proporcionar um amor inesquecível quando menos esperamos, seja ele um melodrama ou uma comédia suave. Tudo é misterioso. Confira abaixo narrativas que amamos ver e rever, sejam pra sonhar ou chorar. Afinal, é difícil resistir à uma história amorosa. As tramas decorrem em diferentes épocas e países. O amor nem sempre triunfa, mas certamente comove.
 

20 FILMES de AMOR
(por ordem de preferência)
 
01
CLAMOR do SEXO
(Splendor in the Grass, 1961)

Direção de Elia Kazan
Elenco: Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle e Barbara Loden
 
Obra-prima que se tornou um símbolo da revolução sociocultural, e sexual, dos anos 60. O enredo se passa no Kansas, em 1928, e acompanha um jovem casal impedido pelas convenções pudicas da época, incluindo a pressão familiar, de consumar carnalmente o seu amor. Essa repressão do desejo acaba por desencadear uma série de conflitos e desilusões. Uma obra carregada de sensualidade que investiga a faceta moralista da sociedade norte-americana. Píncaros de intensidade, perturbação íntima e sofrimento. Além da realização impecável, com seu registro elegante e visualmente arrebatador, Kazan extrai o máximo do elenco. Navegando habilmente entre a intensidade e a sutileza, Natalie Wood talvez atinja aqui o ápice de seu talento. Lírico e dilacerante, o belo filme marcou a estreia de Warren Beatty.
 
02
Os GUARDA-CHUVAS do AMOR
(Les Parapluies de Cherbourg, 1964)

Direção de Jacques Demy
Elenco: Catherine Deneuve, Nino Castelnuovo e Anne Vernon
 
Uma poeticidade pouco vista e pouco replicada. Palma de Ouro (Melhor Filme) no Festival de Cannes. Neste envolvente melodrama, o diretor Demy incorpora música e dança a serviço do realismo. O efeito é perturbador e comovente. Todos os diálogos são cantados. O amor de uma jovem parte para a guerra da Argélia. Sua mãe, opositora ao namoro somente pelo fato de o rapaz ser pobre, incentiva a filha a aceitar a proposta de casamento de um rico joalheiro. Um clássico inesquecível, com uma Catherine Deneuve mais bela do que nunca. Tudo isto com uma trilha sonora diferenciada de Michel Legrand e um final tocante.
 
03
DESENCANTO
(Brief Encounter, 1945)

Direção de David Lean
Elenco: Celia Johnson, Trevor Howard e Stanley Holloway
 
Uma mulher casada, dedicada e insatisfeita. Um médico também casado. Uma forte atração entre eles, uma relação adúltera platônica, uma estação de trem, um derradeiro adeus. Este relacionamento secreto, dividido entre o amor e os costumes tradicionais, tem a Inglaterra do pós-guerra como cenário. Drama delicado e realista do mestre David Lean. Johnson e Howard estão excepcionais. Baseado numa peça de Noel Coward, conta com diálogos repletos de emoções profundas.
 
04
NOSSO AMOR de ONTEM
(The Way We Were, 1972)

Direção de Sydney Pollack
Elenco: Barbra Streisand, Robert Redford, Bradford Dillman e Lois Chiles
 
Militante judia comunista, altamente engajada, vive um romance com um escritor bonitão, protestante e da alta classe, de estilo de vida totalmente diferente do seu. No despertar da Segunda Guerra Mundial, independentemente de suas diferenças, casam-se e se mudam para a Califórnia. Nesta relação complicada, as diferenças ideológicas entram em choque. A química entre a dupla central seduz o público e a memorável trilha sonora de Marvin Hamlisch (vencedor do Oscar, assim como a canção-título gravada por Streisand) capta o senso de nostalgia. O roteiro, escrito por Arthur Laurents, adaptando seu romance homônimo, coloca o casal em meio a furacões políticos - a ascensão do comunismo, a ameaça do nazismo, a caçada por McCarthy - mas não politiza a trama, o amor impossível é o eixo. 
 
05
O MORRO dos VENTOS UIVANTES
(Wuthering Heights, 1939)

Direção de William Wyler
Elenco: Laurence Olivier, Merle Oberon, David Niven, Flora Robson, Donald Crisp e Geraldine Fitzgerald
 
Um dos maiores clássicos do cinema. Incomparável conto gótico sobre uma paixão indestrutível, frustrada pelas circunstâncias sociais e pela desgraça. Com magistral direção de Wyler, essa adaptação do famoso romance de Emily Bronte fala de amor, paixão, ciúme, ódio e vingança. No século XIX, um cigano errante se apaixona perdidamente pela filha do seu pai adotivo, mas ela termina casando com um rico vizinho, resultando em tragédia. Obra-prima com poderosa fotografia de Gregg Toland (que levou o Oscar) e atuações notáveis de todo o elenco.
 
06
CASABLANCA
(Idem, 1942)

Direção de Michael Curtiz
Elenco: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains e Peter Lorre
 
Eterno cult cinematográfico muitas vezes imitado, mas jamais igualado. Romântico, altruísta e humanista. Numa história complicada, em plena Segunda Guerra Mundial, o dono de um bar no Marrocos tem um reencontro inesperado com um antigo amor, agora casada com líder da resistência aos nazistas. Eternizado pela frase Nós sempre teremos Paris, o filme foi indicado a oito Oscar e levou três estatuetas: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro. O extenso elenco de talentos coadjuvantes também é memorável. Para ver e rever diversas vezes.
 
07
DOUTOR JIVAGO
(Doctor Zhivago, 1965)

Direção de David Lean
Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiger e Alec Guinness
 
Um dos maiores épicos produzidos para a tela. Um médico-poeta, casado com namorada de infância, conhece na guerra o grande amor de sua vida, que é também casada. Uma impactante história de amor mais lembrado por suas sequencias magníficas. David Lean esbanja talento e o elenco internacional é magistral. A fotografia de Freddie Young evoca a vastidão e a beleza da paisagem russa e a trilha sonora de Maurice Jarre é admirável, ambos ganharam o Oscar. Personagens memoráveis, ação poderosa e uma descrição precisa de eventos históricos.
 
08
TUDO o QUE o CÉU PERMITE
(All That Heaven Allows, 1955)

Direção de Douglas Sirk
Elenco: Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead e Conrad Nagel
 
Um dos melhores exemplos dos luxuosos melodramas em Technicolor da década de 50 e talvez o mais famoso dos dirigidos na Universal pelo mestre Douglas Sirk. O amor salta por cima das diferenças sociais e de idade. Uma viúva sofisticada, que vive na Nova Inglaterra, se envolve com afável e inteligente jardineiro. O amor surge entre ambos, mas as pressões sociais dos filhos dela são fortes e insistentes e as fofocas da sociedade local são cruéis. O filme tem uma aparência encantadora, com cores, iluminação, direção de arte, figurino e fotografia maravilhosos. Repleto de esplendor, com um ótimo elenco, compõe um melodrama divinamente romântico.
 
09
AURORA
(Sunrise, 1927)

Direção de F. W. Murnau
Elenco: George O'Brien, Janet Gaynor e Margaret Livingston
 
Um dos filmes mais reverenciados de todos os tempos, concentrando-se em um casal do interior cujas vidas são destruídas por uma sedutora mulher de uma grande cidade. Atraído pela amante insaciável, o camponês planeja o assassinato da inocente esposa, em uma longa cena carregada de suspense e melancolia. A simplicidade da história confere um peso dramático formidável. Imagens mágicas, graciosos e inventivos movimentos de câmera. Sua sofisticação contradiz os recursos da época. A talentosa Janet Gaynor e os dois fotógrafos tiveram Oscars merecidos.
 
10
O SEGREDO de BROKEBACK MOUNTAIN
(Brokeback Mountain, 2005)

Direção de Ang Lee
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams e Anne Hathaway
 
Ao longo das décadas de 60 e 70, dois cowboys mantêm uma ligação amorosa intermitente, ora relutante, ora ardente, ao mesmo tempo que ambos se casam e têm filhos. Ang Lee descreve com sensibilidade e pudor uma relação complexa entre dois homens que não se assumem claramente como homossexuais, e que é tornada ainda mais problemática pela época e pela região dos EUA em que a história se passa, bem como pelo meio social e profissional em que ambos ganham a vida. Conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e três Oscars, incluindo o de Melhor Diretor.
 
11
As PONTES de MADISON
(The Bridges of Madison County, 1995)

Direção de Clint Eastwood
Elenco: Meryl Streep e Clint Eastwood
 
Indicada ao Oscar de Melhor Atriz por este filme, Meryl Streep interpreta uma dona de casa do interior de Iowa, casada, que tem um caso de apenas quatro dias, porém intenso, com um fotógrafo da National Geographic. A recordação ficará para sempre. Clint Eastwood e Meryl Streep apresentam performances naturalistas, fazendo parecer que estamos testemunhando um belo e verdadeiro romance. Um fato que difere o filme de outros romances é a idade dos protagonistas. Clint estava com seus 65 anos e Meryl passava dos 40. Ou seja, um amor maduro. Louvável, já que boa parte dos filmes do gênero tende a esquecer esta parcela do público. Resumindo, é uma belíssima história, filmada de forma inteligente, com protagonistas apaixonantes.
 
12
Um HOMEM e uma MULHER
(Un Homme et une Femme, 1966)

Direção de Claude Lelouch
Elenco: Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée
 
Grande sucesso da carreira do diretor Claude Lelouch, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e de dois Oscars, entre outros prêmios. Tornou-se sinônimo mundial de “filme romântico”. O despertar do amor entre um solitário convicto e uma mulher precocemente viúva. Ele, piloto de corridas. Ela, roteirista de cinema. Os dois tentam conduzir um relacionamento sincero e bem humorado em meio às insistentes demandas familiares e profissionais. Ótima trilha sonora de Francis Lai. De forma contemplativa, a obra ganha intensidade a partir do senso de urgência daquele amor.
 
13
HOUVE UMA VEZ um VERÃO
(Summer of '42, 1971)

Direção de Robert Mulligan
Elenco: Gary Grimes, Jennifer O'Neill e Jerry Houser
 
No verão de 1942, um adolescente passa férias numa pequena ilha, no estado de Massachusetts. Ele está decidido a transar com algumas garotas, mas termina apaixonando-se por uma mulher mais velha que vive sozinha enquanto o marido está na Europa lutando na Segunda Guerra Mundial. Em caráter autobiográfico, é um drama de amadurecimento. Clássico inesquecível, com excelente direção, bela fotografia e trilha sonora tocante, ganhadora do Oscar.
 
14
TARDE DEMAIS para ESQUECER
(An Affair to Remember, 1957)

Direção de Leo McCarey
Elenco: Cary Grant, Deborah Kerr, Richard Denning e Cathleen Nesbitt
 
Deborah Kerr e Cary Grant se conhecem em uma viagem em um transatlântico, apaixonam-se perdidamente, mas estão comprometidos com outras pessoas. Decididos a terminar cada qual seu relacionamento, combinam novo encontro algum tempo depois no Empire State Building, em Nova York. Mas há um desencontro. No entanto, o tempo é irônico e muitas vezes cruel, manobrando os acontecimentos para que um dia, sem querer, se encontrem novamente para um acerto de contas final. Um melodrama magnífico que leva às lágrimas.
 
15
ROMEU e JULIETA
(Romeo and Juliet, 1968)

Direção de Franco Zeffirelli
Elenco: Leonard Whiting, Olivia Hussey, Robert Stephens e Michael York
 
Esta versão da peça de Shakespeare, rodada em Itália, deve parte do seu sucesso ao fato do diretor Franco Zeffirelli ter escolhido, para os papéis principais, dois atores com idades muito próximas dos personagens: Leonard Whiting (Romeu) tinha 17 anos e Olivia Hussey (Julieta) tinha 15. Resultou numa inspirada adaptação de um clássico imortal sobre um amor trágico. Dois adolescentes, filhos de famílias inimigas, se apaixonam. Oscar de Melhor Fotografia e Melhor Figurino. 
 
16
A HISTÓRIA de ADELE H.
(L'histoire d'Adèle H., 1975)

Direção de François Truffaut
Elenco: Isabelle Adjani, Bruce Robinson e Sylvia Marriott
 
No século XIX, a filha do grande escritor francês Victor Hugo viaja em busca de um tenente que não lhe corresponde o amor. Esta situação a deixa em um desespero crescente, ficando perturbada e a levando a um processo de auto-destruição. A paixão obsessiva da personagem emociona. Trágico, tristíssimo, um amor absolutamente insano. A atuação de Isabelle Adjani é extraordinária. Ela entrega-se ao papel. Vemos no rosto dela como a loucura vai tomando conta, como fica cada vez mais longe da realidade. É impressionante. Foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. 
 
17
CARTA de uma DESCONHECIDA
(Letter from an Unknown Woman, 1948)

Direção de Max Ophüls
Elenco: Joan Fontaine, Louis Jourdan e Mady Christians
 
Adaptado do romance de Stefan Zweig. Em flashback, na Viena do fim do século XIX, a infeliz existência de uma garota ingênua fascinada por um pianista mulherengo termina num sombrio desenlace. Um drama apaixonante controlado pela direção sensível e elegante de Max Ophüls. De forma implacável e hipnótica, o diretor retira os véus de ilusão que envolvem a protagonista, numa crítica devastadora ao mito e à ideologia do amor romântico. De uma riqueza inesgotável, sublime e dilacerante.
 
18
CAMILLE CLAUDEL
(Idem, 1988)

Direção de Bruno Nuytten
Elenco: Isabelle Adjani, Gérard Depardieu e Madeleine Robinson
 
“Magnética” e “Hipnotizante” foram alguns dos termos utilizados para descrever a performance de Isabelle Adjani como a estrela desta cinebiografia sobre o grande amor de um dos maiores escultores franceses de todos os tempos: Auguste Rodin. Entre ataques de fúria e de insanidade, a atriz se deixa guiar pelo instinto, não atuando, mas, antes, incorporando por completo a personagem perturbada que tinha em mãos. Um trabalho primoroso, que resultou em sua segunda indicação ao Oscar, além do Urso de Prata no Festival de Berlim e do César de Melhor Atriz na França.
 
19
LOVE STORY – Uma HISTÓRIA de AMOR
(Love Story, 1970)

Direção de Arthur Hiller
Elenco: Ali MacGraw, Ryan O'Neal, John Marley, Ray Milland e Tommy Lee Jones
 
Há muitos filmes da categoria “amor e doença incurável”, mas esse, escrito por Erich Segal (que só depois publicou o livro homônimo), é o mais famoso e lacrimal de todos. Um rico universitário e uma colega encantadora e sem papas na língua apaixonam-se e casam-se, contrariando os pais dele, que o deserdam.  Parecem destinados a ser felizes, mas ela descobre que tem leucemia. Oscar de Melhor Trilha Sonora.
 
20
SUPLÍCIO de uma SAUDADE
(Love Is a Many-Splendored Thing, 1955)

Direção de Henry King
Elenco: Jennifer Jones e William Holden
 
Uma das mais comoventes e famosas histórias de amor do cinema. Ambientado em Hong Kong, durante a Guerra da Coréia, trata de um correspondente de guerra norte-americano e seu amor por uma médica eurasiana. À medida que seu amor cresce, surgem problemas para atrapalhar a felicidade. Ele deixou uma esposa em casa, e ela enfrenta a desaprovação de sua família e amigos. A trilha sonora venceu o Oscar, assim como a canção título, uma das mais populares já compostas para o cinema. 

fevereiro 09, 2022

******* DOROTHY ARZNER – Uma CINEASTA PIONEIRA



Entre 1912 e 1919, Hollywood contava com cerca de 11 mulheres cineastas. Lois Weber era a mais famosa delas. No entanto, a partir dos anos 1920, desapareceram, surgindo DOROTHY ARZNER (1897 – 1979. São Francisco, Califórnia / EUA), que se tornou a única diretora da Era de Ouro de Hollywood. Numa entrevista, ela confessou que nunca teve problemas profissionais por ser mulher, afinal inúmeras outras trabalhavam atrás das câmeras, como roteiristas, editoras e demais ofícios. Até hoje, mantém a marca de ser a cineasta com o maior número de longas-metragens: 19.
 
Sua carreira começou no cine mudo e durou até os anos 1940. Primeira mulher a integrar o Director’s Guild of America, principal associação de diretores nos EUA, dirigiu algumas das maiores divas do cinema, como Clara Bow, Joan Crawford, Claudette Colbert, Ginger Rogers, Lucille Ball e Merle Oberon. Nos seus dramas densos e comédias corrosivas, a narrativa pertence ao sexo feminino, o que era uma audácia na época. Esses personagens bem desenvolvidos, independentes e destemidos, fizeram que ficasse conhecida como diretora de “filmes de mulheres”.

dorothy arzner dirigindo sylvia sidney


Cresceu em Los Angeles, onde o pai tinha um restaurante de cozinha alemã, frequentado por celebridades como Charles Chaplin, William S. Hart e Erich von Stroheim. Trabalhava como garçonete no local e estudava medicina. Na Primeira Guerra Mundial, deixou a faculdade para se alistar como motorista de ambulância. Com o fim da guerra, em 1919, visitou o The Famous Players-Lasky Film Company, futura Paramount Pictures, e se encantou, arranjando emprego no estúdio como datilógrafa.
 
Firmou-se como revisora de roteiros, roteirista e editora, destacando-se em 1922 no clássico “Sangue e Areia / Blood and Sand” (1922), estrelado por Rudolph Valentino. Ameaçando aceitar convite de trabalho na Columbia Pictures, pressionou a Paramount para deixá-la dirigir. Deu certo e em 1927 rodou “A Mulher e a Moda”, baseado numa comédia francesa e que foi um grande sucesso. No papel principal, Esther Ralston, destaque de Peter Pan / Idem” (1924). Logo dirigiria a super estrela Clara Bow em dois filmes. Um deles, em um colégio para moças, apresenta insinuações lésbicas.
 
Embora DOROTHY ARZNER tenha feito vários filmes de sucesso, o estúdio beirava a falência devido à Depressão, e a renovação do seu contrato estava por um fio. Quando a Paramount exigiu um corte salarial para todos os funcionários, a diretora recusou, preferindo se tornar freelancer. Contratada pela RKO Radio Pictures, dirigiu a jovem e teimosa Katharine Hepburn. Não foi uma colaboração feliz, gerando muitos atritos, pois ambas tinham temperamentos fortes e autoritários.
arzner e clara bow

Seu próximo filme foi para Samuel Goldwyn, um poderoso produtor independente que tinha seu próprio estúdio. Ele contratara uma beldade russa, Anna Sten, pretendendo transformá-la numa nova Garbo ou Dietrich. George Fitzmaurice, o primeiro diretor do drama inspirado em Zola, não se deu bem com a moça temperamental e pediu para ser dispensado. Goldwyn convidou George Cukor para substitui-lo, mas ele tinha outros compromissos. Com DOROTHY ARZNER, deu tudo o que ela queria em termos de cenários, iluminação e cinegrafista, pedindo em troca uma performance brilhante de Sten. A diretora considerou essa tarefa impossível, afirmando que “a única coisa que eu posso fazer é não deixar que ela fale muito”. O filme foi um fiasco e Anna Sten jamais se tornou uma estrela.

Em 1937, a cineasta dirigiu dois filmes na M-G-M. Em 1940, assumiu a direção de A Vida é uma Dança”, na RKO, no lugar de Roy Del Ruth, que se retirou da produção após desentendimentos com o produtor Erich Pommer. O filme recebeu críticas pouco entusiasmadas e fracassou nas bilheterias. No seu último trabalho, na Columbia Pictures, “Crepúsculo Vermelho” (1943), sobre a Noruega ocupada pelos nazistas, teve pneumonia e se retirou antes de acabá-lo, sendo finalizado por Charles Vidor.
arzner e joan crawford

Ficou doente por quase um ano. Após a recuperação, interrompeu, abruptamente, seu trabalho como diretora, abandonando o cinema. Nunca se soube a razão.  Lésbica assumida, ela não falava sobre sua vida privada, mas não escondia a orientação sexual, cultivando um visual masculino  e utilizando calças e terno. 

Manteve um relacionamento duradouro com a dançarina e coreógrafa Marion Morgan, dez anos mais velha que ela. Viveram juntas de 1930 até a morte da companheira em 1971. Durante seu casamento, namorou atrizes como Alla Nazimova, Billie Burke e Joan Crawford. Cercada de mulheres, era flagrada abraçada a Marlene Dietrich ou Rosalind Russel, entre outras famosas. Vivia intensamente, participando de estreias de filmes, festas privadas e jantares de gala.
 
Na Segunda Guerra Mundial, juntou-se a outros célebres diretores, como John Ford e George Stevens, fazendo curtas de treinamento para o Corpo de Exército Feminino do Exército dos EUA (WACs). Nos anos seguintes, dirigiu documentários para a televisão e mais de 50 comerciais da Pepsi-Cola, a pedido de Joan Crawford. Ela foi professora de cinema no Pasadena Playhouse, nas décadas de 1950 e 1960, e depois na Universidade da Califórnia-Los Angeles, nos anos 1960 e 1970. Na UCLA, ensinou direção e roteiro até sua morte, e um de seus alunos foi Francis Ford Coppola.
 
Competente, foi uma das raras cineastas em uma profissão dominada por homens, com tramas que driblavam o moralismo através de personagens femininas decididas e donas do próprio destino. Celebrada pelo movimento feminista, na década de 1960, DOROTHY ARZNER teve seus filmes redescobertos nos anos 1970, exibidos em festivais e homenageados com uma retrospectiva do Director's Guild of America. Em seus últimos anos de vida, deixou Hollywood e se mudou para o deserto. Morreu em La Quinta, uma cidade perto de Palm Springs, na Califórnia, aos 82 anos.


Os FILMES de DOROTHY ARZNER
 
01
A MULHER e a MODA
(Fashions for Women, 1927)

Estúdio: Famous Players-Lasky Corporation
Elenco: Esther Ralston e Raymond Hatton
 
02

DEZ MANDAMENTOS MODERNOS
(Ten Modern Commandments, 1927)

Estúdio: Paramount Famous Lasky Corporation
Elenco: Esther Ralston e Neil Hamilton
 
03

SEGURA o que é TEU
(Get Your Man, 1927)

Estúdio: Paramount Famous Lasky Corporation
Elenco: Clara Bow e Charles 'Buddy' Rogers
 
04

Um COQUETEL AMERICANO
(Manhattan Cocktail, 1928, perdido)

Estúdio: Paramount Famous Lasky Corporation
Elenco: Nancy Carroll, Richard Arlen e Paul Lukas
 
05

GAROTAS na FARRA
(The Wild Party, 1929)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Clara Bow, Fredric March, Marceline Day, Jack Oakie e Phillips Holmes
 
06

POR DETRÁS da MÁSCARA
(Behind the Make-Up, 1930)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: William Powell, Fay Wray, Kay Francis, Paul Lukas e Walter Huston
 
07

A VOLTA do DESERDADO
(Sarah and Son, 1930)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Ruth Chatterton e Fredric March
 
08

PARAMOUNT em GRANDE GALA
(Paramount on Parade, 1930, co-director)

Estúdio: Paramount Pictures
 
09

ESPOSA de NINGUÉM
(Anybody's Woman, 1930)  


Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Ruth Chatterton, Clive Brook e Paul Lukas
 
10

HONRA de AMANTES
(Honor Among Lovers, 1931)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Claudette Colbert, Fredric March, Charles Ruggles e Ginger Rogers
 
11

GAROTAS TRABALHADORAS
(Working Girls, 1931)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Judith Wood, Dorothy Hall, Charles 'Buddy' Rogers e Paul Lukas
 
12

QUANDO a MULHER se OPÕE
(Merrily We Go to Hell, 1932)

Estúdio: Paramount Pictures
Elenco: Sylvia Sidney, Fredric March e Cary Grant
 
13

ASSIM AMAM as MULHERES
(Christopher Strong, 1933)

Estúdio: RKO Radio Pictures
Elenco: Katharine Hepburn, Colin Clive, Billie Burke e Helen Chandler
 
14

NANÁ
(Nana, 1934)

Estúdio: The Samuel Goldwyn Company
Elenco: Anna Sten, Phillips Holmes, Lionel Atwill, Richard Bennett, Mae Clarke, Reginald Owen, Jessie Ralph e Lucille Ball
 
15

MULHER sem ALMA
(Craig's Wife, 1936)

Estúdio: Columbia Pictures
Elenco: Rosalind Russell, John Boles, Billie Burke, Jane Darwell e Thomas Mitchell
 
16

A ÚLTIMA CONQUISTA
(The Last of Mrs. Cheyney, 1937)

Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (M-G-M)
Elenco: Robert Montgomery, Joan Crawford, William Powell e Frank Morgan
 
17

FELICIDADE de MENTIRA
(The Bride Wore Red, 1937)

Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Elenco: Joan Crawford, Franchot Tone, Robert Young, Billie Burke e Reginald Owen
 
18

A VIDA é uma DANÇA
(Dance, Girl, Dance, 1940)

Estúdio: RKO Radio Pictures
Elenco: Maureen O'Hara, Louis Hayward, Lucille Ball e Ralph Bellamy
 
19

CREPÚSCULO SANGRENTO
(First Comes Courage, 1943)

Estúdio: Columbia Pictures
Elenco: Merle Oberon e Brian Aherne

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