hedda hopper |
Na imprensa da era clássica hollywoodiana, LOUELLA PARSONS (1893 - 1972) e HEDDA HOPPER (1890 - 1966) deixavam os fãs a par de cada passo de suas estrelas favoritas, através de colunas publicadas em jornais de costa a costa dos Estados Unidos e reproduzidas mundo afora. Inimigas declaradas, chegaram algumas vezes quase às vias de fato. Disputavam quem exibia o chapéu mais espalhafatoso, as notícias mais sensacionalistas e o título de “Rainha de Hollywood”. Uma das formas de passar a perna na concorrente era acatar uma espécie de apadrinhamento com determinadas celebridades. Hedda, por exemplo, tinha certa intimidade com Liz Taylor, que sempre a procurava para confidenciar sobre sua atribulada vida pessoal, de inúmeros casamentos e separações. Já Louella identificava-se com Marilyn Monroe. Os textos não eram escritos como fofocas cruéis, mas “conselhos simpáticos” de veteranas senhoras.
Ambas irritavam a meca do cinema, mas todos compreendiam que ser citado por elas podia ser muito útil como divulgação. O poder dessas duas mulheres era legendário e ainda que venenosas, respeitavam alguns aspectos da privacidade dos atores e atrizes, a fim de não macular totalmente suas imagens. Afinal de contas, elas faziam parte do sistema. Temidas e reverenciadas, HEDDA HOPPER e LOUELLA PARSONS contavam com uma incrível rede de informantes infiltrados nos estúdios e nos lugares mais freqüentados, descobrindo diariamente novidades sórdidas para o gozo de seus leitores, num estilo mexeriqueiro copiado no mundo todo.
Ambas irritavam a meca do cinema, mas todos compreendiam que ser citado por elas podia ser muito útil como divulgação. O poder dessas duas mulheres era legendário e ainda que venenosas, respeitavam alguns aspectos da privacidade dos atores e atrizes, a fim de não macular totalmente suas imagens. Afinal de contas, elas faziam parte do sistema. Temidas e reverenciadas, HEDDA HOPPER e LOUELLA PARSONS contavam com uma incrível rede de informantes infiltrados nos estúdios e nos lugares mais freqüentados, descobrindo diariamente novidades sórdidas para o gozo de seus leitores, num estilo mexeriqueiro copiado no mundo todo.
Atriz da fase muda do cinema e de algumas produções sonoras, HEDDA HOPPER atuou em mais de 120 filmes, quase sempre como esnobes damas da alta sociedade. Inclusive fez uma ponta em “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard” (1950), de Billy Wilder. Tudo começou com o fim do seu casamento com o ator DeWolf Hopper. Beirando os 50 anos, sobrevivendo de pequenos papéis, em 1937 aceitou a oferta para redatar uma coluna periodística sobre a sociedade cinematográfica. Esta coluna, chamada “Hedda Hopper’s Hollywood”, debutou no “Los Angeles Times” em 14 de fevereiro de 1938. No ano seguinte, fazia comentários e entrevistava estrelas no seu próprio programa radiofônico, “The Hedda Hopper Show”. Logo comprou uma mansão em Beverly Hills que passou a ser chamada “The house that fear built” (A casa que o medo edificou).
Ela inúmeras vezes recordou a preferência de Charles Chaplin por garotinhas; denunciou o romance adúltero de Katharine Hepburn e Spencer Tracy; e o caso secreto de Joseph Cotten com a jovem Deanna Durbin. Brigou ferozmente com John Ford, a quem chamava de “irlandês filho da puta”. Sofreu – e perdeu! – um processo de calúnia e difamação por parte do ator inglês Michael Wilding, segundo marido de Liz Taylor. A amizade dele com o também ator Stewart Granger foi inúmeras vezes mencionada na coluna de HEDDA HOPPER como um caso amoroso. Cary Grant também foi citado por ela como gay, no famoso affair com Randolph Scott, mas o galã era tão querido que tais declarações não arranharam sua imagem. Se na imprensa ela tinha uma postura que poderia ser considerada homofóbica, particularmente era simpatizante, mantendo amizade com gays e lésbicas sem jamais tocar no assunto publicamente. Ela teve o seu próprio programa de televisão nos anos 60, e seguiu escrevento até morrer, produzindo colunas diárias para o “Chicago Tribune”, assim como incontáveis artigos para revistas como a “Photoplay”. Faleceu aos 75 anos de idade, de pneumonia.
Ela inúmeras vezes recordou a preferência de Charles Chaplin por garotinhas; denunciou o romance adúltero de Katharine Hepburn e Spencer Tracy; e o caso secreto de Joseph Cotten com a jovem Deanna Durbin. Brigou ferozmente com John Ford, a quem chamava de “irlandês filho da puta”. Sofreu – e perdeu! – um processo de calúnia e difamação por parte do ator inglês Michael Wilding, segundo marido de Liz Taylor. A amizade dele com o também ator Stewart Granger foi inúmeras vezes mencionada na coluna de HEDDA HOPPER como um caso amoroso. Cary Grant também foi citado por ela como gay, no famoso affair com Randolph Scott, mas o galã era tão querido que tais declarações não arranharam sua imagem. Se na imprensa ela tinha uma postura que poderia ser considerada homofóbica, particularmente era simpatizante, mantendo amizade com gays e lésbicas sem jamais tocar no assunto publicamente. Ela teve o seu próprio programa de televisão nos anos 60, e seguiu escrevento até morrer, produzindo colunas diárias para o “Chicago Tribune”, assim como incontáveis artigos para revistas como a “Photoplay”. Faleceu aos 75 anos de idade, de pneumonia.
Dizem que LOUELLA PARSONS era bem mais ferina do que a adversária. Tinha tanto poder que um comentário seu bastava para arruinar a carreira de um ator ou de um projeto cinematográfico em andamento. Durante 40 anos sua coluna foi imediatamente reproduzida em mais de 500 jornais de todo o planeta. No entanto, não era vista como uma insignificante coluna de fofocas, e sim um painel de verdades absolutas. Apoiada pelo império jornalístico de William Randolph Hearst, suas palavras aterrorizavam estrelas, diretores e produtores. Todos temiam o inferno de seu conhecido “tratamento silencioso” ou, pior ainda, as suas críticas ácidas. Com uma pequena nota interrompia filmes, obrigava amantes ocasionais a se casarem ou incentivava divórcios.
Um comentário negativo escrito por ela destruía o futuro de debutantes de talento. LOUELLA PARSONS iniciou sua carreira em 1914, como cronista do “Chicago Record Herald”, mas jamais teria tanto poder caso não estivesse no luxuoso iate de William Randolph Hearst, o “Oneida”, em 18 de novembro de 1924. Entre os convidados estavam Chaplin e as atrizes Marion Davies e Aileen Pringle. No meio da farra homérica, assassinaram a tiros o diretor Thomas Ince (supostamente o magnata Hearst o confundiu com Chaplin, amante de sua amada Marion). Abafando o crime, Hearst colocou imediatamente a colunista na sua equipe jornalística, num contrato vitalício. Reinando na mídia, ela foi responsável pela queda definitiva de Frances Farmer, a beleza apontada como “a nova Greta Garbo”. Quando detiveram a atriz conduzindo embriagada e sem licença, LOUELLA PARSONS tornou público o incidente e pediu a sua cabeça. Na sua lista negra, passaram nomes como Clara Bow, Alma Rubens, Judy Garland e Spencer Tracy (dizia que o ator era incapaz de trabalhar sóbrio).
Um comentário negativo escrito por ela destruía o futuro de debutantes de talento. LOUELLA PARSONS iniciou sua carreira em 1914, como cronista do “Chicago Record Herald”, mas jamais teria tanto poder caso não estivesse no luxuoso iate de William Randolph Hearst, o “Oneida”, em 18 de novembro de 1924. Entre os convidados estavam Chaplin e as atrizes Marion Davies e Aileen Pringle. No meio da farra homérica, assassinaram a tiros o diretor Thomas Ince (supostamente o magnata Hearst o confundiu com Chaplin, amante de sua amada Marion). Abafando o crime, Hearst colocou imediatamente a colunista na sua equipe jornalística, num contrato vitalício. Reinando na mídia, ela foi responsável pela queda definitiva de Frances Farmer, a beleza apontada como “a nova Greta Garbo”. Quando detiveram a atriz conduzindo embriagada e sem licença, LOUELLA PARSONS tornou público o incidente e pediu a sua cabeça. Na sua lista negra, passaram nomes como Clara Bow, Alma Rubens, Judy Garland e Spencer Tracy (dizia que o ator era incapaz de trabalhar sóbrio).
Decidida a destruir a carreira de Mamie van Doren, que acabava de assinar contrato para atuar em “Um Lugar ao Sol / A Place in the Sun” (1951), LOUELLA PARSONS telefonou para o chefão da Paramount ameaçando passar a não dar uma linha de publicidade para os filmes do estúdio caso a atriz permacesse sob contrato. Logo a seguir substituíram Mamie por Shelley Winters. “Eles alegaram que eu era muito parecida com Marilyn Monroe. Mas eu sabia que Louella era a responsável por minha demissão. Ela foi o monstro que fechou todas as portas profissionais tão necessárias para o meu trabalho, simplesmente porque acreditava que eu tinha um passado como meretriz. Tive pena dela. Era apenas uma louca que imaginava coisas e acreditava na sua diabólica imaginação”, desabafou a atriz muitos anos depois.
A influência da colunista era tão poderosa que ela conseguiu proibir a projeção de “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941) em 17 estados norte-americanos, porque o considerava um insulto a seu patrão Hearst. Nas palavras de Joan Crawford, “cada vez que Lolly dizia que uma belíssima atriz de cinema havia sido surpreendida em um lugar de fama duvidosa, a acusação abalava a reputação de todas as atrizes, sem exceção. Todas sofriam as conseqüências”. Maldosa, invejosa e moralista, LOUELLA PARSONS escondia uma vida sexual promíscua e seu próprio alcoolismo. Escreveu dois livros de memórias, “The Gay Illitarate” (1944) e “Tell it to Louella” (1961), ambos recheados de mentiras. Apareceu também em alguns filmes, sempre como ela mesma, como “Hollywood Hotel” (1937) e “Without Reservations” (1946). No final de sua vida, internada numa clínica geriátrica, gritava e insultava os atores que apareciam em filmes exibidos no local. Morreu em 1972, aos 80 anos. “Fui ao seu enterro somente para comprovar que finalmente estava morta”, garantiu Joan Crawford.
A influência da colunista era tão poderosa que ela conseguiu proibir a projeção de “Cidadão Kane / Citizen Kane” (1941) em 17 estados norte-americanos, porque o considerava um insulto a seu patrão Hearst. Nas palavras de Joan Crawford, “cada vez que Lolly dizia que uma belíssima atriz de cinema havia sido surpreendida em um lugar de fama duvidosa, a acusação abalava a reputação de todas as atrizes, sem exceção. Todas sofriam as conseqüências”. Maldosa, invejosa e moralista, LOUELLA PARSONS escondia uma vida sexual promíscua e seu próprio alcoolismo. Escreveu dois livros de memórias, “The Gay Illitarate” (1944) e “Tell it to Louella” (1961), ambos recheados de mentiras. Apareceu também em alguns filmes, sempre como ela mesma, como “Hollywood Hotel” (1937) e “Without Reservations” (1946). No final de sua vida, internada numa clínica geriátrica, gritava e insultava os atores que apareciam em filmes exibidos no local. Morreu em 1972, aos 80 anos. “Fui ao seu enterro somente para comprovar que finalmente estava morta”, garantiu Joan Crawford.
“No fundo”, explicou o escritor Truman Capote, “a fórmula profissional de LOUELLA PARSONS e HEDDA HOPPER era tão simples como demoníaca: elas descobriram que a intimidade, o mais secreto do secreto, o vergonhoso, faz com que o cotidiano das vidas ordinárias adquira relevância”. Diante desse panorama, elas criaram através de seus artigos uma espécie de crime consentido, a partir do anonimato da acusação. Muitas vezes sem escrever o nome do acusado, elas davam somente indícios, pistas, rascunhos; de tal forma que o leitor prontamente identificasse a estrela apunhalada por suas palavras ferinas.
Elas viviam sob o domínio da extorção, da ameaça e do medo. Tinham uma obscura satisfação em revelar o lado desprezível e feio do que aparentemente era formoso. A estratégia do refinamento da maledicência manobrada por essas duas mulheres fez escola e até hoje pode ser vista em muitas publicações. São as(os) novas(os) Louellas e Heddas. Em 1985, suas existências ordinárias foram representadas por Elizabeth Taylor e Jane Alexander no telefilme “Malícia no País das Maravilhas / Malice in Wonderland”.
Elas viviam sob o domínio da extorção, da ameaça e do medo. Tinham uma obscura satisfação em revelar o lado desprezível e feio do que aparentemente era formoso. A estratégia do refinamento da maledicência manobrada por essas duas mulheres fez escola e até hoje pode ser vista em muitas publicações. São as(os) novas(os) Louellas e Heddas. Em 1985, suas existências ordinárias foram representadas por Elizabeth Taylor e Jane Alexander no telefilme “Malícia no País das Maravilhas / Malice in Wonderland”.
14 comentários:
Credo essas duas eram venenosas mesmo principalmente a Louella Parson muita má rs
Este espaço está cada vez melhor...textos brilhantes sobre um dos melhores assuntos do planeta: Cinema!!O texto sobre Fellini/Sandra Millo está genial!
Longa vida ao "Falcão"!!
Abraço grande!
Toninho
Uma era uma atriz fracassada, que, despeitada, começou a atirar venenos. A outra, uma alcóolatra invejosa. Essas duas pobres coitadas não ficaram para a posteridade, ao contrário dos astros e estrelas que elas tentavam derrubar. Orson Welles e Cidadão Kane estão na lembrança de todos, mas quem são Louella Parsons e Hedda Hopper? É por isso que eu admirava nossa saudosa e querida Dulce Damasceno de Brito, uma profissional de respeito que não precisava apelar pra baixarias, e era admirada por atores e diretores.
Eram duas mulheres terríveis de Hollywood.
Havia uma revista brasileira, a Cinelândia, que se vendia aqui em Portugal e que tinha uma página de uma delas.
Quanto ao "affair" de S.Granger com M.Wilding, não me surpreende absolutamente nada, embora o desconhecesse.
Recebi a indicação de seu Blog.
Tenho a leve impressão que nos conhecemos pessoalmente.
Talvez em São Paulo quando morava lá na década de 90.
Gostei muito do conteúdo de seus posts, lamentavelmente não tenho postado nada no meu Blog.
Estou num processo interno de análise e observação.
Ah, estas duas "víboras"... também existoa "Elsa maxwell" nao é? Mas nao era tao perigosa como Louella (que odiava Gene Tierney) e Hedda (vi um filme sobre sua vida com a maravilhosa Jane Alexander no papel de Hopper). Adorei o fato delas NAO terem sido convidadas para o casamento de Grace Kelly com Rainier do Monaco! :-)) Eu ainda tenho as "Cinelandias" (mencionadas por Pinguim) com a coluna de Louella... que muler ferina e má...
ooops, agora vi que voce menciona o filme... nao me lembrava de Liz como Louella... quero rever!
Oi, Tony
Magníficos textos sobre as duas víboras de Hollywood. Tenho a impressão que em "Mamãezinha querida", aquele filme sobre Joan Crawford, a irmã de Marlon Brando, Jocelyn, interpreta Louella ou Hedda. ainda havia Sheila Graham que também não era santa.
Assisti uma dúzia de vezes "Pierrot Le Fou", em 1966. Hoje, à distãncia, confesso que estava apaixonado por Anna Karina.
Um abraço do Darci
Acho porque Gene escondeu dela o seu casamento com Oleg Cassini... ou a sua gravidez... sim, acho que foi a gravidez! a partir deste momento ela criticava e perseguia Gene como podia... uma fera...
A história dessas duas megeras meio loucas (no fim de uma louca mesmo) é interessantíssima! Não conhecia as figuras. Mas... que medo dessas mulheres venenosas! Hahahaha
Jesus! Que sub mundo terrivel este do cinema! E deve continuar assim! E como deveria ser vasto o repertorio que aquelas duas tinham para soltar suas maldades!
Quanto a jogos homossexuais entre atores de nada devemos duvidar, assim como não é segredo para ninguém que o prato predileto de Charles Chaplin sempre foram as ninfetinhas.
jurandir_lima@bol.com.br
Não há assunto em Cinema que vc, Antonio, não conheça. Isso é fantástico. Broadway e off-Broadway, câmera e atrás das câmeras, contigo temos de tudo. E, o que é muito importante, embora um tanto esquecido hoje em dia: o que vc apresenta para seus leitores é sempre a partir de uma escrita sem rodeios, sem vaidade, sem fazer tipo e sem gralhas. Uma escrita precisa, muito clara e saborosa. Muito obrigado!
H.
É incrível como as mulheres de antigamente eram mais elegantes. Não sei se eraa vestimenta, ou o jeito de arrumar os cabelos, ou até mesmo a própria época. Lindíssimas! Sabia muito pouco sobre Louella Parsons.
Não sei qual era pior!
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