fevereiro 25, 2019

************** GENE TIERNEY: LOUCA de AMOR



Altura: 1,7 m
Cabelos: castanhos
Olhos: azuis
Apelido: a menina Get


A mulher mais linda da história do cinema segundo o poderoso produtor Darryl F. Zanuck. Talvez ele tenha razão. Ao lado dela somente Ava Gardner, Sophia Loren, Hedy Lamarr e Elizabeth Taylor. Para o cineasta Martin Scorsese, GENE TIERNEY (Nova Iorque, EUA. 1920 - 1991) é uma das atrizes mais subestimadas do cinema norte-americano. E a sua história daria um filme de sucesso. De origem irlandesa, inglesa e judaica sefardita, ela atuou em 37 filmes. Nascida numa família rica da Costa Leste, seu pai era um magnata. Educada nas mais caras escolas do país, estudou ainda na Suíça. Desde cedo, demonstrou interesse pela carreira de atriz, representando muitas vezes para os pais e amigos. Aos 17 anos, numa visita aos estúdios da Warner Bros., causou sensação com sua beleza, e o diretor Anatole Litvak disse para sua mãe: “Ela deveria fazer cinema”. Fez um teste, pouco depois, mas o pai recusou o contrato. Se a filha queria representar, deveria fazê-lo “num teatro a sério”.

Depois de dois anos na Europa, ela voltou aos Estados Unidos. Em 1938 se apresentou na Broadway em “What a Life!” e ao mesmo tempo em “The Primerose Path” (1938). Seus papéis subsequentes, em “Mrs O'Brian Entertains” (1939) e “Ring Two” (1939), receberam elogios dos críticos novaiorquinos. Richard Watts escreveu: “Não vejo razão para a senhorita Tierney não ter uma longa e interessante carreira teatral, isto é, se o cinema não a sequestrar”. Figura voluptuosa, voz profunda e sensual, ela ganhou destaque imediato por sua beleza e, rapidamente, deu o salto para o cinema quando o produtor da 20th Century-Fox, Darryl F. Zanuck, a viu na ribalta e a levou para Hollywood, onde estreou em 1940 no western “A Volta de Frank James / The Returno f Frank James”, ao lado de Henry Fonda e dirigida por Fritz Lang.

No ano seguinte, estrelou cinco filmes, dando início a uma carreira de sucesso. Em 1943, com a sofisticada comédia “O Diabo Disse Não, teve a crítica a seus pés e se tornou uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood. O ano de 1944, no entanto, foi o de sua consagração. O ano de “Laura”, onde faz o papel de uma mulher enigmática cobiçada por três homens. Lançado no dia 11 de outubro de 1944 numa première em Nova York, a estreia no Brasil se deu em 29 de janeiro de 1945. O filme intrigou os críticos com sua mistura de estilos (noir, psicodrama, melodrama e thriller). Ganhou o Oscar de Melhor Fotografia e foi indicado para outras quatro categorias: Melhor Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Melhor Roteiro e Melhor Direção de Arte.
oleg cassini e gene

A atriz teve sua única indicação ao Oscar pela excelente atuação em “Amar Foi Minha Ruína”, de 1945, perdendo a estatueta para Joan Crawford por “Alma em Suplício / Mildred Pierce”. Elegante e boa intérprete, GENE TIERNEY foi dirigida por excelentes diretores: Ernst Lubitsch, John Ford, Otto Preminger, Joseph L. Mankiewicz, Jules Dassin, Josef von Sternberg, entre outros. Casou-se em junho de 1941 com um famoso figurinista francês, Oleg Cassini, de quem se divorciou em fevereiro de 1952. Durante uma apresentação na Hollywood Canteen, grávida, recebeu um abraço de um fã que, sem que ela soubesse, tinha rubéola. Graças a esse incidente sua filha veio ao mundo com graves problemas e seu casamento tornou-se um pesadelo. Daria nasceu prematura, exigindo uma transfusão de sangue completa, além de surda, parcialmente cega e com retardamento mental. Isso, como era de se esperar, prejudicou sua vida emocional. De uma breve reconciliação com o marido, nasceu uma segunda filha, Christina.

Abandonada, ferida e desencantada, a bela e famosa mulher jogou-se de cabeça numa vida desregrada, marcada por múltiplos amantes, dentre os quais o então senador John F. Kennedy, o milionário Howard Hughes e os atores Spencer Tracy e Tyrone Power. Ao conhecer o príncipe Ali Khan, ex-marido de Rita Hayworth, reagiu e apaixonou-se perdidamente. Rita já tinha sofrido bastante na mão do príncipe, que apesar de rico, vivia às custas dela. Enamorada, GENE TIERNEY planejava casar-se, mas Khan não queria compromisso. Quando começou a pressioná-lo, ele se afastou. Sentindo-se humilhada e louca de amor, ela começou a desenvolver os primeiros sintomas da cruel depressão que iria lhe acompanhar por toda a vida.
howard hughes e gene

Convidada para estrelar o clássico de aventura “Mogambo / Idem” (1953), terminou sendo substituída por Grace Kelly, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel de Linda Nordley. Com suspeita de esquizofrenia e depressão suicida, inconformada com o fracasso de seus relacionamentos, GENE TIERNEY foi internada em 1957 em uma instituição psiquiátrica, de onde só saiu três anos depois. Segundo a própria atriz, esteve “às portas da loucura”. Passou por diversos tratamentos de choque. Tais fatos fizeram com que não participasse de nenhuma produção cinematográfica no período de 1955 a 1961. Em 1959, ainda frágil, aceitou o papel principal na comédia “Amantes em Férias / Holiday for Lovers” (1959). No entanto, devido a um colapso nervoso, ela foi forçada a deixar a produção da Fox, sendo substituída por Jane Wyman, e foi novamente internada.

Em busca de uma vida tranquila, GENE TIERNEY casou-se em 1960 com um barão do petróleo texano, W. Howard Lee, ex-marido de Hedy Lamarr, com quem viveu até a morte deste em fevereiro de 1981. Durante o casamento sofreu um aborto espontâneo. Em 1962, retornou às telas no magnífico drama político “Tempestade Sobre Washington”, direção de Otto Preminger, aparecendo ainda em três outros filmes e alguns episódios de séries de TV, sendo o último, “Escrúpulos / Scruples”, em 1980. Ela foi uma republicana convicta e uma forte defensora de Richard Nixon e Ronald Reagan. Considero uma grande diva. Uma das minhas favoritas.



10 FILMES de GENE TIERNEY
(por ordem de preferência)

01
LAURA
(Idem, 1944)

direção de Otto Preminger
elenco: Dana Andrews, Clifton Webb, Vincent Price
e Judith Anderson

02
AMAR FOI a MINHA RUÍNA
(Leave Her to Heaven, 1945)

direção de John M. Stahl
elenco: Cornel Wilde, Jeanne Crain e Vincent Price

03
O FANTASMA APAIXONADO
(The Ghost and Mrs. Muir, 1947)


direção de Joseph L. Mankiewicz
elenco: Rex Harrison, George Sanders, Edna Best
e Natalie Wood

04
O DIABO disse NÃO
(Heaven Can Wait, 1943)

direção de Ernst Lubitsch
elenco: Don Ameche, Charles Coburn, Marjorie Main,
Laird Cregar, Signe Hasso e Louis Calhern

05
SOMBRAS do MAL
(Night and the City, 1950)

direção de Jules Dassin
elenco: Richard Widmark e Hugh Marlowe

06
O FIO da NAVALHA
(The Razor's Edge, 1946)

direção de Edmund Goulding
elenco: Tyrone Power, John Payne, Anne Baxter,
Clifton Webb, Herbert Marshall e Elsa Lanchester

07
PASSOS na NOITE
(Where the Sidewalk Ends, 1950)

direção de Otto Preminger
elenco: Dana Andrews, Gary Merrill e Karl Malden

08
A LADRA
(Whirlpool, 1950)

direção de Otto Preminger
elenco: Richard Conte, José Ferrer e Charles Bickford

09
TEMPESTADE sobre WASHINGTON
(Advise & Consent, 1962)

direção de Otto Preminger
elenco: Franchot Tone, Lew Ayres, Henry Fonda,
Walter Pidgeon, Charles Laughton, Don Murray,
Peter Lawford e Burgess Meredith

10
O EGÍPCIO
(The Egyptian, 1954)

direção de Michael Curtiz
elenco: Jean Simmons, Victor Mature, Michael Wilding,
Bella Darvi, Peter Ustinov e Edmund Purdom

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fevereiro 18, 2019

***** OMAR SHARIF: ERA uma vez DOUTOR JIVAGO



Altura: 1,80 cm
Cabelos: negros
Olhos: negros

ANTONIO NAHUD entrevista OMAR SHARIF em Madri, Espanha, 2003. Publicada no jornal “A Tarde” (BA) e no livro “ArtePalavra – Conversas no Velho Mundo” (2003)
jornal “a tarde”

Nascido Michel Demetri Shalhoub em Alexandria, no Egito, em 1932, o ator sempre teve uma vida confortável e privilegiada. O pai era um rico comerciante do setor madeireiro e amigo do rei Farouk. Ele formou-se em matemática e física na Universidade do Cairo e depois foi estudar arte dramática na Royal Academy, em Londres. Mudou seu nome quando iniciou a carreira artística ainda no Egito, há mais de meio século, e com ele alcançou popularidade mundial interpretando títulos legendários como “Lawrence da Arábia” (1962), “Doutor Jivago” (1965) ou “Funny Girl: a Garota Genial” (1968).

Aos 72 anos, o eterno galã regressa ao cinema em grande estilo no longa “Uma Amizade sem Fronteiras / Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran, do francês François Dupeyron, encarnando com rara sensibilidade um pequeno comerciante muçulmano que se torna amigo de um menino judeu pobre em um bairro de bordéis de Paris. “É um filme sensível e inteligente”, disse OMAR SHARIF, falando perfeitamente espanhol, durante o lançamento da produção na Espanha,

O  ator egípcio partiu o coração de milhares de mulheres nas décadas de 60 e 70, e ainda preserva o charme, o encanto e os olhos apaixonantes dos seus tempos de glória. Nessa concorrida coletiva de imprensa, ele falou com sinceridade sobre sua vida pessoal e profissional, abordando aspectos polêmicos como seu vício em jogo de bridge.

Amante de mulheres fantásticas como Ingrid Bergman, Maria Callas, Olivia de Havilland, Julie Andrews e um largo etcétera, atualmente vive sozinho em um quarto de hotel em Paris. Por que esta reclusão que contradiz seu poder de sedução?

Desde que me divorciei em 1968, não voltei a amar, não tive mais vontade de casar. Sem amor, prefiro viver sozinho. Claro que tenho pequenas aventuras, mas nada que me comprometa. Vou  a uma discoteca e encontro uma garota adorável, ficamos juntos uma noite e está ótimo. Nem ao menos convido para meu quarto de hotel. Tenho medo que ponha os pés em minha moradia e não volte a sair.

Por que vive em um hotel?

Não há nada melhor para um solitário do que viver em um hotel. Ganhei muito dinheiro, mas nunca liguei para essas coisas que movem a humanidade. Não tenho casas, não tenho carros... não me interessam. As pessoas me interessam.

Como traduz sua conhecida paixão pelo luxo e pelo jogo, principalmente o bridge?

Não são tão importantes em minha vida assim como dizem. Como sou sozinho, chego a um lugar e não sei bem o que fazer, então vou ao cassino. Tenho uma relação estranha com o dinheiro, porque ganhei muito sem compreender bem o motivo de tanto dinheiro, e para evitar problemas de consciência procuro gastá-lo. Nunca entendi porque me pagam tão bem. Ninguém merece ganhar tanto. Por isso me transformei em jogador, não para ganhar dinheiro, mas para perdê-lo. Também vivo bem quando não tenho dinheiro. Compro um sanduíche e vou para a cama. Tendo dinheiro me sinto na obrigação de gastá-lo.

É atraente e provoca paixões arrebatadoras. Pauline Kael, a rígida crítica de cinema do “The New York Times”, tinha razão ao defini-lo como o “próprio amor andando”. Como traduziria esse simbolismo sexual que deu a volta ao mundo?

É pura invenção do cinema. Sou apenas um sujeito que nasceu no Egito e tem um caráter oriental. Sou melodramático, gosto de abraçar, cantar, conversar, não tenho medo de chorar. Gosto de acordar ao meio-dia, ir a ópera, teatro, corridas de cavalos, fazer palavras cruzadas. O resto é mito.

Um mito surgido no clássico “Doutor Jivago”?

Fiz mais de 90 filmes e sou sempre lembrado por “Doutor Jivago”. A verdade é que não sou grande admirador desse drama muito sentimental. Está mais para o público feminino. Um pouco como “...E o Vento Levou”, uma história romântica com o drama de uma guerra civil como pano de fundo. É uma grande história de amor muito romântica para mim. A música é insuportável.

Prefere “Lawrence da Arábia”?

Grande filme, Merece estar em todas as listas dos melhores filmes da história do cinema, mas tampouco suporto me ver nele. Talvez uma ou outra cena, nada mais.

Como foi a experiência com David Lean e com a Lara de “Doutor Zhivago”, Julie Christie?

Não me recordo. Não pense que estou sendo grosseiro, apenas não sou capaz de recordar-me nada que tenha a ver com o passado. Decidi que o passado não existe. Apaguei tanto as coisas boas como as ruins. Vivo o aqui e o agora. Recordações e sentimentalismo são emoções negativas, eu sou uma pessoa positiva.

Não lembra dos altos e baixos da sua longa carreira como ator?

O que posso dizer é que sempre fui um homem de sorte. Nasci numa família com dinheiro, nunca tive enfermidades, fui nominado ao Oscar com o meu primeiro filme em inglês, ganhei três Globos de Ouro, sempre vivi de acordo com meus princípios e tive um filho adorável.

Fala muitos idiomas, embora com um irresistível sotaque “Ali Babá”.  Ele limitou sua carreira?

Fiz alemães, príncipe austríaco, russo e tudo mais que você possa imaginar. O sotaque sempre deu a impressão de um ator sem nacionalidade definida. Ele é estranho, não revela de onde venho. Quando era jovem e uma estrela, escreviam papéis para mim. Agora sou um ancião, a coisa é bem diferente.

Depois de cinco anos sem filmar voltou por cima com “Uma Amizade sem Fronteiras”, ganhando o prêmio César de Melhor Ator. Como explica esse regresso?

Nos últimos vinte anos fiz muitos filmes ruins e queria resgatar a dignidade, ganhar o respeito dos netos. Decidi que não voltaria a trabalhar, exceto se me oferecessem um bom roteiro. Chegou o deste filme e eu chorei ao lê-lo. Fala de solidão, tolerância, amor ao próximo independente de religião ou crença. O senhor Ibrahim está próximo do meu coração. Eu sou assim: minha religião é amar ao próximo. Cada manhã levanto da cama disposto a querer o bem. Nunca fiz mal a ninguém. Posso odiar uma pessoa que me trata mal, mas jamais odiaria alguém por ser negro, muçulmano ou judeu.

Vivemos tempos duros e fúteis, um filme sobre o diálogo entre culturas diferentes é sempre bem vindo.

Infelizmente, na vida real ultrapassamos o limite e já não há possibilidade de diálogo. A democracia não mais existe. Os lobbies mais poderosos empurram seus representantes para o poder e estes garantem os interesses de quem os colocou lá. Onde está a democracia? Tudo me parece corrupto.

Quais os seus planos para o futuro?

Não sei se vou viver muito tempo, portanto vivo cada momento como se fosse o último. Nos próximos meses pretendo rodar três filmes. Um deles é uma versão de “O Velho e o Mar”, de Ernest Hemingway.


10 FILMES de OMAR SHARIF
(por orden de preferencia)

01
DOUTOR JIVAGO
(Doctor Zhivago, 1965)

direção: David Lean
elenco: Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiger,
Alec Guinness, Tom Courtenay, Siobhan McKenna,
Ralph Richardson, Rita Tushingham e Klaus Kinski

02
LAWRENCE da ARÁBIA
(Lawrence of Arabia, 1962)

direção: David Lean
elenco: Peter O'Toole, Alec Guinness, Anthony Quinn,
Jack Hawkins, José Ferrer, Anthony Quayle,
Claude Rains e Arthur Kennedy

03
A QUEDA do IMPÉRIO ROMANO
(The Fall of the Roman Empire, 1964)

direção: Anthony Mann
elenco: Sophia Loren, Stephen Boyd, Alec Guinness,
            James Mason, Christopher Plummer, Anthony Quayle,
            John Ireland e Mel Ferrer

04
A NOITE dos GENERAIS
(The Night of the Generals, 1967)

direção: Anatole Litvak
elenco: Peter O'Toole, Tom Courtenay, Donald Pleasence,
Philippe Noiret, Christopher Plummer e Juliette Gréco

05
A VOZ do SANGUE
(Behold a Pale Horse, 1964)

direção: Fred Zinnemann
elenco: Gregory Peck, Anthony Quinn, Raymond Pellegrin,
Paolo Stoppa, Mildred Dunnock e Christian Marquand

06
FUNNY GIRL: a GAROTA GENIAL
(Funny Girl, 1968)

direção: William Wyler
elenco: Barbra Streisand, Kay Medford, Anne Francis
e Walter Pidgeon

07
Os POSSESSOS
(Les Possédés, 1988)

direção: Andrzej Wajda
elenco: Isabelle Huppert, Jutta Lampe, Bernard Blier,
Laurent Malet e Lambert Wilson

08
Uma AMIZADE sem FRONTEIRAS
(Monsieur Ibrahim et les Fleurs du Coran, 2003)

direção: François Dupeyron
elenco: Pierre Boulanger e Isabelle Adjani

09
O ENCONTRO
(The Appointment, 1969)

direção: Sidney Lumet
elenco: Anouk Aimée e Lotte Lenya

10
FELIZES para SEMPRE
(C'era una Volta, 1967)

direção: Francesco Rosi
elenco: Sophia Loren, Georges Wilson e Dolores del Rio


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