Jean Domarchi e Jacques Rivette entrevistam o cineasta
FRITZ LANG (1890 – 1976. Viena, Áustria) para o número 99 da revista francesa
“Cahiers du Cinéma”, em 1959.
Será que com o tempo existem
certos filmes que estima mais?
Sim, naturalmente. Olhem, quando filmo superproduções,
interesso-me sobretudo pelas emoções das pessoas, pelas reações do público.
Porque num filme de aventuras ou num filme de crime, tal como “Dr. Mabuse” ou
“Os Espiões”, só há a pura sensação, o desenvolvimento dos costumes não existe.
Mas em “M” começava algo de muito novo para mim, que prossegui em “Fúria”. “M”
e “Fúria”, são, creio, os filmes que prefiro. Há ainda outros, que realizei na
América, tais como “Almas Perversas”, “Um Retrato de Mulher”, “No Silêncio de
uma Cidade”. São todos filmes com base numa crítica social. Naturalmente,
prefiro isso, pois julgo que a crítica é algo de fundamental para um
realizador.
lang e karl freund durante filmagem de “metropolis” |
Sim, para todos os meus filmes.
Mesmo para “Os Nibelungos”?
Exato, mas julgo que o filme saiu demasiado grande para tocar
minuciosamente as almas.
Já mesmo em “Metrópolis” esse assunto está muito nitidamente
indicado.
Sou muito severo com as minhas obras. Atualmente já não se pode
dizer que o coração é o mediador entre a mão e o cérebro, pois se trata de um
puro problema econômico. É por isso que não gosto de “Metrópolis”. É falso, a
conclusão é falsa, eu já não o aceitava quando realizava o filme.
Enquanto a conclusão de “Fúria”, não a nega?
Não, a conclusão de “Fúria” é uma conclusão individual, não uma
conclusão geral. Não se podem dar receitas para se viver. É impossível.
lang, a esposa thea von harbou e equipe em 1924 |
Não, evidentemente. Nunca assinei um filme unicamente pelo
dinheiro, nunca. Mas quanto a alguns filmes confesso que poderia ter feito
outra coisa diferente. Desde que conceba um filme, interesso-me por ele, mas
alguns filmes de aventura interessam-me menos do que “Fúria” ou “Um Retrato de
Mulher”, em resumo, do que filmes que criticam a nossa sociedade.
Considera o cinema um instrumento de educação?
Para mim, o cinema é um vício. Gosto muito dele, infinitamente.
Escrevi muitas vezes que é a arte do nosso século. E ele tem de ser crítico.
Em que medida foi influenciado ou em que medida reagiu contra a
corrente expressionista?
Fui muito influenciado. Não se pode atravessar uma época sem se
receber alguma coisa dela.
“Os Nibelungos” parecem-nos expressionista no bom sentido do termo
enquanto “O Gabinete do dr. Caligari” parece-nos sê-lo no mau sentido.
joan bennett e lang em 1945 |
O que é que lhe parecia bom no movimento expressionista, o que é
que utilizou nos seus filmes?
É muito difícil dizer o que; o que utilizo são as minhas emoções,
tento criar alguma coisa. (...) Não posso responder-lhes, são emoções. Quando
jovens cineastas me pedem: “Dê-nos as regras para realizar um filme”,
digo-lhes: “Não há regras”. (...) Portanto, não posso dizer o que encontrei no
expressionismo. Utilizei-o, tentei digeri-lo.
Teve a ocasião de conhecer Murnau na Alemanha?
Sim, mas não muito bem. Partiu muito cedo para a América e já
estava morto quando cheguei lá. Realizou obras excelentes. Era uma
personalidade muito interessante. Fez “Nosferatu”, muito, muito bom. “Tabu”, e
mesmo um “Fausto” onde se encontravam coisas muito, muito apaixonantes.
E o que pensa de Orson Welles, de Nicholas Ray?
Vi dois ou três filmes de Ray de que gosto muito. “Juventude
Transviada” é um filme muito bom.
o seu primeiro filme, “amarga esperança”, era muito inspirado nos
seus filmes.
Concordo. Olhem, roubei coisas a outros diretores e fico muito
contente e muito orgulhoso se alguém me rouba alguma coisa. O que significa
roubar? Toma-se uma idéia que se admira e se tenta fazê-la. Sua.
O MESTRE das TREVAS
A carreira de FRITZ LANG é
definida por dois países que o cineasta viveu e rodou seus filmes. Primeiro na
Alemanha, onde brilhou com longas expressionistas e chegou a ser apelidado de “The
Master of Darkness” – o Mestre das Trevas – pelo British Film Institute. Em
Hollywood, onde surgiu fugindo dos nazistas nos anos 1930, ele
aprimorou sua técnica do uso de luz e sombra. Separei 10 filmes
do mestre.
10 GRANDES FILMES de FRITZ LANG
(por ordem de preferência)
01
Os CORRUPTOS
Com: Glenn Ford, Gloria Grahame e Lee Marvin
02
M, o VAMPIRO de DUSSELDORF
Com:
Peter Lorre
03
FÚRIA
Com: Sylvia Sidney,
Spencer Tracy, Bruce Cabot
e Walter Brennan
04
ALMAS PERVERSAS
Com: Edward G.
Robinson, Joan Bennett e Dan Duryea
05
Um RETRATO de MULHER
Com: Edward G.
Robinson, Joan Bennett,
Raymond Massey e Dan
Duryea
06
DESEJO HUMANO
Com: Glenn Ford, Gloria Grahame e Broderick Crawford
07
VIVE-SE UMA só VEZ
Com: Sylvia Sidney e
Henry Fonda
08
METRÓPOLIS
Com: Alfred Abel, Rudolf Klein-Rogge e Brigitte Helm
09
Os CARRASCOS TAMBÉM MORREM
Com: Brian Donlevy,
Walter Brennan, Anna Lee
e Dennis O’Keefe
10
CONQUISTADORES
Com: Robert Young, Randolph Scott, Dean Jagger,
Virginia Gilmore,
John Carradine e Chill Wills
20 comentários:
Ótimo diretor,quando ouço falar nele o primeiro que vem a cabeça é Almas perversas 😀
Que entrevista incrível, Antonio! O Fritz era grande!
12 de maio de 2011 11:36
Ah, o meu filme favorito dele é "Almas Perversas" - que parceria bonita ele fez com a Joan Bennett! - e tenho afeto por "Os Nibelungos", uma produção suntuosa.
12 de maio de 2011 11:38
Caro amigo, às vezes peco por não elogiar. Talvez seja para que você não fique mal acostumado, rs
MAs esteja certo que seu BLOG é um deleite para meus olhos e agora para meus ouvidos.
Obrigada! Beijinhussssssssssssssssssssssssss
13 de maio de 2011 18:37
Antônio, vi seu blog, ficou ótimo. As fotos de Pacto de Sangue e Os Asassinos deram um novo visual.
Um abraço!
13 de maio de 2011 18:37
Que preciosidade! Bom conhecer a "mente" de um dos meus diretores favoritos.
13 de maio de 2011 19:10
O filme dele que mais gosto é Almas Perversas. Ele fez uma grande parceria com a Joan Bennett.
13 de maio de 2011 19:11
Forte abraço e parabéns pelo seu "Falcão Maltês", excelente. Mauro.
13 de maio de 2011 23:22
Nunca entendi porque o Lang não fazia produções de grandes orçamentos para os grandes estúdios. O cara era genial.
14 de maio de 2011 12:28
Antônio querido, você está homenageando todos os meus mestres. Primeiro Hitchock, depois Wilder, agora Lang. Que maravilha!
Eu sou completamente louca por Metropolis. Ainda fico fascinada e boquiaberta quando assisto.
É claro que o trabalho de Lang não se resume a esse filme. Muito pelo contrário. Criou e lapidou jóias linda se inestimáveis. O Top 10 está perfeito! Os corruptos, Almas perversas, Retrato de uma mulher e Fúria também estão entre os meus favoritos. E que preciosidade essa entrevista do Cahiers, hein?
Parabéns pelo blog e pelo trabalho.
14 de maio de 2011 20:14
O Glenn Ford! Amo-o! Tão digno e forte em Os corruptos.
15 de maio de 2011 12:37
Fritz Lang foi genial. Valeu pela postagem.
15 de maio de 2011 13:27
Oie Sou Fábio Mariz do BLOG => Mariz.Moda , olhando aqui uns blogs, encontrei o seu, adorei assim que vi seu blog e já estou seguido, visite o nosso e seja um seguidor.
#ABRAÇOS
(http://www.marizmoda.blogspot.com)
Siga-nos no twitter:
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16 de maio de 2011 20:32
Ótima postagem. Não conheço muito Lang, mas gosto do que vi dele até hoje, no caso M, Caligari e Metrópolis, todos com uma beleza incrível.
Abraços.
16 de maio de 2011 21:54
Hugo de Oliveira disse...
Post brilhante.
abraços
16 de maio de 2011 22:07
Postagens à parte (sempre com muito interesse), acho que tou começando a detestar a canção "The windmills of your mind" - sempre que abro o seu blogue apanho com ela. Vou a correr desligar mas os primeiros versos são sempre inevitáveis. Por isso tenho que começar a tirar o som do PC sempre que tencionar ir ler os seus artigos.
É o grande problema de colocar música nos blogues - volta sempre tudo ao princípio (basta abrir uma imagem e regressar depois). A coisa começa a tornar-se irritante...
Abraço
O Rato Cinéfilo
17 de maio de 2011 03:27
Vendo a lista de filmes, percebo que preciso conhecer mais a carreira do Lang nos EUA, acho que não vi nada dele feito lá. Por outro lado, Metrópoles é para mim obra-prima, digníssima. Tô louco para poder ver a versão mais completa que acharam na Argentina. Assim como M, O Vampiro de Dusseldorf é um espetáculo de misè-en-scene, muito bem cuidado em sua concepção.
17 de maio de 2011 10:18
Um dos meus diretores favoritos, uma entrevista muito elucidativa.
Parabéns! O blog está cada vez mais interessante. A música é especial!
17 de maio de 2011 14:27
Acho o Fritz Lang um diretor fantástico e merecedor de todos os elogios possíveis. Porém, não posso conceber falar deste bom artesão sem citar duas de suas melhores obras que são O Tigre da India e Sepulcro Indiano. Duas joias raras do bom cinema e, por conseguinte, do grande diretor.
jurandir_lima@bol.com.br
17 de maio de 2011 17:57
Entre los mejores filmes de Fritz Lang yo también pondría algunos de su estapa alemana: Las tres luces, Los Nibelungos y Doctor Mabuse.
Saludos.
20 de maio de 2011 04:09
Entrevista sensacional com o mestre Lang. Um grande cineasta e um dos melhores da história do cinema. Parabéns ao elaborador desse blog pra lá de interessante...
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