abril 13, 2020

********** O TRISTE FIM de uma QUASE ESTRELA



Altura: 1,63 m
Cabelos: loiros
Olhos: castanhos


Ao assistir “Vítimas do Terror”, drama intenso de 1938, fiquei encantado com a atriz que interpreta a esposa grávida do mocinho George Brent. Uma beldade platinum blonde com um notável porte de estrela, estilo Carole Lombard, Alice Faye ou Jean Harlow. Nunca tinha visto um filme seu, nada sabia sobre ela. Curioso, pesquisei e sua história me surpreendeu: filha de uma rica família, fez sucesso no primeiro filme, capa de inúmeras revistas, atuou em 23 filmes e decaiu rapidamente, morrendo aos 28 anos de idade. Confira a impressionante e triste trajetória de GLORIA DICKSON (1917 – 1945. Pocatello, Idaho / EUA).

Na infância, ela se apegou firmemente ao pai dedicado, um banqueiro que amava as atividades ao ar livre, costumando levar a filha às montanhas, onde cavalgavam e pescavam trutas. À noite, durante horas, liam biografias, literatura clássica e peças de teatro. Ele a incentivava a se tornar atriz, aconselhando: “Se mantiver seus ideais de fazer peças de qualidade e manter os pés no chão, irá longe”. Em 1929, com a morte súbita do pai, ela se viu desamparada e procurou superar a tristeza dedicando-se integralmente ao teatro amador.

Encorajada por professores de arte dramática, apresentou-se em clubes e estações de rádio. Em 1935, membro do grupo Hart Players, apareceu em diversos tipos de peças, de Shakespeare a textos modernos. Em 1936, enquanto trabalhava numa delas, foi vista por um caçador de talentos da Warner Brothers, que a contratou. Sua estreia no cinema, aos 19 anos, em “Esquecer, Nunca!”, foi um êxito, rendendo enorme publicidade. O crítico do “Times”, Frank Nugent, achou a película perfeita: “um drama social brilhante contra a intolerância e o ódio”. Os elogios destacaram todos os envolvidos, do diretor aos atores. De uma hora para outra, GLORIA DICKSON estava na capa de inúmeras revistas e tornou-se tema de artigos de cinema com títulos como “A Garota mais Sortuda do Mundo” ou “A Estrela do Ano”.

Sua performance fascinante no filme de estreia levou a previsões de estrelato. Proclamada como uma das mais promissoras jovens atrizes de Hollywood da época, sua estrela cintilou e logo se apagou, vítima de filmes inferiores, escolhas ruins e vida privada tempestuosa. Inicialmente, convidada para filmar em outros estúdios e até recebendo propostas da Broadway, ela tinha esperanças em vencer no mundo cinematográfico. No entanto, decepcionada com os papéis que era escalada, quase sempre em filmes B, percebeu que não teria oportunidade de crescer como atriz.

No primeiro dia na Warner conheceu o famoso maquiador Perc Westmore. As faíscas românticas entre eles logo se transformaram em um relacionamento sério. Sua influência sobre GLORIA DICKSON seria muito forte nos anos seguintes. Casaram-se em junho de 1938. A princípio, a união parecia ideal, pois pareciam ter hobbies e interesses parecidos. Perc levava a esposa ao camping e a pesca em alto mar, compartilhando seu amor pela natureza. Um notório festeiro e mulherengo, ele logo se revelou controlador e extremamente ciumento.

Enamorada, ela cedeu à insistência do marido, que queria que fosse mais glamorosa e fizesse uma plástica no nariz. Não deu certo. O procedimento cirúrgico maculou sua aparência. Em 1939, a atriz rodou seis filmes e apenas um deles tinha algum interesse: “Tornaram-me um Criminoso”, ao lado do excelente John Garfield. Embora a performance dinâmica do ator domine a cena, ela tem alguns bons momentos. No ano seguinte, insatisfeita, resolve não renovar seu contrato, percebendo dolorosamente que sua carreira estava em ruínas.

Na vida íntima, seu casamento estava em frangalhos. Ela questionava as orientações e interferências de Perc. Além disso, o marido bebia demais e ela passou a ter o mesmo hábito. O casal vivia bebendo e brigando. Em junho de 1940, o relacionamento chegou oficialmente ao fim. Mas os anos de união conjugal haviam afetado GLORIA DICKSON tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Ela engordou e vivia ébria. Durante as filmagens do fraco “Mania do Divórcio / I Want a Divorce” (1940), envolve-se com o diretor Ralph Murphy e se casa com ele. Outro matrimônio infeliz. 22 anos mais velho, como Perc ele era festeiro e infiel.

Os problemas pareciam inevitáveis. Já em 1942, ciente de que seu segundo casamento estava condenado, esforçou-se para recuperá-lo, mas sem sucesso. Terminaram nos tribunais, ele sendo acusado de crueldade mental. Durante o processo judicial, ela bradou: “Ralph fica fora de casa quatro ou cinco dias, dificultando o nosso casamento. Ele me disse que não me ama e não é feliz”. Em 1944, nas filmagens do seu último trabalho, na Metro-Goldwyn-Mayer, conhece um ex-boxeador e guarda-costas, William Fitzgerald, e se casa mais uma vez. Foram felizes durante uns poucos meses juntos.

Faria cinco filmes entre 1942-1945, nenhum dos quais traria de volta o status de atriz principal. A demanda pelos seus serviços havia diminuído drasticamente. Os rumores sobre o consumo excessivo de álcool fizeram com que produtores tivessem dúvidas em contratá-la. A refrescante beleza que tanto impressionara Hollywood foi substituída por uma mulher amarga e mundana. Ainda na casa dos vinte anos, GLORIA DICKSON, desempregada e com excesso de quilos, parecia pelo menos uma década mais velha e não conseguia superar o alcoolismo.

No verão de 1944, o casal Fitzgerald alugou uma grande casa na encosta de West Hollywood, com vista para a Sunset Strip. Era um lar incomum, com janelas grandes no térreo e outras minúsculas no andar de cima, a 6 metros do solo. Numa terça-feira, 10 de abril de 1945, a atriz deveria se encontrar com seu agente, Leon Lance, para discutir projetos cinematográficos. Ela acreditava que faria um bom filme, revitalizando sua filmografia. Poucas semanas antes, a popular colunista de cinema Louella Parsons anunciara: “Gloria Dickson, que começou de forma tão promissora, perdeu quilos e está pronta para retornar à tela”. No entanto, nunca mais filmaria.

Neste mesmo dia, morreria em um incêndio na sua casa, causado por um cigarro deixado aceso que caiu numa cadeira estofada, enquanto estava no andar de cima. Seu corpo e o do seu cachorro boxer foram encontrados no banheiro, e supõe-se que tentou escapar pela pequena janela do local, mas acabou asfixiada pela fumaça e sofrendo queimaduras de primeiro e segundo graus em todo o corpo. A polícia acredita que GLORIA DICKSON deve ter passado uma hora trancada no banheiro à espera do resgate.

Quando a tragédia a matou, com a idade de 28 anos, poucos se lembravam dela. Estava em decadência e se deprimia em papéis medíocres. O viúvo apaixonado teria uma vida curta. Morreu em 1958 por complicações de doenças venéreas, na penitenciária de Nebraska, aos 47 anos, depois de passar cheques sem fundo. Seu corpo foi enterrado no cemitério da prisão.

gloria e john payne

DEZ FILMES de GLORIA DICKSON

01
ESQUECER, NUNCA!
(They Won't Forget, 1937)

Direção de Mervyn LeRoy
Elenco: Claude Rains, Edward Norris e Lana Turner

02
CAVADORAS em PARIS
(Gold Diggers in Paris, 1938)

Direção de Ray Enright
Elenco: Rudy Vallee e Rosemary Lane

03
VÍTIMAS do TERROR
(Racket Busters, 1938)

Direção de Lloyd Bacon
Elenco: Humphrey Bogart e George Brent

04
SEGREDOS de uma ATRIZ
(Secrets of an Actress, 1938)

Direção de William Keighley
Elenco: Kay Francis e George Brent

05
TORNARAM-ME um CRIMINOSO
(They Made Me a Criminal, 1939)

Direção de Busby Berkeley
Elenco: John Garfield e Claude Rains

06
DANÇARINA RUSSA
(On Your Toes, 1939)

Direção de Ray Enright
Elenco: Vera Zorina, Eddie Albert e Alan Hale

07
ISTO é AMOR
(This Thing Called Love, 1940)

Direção de Alexander Hall
Elenco: Rosalind Russell, Melvyn Douglas e Binnie Barnes

08
A MORTE DIRIGE o ESPETÁCULO
(Lady of Burlesque, 1943)

Direção de William A. Wellman
Elenco: Barbara Stanwyck, Michael O'Shea

09
DILEMA de MÉDICO
(The Crime Doctor's Strangest Case, 1943)

Direção de Eugene Forde
Elenco: Warner Baxter e Lynn Merrick

10
RATIONING
(Idem, 1944)

Direção de Willis Goldbeck
Elenco: Wallace Beery e Marjorie Main

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