A coexistência do grotesco e do sublime e, ao mesmo tempo, as fronteiras que os separam, constituem-se em ponto de partida do cruel romance medieval O CORCUNDA de NOTRE DAME (1831), de Victor Hugo. Fascinado pela imaginação criadora do autor, desde garoto leio e releio essa obra-prima. Quando estive em Paris pela primeira vez, visitei a casa-museu do autor e subi uma das torres da catedral gótica francesa com o livro colado ao peito. Emocionado, sentia-me o próprio protagonista disforme, mas também terno, ingênuo e apaixonado. Desenvolvendo paixões impossíveis e despertando no leitor as mais variadas emoções, o escritor reuniu magistralmente em uma mesma narrativa religiosos e vagabundos, ciganos e nobres, padres e vilões.
A história é centrada no coxo e corcunda Quasímodo. Adotado pelo diácono Claude Frollo e vivendo em Notre Dame, ele enfrenta uma série de peripécias por conta de um amor não correspondido pela bela e sedutora cigana Esmeralda. Frollo, colocando em risco o seu celibato, também se apaixona por ela, mas são duas formas de amar diferentes. Quasímodo ama-a generosamente, enquanto Frollo nutre uma paixão desesperada, repleta de desejo sexual. No entanto, Esmeralda não corresponde ao amor de nenhum dos dois, preferindo Phoebus, um soldado tolo, formoso e noivo que não tem nenhum tipo de sentimento especial por ela.
maureen o'hara é esmeralda em 1939 |
Desde o seu lançamento, O CORCUNDA de NOTRE DAME popularizou-se e foi adaptado à ópera. Chegou ao cinema em 1911. Com exceção das duas primeiras versões, vi todas as outras e, seguramente, a de 1939, dirigida pelo alemão William Dieterle, é a melhor de todas. A de 1956, de Jean Dellanoy, é frouxa, quase sonífera. E você, amigo(a) leitor(a), curte especialmente alguma das versões do clássico de Victor Hugo? Qual o seu Quasímodo favorito? E Esmeralda?
TODAS as VERSÕES
NOTRE DAME de PARIS
(1911)
direção de Albert Capellani
Com Henry Krauss, Stacia Napierkowska e Claude Garry
Produção francesa que se perdeu ao longo do tempo.
ESMERALDA
(1922)
direção de Edwin J. Collins
Com Sybil Thorndike, Booth Conway
e Arthur Kingsley
e Arthur Kingsley
Da Inglaterra, estrelado pela mítica atriz teatral Sybil Thorndike.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1923)
direção de Wallace Worsley
Com Lon Chaney, Patsy Ruth Miller e Ernest Torrance
Superprodução da Universal muito bem sucedida, arrecadando mais de três milhões de dólares e elogiada pelos críticos. Sustenta-se principalmente na magistral atuação de Lon Chaney, conhecido como “o homem das mil faces”.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1939)
direção de Willian Dieterle
Com Charles Laughton, Maureen O’Hara, Thomas Mitchell,
Sir Cedric Hardwicke, Edmond O’Brien e Harry Davenport
Sir Cedric Hardwicke, Edmond O’Brien e Harry Davenport
Um filme de interpretações memoráveis (destacando-se Charles Laughton, Sir Cedric Hardwicke e Thomas Mitchell) e trilha sonora fabulosa de Alfred Newman. A reconstituição da Paris da Idade Média é perfeita. Estreias de Edmond O’Brien e O’Hara (no cinema hollywoodiano). Uma experiência vibrante e emocionante. Grande adaptação do romance de Hugo. Recebeu duas indicações ao Oscar.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(Notre-Dame de Paris, 1956)
direção de Jean Delannoy
Com Anthony Quinn, Gina Lollobrigida e Alain Cuny
Luxuosa co-produção entre França e Itália, onde os atores Quinn e Lollobrigida estão perdidos, beirando a canastrice. A direção de Dellanoy é teatral e insossa. Cuny, como Frollo, leva o drama nas costas. Vale também pela beleza e sensualidade de Lollobrigida, então no auge da popularidade.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1982)
direção de Michael Tuchner
Com Anthony Hopkins, Lesley-Anne Down, Derek Jacobi,
John Gielgud e Robert Powell
Curioso telefilme com ótimo elenco. Hopkins, como o habitual, rouba a cena.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1996)
direção de Gary Trousdale e Kirk Wise
Dublado originalmente por Tom Hulce, Demi Moore
e Kevin Kline
e Kevin Kline
Boa animação da Disney, que mesmo açucarando o argumento sombrio não perdeu de vista o fio condutor do original.
O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback, 1997)
direção de Peter Medak
Com Mandy Patinkin, Richard Harris e Salma Hayek
Versão para a tevê com brilhante atuação de Richard Harris como Frollo. Destaque para a cena em que Esmeralda é torturada pela Inquisição.
27 comentários:
Amo o Quasímodo de Laughton (pois é humano) e a Esmeralda de O'Hara assim como um chato o Anthony Quinn e Lollobrigida um insulto à arte de representar... Que versao péssima... Nunca assisti a de Anthony Hopkins (com a bonita Lesley Ann Down) e NAO VOU assistir estes desenhos novos do Studio Disney... resumo: o "medievalismo" e a nota "escura e suja" da versao de 1939 considero perfeitas quando se pensa que este filme é baseado na obra de Victor Hugo...
Só vi a versão com o Laughton e a O'Hara. Mas já foi há tanto tempo que comprei o DVD na semana passada para rever. Coincidência você falar no filme aqui. Gostaria de ver também a versão de 82 com o Hopkins e a Lesley-Ann Down. Vou ver se encontro o DVD na Amazon
Abraço
O Rato Cinéfilo
Nahud, ótima matéria. talvez depois de OS TRÊS MOSQUETEIROS, de Dumas, é a obra literária mais adaptada na Sétima Arte. Assisti as versões de Laughton, Hopkins, Quinn, e Mandy Patinkin feito para televisão com Salma Hayek como Esmeralda e o notável Richard Harris como frolo.
As melhores versões para mim ficam a cargo de Laughton e Hopkins, mas sem dúvida, o ator mais marcante foi Charles Laughton no papel. A atuação de Anthony Hopkins, embora uma produção televisiva de requinte, fica entre as melhores do personagem.
UMA PENA, mas uma pena mesmo, que o brilhante Anthony Quinn tivesse que passar por esta experiência. Mas creio que o que deu de errado não foi o desempenho dele, mas a produção e a direção que não ajudaram, e muito menos Gina Lollobrigida, que nunca foi uma grande atriz, apesar de ser um monumento a beleza. Logo, não é desconhecido que Quinn podia interpretar qualquer papel, mas sem dúvida, Quasímodo não lhe sorriu.
A última que assisti foi a versão de Mandy Patinkin, que também foi formidável e figura entre as melhores adaptações do livro de Victor Hugo. Tudo foi perfeito, desde os cenários, figurinos, e claro, tendo de sustento as atuações de Richard Harris e Salma Hayek, além de um roteiro bem próximo a proposta do imortal escritor.
O Corcunda de Notre Dame foi um dos livros que mais gostei em minha adolescência. Depois gostei muito também do desenho da Disney e até da versão com Salma Hayec citada por você.
A versão de 1923 é magistral e Lon Chaney cria aqui um papel tão vibrante quanto a sua versão do Fantasma da Opera. Agora, devo reconhecer a coragem da Disney em sua adaptação de 1996. Embora tenha suavizado, ou até mesmo alterado a conduta de alguns personagens, o tema mais adulto se manteve e até mesmo explorando assuntos até então inéditos para o estúdio, como a cena em que Frollo pede a Santa Maria a morte de Esmeralda. Com certeza uma das cenas mais corajosas do estúdio, e só por isso, é uma produção que merece ser revista várias vezes.
vou confessar... nunca tinha lido ou visto nenhum filme sobre o corcunda. sempre escutei falar dele e tal, mas agora fiquei mais curioso em ver a história.
Nahud, belo trabalho!
Com relação ao personagem Quasímodo, eu acho que os melhores, foram:Lon Chaney e Charles Laughton.
Embora Josh Brolin esteja muito bem em W. não o consigo ver como Quasimodo. Preferia um ator europeu mais "dramático" para o papel.
Belo post!
O Corcunda é uma história clássica e seria interessante se um diretor estilo Tim Burton gravasse uma nova versão.
Como uma história dá tantas versões cinematográficas...
Sem dúvida alguma,O CORCUNDA DE NOTRE DAME
The Hunchback of Notre Dame, 1939
de Willian Dieterle.
Um filme inesquecível!
Parabéns,belíssimo texto.
Quero muito ver a versão de 1923 com Lon Chaney, um ator sensacional que se transformava para seus papéis.
Não sabia que Anthony Quinn havia feito uma versão. Ele é bem versátil. Por que o filme foi tão ruim?
Abraços!
Hoooooooooooooooooo! Amo !
... em diferentes filmes ... ... Charles Laughton e Gina Lollobrigida ...
Anthony Quinn
Um clássico da literatura e do cinema.
Nahud, passando rapidamente para dizer que não poderei comparecer ao lançamento do seu livro devido a problemas familiares. De qualquer, vou comprá-lo o mais rápido que puder! Grande abraço e sinceras desculpas pela ausência.
A versão de 1911 e a de 1956 eu ainda não vi.
Eu vi a de 1922 em VSH há alguns anos atrás.
A de 1982 eu vi quando era criança, pouco depois que foi filmado mesmo. Então, só lembro de algumas partes.
O desenho de 1996 eu só vi algumas cenas.
Mas acho que eu fico com a versão de 1997.
Só não entendo por quê esse filme costuma ser classificado por alguns como ´terror`. Isso é uma tragédia, e não um filme de terror.
Infelizmente, só conheço o desenho da Disney!
Não canso e afirmar: como estudante de história sou obrigado, moralmente, a entrar no seu site. Adoro sua viagem a história do cinema.
O seu texto analisando essa relevante história da cultura e decifrando o grotesco e o sublime é bárbaro.
Sou seu fã.
Quasímodo melhor que Laughton só quando construírem uma nova Notre-Dame. Esmeralda como Maureen nunca mais. - Darci Fonseca - WESTERNCINEMANIA
Antonio, mas que post incrível. A primeira versão que assisti foi justamente da Disney, no entanto, depois que assisti a versão de 1939, fiquei ainda mais encantada com a história. Willian Dieterle fez um ótimo trabalho e Charles Laughton deu um show como Quasímodo. Não só ele, mas o elenco todo é grandioso.
Antonio, seu post é um belo convite pra que conheçamos as adaptações da obra (eu ainda não conheço nenhuma :C... Ótima a sua resenha do livro de Hugo, um marco da literatura Romântica, e os filmes me deixaram com água na boca, especialmente essa versão elogiada de 1939 e a de 1911 (belo poster, aliás, esse film d'art da Pathé Frères é por acaso o de 11?).
Bjos
Dani
Antonio, eu nem sabia que existia tantos filmes sobre o Corcunda de Notre Dame. O mais interessante de cada um deles é a maquiagem e a caracterização de cada um deles. Acho a história do Quasímodo muito triste. É como eu digo: vir aqui é sempre aprender um pouco mais sobre a sétima arte. Um abraço.
Adoro o desenho Disney, mas acho a versão com Lon Chaney sensacional!
Abs.
Excelete história e postagem. Sem dúvida, seu espaço está cada vez mais bacana.
Grande abraço.
Fascinada pelo Corcunda, encontrei esse blog por acaso, enquanto procurava alguma informação sobre a adaptação do Tim Burton. Conheci a historia do Corcunda pela animação da Disney, e esse se tornou meu filme preferido desde então. Anos depois fui a procura da obra original e acabei ainda mais encantada por essa historia maravilhosa. Parabenizo-o pelo blog e pela iniciativa de trazer conteúdo e informação de qualidade para quem ama cinema, música e literatura.
M.
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