pier paolo pasolini
Genial e polêmico, PIER PAOLO PASOLINI era militante do amor pelo excluído, pelo fora da ordem, escandalizando para mostrar os pontos cegos da civilização
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PIER PAOLO PASOLINI (1922 - 1975) gostava de afirmar que era, acima de tudo, poeta. Era um homem de letras, portanto. E se fazia tal afirmação, com recorrente ênfase, é porque o contrário dela se lhe afirmava com maior ênfase ainda. Acontece que, homem de cinema, viu-se vítima do poder industrial dessa arte, essencialmente de massa. Desse modo, ficou para história o cineasta, aquele que realizou impactantes, ousados e desaforados filmes, tais como “Teorema”, “Pocilga” e “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, dentre outros. A maioria com roteiro assinado pelo homem com formação em Letras, que, aos sete anos, escreveu seus primeiros poemas, dedicados à sua mãe.
Depois de roteirizar importantes filmes italianos, a exemplo de “A Mulher do Rio” (Mario Soldati) e “As Noites de Cabíria” (Federico Fellini), PASOLINI, homem de teatro também, amante da ópera, escreve o roteiro de um dos mais importantes filmes do cinema italiano posterior ao neo-realismo. Trata-se de “A Longa Noite de Loucuras / La Notte Brava”, dirigido por Mauro Bolognini e lançado em 1959. O filme é PASOLINI do começo ao fim, e em grande forma. O cineasta brasileiro Ugo Giorgetti chegou a afirmar, em publicação sobre o cinema feito no século XX, que o filme de Bolognini, em verdade, era de PASOLINI, afinal, o primeiro filmou a burguesia e a aristocracia italiana.
Em “La Notte Brava”, o que vemos é uma longa noite de ladrões, prostitutas, jovens sem rumo, desajustados, traficantes, receptadores, velhos tarados e o dinheiro corrompendo a juventude (PASOLINI ainda era aquele militante de esquerda que escrevia poemas e romances engajados; depois se afastaria da militância e seguiria seu caminho humanista por conta própria). O filme de PASOLINI/Bolognini começa com duas prostitutas discutindo e, posteriormente, saindo aos tapas. A cena revela todo o enredo: numa Itália falida, miseráveis brigam com miseráveis, por seu sustento. Todo o filme será tomado por falcatruas entre pessoas de mesma classe, vivendo no mesmo barco. Na mesma noite. A briga das mulheres é interrompida por um trio de golpistas – entre eles, o grande ator francês Jean-Claude Brialy – interessado em contratá-las não para uma noite de sexo, mas para despistar a polícia, enquanto tentam vender armas que roubaram, sabe-se lá onde ou de quem.
A noite é realmente longa, mas jamais entediante. As reviravoltas são constantes e a cena final é clássica, digna de constar duma antologia da imagem em movimento. Depois dessa incrível, dessa inesquecível experiência noturna, PASOLINI se acha preparado para dirigir “Accatone”, seu primeiro longa, embora despreparado, como todos nós, para morrer surrado, por cerca de oito horas ininterruptas, em função de sua ousadia e coragem de não só escrever, mas exibir as mazelas e as injustiças do fascismo e da vida do homem moderno, de um modo geral. Em um de seus últimos poemas, PIER PAOLO PASOLINI escreveria:
“Olho com o olho de uma imagem
As propostas de linchamento.
Observo meu próprio massacre
Com a coragem serena de um sábio.”
Texto de
HENRIQUE WAGNER
HENRIQUE WAGNER
poeta e crítico de cinema
13 ROTEIROS de PASOLINI
A MULHER do RIO
(La Donna del Fiume, 1954)
(La Donna del Fiume, 1954)
direção de Mario Soldatti
NOITES de CABÍRIA
(Le Notti di Cabiria, 1957)
(Le Notti di Cabiria, 1957)
direção de Federico Fellini
A LONGA NOITE de LOUCURAS
(La Notte Brava, 1959)
(La Notte Brava, 1959)
direção de Mauro Bolognini
O BELO ANTÔNIO
Il Bell’Antonio, 1960)
Il Bell’Antonio, 1960)
direção de Mauro Bolognini
A NOITE de MASSACRE
(La Lunga Notte Del’43, 1960)
(La Lunga Notte Del’43, 1960)
direção de Florestano Vancini
CAMINHO AMARGO
(La Giornata Balorda, 1961)
(La Giornata Balorda, 1961)
direção de Mauro Bolognini
A MOÇA na VITRINE
(La Ragazza in Vitrina, 1961)
(La Ragazza in Vitrina, 1961)
direção de Luciano Emmer
ACCATTONE – DESAJUSTE SOCIAL
(Accattone, 1961)
(Accattone, 1961)
MAMMA ROMA
(idem, 1962)
(idem, 1962)
O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS
(Il Vangelo Secondo Matteo, 1964)
As BRUXAS
(Le Streghe,1967)
(Le Streghe,1967)
TEOREMA
(idem, 1968)
(idem, 1968)
SALÓ ou 120 DIAS de SODOMA
(Salò o Le 120 Giornate di Sodoma, 1975)
ettore garofolo e anna magnani em "mamma roma" |
6 comentários:
Pier Pasolini! Vale muito à pena ser lembrado. Excelente texto! Um abraço e ótima semana.
Assisti NOITES DE CABÍRIA e achei muito show, só não sabia que o roteiro era dele.
Puxa, mas vc tem um talento para ilustrar textos, que é impressionante!!! As fotos que vc escolhe, a diagramação, as cores... Isso é cinema! E o que dizer dos artigos??? Vc percorre todos os escaninhos do cinema. Aquela matéria sobre as revistas é maravilhosa! As capas, então! Seu blog é de um bom gosto insuportável!!!
Parabéns!
Abç!!!
Pasolini é a polêmica em pessoa. Não apenas por Salò, mas o que ele escrevia e dirigia já levantava vozes de todos os lados. Uma figura sem igual.
Grande Pasolini!
Por sorte, consegui assistir uma série de filmes que você citou acima. Já não se fazem mais filmes como antigamente.
Genial, subversivo, contestador, questionador, criador, incorreto, inquieto, sem papas na língua, etc. São tantos adjetivos e tantas coisas que poderia divagar sobre Paolo, mas prefiro resumir da seguinte forma: essencial e indispensável para qualquer cinéfilo que se preze.
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