Entre
1912 e 1919, Hollywood contava com cerca de 11 mulheres cineastas. Lois Weber
era a mais famosa delas. No entanto, a partir dos anos 1920, desapareceram, surgindo
DOROTHY ARZNER (1897 – 1979. São Francisco, Califórnia / EUA), que se tornou a
única diretora da Era de Ouro de Hollywood. Numa entrevista, ela confessou
que nunca teve problemas profissionais por ser mulher, afinal inúmeras outras
trabalhavam atrás das câmeras, como roteiristas, editoras e demais ofícios. Até
hoje, mantém a marca de ser a cineasta com o maior número de longas-metragens: 19.
Sua
carreira começou no cine mudo e durou até os anos 1940. Primeira mulher a
integrar o Director’s Guild of America, principal associação de diretores nos
EUA, dirigiu algumas das maiores divas do cinema, como Clara Bow, Joan Crawford,
Claudette Colbert, Ginger Rogers, Lucille Ball e Merle Oberon. Nos seus dramas
densos e comédias corrosivas, a narrativa pertence ao sexo feminino, o que era
uma audácia na época. Esses personagens bem desenvolvidos, independentes
e destemidos, fizeram que ficasse conhecida como diretora de “filmes de
mulheres”.
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dorothy arzner dirigindo sylvia sidney |
Cresceu
em Los Angeles, onde o pai tinha um restaurante de cozinha alemã, frequentado
por celebridades como Charles Chaplin, William S. Hart e Erich von Stroheim. Trabalhava
como garçonete no local e estudava medicina. Na Primeira Guerra Mundial, deixou
a faculdade para se alistar como motorista de ambulância. Com o fim da guerra, em
1919, visitou o The Famous Players-Lasky Film Company, futura Paramount
Pictures, e se encantou, arranjando emprego no estúdio como datilógrafa.
Firmou-se
como revisora de roteiros, roteirista e editora, destacando-se em 1922 no
clássico “Sangue e Areia / Blood and Sand” (1922), estrelado por Rudolph
Valentino. Ameaçando aceitar convite de trabalho na Columbia Pictures, pressionou
a Paramount para deixá-la dirigir. Deu certo e em 1927 rodou “A Mulher e a Moda”, baseado numa comédia francesa e que foi um grande
sucesso. No papel principal, Esther Ralston, destaque de “Peter Pan / Idem” (1924). Logo dirigiria a super estrela
Clara Bow em dois filmes. Um deles, em um colégio para moças, apresenta
insinuações lésbicas.
Embora DOROTHY
ARZNER tenha feito vários filmes de sucesso, o estúdio beirava a falência
devido à Depressão, e a renovação do seu contrato estava por um fio. Quando a
Paramount exigiu um corte salarial para todos os funcionários, a diretora recusou, preferindo se tornar freelancer. Contratada pela RKO Radio Pictures, dirigiu a
jovem e teimosa Katharine Hepburn. Não foi uma colaboração feliz, gerando muitos atritos, pois ambas tinham temperamentos fortes e autoritários.
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arzner e clara bow |
Seu
próximo filme foi para Samuel Goldwyn, um poderoso produtor independente que
tinha seu próprio estúdio. Ele contratara uma beldade russa, Anna Sten, pretendendo
transformá-la numa nova Garbo ou Dietrich. George Fitzmaurice, o primeiro
diretor do drama inspirado em Zola, não se deu bem com a moça temperamental e
pediu para ser dispensado. Goldwyn convidou George Cukor para substitui-lo, mas
ele tinha outros compromissos. Com DOROTHY ARZNER, deu tudo o que ela queria em
termos de cenários, iluminação e cinegrafista, pedindo em troca uma performance
brilhante de Sten. A diretora considerou essa tarefa impossível, afirmando que “a
única coisa que eu posso fazer é não deixar que ela fale muito”. O filme foi
um fiasco e Anna Sten jamais se tornou uma estrela.
Em 1937,
a cineasta dirigiu dois filmes na M-G-M. Em 1940,
assumiu a direção de “A Vida é uma Dança”, na RKO,
no lugar de Roy Del Ruth, que se retirou da produção após desentendimentos com
o produtor Erich Pommer. O filme recebeu críticas pouco entusiasmadas e
fracassou nas bilheterias. No seu último trabalho, na Columbia Pictures,
“Crepúsculo Vermelho” (1943), sobre a Noruega ocupada pelos
nazistas, teve pneumonia e se retirou antes de acabá-lo, sendo finalizado por
Charles Vidor. |
arzner e joan crawford |
Ficou
doente por quase um ano. Após a recuperação, interrompeu, abruptamente, seu
trabalho como diretora, abandonando o cinema. Nunca se soube a razão. Lésbica assumida, ela não falava sobre sua
vida privada, mas não escondia a orientação sexual, cultivando
um visual masculino e utilizando calças e terno.
Manteve um relacionamento duradouro com a dançarina e
coreógrafa Marion Morgan, dez anos mais velha que ela. Viveram juntas de 1930 até
a morte da companheira em 1971. Durante seu casamento, namorou atrizes como Alla
Nazimova, Billie Burke e Joan Crawford. Cercada de mulheres,
era flagrada abraçada a Marlene Dietrich ou Rosalind Russel,
entre outras famosas. Vivia intensamente, participando de estreias de filmes,
festas privadas e jantares de gala.
Na
Segunda Guerra Mundial, juntou-se a outros célebres diretores, como John Ford e
George Stevens, fazendo curtas de treinamento para o Corpo de Exército Feminino
do Exército dos EUA (WACs). Nos anos seguintes, dirigiu documentários para a
televisão e mais de 50 comerciais da Pepsi-Cola, a pedido de Joan
Crawford. Ela foi professora de cinema no Pasadena Playhouse,
nas décadas de 1950 e 1960, e depois na Universidade da Califórnia-Los Angeles,
nos anos 1960 e 1970. Na UCLA, ensinou direção e roteiro até sua
morte, e um de seus alunos foi Francis Ford Coppola.
Competente,
foi uma das raras cineastas em uma profissão dominada por homens, com tramas
que driblavam o moralismo através de personagens femininas decididas e donas do
próprio destino. Celebrada pelo movimento feminista, na década de
1960, DOROTHY ARZNER teve seus filmes redescobertos nos anos 1970, exibidos em
festivais e homenageados com uma retrospectiva do Director's Guild of America.
Em seus últimos anos de vida, deixou Hollywood e se mudou para o deserto.
Morreu em La Quinta, uma cidade perto de Palm Springs, na Califórnia, aos 82
anos.
Os FILMES
de DOROTHY ARZNER
01
A MULHER
e a MODA
(Fashions
for Women, 1927)
Estúdio: Famous
Players-Lasky Corporation
Elenco: Esther
Ralston e Raymond Hatton
02
DEZ
MANDAMENTOS MODERNOS
(Ten
Modern Commandments, 1927)
Estúdio: Paramount
Famous Lasky Corporation
Elenco: Esther
Ralston e Neil Hamilton
03
SEGURA o
que é TEU
(Get Your
Man, 1927)
Estúdio: Paramount
Famous Lasky Corporation
Elenco: Clara
Bow e Charles 'Buddy' Rogers
04
Um
COQUETEL AMERICANO
(Manhattan
Cocktail, 1928, perdido)
Estúdio: Paramount
Famous Lasky Corporation
Elenco: Nancy
Carroll, Richard Arlen e Paul Lukas
05
GAROTAS
na FARRA
(The Wild
Party, 1929)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: Clara
Bow, Fredric March, Marceline Day, Jack Oakie e Phillips Holmes
06
POR
DETRÁS da MÁSCARA
(Behind
the Make-Up, 1930)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: William
Powell, Fay Wray, Kay Francis, Paul Lukas e Walter Huston
07
A VOLTA
do DESERDADO
(Sarah
and Son, 1930)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: Ruth
Chatterton e Fredric March
08
PARAMOUNT
em GRANDE GALA
(Paramount
on Parade, 1930, co-director)
Estúdio: Paramount
Pictures
09
ESPOSA de
NINGUÉM
(Anybody's
Woman, 1930)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: Ruth
Chatterton, Clive Brook e Paul Lukas
10
HONRA de
AMANTES
(Honor
Among Lovers, 1931)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco:
Claudette Colbert, Fredric March, Charles Ruggles e Ginger Rogers
11
GAROTAS
TRABALHADORAS
(Working
Girls, 1931)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: Judith
Wood, Dorothy Hall, Charles 'Buddy' Rogers e Paul Lukas
12
QUANDO a
MULHER se OPÕE
(Merrily
We Go to Hell, 1932)
Estúdio: Paramount
Pictures
Elenco: Sylvia
Sidney, Fredric March e Cary Grant
13
ASSIM
AMAM as MULHERES
(Christopher
Strong, 1933)
Estúdio: RKO
Radio Pictures
Elenco: Katharine
Hepburn, Colin Clive, Billie Burke e Helen Chandler
14
NANÁ
(Nana, 1934)
Estúdio: The
Samuel Goldwyn Company
Elenco: Anna
Sten, Phillips Holmes, Lionel Atwill, Richard Bennett, Mae Clarke, Reginald
Owen, Jessie Ralph e Lucille Ball
15
MULHER
sem ALMA
(Craig's
Wife, 1936)
Estúdio: Columbia
Pictures
Elenco: Rosalind
Russell, John Boles, Billie Burke, Jane Darwell e Thomas Mitchell
16
A ÚLTIMA
CONQUISTA
(The Last
of Mrs. Cheyney, 1937)
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
(M-G-M)
Elenco: Robert
Montgomery, Joan Crawford, William Powell e Frank Morgan
17
FELICIDADE
de MENTIRA
(The
Bride Wore Red, 1937)
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer
(MGM)
Elenco: Joan
Crawford, Franchot Tone, Robert Young, Billie Burke e Reginald Owen
18
A VIDA é
uma DANÇA
(Dance,
Girl, Dance, 1940)
Estúdio: RKO
Radio Pictures
Elenco: Maureen
O'Hara, Louis Hayward, Lucille Ball e Ralph Bellamy
19
CREPÚSCULO
SANGRENTO
(First
Comes Courage, 1943)
Um comentário:
Obrigado por nos apresentar esta que foi certamente uma figura única, em personalidade e na estória do cinema. A desconhecia por completo. Parabéns pela pesquisa.
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