BETTE DAVIS é indiscutivelmente uma grande atriz, mas eu sempre tive uma pinimba qualquer com ela, que se foi acentuando com os anos e os maus diretores que a tireoideana, sacro-ilíaca, psíquica “estrela” andou pegando de um bocado para cá. Nunca deixei, no entanto, de admirá-la quando, em performances notáveis como as que deu em “A Carta” ou “Pérfida”, ela, mais controlada, resolvia em tensão íntima a sua fabulosa naturalidade física de movimentação - coisa que, de resto, deu margem a que fosse um dos motivos prediletos dos imitadores de palco. Eu vi um famoso impersonator norte-americano “bettedavizar” BETTE DAVIS de modo tão genial que, visse-o a atriz, creio que ela se sentiria como diante de um espelho.
“pérfida” |
Esses vícios de ação, BETTE DAVIS em geral resolve-os com um bom diretor. William Wyler, que a andou dirigindo por uns tempos, ajustou-a formidavelmente ao seu estilo diretorial, discreto e tenso a um tempo - e agora eu vejo com agrado que Curtis Bernhardt compreendeu também com grande inteligência o problema que ela representa como atriz. Porque com BETTE DAVIS é preciso cortar-lhe um pouco as asas, mas sem ferir fundamentalmente isso que constitui o seu gênio próprio - a sua dinâmica física.
Neste filme “Depois da Tormenta”, BETTE DAVIS dá mostras sobejas dessa dinâmica. Seu trabalho é vivo e ágil - tanto que achata completamente a interpretação dos demais atores, o que a deixa soberana em cena. Eu estou longe de concordar com alguns de meus colegas de crítica que “Depois da Tormenta” seja um grande filme. Para mim é apenas um bom filme, que cumpre com dignidade a sua função e expõe o problema da separação conjugal sem mentir à vida. A história tem uma pungência especial que o diretor soube levar muito bem, pois ela não está “na cara da criança”, para usar a expressão de uma amiga minha; isto é, não é obviamente, situa-se num plano mais recuado, deixando à ação cinematográfica a incumbência de a ir desencadeando naturalmente.
Neste filme “Depois da Tormenta”, BETTE DAVIS dá mostras sobejas dessa dinâmica. Seu trabalho é vivo e ágil - tanto que achata completamente a interpretação dos demais atores, o que a deixa soberana em cena. Eu estou longe de concordar com alguns de meus colegas de crítica que “Depois da Tormenta” seja um grande filme. Para mim é apenas um bom filme, que cumpre com dignidade a sua função e expõe o problema da separação conjugal sem mentir à vida. A história tem uma pungência especial que o diretor soube levar muito bem, pois ela não está “na cara da criança”, para usar a expressão de uma amiga minha; isto é, não é obviamente, situa-se num plano mais recuado, deixando à ação cinematográfica a incumbência de a ir desencadeando naturalmente.
BETTE DAVIS fez, não há dúvida, uma grande rentrée, que muito provavelmente lhe valerá o Oscar para 1951. Apesar da maneira um pouco teatral com que Bernhardt narra a sua trama, certos recursos roubados ao teatro são de bom efeito, como as aberturas de cena cada vez que BETTE DAVIS rememora o passado conjugal, em que o décor tem um valor de puro teatro. O processo do flashback, pelo qual eu tenho uma certa antipatia, é usado aqui de maneira inteligente. A fotografia é boa, e o som esplêndido. A voz fabulosa de BETTE DAVIS é às vezes trazida para planos mais próximos do que os reais com um resultado espantosamente feliz - o que constitui um excelente emprego cinematográfico de som. Porque negócio de som em cinema... É, mas eu não vou enveredar por esse caminho, não, porque uma vez já fiz isto e deu pano para mangas.
Texto de VINICIUS DE MORAES
Poeta e Compositor
fay bainter, amigo não identificado e bette no oscar por “jezebel” |
DEZ GRANDES INTERPRETAÇÕES de BETTE
Margo Channing em
A MALVADA
(All About Eve, 1950)
(All About Eve, 1950)
direção de Joseph L. Mankiewicz
Com: Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm,
Thelma Ritter e Marilyn Monroe
Melhor Atriz no Festival de Cannes
Melhor Atriz do Círculo dos Críticos de Cinema
de Nova Iorque
Leslie Crosbie em
A CARTA
(The Letter, 1940)
(The Letter, 1940)
direção de William Wyler
Com: Herbert Marshall e Gale Sondergaard
Regina Giddens em
PÉRFIDA
(The Little Foxes, 1941)
(The Little Foxes, 1941)
direção de William Wyler
Com: Herbert Marshall, Teresa Wright e Dan Duryea
Charlotte Vale em
A ESTRANHA PASSAGEIRA
(Now, Voyager, 1942)
(Now, Voyager, 1942)
direção de Irving Rapper
Com: Paul Henreid, Claude Rains e Gladys Cooper
Baby Jane Hudson em
O que TERÁ ACONTECIDO a BABY JANE?
(What Ever Happened To Baby Jane? 1962)
direção de Robert Aldrich
Com: Joan Crawford e Victor Buono
Julie em
JEZEBEL
(Idem, 1938)
(Idem, 1938)
direção de William Wyler
Com: Henry Fonda, George Brent, Donald Crisp
e Fay Bainter
Oscar de Melhor Atriz
Mildred Rogers em
ESCRAVOS do DESEJO
(Of Human Bondage, 1934)
(Of Human Bondage, 1934)
direção de John Cromwell
Com: Leslie Howard e Frances Dee
Fanny Skeffington em
VAIDOSA
(Mrs. Skefffington, 1944)
(Mrs. Skefffington, 1944)
direção de Vincent Sherman
Com: Claude Rains e George Coulouris
Kate e Patricia Bosworth em
Uma VIDA ROUBADA
(A Stolen Life, 1946)
(A Stolen Life, 1946)
direção de Curtis Bernhardt
Com: Glenn Ford, Walter Brennan e Charles Ruggles
Maggie Patterson Van Allen em
A GRANDE MENTIRA
(The Great Lie, 1941)
(The Great Lie, 1941)
direção de Edmund Goulding
Com: George Brent, Mary Astor e Hattie McDaniel
13 comentários:
Davis era formidável. Nunca fez plástica, sempre procurou envelhecer da melhor forma possível e continuou trabalhando até o fim da vida. Uma estrela absoluta.
Adoro a interpretação dela como as gemeas de Alguem Morreu em Meu Lugar. Acho Davis sensacional. Ela tem uma força no seu papel, que mais do que convencer ela cativa, até mesmo em seus papeis de má (que são os melhores).
Meu segundo e terceiro favorito são A Malvada, claro e O que Terá Acontecido com Baby Jane? A Cena dela cantando depois de velha é perturbadora. Perfeito.
Abs!
Ao lado de Greta Garbo, BETTE DAVIS é uma das melhores atrizes de todos os tempos. Em O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? talvez tenha sido apice de toda a sua carreira.
Assisto tudo que posso de La Davis. A mulher é fera, sai devorando todo mundo em cena. Mesmo nos filminhos mais ruins vale a pena vê-la. O primeiro filme dela que assisti foi Morte no Nilo e fiquei hipnotizado por sua força, nem me interessei pela intriga.
Oh, Antonio, que tal um novo post dissecando sua trajetória como vc faz como ninguém?
adoro a Davis O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? fantástica! me recordo que a única amiga dela que aguentava seu humor peculiar foi a Olivía de Havilland
O trio de ouro hollywoodiano: Bette, Ingrid Bergman e Katharine Hepburn. Já não se fazem estrelas-atrizes como elas. Talvez a Meryl Streep e a Susan Sarandom estejam no caminho.
O seu blogue é mágico. Voltarei muitas outras vezes por aqui.
Bom final de semana.
Seu blog é maravilhoso....ótima opção para se conhecer mais de cinema...Está de parabéns...
Ser redundante é algo que não gosto, mas para a miss Davis, eu abro exceção. Acho que não preciso dizer o quanto a admiro, afinal de contas, ela é uma das minhas homenageadas no meu blog, sendo que já fiz um especial dedicado a ela quando se completou 20 anos da sua morte. Sem dúvida alguma, ela marcou uma geração, e ainda serve de inspiração para muita gente.
Só uma coisa, na quarta foto, a da Davis com o Oscar, tem certeza que o senhor ao seu lado é o William Wyler?
Abraço!
Olá, Antonio! Belíssimo texto de nosso poetinha, Vinicius de Moraes! No meu blog há um post antigo sobre Drummond e o cinema clássico. Estou procurando há tempos "O Grande Filme", que só vi em uma grande antologia quando fiz uma análise da vida e obra de Drummond. É um poema sobre o filme Intolerância, de 1916.
Abraços, Lê
Obrigado por trazer um texto de Vinícius sobre minha atriz preferida; eu não conhecia o texto. Vinícius percebeu algo que eu percebi umas semanas atrás, vendo "Meu Reino por um Amor"; que Bette tinha essa grande dinâmica corporal vinda e/ou influênciada pelo teatro (não só os gestos, mas o uso da voz também tinham muito do teatro); não só ela tinha essa dinâmica, muitos outros atores do tempo atuavam dessa forma; só que Bette fazia disso uma vantagem, quando tornava essa dinâmica uma característica não só da sua atuação, mas da própria personagem. Abraços.
Resolvi pesquisar sobre Bette Davis no teu blog, e encontrei este post. Ela é sem dúvidas, uma das melhores atrizes de todos os tempos. O jeito dela falar, de olhar, de atuar ... tudo me fascina. Depois que assisti O que terá acontecido a Baby Jane e A Malvada, virei fã!
E olha que a conheci por acaso; fui assistir o filme da Marilyn (A Malvada) sem saber sobre o trabalho de Bette Davis. Acho que era o destino hahahahaha
Um excelente post, Bette é eterna!
Bette Maravilhosa Davis!
Minha atriz preferida,tanto pela personalidade,principalmente pelo talento,mais ainda acho Gretta Garbor a maior atriz da história do cinema!!!
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