Cheio de imaginação e também extremamente musical. Quieto, altruísta, elegante
e cosmopolita, mas ao mesmo tempo reservado e arrebatado pelos próprios
pensamentos. Era, apesar de seus muitos amigos, entre eles a estrela Greta
Garbo, um solitário. Influenciado pela literatura, teatro e artes plásticas,
desenvolveu uma linguagem diferenciada. Seus filmes penetram no mundo psíquico
dos personagens, registrando experimentações em movimentos de luz.
Antes de
se tornar cineasta, estudou filosofia, literatura, música e história da arte
nas universidades de Heidelberg e Berlim. Frequentou a escola de arte dramática
de Max Reinhardt, que influenciou o seu estilo cinematográfico pelas ideias deste sobre iluminação e cenografia. O próprio F. W. MURNAU
afirmou que o cinema deve ser um “teatro para os olhos” e que a relação entre
personagens e câmera é “um elemento na sinfonia do filme”. A experiência teatral deu ao diretor um toque diferenciado ao lidar com performances. Evitando a atuação exagerada, ele encorajou um estilo de interpretação mais naturalista, fazendo seus atores transmitirem uma profunda vida interior e tirando o melhor deles.
Curioso e
aventureiro, viajou muito, aprendendo com outras culturas e interagindo com a
comunidade cinematográfica internacional. Essas experiências enriqueceram sua
filmografia. Combinando conhecimento e inovação, refilmava cenas diversas vezes. Via o cinema como arte e a câmera como
uma ferramenta do artista: “o lápis de desenho do diretor”.
Nasceu
Friedrich Wilhelm Plumpe, em Bielefeld, adotando o sobrenome Murnau em
homenagem à cidade homônima da Baviera, no Sul da Alemanha, um polo de arte e
berço de talentos do expressionismo, onde conheceu seu primeiro namorado. Sua
concepção cinematográfica foi influenciada pela pintura alemã do século XIX,
cujas paisagens e estilo transferiu para as suas imagens. As suas fitas, tanto as
de temática fantástica como as mais realistas, caracterizam-se pela beleza e
requinte da encenação, por uma sensibilidade aguçada e pela vocação do trágico.
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hans ehrenbaum-degele |
Desde
sempre ele se interessou por rapazes. Seu primeiro companheiro foi o belo e
rico escritor judeu Hans Ehrenbaum-Degele, cujos pais aceitaram sem reservas o
relacionamento homossexual. Os dois se conheceram em 1909, em Berlim, onde
cursaram a universidade. Juntos, continuaram seus estudos literários e
filosóficos em Heidelberg. Um namoro intenso e inspirador, ambos dedicados
totalmente à arte, mas Hans morreu em combate em Narev, Império Russo, em 1915,
na Primeira Guerra Mundial, aos 25 anos.
Na guerra,
F. W. MURNAU foi oficial de infantaria e piloto, sobrevivendo a oito acidentes,
sem ferimentos graves. Um deles danificou seu fígado gravemente e
nunca mais foi capaz de beber álcool. De volta a Alemanha,
fundou seu estúdio com o ator Conrad Veidt, estreando como diretor em “Esmeralda
da Morte / Der Knabe in Blau” (1919), inspirado em pintura de Thomas
Gainsborough. O filme seguinte, “Satanas / Idem” (1920), foi produzido por
Robert Wiene. Dirigiu “Der Januskopf” (1920) e “O Castelo Vogelod / Schloss Vogelod”
(1921). Infelizmente, alguns foram perdidos para sempre.
Após a
morte de Ehrenbaum-Degele, conhecemos apenas mais uma relação íntima do
cineasta alemão, a com o talentoso pintor Walter Spies. Os dois se conheceram
na primavera de 1920 em Berlim. Depois de várias viagens juntos, em agosto de
1923 Spies deixa a Alemanha para realizar seu sonho e se estabelecer em Java e
depois em Bali. Suas cartas levaram MURNAU a fazer o mesmo anos depois.
Infelizmente, os amantes nunca mais voltaram a se encontrar.
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mary philbin e murnau em 1925 |
O
realizador se dedicava com paixão à fotografia, principalmente de nus
masculinos. Seus modelos eram jovens que posam nos juncos do rio Havel
ou nas praias arenosas dos canais de Brandemburgo. Na Califórnia e
nos mares do Sul, o pano de fundo são piscinas, veleiros e praias. O seu legado contém cerca de 200
fotografias tiradas entre 1924 e 1929.
Como
cineasta, começou a se destacar a partir de “Nosferatu”,
horror gótico que marcou época por suas inovações técnicas e efeitos especiais.
Baseado sem permissão no “Drácula”, de Bram Stoker, foi
acusado de plágio pela viúva de escritor e processado pelo uso não autorizado
do romance. Um tribunal inglês ordenou que todas as cópias e negativos do longa
fossem destruídos. Felizmente, isso não foi aplicado na Alemanha.
“A Última
Gargalhada” estabeleceu F. W. MURNAU como um diretor formidável. Nunca antes
sua técnica revolucionária de mover a câmera ao longo de ruas e corredores,
subindo e descendo escadas, foi tão eficazmente empregada como nesse drama de
um idoso porteiro de hotel. A fama de diretor atravessou o Atlântico e as suas
inovações técnicas impressionaram os produtores de Hollywood. Em 1926, a Fox
ofereceu um contrato que lhe permitia levar sua equipe alemã.
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george o´brien fotografado por murnau |
Permaneceu
sob contrato até 1929 e realizou três filmes: “Aurora”, “Os Quatro Diabos / 4
Devils” (1928) e “O Pão Nosso de Cada Dia”. O
primeiro é considerado um dos maiores já feitos, para muitos o melhor filme
mudo de Hollywood. É uma trama corriqueira de triângulo amoroso, mas cineasta
aproveitou ao máximo, construindo cenários elaborados e criando um visual
fascinante. À frente de seu tempo, foi um fracasso de bilheteria.
Controlado
pela Fox nos dois filmes seguintes, livrou-se do contrato e jogou sua sorte com
o documentarista Robert Flaherty, famoso por “Nanook, o Esquimó / Nanook of the
North” (1922), com quem viajou para os mares do sul em 1931 para fazer “Tabu”. A dupla discordou sobre o desejo de Flaherty de
fazer um documentário com foco antropológico. A intenção de MURNAU era uma
história de amor fictícia. E assim foi. Sem estrelas, os papéis foram
interpretados por habitantes locais. Para financiar o filme, ele investiu sua
fortuna e pediu dinheiro emprestado, endividando-se. Felizmente, a Paramount
ficou entusiasmada com o filme e ofereceu-lhe um contrato de dez anos. Elenco: Gösta
Ekman, Emil Jannings, Camilla Horn, Frida Richard, William Dieterle e Yvette
Guilbert
Baseado
na peça de Goethe, um idoso alquimista vê sua cidade ser assolada pela peste
negra. Pensando sobre sua própria finitude, evoca
o diabo e pede sua juventude de volta. O demônio a garante, em troca da sua
alma. É o último filme do diretor na Alemanha.
02
AURORA
(Sunrise:
A Song of Two Humans, 1927)
Elenco: George
O'Brien, Janet Gaynor, Margaret Livingston e Bodil Rosing
Estreia norte-americana
do diretor. Na trama, seduzido por uma moça da cidade, um fazendeiro tenta afogar
sua mulher, mas desiste no último momento. Esta foge para a cidade, mas ele a
segue para provar o seu amor. Vencedor de três Oscar, incluindo Melhor Atriz
para Janet Gaynor, é uma obra poética de grande beleza.
03
A ÚLTIMA
GARGALHADA
(Der Letzte
Mann, 1924)
Elenco: Emil
Jannings, Maly Delschaft, Max Hiller e Emilie Kurz
O veterano
porteiro de um elegante hotel de Berlim sente orgulho do seu trabalho, que faz
com dedicação, e se comporta como um general em seu uniforme, sendo tratado com
respeito pelos amigos e vizinhos. Entretanto, o novo gerente do hotel o rebaixa
a criado do banheiro masculino, provocando um efeito desastroso na sua autoestima.
04
NOSFERATU
(Nosferatu,
eine Symphonie des Grauens, 1922)
Elenco: Max
Schreck, Gustav von Wangenheim, Greta Schröder e Georg H. Schnell
Um dos seus
filmes mais conhecidos. Agente imobiliário viaja até os Montes Cárpatos para
vender um castelo, cujo cliente é um excêntrico conde, que na verdade é um
milenar vampiro. Com extraordinária atuação de Shreck, o diretor faz excelente
uso de sombras e silhuetas para criar a aura de uma criatura de outro mundo e
transmitir uma sensação paranoica de onipresença maligna.
05
O PÃO
NOSSO de CADA DIA
(City
Girl, 1930)
Elenco: Charles
Farrell, Mary Duncan, David Torrence, Anne Shirley e Richard Alexander
Filho de fazendeiros, tendo passado sua vida às voltas com as colheitas
de trigo, viaja para Chicago a fim de vender a produção da família, encantando-se
por uma garçonete.
06
TABU
(Tabu: A
Story of the South Seas, 1931)
Elenco: Matahi,
Anne Chevalier, Bill Bambridge e Hitu
O
pescador de aldeia do Taiti se apaixona por garota escolhida pelos
deuses e considerada tabu, o que significa que não poderá se entregar a nenhum
homem. Com simplicidade, conta esta história chocante de
um amor impossível. Antes de o diretor viajar para
Los Angeles com um negativo de filme, Flaherty vendeu-lhe os direitos.
07
TARTUFO
(Herr
Tartüff, 1925)
Elenco: Emil
Jannings, Lil Dagover, Werner Krauss, Rosa Valetti e Camilla
Horn
Jannings cria um tipo inesquecível, um fanático religioso libidinoso, nesta tragicomédia sobre uma governanta
manipuladora, que maltrata um velho, cuja herança espreita. O sobrinho dele,
percebendo o plano diabólico, arma uma cilada para desmascará-la.
08
FANTASMA
(Phantom,
1922)
Elenco: Alfred
Abel, Frida Richard, Aud Egede-Nissen, Hans Heinrich von Twardowski, Lya De
Putti e Lil Dagover
Um
escrivão público, humilde, apaixona-se por uma rica mulher dona da
carruagem que o atropelou. Por fim, ele encontra uma sósia da amada num cabaré. Essas
duas mulheres transformarão o seu mundo de maneira irreversível.
09
TERRA em
CHAMAS
(Der Brennende
Acker, 1922)
Elenco: Werner
Krauss, Eugen Klöpfer, Vladimir Gajdarov, Lya De Putti e Alfred Abel
Quando um
agricultor morre, seu filho permanece em suas terras, porém não está satisfeito
e aceita um trabalho com um velho conde. Sua ambição leva-o a se envolver com a
única filha do patrão. Mas, quando descobre que a esposa de seu chefe
herdará terras, sua ganância fala mais alto.
10
CAMINHADA
NOITE ADENTRO
(Der Gang
in die Nacht, 1921)
Elenco:
Olaf
Fønss, Erna Morena, Conrad Veidt e Gudrun Bruun Stephensen
A
história fala de um médico ocupado demais para dar atenção à sua noiva. Ele se
encanta por uma dançarina, abandona tudo e vai com ela morar no campo. Tudo vai
bem até o aparecimento de um misterioso pintor cego. A sempre criativa direção
de F. W. MURNAU se destaca, principalmente pela rica composição dos
enquadramentos e pelo aproveitamento criativo da profundidade de campo.
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Um comentário:
Infelizmente foi uma grande perda. Se tivesse continuado vivo seria páreo duro perante lang em território americano.
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