 |
gian-maria volonté |
O CINEMA POLÍTICO teve na Itália o seu ápice, superando inclusive a Rússia dos anos 20 de Sergei Eisenstein e Vsevolod Pudovkin. Conheceu seu período áureo entre 1960 e 1979 e com empenho social e político denunciou as mazelas da sociedade de seu país, procurando ecoar pelo mundo os sonhos embutidos nos movimentos ideológicos daquelas décadas. Esse punhado de cineastas se empenhou em filtrar a realidade sob um ponto de vista extremamente ético. Sucessores do neo-realismo de Roberto Rossellini, Cesare Zavattini e Vittorio De Sica, movimento que trata dos temas sociais decorrentes da destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial, eles passaram a buscar novas histórias e modos narrativos apropriados àquele início dos anos 1960, marcando profundamente, com suas obras, o panorama cultural da Itália. Embora iniciado no começo dos 60, o movimento adquire seu ápice com “Investigação de Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita”, de Elio Petri, lançado em 1970.
 |
“a batalha de argel” |
O CINEMA POLÍTICO ITALIANO está umbilicalmente ligado ao sentimento de vazio e desesperança nascido do pós-guerra. Mas seu discurso por vezes virulento e sua urgência narrativa são produto de um período de ebulição muito específico: as décadas de 60 e 70. Naquele momento, quando o legado fascista já havia sido soterrado, eram outras as urgências: casos escabrosos de corrupção generalizada e atentados terroristas.
Além do legado neo-realista, esses cineastas também foram fortemente influenciados pela linguagem do documentário e do jornalismo investigativo. Daí, em grande parte, a ausência de maiores arroubos estéticos. Ao contrário da Nouvelle Vague, que explodira pouco antes na França, o movimento italiano nunca se alicerçou na forma, até porque seus cineastas estavam mais preocupados em retratar sem filtros o que se descortinava à sua frente, fazendo filmes nos quais a política e a denúncia social se situaram como registro fílmico. De uma cinematografia que já se revelou como uma das maiores do mundo, com expoentes como Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Pier Paolo Pasolini, depois do período fértil politizado, o cinema italiano entrou em crise e nela persiste até hoje. Não resistiu às pressões do sistema hollywoodiano. Fervilhante de ideias e participação, o cinema tratado nesse post ficou na história.
 |
bertolucci |
Os DIRETORES e seus FILMES POLÍTICOS
BERNARDO BERTOLUCCI
(1940. Parma / Itália)
Aos 19 anos trabalhou com Pier Paolo Pasolini. Três anos depois, em 1964, obteve o primeiro sucesso como diretor. Consagrou-se em Hollywood com “O Último Imperador / The Last Emperor” (1987), ganhando nove Oscars.
Principais Filmes:
ANTES da REVOLUÇÃO
(Prima della Rivoluzione, 1964)
elenco: Adriana Asti e Francesco Barilli
O CONFORMISTA
(Il Conformista, 1970)
elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda
e Pierre Clémenti
David di Donatello de Melhor Filme
1900
(Novecento, 1976)
elenco: Robert De Niro, Gérard Depardieu, Dominique Sanda,
Stefania Sandrelli, Donald Sutherland, Burt Lancaster
e Alida Valli
DAMIANO DAMIANI
(1922. Pasiano di Pordenone, Friuli-Venezia Giulia / Itália)
Começou como cenógrafo e roteirista. Teve um início promissor e uma fase ruim, mas nunca demonstrou grande talento.
Principais Filmes:
CONFISSÕES de um COMISSÁRIO de POLÍCIA
(Confessione di un Commissario di Polizia
al Procuratore della Repubblica, 1971)
elenco: Franco Nero e Martin Balsam
Melhor Filme do Festival de Cinema de Moscou
SÓ RESTA ESQUECER
(L’Istruttoria è Chiusa: Dimentichi, 1971)
elenco: Franco Nero, Georges Wilson e Riccardo Cucciolla
EU ESTOU com MEDO
(Io Ho Paura, 1977)
elenco: Gian-Maria Volonté, Erland Josephson e Mario Adorf
ELIO PETRI
(1929 - 1982. Roma / Itália)
Um dos mais importantes diretores dos anos 70. Escreveu roteiros, dirigiu documentários e, por fim, foi consagrado pela crítica.
Principais Filmes:
CONDENADO PELA MÁFIA
(A Ciascuno Il Suo, 1967)
elenco: Gian-Maria Volonté, Irene Papas, Gabrielle Ferzetti
e Salvo Randone
INVESTIGAÇÃO de um CIDADÃO ACIMA
de QUALQUER SUSPEITA
(Indagine su Un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto, 1970)
elenco: Gian-Maria Volonté, Florinda Bolkan e Salvo Randone
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
David di Donatello de Melhor Filme
Melhor Filme Estrangeiro do Círculo de Críticos de Cinema de Kansas City
A CLASSE OPERÁRIA VAI ao PARAÍSO
(La Classe Operaia va in Paradiso, 1971)
elenco: Gian-Maria Volonté e Mariangela Melato
Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes
David di Donatello de Melhor Filme
ETTORE SCOLA
(1931. Trevico / Itália)
Entrou para a indústria cinematográfica como roteirista, aos 22 anos. Especializou-se como diretor de comédias, mostrando profundidade social e emocional.
Principais Filmes:
NÓS que nos AMÁVAMOS TANTO
(C'eravamo Tanto Amati, 1974)
elenco: Vittorio Gassman, Nino Manfredi e Stefania Sandrelli
César de Melhor Filme Estrangeiro
Melhor Filme no Festival de Cinema de Moscou
FEIOS, SUJOS e MALVADOS
(Brutti, Sporchi e Cattivi, 1976)
elenco: Nino Manfredi e Maria Luisa Santella
Melhor Diretor no Festival de Cannes
Um DIA MUITO ESPECIAL
(Una Giornata Particolare, 1977)
elenco: Sophia Loren e Marcello Mastroianni
César de Melhor Filme Estrangeiro
David di Donatello de Melhor Diretor
Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro
FRANCESCO ROSI
(1922. Nápole / Itália)
Assistente e colaborador em roteiros de diretores como Visconti e Antonioni, logo alcançou sucesso como diretor, explorando com talento a pobreza e a corrupção.
Principais Filmes:
O BANDIDO GIULIANO
(Salvatore Giuliano, 1962)
elenco: Salvo Randone e Frank Wolff
Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim
O CASO MATTEI
(Il Caso Mattei, 1972)
elenco: Gian-Maria Volonté
Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes
CADÁVERES ILUSTRES
(Cadaveri Eccellenti, 1976)
elenco: Lino Ventura, Alain Cuny, Renato Salvatori,
Fernando Rey, Max von Sydow e Charles Vanel
David di Donatello de Melhor Filme e Melhor Diretor
GILLO PONTECORVO
(1919 - 2006. Pisa / Itália)
Seus filmes foram proibidos no Regime Militar brasileiro. Dirigiu poucos longas, mas “A Batalha de Argel” é considerado uma obra-prima.
Principais Filmes:
A BATALHA de ARGEL
(La Battaglia di Algeri, 1966)
elenco: Brahim Hadjadj e Jean Martin
Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza
QUEIMADA
(Idem, 1969)
elenco: Marlon Brando, Evaristo Márquez e Renato Salvatori
David di Donatello de Melhor Diretor
OGRO
(Operación Ogro, 1979)
elenco: Gian-Maria Volonté, Angela Molina e Nicole Garcia
David di Donatello de Melhor Diretor
GIULIANO MONTALDO
(1930. Gênova / Itália)
Assistente de Pontecorvo, fez documentários, estreando no cinema com muito sucesso. No final dos anos 70 passou a dirigir principalmente para a tevê.
Principais Filmes:
DILEMA de um BRAVO
(Tiro al Piccione, 1962)
elenco: Jacques Charrier, Francisco Rabal e Eleonora Rossi-Drago
SACCO e VANZETTI
(Idem, 1971)
elenco: Gian-Maria Volonté e Riccardo Cucciolla
GIORDANO BRUNO
(Idem, 1973)
elenco: Gian-Maria Volonté, Charlotte Rampling e Mathieu Carrière
MARCO BELLOCCHIO
(1939. Piacenza / Itália)
Estreou no cinema com uma obra-prima. No final dos anos 70, problemas psicológicos marcaram uma nova e expressiva fase cinematográfica.
Principais Filmes:
De PUNHOS CERRADOS
(I Pugni in Tasca, 1975)
elenco: Lou Castel e Paola Pitagora
SBATTI il MONSTRO in PRIMA PAGINA
(1972)
elenco: Gian-Maria Volonté e Laura Betti
MARCIA TRIONFALE
(1976)
elenco: Michele Placido, Franco Nero, Miou-Miou
e Patrick Dewaere
PAOLO (1931. San Miniato / Itália)
e VITTORIO TAVIANI (1929. San Miniato / Itália)
Verdadeiros poetas visuais, brilham com dramas sociais de beleza austera.
Principais Filmes:
Os SUBVERSIVOS
(I Sovversivi, 1967)
elenco: Maria Cumoni Quasimodo e Lucio Dalla
ALLONSAFAN
(Idem, 1973)
elenco: Marcello Mastroianni, Lea Massari e Mimsy Farmer
PAI PATRÃO
(Padre Padrone, 1977)
elenco: Omero Antonutti e Saverio Marconi
Palma de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cannes
VITTORIO de SETA
(1923 - 2011. Palermo / Itália)
Seu primeiro filme foi louvado pela autenticidade, mas nunca alcançou o sucesso. É o mais desconhecido dos expoentes do cinema político italiano.
Principais Filmes:
BANDIDO em ORGOSOLO
(1961)
elenco: Michele Cossu
UN UOMO a METÀ
(1965)
elenco: Jacques Perrin, Lea Padovani e Gianni Garko
L’INVITATA
(1969)
elenco: Joanna Shimkus e Michel Piccoli
ATOR ÍCONE
GIAN-MARIA VOLONTÉ
(933 - 1994. Milão / Itália)
Principais Filmes:
INVESTIGAÇÃO de um CIDADÃO ACIMA
de QUALQUER SUSPEITA
(Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto, 1970)
direção de Elio Petri
David di Donatello de Melhor Ator
A CLASSE OPERÁRIA VAI ao PARAÍSO
(La Classe Operaia va in Paradiso, 1971)
direção de Elio Petri
O CASO MATTEI
(Il Caso Mattei, 1972)
direção de Francesco Rosi
“Cinema Político Italiano – Anos 60 e 70,
Entrevistas de Angela Prudenzi e Elisa Resegotti” (2006)