junho 29, 2018

************************ RACISMO em HOLLYWOOD

eartha kitt

No princípio da história do cinema, os atores negros eram excluídos das telas. A discriminação racial constrangedora resultava em um tratamento ofensivo. O épico “O Nascimento de Uma Nação / The Birth of a Nation” (1915), do pioneiro D.W. Griffith, considerado uma obra capital no desenvolvimento da sétima arte, responsável pela estrutura do cinema moderno tal como ele é hoje, apresenta conteúdo despudoradamente racista, enaltecendo a Ku Klux Klan, sinistra organização criada para aterrorizar e trucidar negros que viviam no Sul dos Estados Unidos. Anos depois, o cineasta admitiria que o filme “cria um sentimento de repulsa em pessoas brancas, especialmente mulheres brancas, contra os homens de cor”.

Na época, os personagens negros eram interpretados por brancos pintados de preto. A partir dos anos 1920, quando a defesa dos direitos humanos proliferou nos EUA, os atores negros começaram a aparecer com frequência, embora desempenhando pequenos papéis, geralmente criados, escravos, vagabundos, músicos ou figuras engraçadas. De relevante nesta fase, dois musicais, ambos com elenco totalmente negro: o célebre “Aleluia / Hallelujah” (1929), de King Vidor, e “Uma Cabana no Céu / Cabin in the Sky” (1943), de Vincente Minnelli, que revelou a bela e talentosa Lena Horne. De realmente importante na luta contra o racismo aconteceu em 1939, quando Hattie Mc Daniel ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua simpática Mammy em “... E o Vento Levou / Gone with the Wind”. Foi uma vitória histórica.

harry belafonte e dorothy dandridge
em “carmen jones”
A Segunda Guerra Mundial permitiu mudanças na sociedade. O negro passou a ser representado como valente soldado, como no documentário produzido pelo exército norte-americano “The Negro Soldier” (1944), de Stuart Heisler. No final dos anos 1940 e nos 1950, surgiram vigorosos libelos cinematográficos contra o racismo, entre eles “O Mundo Não Perdoa / Intruder in the Dust” (1949) de Clarence Brown, “O Que a Carne Herda / Pinky” (1949) de Elia Kazan, “O Clamor Humano / Home of the Brave” (1949) de Mark Robson, e “Acorrentados / The Defiant Ones” (1958) de Stanley Kramer. Os personagens negros deixaram de serem figuras subservientes ou de segundo escalão, dando espaço para as grandes estrelas Dorothy Dandridge e Sidney Poitier.

Dandridge afirmava que a cor de sua pele era sempre levada em conta quando se pensava em seu nome para um papel importante. Ela confessou sua frustração por ser obrigada a convencer os estúdios de sua capacidade como atriz, somente pelo fato de ser negra. Poitier, que foi o primeiro negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, em sua autobiografia revela o constrangimento sofrido para conseguir um dos papéis principais de “Adivinhe Quem Vem Para jantar / Guess Who's Coming to Dinner, uma comédia que questiona preconceitos raciais. Ele foi convidado a jantar com os atores Spencer Tracy e Katharine Hepburn, protagonistas do filme sobre um negro que namora uma branca. Seus anfitriões fizeram, ao vivo, um teste para saber suas habilidades em uma “reunião social de brancos”. Até Tracy e Hepburn, conhecidos como artistas sem preconceitos, preferiram não assumir riscos em suas vitoriosas carreiras.

FONTE
Slow Fade to Black: The Negro in Americam Film, 1900 - 1942, de Thomas Cripps

SETE GRANDES ATRIZES NEGRAS

CICELY TYSON
(Nova Iorque, EUA. 1933)

Indicada ao Oscar de Melhor Atriz graças à sua performance no drama “Lágrimas de Esperança / Sounder” (1972), também se consagrou por “O Pássaro Azul / The Blue Bird” (1976) e a minissérie de grande sucesso “Raízes / Roots”, produzida em 1977 pela ABC. Ganhou três prêmios Emmy: dois em 1974 e o último em 1994. Esposa do trompetista e compositor de jazz Miles Davis. Começou em peças off Broadway, alcançando o sucesso como Portia no longa “Por que Tem que Ser Assim? / The Heart Is a Lonely Hunter (1968). Fez poucos filmes, recusando interpretar papéis que não valorizavam a mulher negra. Ela é uma das mais talentosas atrizes que já apareceram na tela.

DIAHANN CARROLL
(Nova Iorque, EUA. 1935)

De família pobre, ela abandonou os estudos para seguir a carreira de cantora. Tornou-se uma das raras modelos negras que se destacaram nos anos 1950, foi amante de Sidney Poitier por dez anos, gravou vários discos, estrelou com sucesso a sitcom “Júlia” (1968 - 71), fez em “Dinastia” (1984 - 87) a primeira vilã negra das séries norte-americanas e interpretou Norma Desmond na Broadway no musical “Sunset Boulevard”. Ganhou em 1962 o prestigiado prêmio teatral Tony por seu trabalho em “No Strings”. Foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por “Claudine / Idem” (1974). No cinema, brilhou em “Carmen Jones / Idem” (1954), “Porgy e Bess / Porgy and Bess” (1959), “Paris Vive à Noite / Paris Blues” (1961) e “O Incerto Amanhã / Hurry Sundown” (1966). Recentemente lançou sua autobiografia.

DOROTHY DANDRIDGE
(Cleveland, Ohio, EUA. 1922 - 1965)

Conhecida pela beleza e sensualidade, foi a primeira atriz negra indicada ao Oscar de protagonista - por sua atuação em “Carmem Jones”. Estreou no cinema aos 15 anos, na comédia “Um Dia Nas Corridas / A Day at the Races (1937), contracenando com os irmãos Marx. Amante do diretor Otto Preminger, nos anos 1950 viveu o auge de sua carreira, soberba em Ilha nos Trópicos / Ilha nos Trópicos (1957) e “Porgy e Bess” (1959). Investimentos malsucedidos levaram-na a afundar em dívidas e no álcool. Quando a encontraram morta por overdose de barbitúricos, em seu apartamento na West Hollywood, sua conta bancária registrava apenas US$ 2,14. Tinha apenas 42 anos. 

ETHEL WATERS
(Chester, Pensilvânia, EUA. 1896 - 1977)

Cantora de blues, em 1933 participou em um curta satírico intitulado “Rufus Jones para o Presidente / Rufus for President”. Em 1942, repetindo o papel nos palcos, fez Petúnia no musical de sucesso “Uma Cabana no Céu”, da Metro-Goldwyn-Mayer. Com “O que a Carne Herda” foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Em 1950, ganhou o New York Drama Critics Award por sua performance na peça “Cruel Desengano / The Member of the Wedding”. Repetiu o papel na versão cinematográfica de 1952, dirigida por Fred Zinnemann. Depois estrelou a série de televisão “Beulah” (1950-51).

Fez outros bons filmes, como “Seis Destinos / Tales of Manhattan” (1942) e “A Fúria do Destino / The Sound and the Fury” (1959), mas nunca deixou de reclamar dos papéis degradantes que os negros eram obrigados a fazer. Depois que perdeu suas joias e sua economia em um assalto, teve a saúde abalada. Morreu aos 80 anos, vivendo de favor na casa de um jovem casal que cuidava dela.

HATTIE McDANIEL
(Wichita, Kansas, EUA. 1895 - 1952)

Personagens alegres, leais e assexuados. Apareceu em mais de 300 filmes, tendo seu nome nos créditos de apenas 80 deles. Quase sempre interpretando empregadas, certa vez disse: “Por que devo reclamar ganhando 700 dólares por semana sendo uma empregada nas telas? Se não fosse assim ganharia sete dólares por semana sendo uma de verdade.” Em “A Mulher que Soube Amar” (1935) enfureceu o público branco racista pelo papel de uma atrevida e desbocada empregada doméstica. Por um personagem parecido, o de Mammy em “… E o Vento Levou”, que recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, tornando-se a primeira negra a receber tal honra.

Sua performance em “Nascida Para o Mal / In this Our Life” (1942) é lembrada por sua forte interpretação, o de uma dona de casa cujo filho é acusado injustamente de um atropelamento. Destacou-se em “Desde Que Você Partiu Since You Went Away (1944) e “A Canção do Sul / Song of the South” (1946). Lésbica, teve romances tórridos com duas estrelas belíssimas: Tallulah Bankhead e Claudette Colbert. McDaniel faleceu aos 57 anos. Desejava ser enterrada no Cemitério de Hollywood, juntamente com alguns dos parceiros do cinema, mas o dono se recusou a permitir que uma negra fosse enterrada em seu cemitério.

JUANITA MOORE
(Greenwood, Mississippi, EUA. 1914 - 2014)

Nomeada para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pela segunda versão de “Imitação da Vida / Imitation of Life (1959), começou a atuar na década de 1950. Fez mais de 30 filmes, entre eles “Uma Viúva em Trinidad / Affair in Trinidad” (1952), “Testemunha do Crime / Witness to Murder” (1954) e “Abby / Idem” (1974), além de inúmeras séries para a TV. Apareceu pela última vez no cinema na comédia “Duas Vidas / The Kid” (2000), ao lado de Bruce Willis.

LOUISE BEAVERS
(Cincinnati, Ohio, EUA. 1902 - 1962)

Antes de estrear no cinema, era governanta de Leatrice Joy, estrela do cinema mudo. Apareceu em mais de 160 filmes, dos anos 1920 até a década de 1950, na maioria das vezes como um estereótipo de criada bondosa, matrona, subserviente e com grandes risadas. Sua mais notável interpretação foi Delilah Johnson, a governanta da primeira versão de “Imitação da Vida / Imitation of Life” (1934). A história trata da relação fraterna entre duas mulheres, uma branca e outra negra, bem como, dos problemas que elas enfrentam com suas respectivas filhas. Esse filme do mestre John M. Stahl é historicamente significativo, afinal na época a discriminação racial era muito forte. Nunca mais a carismática Louise Beavers conseguiu outro papel de destaque. Morreu de um ataque cardíaco aos 60 anos.

GALERIA de FOTOS



junho 07, 2018

******* Uma MULHER em FOGO: AVA na ESPANHA



Apelido: Snowdrop, Angel e The Christmas Eve Girl
Altura: 1,68 m
Olhos: verdes


A mais bela de todas as atrizes, AVA GARDNER (1922 - 1990. Grabton, Carolina do Norte / EUA) nasceu numa fazenda de tabaco, filha de agricultores pobres. Aos 18 anos, uma foto sua colocada na vitrine do estúdio fotográfico do seu cunhado, em Nova York, chamou a atenção da Metro-Goldwyn-Mayer, que a contratou por sua estonteante beleza. Participou de mais de 60 filmes e casou-se três vezes (com o célebre ator baixinho Mickey Rooney, o clarinetista e regente Artie Shaw e o mito Frank Sinatra). Chamada pelo dramaturgo e cineasta francês Jean Cocteau de o mais belo animal do mundo.

Ela viveu tórridos romances, alimentando o mito de mulher fatal. Em 1955, no auge do sucesso, mudou-se para a Espanha, tornando-se musa de festas intermináveis e de toureiros. O interesse surgiu um pouco antes, em 1950. Filmando “Pandora / Pandora and the Flying Dutchman” (1951), em Tossa de Mar, na Catalunha, a atriz se encantou com a vida noturna espanhola, cultura romântica e ardentes toureiros, estabelecendo uma sincera e duradoura identificação com o país. No bonito filme de Albert Lewin, a Pandora de Ava destrói tudo e todos a seu redor, até que surge em sua vida o Holandês Voador, personagem enigmático que James Mason dota de aura mística.

ava e sinatra
Na mira da imprensa internacional, tanto por sua agitada vida social como pelo trabalho cinematográfico de sucesso, a temperamental e libertária AVA GARDNER foi responsabilizada pela ruptura do matrimônio Frank-Nancy Sinatra. Seu romance como ciumento “La Voz”, marcado por brigas, bebedeiras, tentativas de suicídio (dele) e três abortos. O relacionamento não impediu que, uma vez na Espanha, aproveitasse para dar vazão a desejos sem o controle dos estúdios cinematográficos norte-americanos.

Apaixonada e sensual, envolveu-se com o toureiro Mario Cabré, que lhe dedicou poemas e arriscou a vida por ela nas arenas. Em 1953, enquanto rodava na África “Mogambo” – responsável por sua única indicação ao Oscar – e em plena crise com Sinatra, descobriu que estava grávida. Ao abortar em Londres, uma escala em Madri a levou aos braços de Luis Miguel Dominguín, o toureiro mais famoso da época. Filmando na Itália “A Condessa Descalça” (1954), aprofundou sua relação com Dominguín através de maratonas de sexo.

Ao comprar um casarão em La Moraleja, estabeleceu um quartel general para festas que duravam todo um final de semana e incluíam corridas de touros e apresentações de flamenco, convertendo AVA GARDNER em presença habitual na vida social espanhola. Representado o que os então provincianos espanhóis censuravam – mulher sozinha, divorciada, sem religião e, além disso, atriz -, passou a ser tratada como uma ameaça para as famílias “respeitáveis”, sendo vetada em lugares como o Hotel Ritz, de Madri.

Parceira de Ernest Hemingway na longa farra espanhola (ela protagonizou brilhantemente duas adaptações de seus romances: “As Neves de Kilimanjaro” e “E Agora Brilha o Sol”) e em Cuba, em cuja casa dele se hospedou e na qual tomava banhos de piscina, nua, enlouquecendo o escritor. Em 1961, aos 39 anos, depois do suicídio do amigo Nobel de literatura, além do fracasso do filme “La Maja Desnuda / The Naked Maja” (1958) e de um acidente que deixou incômodas sequelas, a formosa estrela findou a escandalosa, apaixonada e tormentosa relação com a Espanha, mudando-se para o denso Reino Unido, e por lá ficou até morrer em 1990, aos 68 anos, um ano após ter tido um derrame.

FONTE
“Ava Gardner: Una Diosa con Pies de Barro”, de Lee Server, e “Beber-se a Vida, Ava Gardner em Espanha”, de Marcos Ordóñez


10 FILMES de AVA
(por ordem de preferência)

01
A CONDESSA DESCALÇA
(The Barefoot Contessa, 1954)

direção de Joseph L. Mankiewicz
elenco: Humphrey Bogart, Edmond O'Brien, Valentina Cortese e Rossano Brazzi

02
ASSASSINOS
(The Killers, 1946)

direção de Robert Siodmak
elenco: Burt Lancaster, Edmond O'Brien e Albert Dekker

03
A NOITE de IGUANA
(The Night of the Iguana, 1964)

direção de John Huston
elenco: Richard Burton, Deborah Kerr e Sue Lyon

04
MOGAMBO
(Idem, 1953)

direção de John Ford
elenco: Clark Gable e Grace Kelly

05
SETE DIAS de MAIO
(Seven Days in May, 1964)

direção de John Frankenheimer
elenco: Burt Lancaster, Kirk Douglas, Fredric March,
Edmond O'Brien, Martin Balsam e George Macready

06
E AGORA BRILHA o SOL
(The Sun Also Rises, 1957)

direção de Henry King
elenco: Tyrone Power, Mel Ferrer, Errol Flynn,
Eddie Albert, Gregory Ratoff, Juliette Gréco
e Marcel Dalio

07
AS NEVES de KILIMANJARO
(The Snows of Kilimanjaro, 1952)

direção de Henry King
elenco: Gregory Peck, Susan Hayward, Hildegard Knef
e Marcel Dalio

08
55 DIAS em PEQUIM
(55 Days at Peking, 1963)

direção de Nicholas Ray
elenco: Charlton Heston, David Niven, Flora Robson,
John Ireland, Leo Genn, Robert Helpmann,
Paul Lukas, Massimo Serato e Jacques Sernas

09
A ENCRUZILHADA dos DESTINOS
(Bhowani Junction, 1956)

direção de George Cukor
elenco: Stewart Granger e Bill Travers

10
O GRANDE PECADOR
(The Great Sinner, 1949)

direção de Robert Siodmak
elenco: Gregory Peck, Melvyn Douglas, Walter Huston,
Ethel Barrymore, Frank Morgan e Agnes Moorehead

GALERIA de FOTOS