maio 25, 2016

........... O GLAMOUR do CINE CLÁSSICO em CANNES




Fotos: VICENTE DESAILLY

O talento do fotógrafo francês Desailly em imagens oníricas no tapete vermelho do Festival de Cinema de Cannes, na França, em 2015 e 2016. Ele captura momentos de sofisticação, beleza, poesia. Uma série de magníficas fotografias em preto e branco. Composições monocromáticas que dão um toque de glamour hollywoodiano, realçando a essência cintilante do universo das estrelas cinematográficas, de ontem e de sempre.

2015

COLIN FARRELL

EVA LONGORIA

JANE FONDA

VINCENT CASSELL

MÉLANIE THIERRY

MATTHEW McCONAUGHEY e NAOMI WATTS

SIENNA MILLER e XAVIER DOLAN

ROONEY MARA e CATY BLANCHETT

SALMA HAYEK

SEAN PENN e CHARLIZE THERON

EMMA STONE

JACK GYLLENHAAL

MÉLANIE LAURENT e PIERRE NINEY

CÉCILE CASSEL



2016




JUSTIN TIMBERLAKE

MATT BOMER e RYAN GOSLING

WOODY ALLEN, KRISTEN STEWART e JESSE EISENBERG

DOUTZEN KROES

JESSICA CHASTAIN

VANESSA PARADIS

KRISTEN STEWART

EVA LONGORIA

NAOMI WATTS e SUSAN SARANDON

BLAKE LIVELY

STEVEN SPIELBERG

GEORGE CLOONEY

KENDALL JENNER

MARION COTILLARD

MARION COTILLARD e colegas de “Juste la Fin du Monde”

JESSICA CHASTAIN

JODIE FOSTER

maio 14, 2016

******************* AVASSALADORA ANNA MAGNANI



A persona de ANNA MAGNANI (1908 - 1973) é avassaladora, graças a sua aparência expressiva, seu modo visceral de atuar, e os melodramas associados a sua vida pessoal, de tal modo que sua imagem ultrapassa em muito as narrativas cinematográficas nas quais apareceu. Representa força emocional, desafio diante da adversidade, exuberância e vitalidade. Nos palcos ou nas telas, em comédias ou dramas, fez como ninguém o tipo da mulher suburbana, apaixonada, autêntica e maternal. Foi uma das maiores atrizes que a Itália já conheceu, considerada o rosto do Neo-realismo e o estereótipo perfeito da “mamma” italiana. 

Grande estrela durante mais de três décadas, ela não tem a beleza convencional e o glamour associados frequentemente ao termo. Ligeiramente gordinha, pequena (1,60 m), voz rouca, rosto expressivo emoldurado por cabelos negros despenteados, nariz aquilino, riso espontâneo, olhos profundos e olheiras marcantes. Ela não é uma atriz comum, é mais uma força da natureza, incontrolável, magnífica, temperamental. Nela, tudo é excessivo, impactante, vulcânico, latino, inclusive sua inteligência política e preocupação social. 

Conhecida como “La Magnani” ou “Nannarella”, ainda hoje é considerada pelos italianos como o maior talento dramático desde Eleonora Duse. Ela segue a trilha aberta por Francesca Bertini, atriz do cinema mudo que possuía uma amplitude emocional que a permitia mudar de estilo e registro, passeando com extrema facilidade da comédia ao drama realista, do melodrama à tragédia. Nascida filha ilegítima em Roma, na Itália, abandonada pela mãe e criada por uma avó, aos 16 anos ANNA MAGNANI estuda na Academia de Arte Dramática de Roma. Aos 17, ainda no curso, para se manter, passa a cantar baladas picantes num cabaré de segunda classe. Em 1928, faz uma pequena figuração no filme “Scampolo”, trabalhando no teatro nos anos seguintes, onde estrela musicais, comédias e melodramas.

“La Magnani é a quintessência da Itália, e também a personificação do teatro mais abrangente, o verdadeiro teatro. Eu sou grato por ela ter simbolizado no meu filme todas as atrizes do mundo.” 
Jean Renoir

la magnani e o filho luca
Em San Remo, conhece o cineasta fascista Goffredo Alessandri, casando-se com ele em 1933. Um relacionamento atormentado, marcado por cenas de ciúmes por parte da atriz, culminando na separação em 1942 e, finalmente, no divórcio em 1950. Por influência do marido, consegue papéis simpáticos no cinema. Em 1952 voltam a trabalhar juntos em Anita Garibaldi, mas os aborrecimentos da temperamental diva faz com que o diretor abandone as filmagens. O filme é concluído por Francesco Rosi. Antes, nos anos da Segunda Guerra Mundial, enquanto a Itália sofre, ANNA MAGNANI divide a ribalta com o famoso comediante Totó, viajando com ele por toda a Itália. Em 1942 dá à luz a seu único filho, Lucas, fruto de um rápido relacionamento com o ídolo das matinês Massimo Serato, que a abandona quando ela fica grávida. O filho seria vítima da paralisia infantil.

Luchino Visconti queria que a atriz participasse de seu filme de estreia “Obsessão / Obsessione”, de 1943. Ela estava grávida de cinco meses, mas desejava tanto o papel que tentou esconder a gravidez. Quando Visconti descobriu, ela continuou mentindo, dizendo ter apenas dois meses de gravidez. Por fim, ele decidiu que ela seria substituída por Clara Calamai, levando a atriz às lágrimas. No entanto, a celebridade de ANNA MAGNANI foi conquistada pouco depois, como Pina, uma viúva grávida numa Roma dominada pelos nazistas na obra-prima neo-realista “Roma, Cidade Aberta” (1945), de Roberto Rossellini. A cena da sua morte continua sendo um dos momentos mais devastadores do cinema. Apaixonada por Rossellini, um ex-playboy drogado cuja amante era uma atriz alemã nazista, ela novamente vive uma tumultuada história de amor, que termina quando ele conhece Ingrid Bergman e a deixa de lado, publicamente aos prantos. O impacto do drama de guerra lhe abre as portas para uma carreira internacional. Em 1950, a revista Life declara que La Magnani é “uma das atrizes mais impressionantes desde Garbo”.

O famoso caso Guerra dos Vulcões (Magnani-Rossellini-Bergman) começa em maio de 1948: Rossellini recebe uma carta de Hollywood, a atriz Ingrid Bergman diz que é uma fã de seu trabalho e gostaria de fazer um filme com o cineasta – segue-se uma chuva de telegramas entre a Itália e a Califórnia. A seguir, o cineasta voa para Los Angeles e assina com Ingrid o contrato para filmar “Stromboli / Idem” (1950). Irritada, ANNA MAGNANI aceita atuar em “Vulcano / Idem”, filme norte-americano em competição direta com “Stromboli” (1950), dirigido por William Dieterle e realizado em Vulcano, uma ilha ao sul de Stromboli. Rossellini e Ingrid se apaixonam. Numa explosão de raiva, La Magnani derrama um prato de macarrão na cabeça de Rossellini. O escândalo navega nas manchetes mundiais, e os fãs de cinema se dividem, uma metade apoiando a atriz italiana, enquanto a outra apoia a sueca. A pré-estreia de “Vulcano” é perturbada pelas notícias dando conta do nascimento do filho de Ingrid, acontecimento que eclipsa completamente o filme; avisada, La Magnani não comparece ao evento.

“Com o devido respeito a todas as outras com quem trabalhei, ela era uma atriz única, uma mulher de grandeza e inteligência incomparáveis. E generosidade! Acredite em mim, Magnani foi uma gigante”
Marcello Mastroianni

la magnani e roberto rossellini
Cativado pela sua vivacidade e presença, o famoso dramaturgo norte-americano Tennessee Williams dedica-lhe a peça “A Rosa Tatuada”. O inglês deficiente da atriz italiana não permite interpretar o personagem na Broadway, mas na hora de rodar o filme aceita o convite para protagonizar a adaptação cinematográfica, empolgando a crítica numa poderosa e enérgica interpretação. Na pele de Serafina Delle Rose, uma viúva siciliana cortejada por um caminhoneiro (Burt Lancaster, belo e muito engraçado), em um típico bairro italiano nos EUA, que reverencia neuroticamente a memória do marido. Sensual, nos faz rir e chorar.

Na noite dos Oscar, ela surpreende ao vencer as favoritas Katherine Hepburn e Susan Hayward, arrecadando o galardão de Melhor Atriz. Não comparece à cerimônia por considerar que não tinha a menor chance de ganhar. Estava dormindo na hora da cerimônia, sendo acordada por um repórter italiano, que lhe deu a notícia. Torna-se a primeira italiana a ganhar o Oscar. Com o mesmo filme arrebata o BAFTA, o Globo de Ouro e o Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York de Melhor Atriz. Repete a nomeação ao Oscar dois anos depois em “A Fúria da Carne”, ao lado de Anthony Quinn, levando o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim.

“O neorrealismo começou a emergir através das criações espontâneas
dos    atores,   especialmente   Anna   Magnani   e   Aldo    Fabrizi”
Roberto Rossellini

tennessee williams 
e la magnani
Ela recusa o papel principal de “Duas Mulheres / La Ciociara” (1960), planejado para George Cukor. Sophia Loren faria sua filha. Sem a presença de ANNA MAGNANI, Cukor deixa o projeto e é substituído por Vittorio De Sica. Sophia troca os personagens, levando o Oscar. Após o fracasso de “Vidas em Fuga / The Fugitive Kind” (1960), onde faz par romântico com Marlon Brando, La Magnani procura concentrar as suas energias no teatro italiano (dirigida entre outros por Franco Zefirelli). Intercala peças de prestígio com aparições em filmes emblemáticos, como a pérola “Mamma Roma” (1962), de Pier Paolo Pasolini, encarnando o papel-título, uma madura prostituta que faz de tudo para que seu filho tenha uma boa vida. Ela não mede esforços e deposita nele todos os seus anseios. Enquanto isso, o garoto quer apenas vagabundear com os amigos. Numa relação à flor da pele com o talentoso Pasolini, ele se arrepende de tê-la convidado para o filme, mas a produção alcança extraordinário sucesso de público e crítica, especialmente na França, e ela ganha a Taça Volpi de Melhor Atriz no Festival de Veneza. Havia levado o mesmo prêmio em 1947, por “Angelina, a Deputada”.

Atua em diversos e significativos filmes para a televisão. Nessa época, estrela a superprodução “O Segredo de Santa Vitória / The Secret of Santa Vittoria” (1969), ao lado de Anthony Quinn. Nos bastidores, os atores brigam furiosamente, inclusive fisicamente. Sua última aparição no cinema foi como ela mesma, sob as ordens do velho amigo Federico Fellini no autobiográfico “Roma de Fellini / Roma”, de 1972, onde ela se despede de forma característica com um “Ciao, Federico, va dormire va”. Em 1973, ANNA MAGNANI morre com a idade de 65 anos, após uma longa batalha contra o câncer de pâncreas. Ao seu lado, seu filho Lucas e Roberto Rossellini. 

“Considerava Magnani simpática, a admirava, mas desconfiava daquele ar sombrio de rainha dos ciganos, dos longos olhares silenciosos, inquisitivos, das risadas roucas nos momentos mais inesperados. Parecia sempre ressentida, entediada, altiva. E, no entanto, era uma garotinha tímida que atrás do aspecto ameaçador, agressivo, escondia uma ingenuidade, um pudor selvagem, um entusiasmo travesso e o sentimento forte, repleto, de uma verdadeira mulher, daquelas que se gostaria de encontrar mais vezes”
Federico Fellini

la magnani e o oscar
Seu funeral em Roma, onde ela falece, um esmagador tributo à estrela, no qual personalidades e grandes multidões prestam homenagem à atriz e ao mundo que ela representa. Provoca uma enorme comoção, parando o país. Roma sai às ruas para acompanhar seu enterro e louvar a atriz que, afinal de contas, é o próprio símbolo de sua terra. Para ela foi dedicada uma cratera de 26 km de diâmetro no planeta Vênus. Antes, quando a bordo da nave Vostok 1, em abril de 1961, o cosmonauta soviético - o primeiro homem a viajar pelo espaço - Yuri Gagarin, ao fazer a rotação em volta da Terra, disse: “Saúdo a irmandade dos homens, o mundo das artes, e Anna Magnani.”


ANNA MAGNANI em DEZ FILMES
(por ordem de preferência)

01
MAMMA ROMA
(Idem,1962)

direção de Pier Paolo Pasolini
Elenco: Ettore Garofolo e Franco Citti

02
ROMA, CIDADE ABERTA
(Roma Città Aperta, 1945)

direção de Roberto Rossellini
Elenco: Aldo Fabrizi e Marcello Pagliero

03
O AMOR
(L'Amore, 1947)

direção de Roberto Rossellini
Elenco: Federico Fellini

04
BELÍSSIMA
(Bellissima, 1951)

direção de Luchino Visconti
Elenco: Walter Chiari e Tina Apicella

05
A CARRUAGEM de OURO
(Le Carrosse d'Or, 1952)

direção de Jean Renoir
Elenco: Odoardo Spadaro

06
A FÚRIA da CARNE
(Wild Is the Wind, 1957)
 

direção de George Cukor
Elenco: Anthony Quinn, Anthony Franciosa e Joseph Calleia

07
INFERNO na CIDADE
(Nella Città l'inferno, 1959)

direção de Renato Castellani
Elenco: Giulietta Masina, Renato Salvatori e Saro Urzi

08
A ROSA TATUADA
(The Rose Tattoo, 1955)

direção de Daniel Mann
Elenco: Burt Lancaster e Marisa Pavan

09
ANGELINA, a DEPUTADA
(L'onorevole Angelina, 1947)

direção de Luigi Zampa
Elenco: Nando Bruno e Ave Ninchi

10
ANITA GARIBALDI
(Camicie Rosse, 1952)

direção de Goffredo Alessandrini e Francesco Rosi
Elenco: Raf Vallone, Alain Cuny, Jacques Sernas
e Serge Reggiani

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