setembro 14, 2014

************************** SALA VIP: LAURA (1944)

gene tierney


O MISTÉRIO de uma MULHER

Assisti LAURA diversas vezes, já não sei quantas foram. Sempre me encanta. Um dos melhores títulos da vitoriosa carreira do diretor vienense Otto Preminger e uma das histórias mais fascinantes do Cine Noir dos anos 1940. Iniciado por Rouben Mamoulian, centra-se no mistério em torno da personagem feminina do título, uma mulher que fascina muitos homens, desde o sentimento necrófilo do tenente-detetive encarregado da investigação, até o sincero entusiasmo amoroso de um sedutor gigolô de refinado porte, passando pela paixão paranoica de um maduro e ciumento escritor.


A trama se passa na cidade de Nova York, onde uma sofisticada mulher chamada Laura Hunt (Gene Tierney) foi assassinada. O detetive Mark McPherson (Dana Andrews) assume o caso, e suas primeiras tarefas são interrogar dois suspeitos, um jornalista chamado Waldo Lydecker (extraordinário Clifton Webb) e Shelby Carpenter (Vincent Price, como sempre, canastrão), o noivo da falecida.



Preminger maneja o filme com leveza e elegância. Refinamento na direção e tensão na construção do suspense. Um magnífico roteiro com engenhosos diálogos e a esplêndida fotografia do grande Joseph LaShelle (que levou seu único Oscar com este título) dotam o relato de um tom enigmático que alcança sua máxima expressão com a aparição quase fantasmagórica da estrela Gene Tierney, junto ao quadro que se destaca na sala onde transcorre boa parte da ação. 

Perfeitamente dentro do thriller noir clássico, com as características de ambientação urbana, definição da psique de personagens ambíguos e uma perturbada trama, atmosfera taciturna, intervenção da femme fatale como eixo do assunto e utilização da narrativa em flashback. LAURA é uma intensa película romântica, com os ciúmes e a obsessão como principais mecanismos temáticos.



70 anos depois, tornou-se possivelmente um dos clássicos mais adorados, mais queridos. É ao mesmo tempo um perfeito representante de seu tempo e também um filme à frente de sua época. Tem um estilo clássico, mas simultaneamente a narrativa tem ousadias, até a câmara faz suaves ousadias. Toda a trama se desenvolve em um torno de uma jovem mulher estupendamente bela – Laura. Porém, passam-se uns 30 preciosos minutos dos 88 de ação antes que ela apareça. 

E quando Laura finalmente aparece, é num flashback, que é o relato do personagem que mais tempo ocupa a tela e a narrativa, Waldo Lydecker, sujeito insuportável, um dos tipos mais presunçosos, mais metidos a besta, mais repulsivos que o cinema já mostrou, interpretado magistralmente por Clifton Webb. Na época do filme, o ator tinha apenas 45 anos, mas parecia ter pelo menos duas décadas e meia a mais, um contraste absurdo com a exuberante beleza e juventude de Gene Tierney, que tinha apenas 24 anos quando fez o filme.



Preste atenção na sensível canção tema de David Raksin, que depois ganharia letra de Johnny Mercer, virando um imenso sucesso, um standard, uma pérola da grande música norte-americana, gravada por cantores e cantoras importantes dos anos 1940 e 1950. 

O filme teve cinco indicações ao Oscar: Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Ator Coadjuvante (Clifton Webb), Melhor Direção de Arte em Preto-e-Branco e Melhor Fotografia em Preto-e-Branco. Ganhou só o de fotografia.

Nota: ***** (ótimo)


FICHA TÉCNICA

LAURA (Idem). Data: 1944. País: EUA. Duração: 88 min. P & B. Produção e Direção: Otto Preminger (Twentieth Century-Fox). Roteiro: Jay Dratler, Samuel Hoffenstein e Betty Reinhardt. Adaptação do romance de Vera Caspary. Fotografia: Joseph LaShelle. Edição: Louis Loeffler. Música: David Raksin. Cenografia: Lyle Wheeler e Leland Fuller (d. a.); Thomas Little e Paul S. Fox (déc.). Vestuário: Bonnie Cashin. 

Elenco: Gene Tierney (“Laura Hunt”), Dana Andrews (“Det. Lt. Mark McPherson”), Clifton Webb (“Waldo Lydecker”), Vincent Price (“Shelby Carpenter”), Judith Anderson (“Ann Treadwell”)     , Dorothy Adams e Grant Mitchell.

O DIRETOR

OTTO PREMINGER
(1905 – 1986)

Estudou Direito e Filosofia e trabalhou como diretor de teatro antes de se dedicar ao cinema. Em 1935, optou por deixar a Áustria, exilando-se nos Estados Unidos. Apesar da origem judia, atuou em alguns filmes no papel de nazista, por causa do seu sotaque. Tinha fama de pessoa rude e desagradável. Gostava de trabalhar com os temas dos desvios e conflitos comportamentais, deixando grandes obras em diversos gêneros cinematográficos, do romance ao filme de guerra. 

Seus principais filmes são Laura (1944); Entre o Amor e o Pecado / Forever Amber (1947); Alma em Pânico / Angel Face (1952); Carmen Jones / Idem (1954), musical protagonizado por atores negros, que revelou Dorothy Dandridge e Harry Belafonte; O Homem do Braço de Ouro / The Man with the Golden Arm (1955), polêmico drama sobre drogas, que deu a Frank Sinatra seu maior papel no cinema; Bom Dia, Tristeza / Bonjour Tristesse (1958), sensível e marcante drama baseado no best-seller de Françoise Sagan; Anatomia de um Crime / Anatomy of a Murder (1959), cultuado drama de tribunal; Exodus / Idem (1960), épico sobre a formação de Israel após o final da Segunda Guerra Mundial; Tempestade sobre Washington / Advise & Consent (1962), abordando a homossexualidade no universo político; A Primeira Vitória / In Harm's Way (1965); e Bunny Lake Desapareceu / Bunny Lake Is Missing (1965), um dos filmes-símbolos da década de 1960.

O ELENCO

GENE TIERNEY
(1920 – 1991)

Belíssima, nascida em uma família de posses, estudou nas melhores escolas da costa leste dos Estados Unidos e da Suíça. Foi casada com o estilista francês Oleg Cassini, com quem teve duas filhas. Iniciou a carreira artística no teatro, em 1938. 

Seu primeiro filme, A Volta de Frank James / The Return of Frank James, em 1939, dirigida por Fritz Lang. Sendo os mais importantes de sua carreira: Caminho Áspero / Tobacco Road (1941), de John Ford; O Diabo Disse Não / Heaven Can Wait (1943), de Ernst Lubitsch; Laura (1944); Amar Foi a Minha Ruína / Leave Her to Heaven (1945), de John M. Stahl; O Fio da Navalha / The Razor's Edge (1946), com Tyrone Power e Anne Baxter; O Fantasma Apaixonado / The Ghost and Mrs. Muir (1947), de Joseph L. Mankiewicz; A Ladra / Whirlpool (1949), de Otto Preminger; Passos na Noite / Night and the City (1950), de Jules Dassin; Tempestade Sobre Washington (1962), com Henry Fonda. 

Sua última atuação foi na minissérie televisiva Scruples, em 1980. Em 1946 foi indicada ao Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na categoria de Melhor Atriz pela atuação em Amar Foi a Minha Ruína.

DANA ANDREWS
(1909 – 1992)

Em 1931, ele viajou até Los Angeles, Califórnia, buscando oportunidades para trabalhar como cantor. Ali assumiu vários empregos e um dos seus empregadores lhe pagou um curso na prestigiosa escola teatral Pasadena Playhouse. Pouco depois assinaria contrato com o famoso produtor cinematográfico Samuel Goldwyn e em 1940 estrearia em um filme de William Wyler, O Galante Aventureiro / The Westerner, atuando ao lado de Gary Cooper. 

Chamou a atenção como um jovem vítima de linchamento no faroeste clássico Consciências Mortas / The Ox-Bow Incident (1943), estrelado por Henry Fonda. Na sequência da carreira, assumiria papéis em filmes noir. Em 1946, seria um soldado que retorna da guerra em Os Melhores Anos de Nossas Vidas / The Best Years of Our Lives. Nos anos 1950, o alcoolismo fez com que sua carreira declinasse, sendo forçado a atuar em produções menores. Em 1963, foi eleito presidente do Screen Actors Guild. Entre 1969 e 1972 ele apareceu como o presidente de faculdade Tom Boswell na novela da NBC, Bright Promise.

CLIFTON WEBB
(1889 – 1966)

Começou como dançarino de salão, em Nova York, atuando depois em musicais e dramas na Broadway e em Londres, além de filmes mudos. Seu primeiro verdadeiro sucesso aconteceu na meia-idade como o elegante vilão Waldo Lydecker em Laura (1944), seguido de Elliott Templeton em O Fio da Navalha (1946) - ambos lhe valeram indicações ao Oscar. 

Seu famoso personagem Mr. Belvedere, apresentado em uma série de filmes da Fox, foi supostamente não muito longe de sua exigente, meticuloso e desgastante persona da vida real. Ele era inseparável de sua mãe dominadora, Maybelle, com quem viveu até a morte dela, aos 91 anos, seis anos antes de sua própria morte.

JUDITH ANDERSON
(1897 – 1992)

No início dos anos de 1930, ela já se estabelecera como uma das maiores atrizes do teatro de sua época e foi uma grande estrela na Broadway em todas as décadas de 1930, 1940 e 1950. Em 1936, interpretou Gertrude de Hamlet, com John Gielgud, em uma produção que também contou com Lillian Gish como Ofélia. Em 1937, juntou-se à Old Vic Company em Londres e interpretou Lady Macbeth, ao lado de Laurence Olivier. Em 1947, ela triunfou como Medeia, ganhando o prêmio Tony de Melhor Atriz. 

Em Hollywood, seus traços marcantes e não convencionalmente atraentes renderam-lhe oportunidades limitadas e como coadjuvante. Ela, naturalmente, preferia o palco. No entanto, fez um punhado de filmes importantes, sendo nomeada para Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em Rebecca, a Mulher Inesquecível / Rebecca (1940), de Alfred Hitchcock (1940). Sua governanta Mrs. Danvers é considerada um dos mais memoráveis e sexualmente ambíguos vilões do sexo feminino. Seu trabalho no cinema continuou na década de 1950, quando também participou de programas na televisão. 

Ela interpretou Herodias em Salomé / Idem (1953), Memnet em Os Dez Mandamentos / The Ten Commandments (1956), de Cecil B. de Mille, e teve um desempenho memorável como Big Momma no filme da peça de Tennessee Williams, Gata em Teto de Zinco Quente / Hot Tin Roof (1958). Apesar de dois casamentos, a atriz esteve sujeita a especulações sobre sua sexualidade durante toda a sua carreira. Em sua biografia de Otto Preminger: The Man Who Would Be King (2007), Foster Hirsch afirma sem rodeios que Anderson era homossexual, estendendo-se essa especulação até os dias atuais.

VINCENT PRICE
(1911 – 1993)

Veio de uma família rica, cercada por um ambiente cultural acima dos padrões e envolta em tradições antigas à moda europeia. Começou no teatro, depois passou ao cinema onde ficou mundialmente conhecido por contracenar em filmes de suspense e terror, o que lhe rendeu a alcunha de "Mestre do Macabro". A sua trajetória é longa e inclui muitos clássicos. Seu último filme foi Edward Mãos de Tesoura / Edward Scissorhands (1990), contracenando com Johnny Depp.



8 comentários:

renatocinema disse...

Que bom que seu site voltou.....fico feliz.

Lerei com calma ao longo da semana.

abs

Angelus Magno disse...

Mulher fatal...

Jô Barreto disse...

maravilhosa!

Jane Souto disse...

Extremamente bela!

Cristina Queiróz disse...

Amo Gene e amo Laura!

Daniele Moura disse...

ene e Laura são amores eternos pra mim!!!!!!!!!!!

Sonia Brazão disse...

OVƸ LOVƸ LOVƸ # filmaço!

Kley Coelho disse...

Filme inesquecível.