novembro 21, 2020

************ 21 FILMES sobre PINTORES FAMOSOS

kirk douglas em “sede de viver”


Transpor a vida de um pintor para a grande tela não tem sido uma tarefa fácil para os diretores. No entanto, cada uma dessas cinebiografias conserva um caráter plástico surpreendente. Essas obras, que apresentam algum episódio ou a biografia de um pintor, nos trazem um rigor plástico muito particular, um trabalho fotográfico escrupuloso e sempre tendenciosamente ligado às cores e visual típicos do retratado.

Sendo os filmes baseados em biografias de pessoas reais, um gênero que está presente desde o início do cinema, podemos definir um dos seus subgêneros como os longas que se dedicam a retratar a vida e obras de PINTORES FAMOSOS. É uma forma de unir duas das mais importantes artes visuais, a pintura e o cinema, e que tem resultado num enorme conjunto de obras irresistíveis.

O universo das artes plásticas foi uma fonte inesgotável de inspiração para diretores que lançaram um olhar especial para a vida de GRANDES PINTORES. De olho nesses filmes, selecionei uma lista. Nela encontramos Gauguin, Toulouse-Lautrec, Michelangelo, Andrei Roublev, Van Gogh ou Modigliani. Confira:

01

BACON (1909 – 1992. Dublin / Irlanda)
O AMOR é o DIABO - Um ESTUDO para UM RETRATO de FRANCIS BACON
(Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis Bacon, 1998)


Direção de John Maybury
Elenco: Derek Jacobi, Daniel Craig e Tilda Swinton

Dramático e realista, concentra-se em um relacionamento amoroso sado-masoquista. Nos anos sessenta, Francis Bacon surpreende um ladrão no seu estúdio e acaba por convidá-lo a partilhar a sua cama. O larápio, trinta anos mais novo que Francis, aceita e a partir desse encontro a sua vida muda. Com o sucesso sempre crescente do artista, o amante transforma-se gradualmente num patético viciado em drogas. O filme baseia-se na biografia “The Gilded Gutter Life of Francis Bacon”, de Daniel Farson, e conta com excelentes desempenhos da dupla protagonista.

02

CARAVAGGIO (1571 – 1610. Milão / Itália)
CARAVAGGIO
(Idem, 1986)


Direção de Derek Jarman
Elenco: Nigel Terry, Sean Bean, Tilda Swinton e Michael Gough 

A história da curta existência do extraordinário pintor desde sua infância, passando pelos seus primeiros traumas, exibindo as contradições entre as suas crenças religiosas e sua identidade sexual, a paixão pela arte e pelos seus modelos. O drama levou o diretor inglês Derek Jarman a ganhar admiradores no mundo inteiro e foi a estreia da extraordinária Tilda Swinton.

03

CARRINGTON (1917 – 2011. Clayton Green, Clayton-le-Woods / Reino Unido)
CARRINGTON, DIAS de PAIXÃO
(Idem, 1995)


Direção de Christopher Hampton
Elenco: Emma Thompson, Jonathan Pryce, Steven Waddington e Samuel West

Em 1915, na Inglaterra vitoriana, jovem e conceituada pintora se enamora de um escritor homossexual quinze anos mais velho. Eles alugam uma casa para escrever e pintar. Ao longo dos anos, ela envolve-se com outros homens criando triângulos amorosos e tentando, a seu modo, reconhecer a diferença entre o amor e o desejo. Jonathan Pryce levou o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes.

04

EL GRECO (1541 – 1614. Iráklio / Grécia)
EL GRECO
(Idem, 1966)


Direção de Luciano Salce
Elenco: Mel Ferrer, Rosanna Schiaffino, Adolfo Celi e Fernando Rey

Espanha do século 16, um famoso pintor grego viaja a Toledo para pintar um retábulo. O problema começa quando ele se apaixona por uma garota local e entra em conflito com a Inquisição. As cores foram projetadas para se parecerem com as das pinturas de El Greco. Produzido por Ferrer, retrata a rica história da cultura espanhola.

05

FRIDA KAHLO (1907 – 1954. Coyoacán, Cidade do México / México)
FRIDA, NATUREZA VIVA
(Frida, Naturaleza Viva, 1986)


Direção de Paul Leduc
Elenco: Ofelia Medina, Juan José Gurrola e Claudio Brook

Considerado como uma obra excepcional do cinema mexicano, destaca-se tanto pela figura em que se centra quanto pela forma em que penetra em seu universo. Trata-se de um retrato de Frida Kahlo, de sua apaixonada vida com o artista Diego Rivera, sua relação com Trotsky, sua militância, sua febre criadora, seus altos e baixos sentimentais e sua profunda solidão.  No leito de morte, a sofrida pintora relembra sua vida. Em sua mente, ela repassa sua infância, a doença que teve, seu comprometimento político, sua agitada vida sentimental.

06

GAUGUIN (1848 – 1903. Paris / França)
Um GOSTO e SEIS VINTÉNS
(The Moon and Sixpence, 1942)


Direção de Albert Lewin
Elenco: George Sanders, Herbert Marshall e Doris Dudley

Baseado em um romance de W. Somerset Maugham. Um londrino de classe média, casado e com uma vida aparentemente feliz, larga tudo e embarca para Paris a fim de viver seu grande sonho de ser pintor. De lá ele parte para o Taiti, onde encontra paz de espírito e integra-se numa comunidade, partilhando amor com uma nativa, e morrendo de peste. Tem excelente desempenho de George Sanders e bela fotografia que por vezes roça o expressionismo.

07

GOYA (1746 – 1828. Fuendetodos / Espanha)
GOYA
(Goya en Burdeos, 1999)


Direção de Carlos Saura
Elenco: Francisco Rabal , Jose Coronado e Maribel Verdú

Uma viagem quase surreal por meio de cores e texturas. Foca os últimos momentos da vida do pintor em seu exílio voluntário na França. Temos em cena a sua relação com a velhice, a família, e as lembranças de sua amante, a Duquesa de Alba. Um dos maiores diretores de fotografia do cinema, Vittorio Storaro, não só impressiona como consegue trazer para a tela toda a pulsão dramática, os medos e a arte de Goya. O veterano e magistral Francisco Rabal interpreta o artista em sua maturidade, ou seja, a maior parte do filme, e rouba a cena.

08

KLIMT (1862 – 1918. Baumgarten, Viena / Áustria)
KLIMT
(Klimt, 2006)


Direção de Raoul Ruiz
Elenco: John Malkovich, Stephen Dillane e Saffron Burrows

Reconhecido em Paris e condenado na Viena natal pelo caráter provocativo das suas obras, Gustav Klimt celebrava a mulher e o erotismo. O filme tenta ser uma abordagem fiel à visão que o próprio pintor tinha da Europa no final do século XIX. Ruiz constrói esta história como um caleidoscópio, marcado pelo mistério e pela paixão. O jogo visual da câmara, a deslocação dos cenários, o uso da luz, deformam a realidade. Da mesma forma que o trabalho de Klimt, debruça-se sobre a relação entre imagem e realidade, onde a dissimulação e o logro estão patentes.

09

MICHELANGELO (1475 – 1564. Caprese Michelangelo / Itália)
AGONIA e ÊXTASE
(The Agony and the Ecstasy, 1965)


Direção de Carol Reed
Elenco: Charlton Heston, Rex Harrison, Diane Cilento, Adolfo Celi e Tomas Milian

Charlton Heston é Miguel Ângelo e Rex Harrison o Papa Júlio II nesta fita sobre a relação e os conflitos entre ambos, durante a execução das pinturas da Capela Sistina, no Vaticano. Inteiramente rodado na Itália, foi adaptado de um livro de Irving Stone e sofre de algumas simplificações e estereótipos de filme sobre grandes artistas, que são compensados pelas interpretações e por uma impressionante recriação da época em todos os aspectos.

10

MODIGLIANI (1884 – 1920. Livorno / Itália)
Os AMANTES de MONTPARNASSE
(Les amants de Montparnasse, 1958)


Direção de Jacques Becker
Elenco: Gérard Philipe, Lilli Palmer, Lea Padovani, Lino Ventura e Anouk Aimée

O grande Max Ophüls começou a dirigir o filme, mas morreu logo depois. Retrata o atribulado último ano de vida do pintor italiano Amedeo Modigliani (soberba atuação de Gérard Philiphe), depois que ele conheceu e se apaixonou loucamente pela jovem artista Jeanne Hébuterne. O roteiro se aprofunda no vício dele pelo álcool, atormentado por seus fracassos, a incapacidade de vender suas pinturas a um público que não compreende seu trabalho.

11

MUNCH (1863 – 1944. Ådalsbruk / Noruega)
EDVARD MUNCH
(Edvard Munch, 1974)


Direção de Peter Watkins
Elenco: Geir Westby e Gro Fraas

Narra dez anos da trajetória do pintor norueguês Edvard Munch, dando a ver sua família autoritária e religiosa, os círculos boêmios de inspiração anarquista que frequentou, suas relações com os pintores realistas e as vanguardas modernas, com as mulheres, seus momentos íntimos de criação. Transita entre o documentário e a ficção, mostrando como uma parcela do ímpeto modernista tinha como objetivo uma transformação cultural e social, e não apenas a arte pela arte.

12

O’KEEFFE (1887 – 1986. Sun Prairie, Wisconsin / EUA)
VIDA e ARTE de GEORGIA O’KEEFFE
(Georgia O’Keeffe, 2009)


Direção de Bob Balaban
Elenco: Joan Allen, Jeremy Irons e Ed Begley Jr.

Uma das pintoras mais importantes da história da arte norte-americana, Georgia Totto O’Keeffe pintou flores e paisagens como ninguém e conheceu amor e fama com o carismático fotógrafo Alfred Stieglitz, com quem manteve um intenso relacionamento amoroso e profissional. Os quadros deslumbrantes da artista são apresentados ao longo do seu romance, seu colapso emocional ao descobrir que era traída, e durante sua autodescoberta em Taos, Novo México. É um drama cativante tanto para os fãs do trabalho dela quanto para quem ainda não a conhece.

13

PICASSO (1881 – 1973. Málaga / Espanha)
O MISTÉRIO de PICASSO
(Le Mystère Picasso, 1956)


Direção de Henri-Georges Clouzot

Em 1955, Clouzot convenceu seu amigo, Pablo Picasso, a participar de um documentário em torno de seu processo criativo. Para o filme, o pintor criou 20 telas. Usando tinta e papel especiais, ele elaborava os desenhos enquanto era filmado o lado inverso da tela, capturando o trabalho em tempo real. Pelo contrato, todas as telas pintadas deveriam ser destruídas quando o filme fosse finalizado. Recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes.

14

POLLOCK (1912 – 1956. Cody, Wyoming / EUA)
POLLOCK
(Idem, 2000)


Direção de Ed Harris
Elenco: Ed Harris, Marcia Gay Harden e Amy Madigan

Centrado em uma personalidade tão geniosa quanto genial, permite a emergência de um artista reumanizado (o avesso do mito, portanto), com sua dependência física, do álcool, e afetiva, da mulher, sua necessidade de elogios públicos, enfim, sua fraqueza. A arte de Pollock, a chamada “action painting”, ganha uma tradução cinematográfica sem subterfúgios e também sem mistificações. Junto com ela, o espectador adquire o direito de testemunhar que alguns gênios são apenas demasiadamente humanos.

15

REMBRANDT (1606 1669.  Leiden / Países Baixos)
A RONDA da NOITE
(Nightwatching, 2007)


Direção de Peter Greenaway
Elenco: Martin Freeman, Emily Holmes e Eva Birthistle

Uma produção épica, assente num momento particular da vida de Rembrandt Van Rijn: a produção da pintura “A Ronda da Noite”. Ao descobrir um homicídio por detrás dos objetivos financeiros e de poder pessoal, ele decide expor meticulosamente a acusação da conspiração assassina e da hipocrisia da sociedade na época de ouro holandesa, sob a forma de uma pintura encomendada. Um olhar profundo sobre a perda da inocência, sobre coragem e sobre os limites da crueldade humana. Tal como em toda a sua obra, Greenaway usa parâmetros estéticos da pintura. A cenografia é meticulosamente trabalhada, com destaque para a iluminação.

16

RENOIR (1841 – 1919. Limoges / França)
RENOIR
(Renoir, 2012)


Direção de Gilles Bourdos
Elenco: Michel Bouquet, Christa Théret, Vincent Rottiers e Romane Bohringer

Viajamos a 1915 e encontramos Renoir aos 74 anos, com dificuldades para trabalhar e mesmo se locomover graças a uma severa artrite que o tortura. Ainda que debilitado, inspira-se a pintar nova série de nus artísticos depois da chegada de uma aspirante à atriz. Ele se encanta com sua formosura e o espectador também, o que o leva a compartilhar do entusiasmo artístico do pintor e entender sua inspiração repentina. Michel Bouquet encarna com perfeição o artista. Merece ser visto pelas boas interpretações, reconstituição de época impecável e fotografia feérica.

17

RUBLEV (1360 – 1430. Grão-Principado de Moscou)
ANDREI RUBLEV
(Andrey Rublyov, 1966)


Direção de Andrei Tarkovsky
Elenco: Anatoliy Solonitsyn, Ivan Lapikov e Nikolay Grinko

A vida do monge e pintor de ícones itinerante do título, que viveu na Rússia dos séculos XIV e XV, uma época de grande violência e marcada por graves conflitos religiosos. Impregnado de misticismo e refletindo sobre temas como a relação entre a fé e a arte, ou entre o artista e aqueles que lhe encomendam obras, o filme acabou inevitavelmente por ser alvo da censura comunista soviética. Em 1969, foi exibido no Festival de Cannes numa cópia amputada de 20 anos minutos e só seria estreado no Ocidente em 1971. Uma obra-prima inquestionável.

18

TOULOUSE-LAUTREC (1864 – 1901. Albi / França)
MOULIN ROUGE
(Idem, 1952)


Direção de John Huston
Elenco: José Ferrer, Zsa Zsa Gabor e Suzanne Flon

Conta-se que, para rodar esta biografia de Toulouse-Lautrec, John Huston terá dito ao diretor de fotografia Oswald Morris que queria que “Moulin Rouge” parecesse ter sido realizado pelo próprio artista. José Ferrer interpreta brilhantemente Toulouse-Lautrec neste longa que combina fatos biográficos e liberdades dramáticas, conseguindo dar um expressivo panorama do que era a vida na Paris da época, inspirando-se abundantemente na obra do artista para o fazer, sobretudo nas sequências de interiores, passadas em lugares como o lendário cabaré do título.

19

TURNER (1775 – 1851. Covent Garden, Londres / Reino Unido)
SR. TURNER
(Mr. Turner, 2014)


Direção de Mike Leigh
Elenco: Timothy Spall, Paul Jesson e Dorothy Atkinson

Timothy Spall durante dois anos aprendeu a pintar para interpretar devidamente o mestre inglês J.M.W. Turner, tendo ganho o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. O realizador, que nos habitou a histórias de ambientes contemporâneos, recuou ao século XIX neste drama biográfico em que acompanha os últimos 15 anos da vida de Turner, mantendo o realismo rigoroso do seu olhar. Ele recria o quotidiano do pintor, revela aspectos da sua vida pessoal e mostra o contexto em que criou alguns dos seus quadros mais belos e importantes.

20

UTAMARO (1753 - 1806. Edo / Japão)
UTAMARO e suas CINCO MULHERES
(Utamaro o Meguru Gonin no Onna, 1946)


Direção de Kenji Mizoguchi
Elenco: Minosuke Bandô, Kinuyo Tanaka e Kôtarô Bandô

Adaptação do romance de Kanji Kunieda, por sua vez inspirado na vida do pintor japonês Utamaro, famoso pelos retratos de cortesãs, conhecidos como bijin-ga. O célebre artista busca por cortesãs do bairro de Yoshiwara, região de bordéis em Tóquio, para compor sua arte. Mais uma imortal criação de Mizoguchi.

21

VAN GOGH (1853 – 1890. Zundert / Países Baixos)
SEDE de VIVER
(Lust for Life, 1956)


Direção de Vincente Minnelli
Elenco: Kirk Douglas, Anthony Quinn, James Donald, Pamela Brown e Everett Sloane

Kirk Douglas perdeu, injustamente, o Oscar de Melhor Ator pela sua arrebatada interpretação de Vincent Van Gogh neste filme baseado no livro de Irving Stone, mas Quinn ganhou o de Ator Coadjuvante pelo seu Gaugin. O drama contempla uma série de ideias ultrapassadas sobre o artista, bem como o estereótipo do “gênio torturado”, mas a realização de Minnelli é notável ao ecoar a pintura do artista e manejar o Technicolor para esse efeito de forma exímia.


2 comentários:

Mary Ferreira disse...

Amei!! Texto impecável! Todas telas são lindas. Mas, O Amor é o Diabo, Do Renoir, e Moulin Rouge essas pra mim são excepcionais.

Mary Ferreira disse...

Nahud, se tens, porque não posta no Falcão trechos, de cada filme por dia??