junho 07, 2012

********* SALA VIP: "Os ETERNOS DESCONHECIDOS"



DOCE e AMARGO

A comédia à italiana foi o único gênero europeu (o policial francês chegou perto) com capacidade para competir comercialmente com os produtos da indústria cinematográfica made in USA.  Ela conseguiu reunir uma equipe de realizadores notáveis (De Sica, Monicelli, Scola, Risi, Nanni Loy, Comencini, Steno...), hilários e inteligentes roteiristas (Age, Scarpelli, Sonego, Maccari, Scola...) e um rico elenco de excepcionais intérpretes (Gassman, Mastroianni, Sordi, Sophia Loren, Monica Vitti, Tognazzi, Manfredi, Totó, Anna Magnani...). 

Em seus títulos mais destacados, unem a legítima expressão autoral, a condição de entretenimento e a benevolência dos críticos. Filmes de alvo eminentemente popular que se convertem em um autêntico fenômeno cultural e cinematográfico. Surgiu da evolução (ou perversão) do neo-realismo, do resgate de comédias burlescas dos anos 40 - chamadas telefones brancos -, e do próprio espírito pícaro italiano. Misturando comédia e drama - ou comedia e intriga policial -, gente comum, vivências nada heroicas e um discurso que se coloca a favor dos miseráveis, deixaram um legado de várias obras-primas. Os ETERNOS DESCONHECIDOS é uma delas.
monicelli e totò

Como tantos personagens da comédia à italiana, os picaretas do filme de Mario Monicelli (1915 - 2010) desconhecem o êxito e o amor. A pobreza, o desemprego, a sobrevivência a qualquer custo, uma certa inocência e os problemas de uma vida difícil marcam sua trajetória fracassada. O embate permanente entre o grotesco e o cômico, a caricatura e a ternura, a doçura e a amargura, confere dinamismo e empatia a uma farsa memorável, de palpitante observação social. A trama, para quem não conhece, é simplória: um bando de ladrões pé de chinelo planeja o golpe perfeito, roubando o cofre de uma loja de penhores, mas nem tudo sai como planejado. Por mais que eles se considerem espertos e pensem que estão realizando o golpe mais primoroso, desde o começo dos preparativos se manifesta a desorganização, assim como a inaptidão de cada um dos membros para levar a cabo o atrapalhado roubo. Divertidíssima, continua até hoje com um frescor impecável.

monicelli

Primeiro sucesso de público e crítica de Monicelli, diretor que se especializou no humor, realizando uma série de filmes inesquecíveis, como “Os Companheiros / I Compagni” (1963) e “Brancaleone nas Cruzadas / Brancaleone alle Crociate” (1970). Com talentosa trilha sonora jazzística e atores em estado de graça, não é fácil recordar comédia tão divertida como esta e muitas de suas situações foram copiadas ao longo do tempo, como o Woody Allen de “Trapaceiros / Small Time Crocks” (2000). Beirando o humor negro, sua parte final é simplesmente antológica. Os ETERNOS DESCONHECIDOS é sem dúvida obrigatório para qualquer cinéfilo.

Os ETERNOS DESCONHECIDOS (I Soliti Ignoti,1958). Produtor: Franco Cristaldi (Vides/Lux Film/Cineccità); Diretor: Mario Monicelli; Roteiro: Age, Scarpelli, Suso Cecchi d'Amico e Mario Monicelli; Fotografia: Gianni Di Venanzo; Edição: Adriana Novelli; Música: Piero Umiliani; Cenografia: Piero Gherardi; Elenco: Vittorio Gassman (“Peppe”), Marcello Mastroianni (“Tiberio”), Renato Salvatori (“Mario Angeletti”), Totó (“Dante Cruciani”), Carlo Pisacane (“Capannelle”), Tiberio Murgia (“Michele ‘Ferribotte’”), Claudia Cardinale (“Carmelina”), Carla Gravina (“Nicoletta)”, Memmo Carotenuto (“Cosimo”) e Rosanna Rory (Norma).

O ELENCO

VITTORIO GASSMAN 
(1922 - 2000)
como Peppe

Um dos maiores atores do século XX, com carreira brilhante tanto no cinema como no teatro, onde era conhecido como uma das lendas vivas da arte dramática. Depois de fracassada incursão por Hollywood, ganhou novo fôlego quando atuou nesta célebre comédia. Inspirado, explosivo e irresistível, faz um boxeador decadente que é o cérebro do grupo, mas possivelmente é o mais estúpido de todos. Sua confissão na delegacia por um crime que não cometeu é impagável.

MARCELLO MASTROIANNI 
(1924 - 1996)
como Tibério

Esbanjando talento e charme, atingiu o estrelato com este filme, tornando-se o maior ator do cinema italiano, status que foi confirmado ao longo das décadas de 60 e 70, quando brilhou em filmes dos principais cineastas da Itália, seja como comediante, astro romântico ou intérprete de papéis dramáticos. Seu Tibério, com a esposa na cadeia, carrega o filho bebê para as reuniões de planejamento do golpe e termina quebrando um braço.

RENATO SALVATORI 
(1933 - 1988)
como Mario Angeletti

Descoberto em uma praia onde trabalhava como salva-vidas, ele era um galã típico da periferia romana, com um físico robusto e muito mulherengo. Trabalhou com os mais importantes diretores italianos, rodando “Duas Mulheres / La Ciociara”, em 1960, com Sophia Loren; “Z / Idem”, de Costa-Gavras, em 1969; e “Cadáveres Ilustres / Cadaveri Eccellenti”, de Francesco Rosi, em 1976. Em 1960, ao lado de Alain Delon e de Annie Girardot, que viria a se tornar sua esposa, ele estrelou “Rocco e Seus Irmãos / Rocco e i suoi Fratelli”, de Luchino Visconti. Mario, o mais jovem do bando, criado num orfanato, resolve mudar de vida ao se apaixonar por Carmelina.

CARLO PISACANE 
(1891 - 1974)
como Capannelle

Comediante com mais de 80 filmes no currículo, entre eles “O Incrível Exército de Brancaleone / L’Armata Brancaleone” (Mario Monicelli, 1966), “Felizes para Sempre / C’era Uma Volta...” (Francesco Rosi, 1967) e “Irmão Sol, Irmã Lua / Fratello Sole, Sorella Luna” (Franco Zefirelli, 1972). Desdentado e esfomeado, o idoso e ágil Capannelle sonha comprar uma bela amante com o dinheiro do golpe.

CLAUDIA CARDINALE 
(nasceu em 1938)
como Carmelina

Uma das atrizes mais lindas de todos os tempos. De impressionante figura, grandes olhos e voz doce, casou-se com o famoso produtor Franco Cristaldi, que fez dela uma estrela, tornando-se um dos maiores nomes do cinema italiano, musa de Fellini e Visconti. Irmã de um dos marginais, siciliana, sua Carmelina vive praticamente trancada em casa, segundo a mais restrita tradição familiar machista. Mas rola um romance secreto juvenil (e pouco explorado) com Salvatori.

TOTÓ 
(1898 - 1967)
como Dante Cruciani

O mais popular comediante do cinema italiano nas décadas de 40 e 50. Apareceu em um filme pela primeira vez em 1937, figurando em mais de cem películas, muitos das quais com suas tiradas inusitadas incorporadas na língua italiana. Numa participação especial, imponente e magnética, faz um especialista em arrombar cofres. Sua confusa lição no terraço é primorosa.

CARLA GRAVINA 
(nasceu em 1941)
como Nicoletta

Boa atriz que nunca chegou ao estrelato, mas apareceu em cerca de quarenta filmes entre 1957 e 1998. Ganhou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Cannes por seu papel em “O Terraço / La Terrazza” (1980), de Ettore Scola. Faz uma criada bela e namoradeira, que esnoba seus amantes.

cartaz polonês de "os eternos desconhecidos"

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VITTORIO GASSMAN
MARIO MONICELLI

26 comentários:

João Roque disse...

Este filme fabuloso que reúne no seu elenco a fina flor do cinema italiano da época, chamou-se entre nós "Gangsters Falhados".

M. disse...

E eu que não sabia nada a respeito! Ah Antonio, seu blog é tudo!

disse...

A dica já está anotada, ainda mais por ser um filme com Mastroianni e Cardinale! Adoro as comédias italianas que juntavam Marcello e Sophia Loren.
Abraços!

Rubi disse...

Confesso que conheço muito pouco o cinema italiano, e assim como a Lê, já anotei a dica. Admiro muito o trabalho do Marcello Mastroianni (mesmo tendo assistido poucos filmes com ele). Sem dúvida, um excelente post!

Darci Fonseca disse...

Nahud, I Soliti Ignoti é um daqueles filmes perfeitos. Comédia soberba e superior ao suspense de Dassin que parodiou. Assisti em 1959 e tive que esperar até 1981 para revê-lo num Ciclo de Cinema Italiano em São Paulo. Não havia envelhecido nada. Clássico absoluto da comédia italiana e com um elenco que não se reúne com facilidade. Além dos nomes famosos lá estão Memo Carotenutto, o impagável Carlo Pisacane, Rosanna Rory e Tiberio Murgia. Belíssima lembrança, Nahud.
Darci Fonseca - WESTERNCINEMANIA

linezinha disse...

Do Monicelli só assisti "O incrível exército de Brancaleone",esse não conhecia,ótima indicação Antonio!
Abç

Rodrigo Duarte disse...

Esse filme é fantástico, considerado com justiça uma das melhores comédias de todos os tempos. Abraço.

Anônimo disse...

Infelizmente não assisti Rufufú, um filme dirigido por Monicelli e um elenco da maior grandeza do cinema italiano, deve ser um filme
inesquecível. Sou obrigado a agradecer ao editor por esta lembrança e homenagem ao cinema
italiano daquela época, que a meu ver foi o melhor cinema da Europa.

Jefferson C. Vendrame disse...

Preciso aprender a gostar do cinema europeu....
Ótimo Post Antonio...

Nasser disse...

Sou fã dos roteiros de Age-Scarpelli. Conseguem ser populares, inteligentes e divertidos. Melhor que eles somente o Cesare Zavatini e o Tonino Guerra. A Itália é farta de grandes roteiristas. Daria um post, Nahud.

Helena Sarraf disse...

Bela foto da Claudia Cardinale. Vejo que ela continua viva, Falcão. Sabe se continua trabalhando e como ficou depois de idosa?

Brenda Rosado disse...

Amo Totó. Ele é muito engraçado e talentoso.

Marcelo Castro Moraes disse...

Tem um filme Italiano, que infelizmente me falha o nome, que só pela cena, já vale a pena assistir. Eu vi essa cena pela primeira vez, num programa do Domingão do Faustão. É bem assim: Um cara ta viajando na estrada e para por um momento, para perguntar as horas para um cara, que este deitado na grama, ao lado de um boi. Só que em vez dele olhar para um relógio, ele coloca a mão no saco do boi e diz as horas para o outro, daí o primeiro pergunta: Tem certeza que é esse horário? Daí o do boi responde, absoluta!

Passados umas horas, o moço retorna, e pergunta para o outro, como é que ele sabe que horas são somente tocando no saco do boi. A câmera focaliza o segredo, que é ele colocar o saco do boi para o outro lado, para enxergar um relógio de uma catedral que esta perto dali.

Ri muito dessa cena, mas não me lembro do titulo desse filme, alguém sabe? Antonio vc sabe?

Sergio Andrade disse...

Vi faz um bom tempo, numa péssima cópia em VHS. Não me entusiasmou. Preciso rever em melhores condições.

linezinha disse...

Antonio gostei muito do Incrível exército...,uma sátira divertidissima sobre as novelas de cavalaria e o Gassmann tb ta ótimo. Voltando a falar da Claudia Cardinale ela continua uma bela senhora e não é adepta das plásticas,esse filme Effie se não me engano já está para estreiar Antonio?
Abç

Rafa Amaral disse...

"Os Eternos Desconhecidos" é uma das maiores comédias de todos os tempos. Digo isso sem medo algum. Poucas vezes me diverti tanto em um filme como neste: uma delícia com um timaço de atores. Grande lembrança. Abraços. cinemavelho.com

Marcia Moreira disse...

Por falar em italiano. Advinhe o que ganhei no Dia dos Namorados do meu boyfriend? A "Trilogia dos dólares" de Sérgio Leone. Bárbaro!

Suzane Weck disse...

Ola,acredito que nunca mais teremos atores,atrizes ,diretores e principalmente filmes italianos como os mencionados neste teu post.As comédias principalmente,chegavam a ser ingênuas,e o riso chegava fácil.Alberto Sordi com seus personagens "ridículos-românticos" também marcou na sua época.Que belas lembranças.......Abraço grande meu querido Falcão.

Márcio Sallem disse...

Não conhecia, mas Mastroiani, Totó e Cardinale (deusa), como perder?

linezinha disse...

Antonio vou postar um noticia que não tem nada a ver com o tópico:

E o vento levou...faleceu Ann Rutherford aos 94 anos na noite da segunda-feira(11/06),só ficando Olivia de Havilland a única viva do elenco.

http://br.noticias.yahoo.com/ann-rutherford-atriz-ventou-levou-morre-aos-94-161100619.html

http://cinema.uol.com.br/ultnot/2012/06/12/morre-aos-94-anos-a-atriz-ann-rutherford-do-filme-e-o-vento-levou.jhtm

Unknown disse...

Não conhecia, mas já fiquei curioso e vou procurar assitir o filme. Valeu pela dica, Nahud.

http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

J. BRUNO disse...

Este é outro que ainda não assisti Antônio, seu conhecimento enciclopédico me deixa sempre boquiaberto... Eu gosto muito do cinema italiano, mas não tenho um conhecimento tão vasto, já colocarei este na minha lista... Abraço forte amigo!

Lhu Weiss disse...

Então...vi um comentário de um amigo seu, em um blog de uma amiga minha e eis que cá estou!
Adoro tudo isso em seu blog!
Vou te seguir e perseguir! rsrs...
Abraços
Lhú Weiss
(sua nova seguidora)

Marco Antonio Silva disse...

Caro Antonio

Esses dias a atriz Ann Rutherford de E o vento levou faleceu , uma pena!
Começamos a conversar quais os atores e atrizes desse periodo que ainda estavam vivos
fora a Olivia e a Lauren Bacall que estão firmonas aí.
Vc sabe se a atriz Louise Ranier, de Terra dos Deuses esta viva?

abs

Marco Antonio

Michael Carvalho Silva disse...

Carla Gravina é linda demais. Realmente ela é uma belíssima, adorável e extremamente talentosa e carismática atriz e diva italiana que merecia muito se tornar uma grande estrela do cinema mundial pois ela é simplesmente maravilhosa, inesquecível mesmo.

Michael Carvalho Silva disse...

Cláudia Cardinale sempre foi linda, mas Carla Gravina e a saudosa Valentina Cortese são extremamente belíssimas e espetaculares sendo portanto de longe as duas mais extremamente deslumbrantes e estonteantes atrizes e divas italianas de todos os tempos.