maio 17, 2012

*************** O CORCUNDA de VICTOR HUGO



A coexistência do grotesco e do sublime e, ao mesmo tempo, as fronteiras que os separam, constituem-se em ponto de partida do cruel romance medieval O CORCUNDA de NOTRE DAME (1831), de Victor Hugo. Fascinado pela imaginação criadora do autor, desde garoto leio e releio essa obra-prima. Quando estive em Paris pela primeira vez, visitei a casa-museu do autor e subi uma das torres da catedral gótica francesa com o livro colado ao peito. Emocionado, sentia-me o próprio protagonista disforme, mas também terno, ingênuo e apaixonado. Desenvolvendo paixões impossíveis e despertando no leitor as mais variadas emoções, o escritor reuniu magistralmente em uma mesma narrativa religiosos e vagabundos, ciganos e nobres, padres e vilões.

A história é centrada no coxo e corcunda Quasímodo. Adotado pelo diácono Claude Frollo e vivendo em Notre Dame, ele enfrenta uma série de peripécias por conta de um amor não correspondido pela bela e sedutora cigana Esmeralda. Frollo, colocando em risco o seu celibato, também se apaixona por ela, mas são duas formas de amar diferentes. Quasímodo ama-a generosamente, enquanto Frollo nutre uma paixão desesperada, repleta de desejo sexual. No entanto, Esmeralda não corresponde ao amor de nenhum dos dois, preferindo Phoebus, um soldado tolo, formoso e noivo que não tem nenhum tipo de sentimento especial por ela.

maureen o'hara é esmeralda
 em 1939
O livro não está unicamente baseado nesses amores desencontrados que terminam em tragédia. Toda a luta de classes na sociedade francesa do século XV é exposta: mendigos criando uma corte marginal chamada de “O Pátio dos Milagres”, burgueses assistindo aos espetáculos bárbaros e injustos de torturas na Praça de Grève, soldados cometendo crimes impunemente, diáconos traindo sua religião, ciganos ganhando a vida nas ruas e o próprio rei da época, Luís XI. Existem capítulos inteiros que, ao invés de abordarem Esmeralda ou Quasímodo, falam da catedral ou do monarca.

Desde o seu lançamento, O CORCUNDA de NOTRE DAME popularizou-se e foi adaptado à ópera. Chegou ao cinema em 1911. Com exceção das duas primeiras versões, vi todas as outras e, seguramente, a de 1939, dirigida pelo alemão William Dieterle, é a melhor de todas. A de 1956, de Jean Dellanoy, é frouxa, quase sonífera. E você, amigo(a) leitor(a), curte especialmente alguma das versões do clássico de Victor Hugo? Qual o seu Quasímodo favorito? E Esmeralda?

TODAS as VERSÕES

NOTRE DAME de PARIS
(1911)
direção de Albert Capellani
Com Henry Krauss, Stacia Napierkowska e Claude Garry

Produção francesa que se perdeu ao longo do tempo.

ESMERALDA
(1922)
direção de Edwin J. Collins
Com Sybil Thorndike, Booth Conway 
e Arthur Kingsley

Da Inglaterra, estrelado pela mítica atriz teatral Sybil Thorndike.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1923)
direção de Wallace Worsley
Com Lon Chaney, Patsy Ruth Miller e Ernest Torrance

Superprodução da Universal muito bem sucedida, arrecadando mais de três milhões de dólares e elogiada pelos críticos. Sustenta-se principalmente na magistral atuação de Lon Chaney, conhecido como “o homem das mil faces”.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1939)
direção de Willian Dieterle
Com Charles Laughton, Maureen O’Hara, Thomas Mitchell,
Sir Cedric Hardwicke, Edmond O’Brien e Harry Davenport

Um filme de interpretações memoráveis (destacando-se Charles Laughton, Sir Cedric Hardwicke e Thomas Mitchell) e trilha sonora fabulosa de Alfred Newman.  A reconstituição da Paris da Idade Média é perfeita. Estreias de Edmond O’Brien e O’Hara (no cinema hollywoodiano). Uma experiência vibrante e emocionante. Grande adaptação do romance de Hugo. Recebeu duas indicações ao Oscar.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(Notre-Dame de Paris, 1956)
direção de Jean Delannoy
Com Anthony Quinn, Gina Lollobrigida e Alain Cuny

Luxuosa co-produção entre França e Itália, onde os atores Quinn e Lollobrigida estão perdidos, beirando a canastrice. A direção de Dellanoy é teatral e insossa. Cuny, como Frollo, leva o drama nas costas. Vale também pela beleza e sensualidade de Lollobrigida, então no auge da popularidade.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1982)
direção de Michael Tuchner
Com Anthony Hopkins, Lesley-Anne Down, Derek Jacobi,
John Gielgud e Robert Powell

Curioso telefilme com ótimo elenco. Hopkins, como o habitual, rouba a cena.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback of Notre Dame, 1996)
direção de Gary Trousdale e Kirk Wise
Dublado originalmente por Tom Hulce, Demi Moore 
e Kevin Kline

Boa animação da Disney, que mesmo açucarando o argumento sombrio não perdeu de vista o fio condutor do original.

O CORCUNDA de NOTRE DAME
(The Hunchback, 1997)
direção de Peter Medak
Com Mandy Patinkin, Richard Harris e Salma Hayek

Versão para a tevê com brilhante atuação de Richard Harris como Frollo. Destaque para a cena em que Esmeralda é torturada pela Inquisição.



27 comentários:

As Tertulías disse...

Amo o Quasímodo de Laughton (pois é humano) e a Esmeralda de O'Hara assim como um chato o Anthony Quinn e Lollobrigida um insulto à arte de representar... Que versao péssima... Nunca assisti a de Anthony Hopkins (com a bonita Lesley Ann Down) e NAO VOU assistir estes desenhos novos do Studio Disney... resumo: o "medievalismo" e a nota "escura e suja" da versao de 1939 considero perfeitas quando se pensa que este filme é baseado na obra de Victor Hugo...

Rato disse...

Só vi a versão com o Laughton e a O'Hara. Mas já foi há tanto tempo que comprei o DVD na semana passada para rever. Coincidência você falar no filme aqui. Gostaria de ver também a versão de 82 com o Hopkins e a Lesley-Ann Down. Vou ver se encontro o DVD na Amazon

Abraço
O Rato Cinéfilo

Paulo Telles disse...

Nahud, ótima matéria. talvez depois de OS TRÊS MOSQUETEIROS, de Dumas, é a obra literária mais adaptada na Sétima Arte. Assisti as versões de Laughton, Hopkins, Quinn, e Mandy Patinkin feito para televisão com Salma Hayek como Esmeralda e o notável Richard Harris como frolo.

As melhores versões para mim ficam a cargo de Laughton e Hopkins, mas sem dúvida, o ator mais marcante foi Charles Laughton no papel. A atuação de Anthony Hopkins, embora uma produção televisiva de requinte, fica entre as melhores do personagem.

UMA PENA, mas uma pena mesmo, que o brilhante Anthony Quinn tivesse que passar por esta experiência. Mas creio que o que deu de errado não foi o desempenho dele, mas a produção e a direção que não ajudaram, e muito menos Gina Lollobrigida, que nunca foi uma grande atriz, apesar de ser um monumento a beleza. Logo, não é desconhecido que Quinn podia interpretar qualquer papel, mas sem dúvida, Quasímodo não lhe sorriu.

A última que assisti foi a versão de Mandy Patinkin, que também foi formidável e figura entre as melhores adaptações do livro de Victor Hugo. Tudo foi perfeito, desde os cenários, figurinos, e claro, tendo de sustento as atuações de Richard Harris e Salma Hayek, além de um roteiro bem próximo a proposta do imortal escritor.

Gilberto Carlos disse...

O Corcunda de Notre Dame foi um dos livros que mais gostei em minha adolescência. Depois gostei muito também do desenho da Disney e até da versão com Salma Hayec citada por você.

Marcelo Castro Moraes disse...

A versão de 1923 é magistral e Lon Chaney cria aqui um papel tão vibrante quanto a sua versão do Fantasma da Opera. Agora, devo reconhecer a coragem da Disney em sua adaptação de 1996. Embora tenha suavizado, ou até mesmo alterado a conduta de alguns personagens, o tema mais adulto se manteve e até mesmo explorando assuntos até então inéditos para o estúdio, como a cena em que Frollo pede a Santa Maria a morte de Esmeralda. Com certeza uma das cenas mais corajosas do estúdio, e só por isso, é uma produção que merece ser revista várias vezes.

railer disse...

vou confessar... nunca tinha lido ou visto nenhum filme sobre o corcunda. sempre escutei falar dele e tal, mas agora fiquei mais curioso em ver a história.

Eddie Lancaster disse...

Nahud, belo trabalho!
Com relação ao personagem Quasímodo, eu acho que os melhores, foram:Lon Chaney e Charles Laughton.

Enaldo Soares disse...

Embora Josh Brolin esteja muito bem em W. não o consigo ver como Quasimodo. Preferia um ator europeu mais "dramático" para o papel.

Película Criativa disse...

Belo post!

O Corcunda é uma história clássica e seria interessante se um diretor estilo Tim Burton gravasse uma nova versão.

João Roque disse...

Como uma história dá tantas versões cinematográficas...

A Arte de Inha Bastos disse...

Sem dúvida alguma,O CORCUNDA DE NOTRE DAME
The Hunchback of Notre Dame, 1939
de Willian Dieterle.
Um filme inesquecível!
Parabéns,belíssimo texto.

disse...

Quero muito ver a versão de 1923 com Lon Chaney, um ator sensacional que se transformava para seus papéis.
Não sabia que Anthony Quinn havia feito uma versão. Ele é bem versátil. Por que o filme foi tão ruim?
Abraços!

Silvia Maria Sena disse...

Hoooooooooooooooooo! Amo !

Beto Pires de Almeida disse...

... em diferentes filmes ... ... Charles Laughton e Gina Lollobrigida ...

José Carlos Cruz disse...

Anthony Quinn

Lúcio Pamplona disse...

Um clássico da literatura e do cinema.

Fábio Henrique Carmo disse...

Nahud, passando rapidamente para dizer que não poderei comparecer ao lançamento do seu livro devido a problemas familiares. De qualquer, vou comprá-lo o mais rápido que puder! Grande abraço e sinceras desculpas pela ausência.

Bússola do Terror disse...

A versão de 1911 e a de 1956 eu ainda não vi.
Eu vi a de 1922 em VSH há alguns anos atrás.
A de 1982 eu vi quando era criança, pouco depois que foi filmado mesmo. Então, só lembro de algumas partes.
O desenho de 1996 eu só vi algumas cenas.
Mas acho que eu fico com a versão de 1997.
Só não entendo por quê esse filme costuma ser classificado por alguns como ´terror`. Isso é uma tragédia, e não um filme de terror.

Rodrigo Duarte disse...

Infelizmente, só conheço o desenho da Disney!

renatocinema disse...

Não canso e afirmar: como estudante de história sou obrigado, moralmente, a entrar no seu site. Adoro sua viagem a história do cinema.

O seu texto analisando essa relevante história da cultura e decifrando o grotesco e o sublime é bárbaro.

Sou seu fã.

Darci Fonseca disse...

Quasímodo melhor que Laughton só quando construírem uma nova Notre-Dame. Esmeralda como Maureen nunca mais. - Darci Fonseca - WESTERNCINEMANIA

Rubi disse...

Antonio, mas que post incrível. A primeira versão que assisti foi justamente da Disney, no entanto, depois que assisti a versão de 1939, fiquei ainda mais encantada com a história. Willian Dieterle fez um ótimo trabalho e Charles Laughton deu um show como Quasímodo. Não só ele, mas o elenco todo é grandioso.

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Antonio, seu post é um belo convite pra que conheçamos as adaptações da obra (eu ainda não conheço nenhuma :C... Ótima a sua resenha do livro de Hugo, um marco da literatura Romântica, e os filmes me deixaram com água na boca, especialmente essa versão elogiada de 1939 e a de 1911 (belo poster, aliás, esse film d'art da Pathé Frères é por acaso o de 11?).

Bjos
Dani

M. disse...

Antonio, eu nem sabia que existia tantos filmes sobre o Corcunda de Notre Dame. O mais interessante de cada um deles é a maquiagem e a caracterização de cada um deles. Acho a história do Quasímodo muito triste. É como eu digo: vir aqui é sempre aprender um pouco mais sobre a sétima arte. Um abraço.

Rodrigo Mendes disse...

Adoro o desenho Disney, mas acho a versão com Lon Chaney sensacional!

Abs.

Maxx disse...

Excelete história e postagem. Sem dúvida, seu espaço está cada vez mais bacana.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Fascinada pelo Corcunda, encontrei esse blog por acaso, enquanto procurava alguma informação sobre a adaptação do Tim Burton. Conheci a historia do Corcunda pela animação da Disney, e esse se tornou meu filme preferido desde então. Anos depois fui a procura da obra original e acabei ainda mais encantada por essa historia maravilhosa. Parabenizo-o pelo blog e pela iniciativa de trazer conteúdo e informação de qualidade para quem ama cinema, música e literatura.
M.