gloria swanson e william holden em “crepúsculo dos deuses” |
“O cinema ensina a gente a sobreviver. A vida já é muito dura, se
a agente não tem essas armas como o cinema, acho que é duro viver.”
RUBENS EWALD FILHO
O jornalista e crítico do cinema
RUBENS EWALD FILHO acumulou mais de 35 transmissões como comentarista do Oscar
e viu mais de 40 mil filmes ao longa dos seus 74 anos de vida. Com cinquenta
anos de carreira, trabalhou em vários veículos de comunicação do país, entre
eles SBT, Record, TV Cultura, revista “Veja” e “Folha de São
Paulo”, além de HBO, Telecine e TNT. É dramaturgo e autor dos livros “O
Oscar e Eu”, “Dicionário de Cineastas” e “O Cinema Vai à Mesa – Histórias e
Receitas”.
rubens ewald filho |
Listo abaixo seus filmes e artistas favoritos, dados recolhidos de
diversas entrevistas e do seu próprio blog. Ele diz que se trata de pesquisas e
impressões dele, coletadas ao longo de vários anos trabalhando no meio
cinematográfico como crítico e roteirista. Acha que cada um pode concordar ou
discordar, levar em consideração ou não a seleção dele. Tem razão. Listas
honestas se sustentam em seleção pessoal
e diferenciado.
QUAIS são os seus FILMES FAVORITOS?
01
2001, uma ODISSÉIA no ESPAÇO
Direção de Stanley Kubrick
Elenco: Keir Dullea e Gary Lockwood
“Eu o acho absolutamente fantástico, pois o filme tem 25 minutos
de diálogo e o restante não tem mais, segue sem. É um filme que foi feito antes
do homem chegar à Lua! E que transforma uma simples ficção em uma viagem
religiosa. O extraordinário em 2001 – entre outras coisas – é sua importância
profética. Kubrick mostra antes dos homens chegarem à Lua que a Terra é azul,
que no espaço não existe o tempo e que o homem continua sendo o mesmo primata
subdesenvolvido. Como tema musical ele escolheu (ou redescobriu) o “Danúbio
Azul”, de Strauss que se tornou desde então a música oficial dos lançamentos
dos projetos da NASA. A fita custou 12 milhões de dólares e foi rodada na
Inglaterra a partir do primeiro “script” de Kubrick e Arthur C. Clarke. Na
produção trabalharam 106 técnicos, inclusive da NASA, IBM e General Electric. O
sucesso de 2001 foi devido principalmente às plateias jovens. Foram elas que
descobriram a beleza visual e mensagem implícita na conquista do
Espaço, foram elas que
tornaram o filme um sucesso de bilheteria, apesar de ser um filme
difícil.”
“Mais tarde, Clarke transformou roteiro num livro, que explicava
vários pontos obscuros. Já Kubrick na sua famosa entrevista à “Playboy”
recusou-se a explicar o filme: “Tentei criar um experiência visual que
ultrapassasse a comunicação verbal e penetrasse diretamente no subconsciente,
com um conteúdo emocional e filosófico. Quis que o filme fosse uma experiência
intensamente objetiva que atingisse o espectador, a um nível profundo de
sensibilidade. Vocês são livres para especular sobre o
significado filosófico e cultural do filme. Não quero estabelecer um mapa
verbal que todos sejam obrigados a seguir. A intenção é provocar uma reação que precisa – e não deve – ser explicada.”. É a obra
prima de Kubrick. Mudou a historia do gênero, do cinema e da própria ciência.”
02
FELLINI OITO e MEIO
Direção de Federico Fellini
Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Sandra Milo e Claudia Cardinale
“Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro e figurino e do Grande
Prêmio do Festival de Moscou. Foi homenageado por vários cineastas, entre eles
Woody Allen (em "Memórias/ Stardust Memories", 1979; Bob Fosse
"Allthat Jazz, o Show deve Continuar", 1979; Paul Mazursky, "Um
Doido Genial/Alex in Wonderland", 1970, onde Fellini fez ponta).
A fita é autobiográfica e apenas Mastroianni pôde ler o
roteiro completo (ele compôs seu personagem usando chapéu, capa, tudo parecido
com o diretor).’
“O filme foi notável por ter sido o primeiro a não explicar antes
para o espectador o que está sucedendo. Passado, presente e imaginação podem
estar convivendo no mesmo plano e tudo fica absolutamente claro. Mas na época
era extremamente ousado e original. O filme começa com um pesadelo,
esplendidamente fotografado por Gianni di Venanzo, que dali
em diante se supera com contrastes fortes, chegando aos limites do que era
possível naquele momento (infelizmente Venanzo morreu cedo).”
“Como num delírio, o cineasta feito por Marcello Mastroianni
imagina unir na mesma dança, a esposa Anouk Aimée - que tenta parecer
Giulietta, com a amante Sandra Milo (que era mesmo caso do diretor). Ou manter
um harém com todas as mulheres de sua vida, que um dia resolvem se rebelar (no
elenco feminino, Fellini chamou algumas das mulheres mais interessantes do
momento, inclusive a atriz de fitas de terror, Barbara Steele, a estrela dos
anos 40 Caterina Borato, a estrelinha Hedy Vessel, etc). Longe de ser um filme
fácil, resiste a análises e interpretações, muito
ajudada pela magnífica trilha musical de Nino Rota, o colaborador mais importante na carreira do diretor.
03
AMOR SUBLIME AMOR
Direção de Robert Wise e Jerome Robbins
Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno e
George Chakiris
“Versão musical de “Romeu e Julieta” de Shakespeare, transposta
para o palco por Arthur Laurents e depois para o cinema por Ernest Lehman, com
o mesmo coreógrafo Jerome Robbins (que fez parceria com o diretor Robert Wise).
Na verdade, o filme é melhor que a peça, dramaticamente mais ajustado e muito
cinemático. Embora Natalie e Richard tenham sido dublados (respectivamente por
Marnie Nixon e Jim Bryant), isso não perturba o esplêndido resultado, que
inclui os letreiros de abertura e final de Saul Bass, a ideia genial de começar a narrativa do outro lado do rio
e depois contando a rivalidade entre as gangues através de uma longa
coreografia.”
04
CRESPÚSCULO dos DEUSES
Direção de Billy Wilder
Elenco: William Holden,
Gloria Swanson, Erich von Stroheim e Nancy Olson
05
GRITOS e SUSSURROS
Direção de Ingmar Bergman
Elenco: Harriet Andersson,
Liv Ullmann, Kari Sylwan, Ingrid Thulin e Erland Josephson
“Uma verdadeira obra de arte, acabada, perfeita, complexa, sujeita
a mil interpretações e ainda assim simples e acessível ao nível de emoção. A
ação se desenrola no começo do século, as mulheres vestem roupas caras, que as
dissimulam e valorizam, mas o figurino pretende estar de acordo com o desejo do
diretor de sugestão sensual.”
“Este filme é uma síntese de todos os temores, fraquezas, ilusões,
misérias e alegrias da alma, é um grito desesperado, uma prece sussurrada, um
uivo de desespero, é o ser humano desnudo e impotente diante dos grandes
mistérios para os quais não há resposta: a vida, a morte, a felicidade, o
relacionamento entre o homem e a mulher, entre irmãos e entre diferentes
classes. O tempo impassível que devora as horas, tudo isso, Bergman filtrou
nesta sua obra-prima. Uma fita que redime o cinema.”
“Diante de uma obra perfeita é difícil fornecer explicações. É uma
aula de cinema. São quatro atrizes extraordinárias, impossíveis de serem destacadas.
Tudo é feito à luz clara de uma tarde, que para Bergman não existe nada mais
aterrador do que a luz forte do sol. O personagem da empregada Ana é o que mais
surpreende (além de sua maravilhosa versão da obra Pietá de Michelangelo que é
aqui recriada), já que representa outra classe e por isso é meio pária. Mas o
importante é que ela ama de uma forma natural, instintiva, sem refletir e sem
pedir nada em troca.”
“Talvez estejam certos também os que vem na fita uma homenagem ao
autor russo Tchecov (que fez As Três Irmãs como um adeus à grandeza da
burguesia decadente, o último suspiro de uma época pré-revolucionária). Ou
mesmo os que admitem que o personagem de Thulin, essa dama intelectual e um
pouco neurótica, tome frequentemente a forma de um auto-retrato do autor.”
06
A MALVADA
Direção de Joseph L. Mankiewicz
Elenco: Bette Davis, Anne
Baxter, George Sanders, Celeste Holm,
Gary Merrill, Hugh Marlowe, Gregory Ratoff, Marilyn Monroe e Thelma Ritter
“Um dos filmes mais inteligentes e bem escritos sobre o teatro e
sobre o comportamento do ator e da atriz, vagamente inspirado em fato real
acontecido com a estrela Tallulah Bankhead (Bette em certos momentos até a
imita) e que serve de padrão para qualquer personagem que deseja subir na vida
a qualquer preço, mesmo traindo amigos e parceiros. Um elenco excepcional
inclui uma pontinha de Marilyn. Sempre um
prazer sofisticado. E tem a Bette Davis , ela é um símbolo muito grande do
cinema.”
07
Um CORPO que CAI
Direção de Alfred Hitchcock
Elenco: James Stewart, Kim Novak e Barbara Bel Geddes
“Embora tivesse sido recebido com restrições em sua estreia - foi
indicado apenas ao Oscar de direção de arte e som e esqueceram absurdamente a
trilha musical. Mas acabou virando o favorito da crítica dentro da obra do
diretor (em parte porque durante 20 anos Hitchcock não permitiu que ele fosse
reapresentado). Eu o assisti ainda criança e desde logo adorei o resultado
também em parte porque era encantado por Kim Novak, paixão esta que nunca
passou mesmo agora quando ela é octogenária ainda a acho linda e misteriosa. De
qualquer forma, naquele momento Kim era a maior estrela de Hollywood e
infelizmente não fez outro filme da mesma qualidade, se afastando cedo demais (em
parte porque precisava de um diretor forte como Hitch para conduzi-la, em parte
porque acabou o sistema de estúdios e não se deu bem como free lancer).”
“Vertigo (Vertigem, literalmente) foi também um dos filmes mais
imitados e homenageados de todos os tempos principalmente na obra do hoje
decadente Brian De Palma que o recriou várias vezes (em Vestida para Matar, Estranha
Obsessão, Doublê de Corpo). O papel central foi planejado para a descoberta de
Hitch, Vera Miles (com quem este fez O Homem Errado e mais tarde Psicose). Ela chegou a fazer os testes de guarda-roupa
,pousou para o quadro que aparece na historia mas a filmagem foi atrasada
(inclusive porque Hitch foi operado) quando chegou a hora, ela anunciou que
estava grávida e não podia fazer o filme. Este nunca a perdoou por ter perdido
sua chance (Vera era casada na época com Gordon Scott, o halterofilista e Tarzan).”
“A ironia é que este é o mais celebrado de Hitchcock, o mestre do
suspense, é uma história de obsessão, amor, traição e falsa identidade. A trama
policial e mesmo a espiritualista são meras pistas falsas, para tornarem mais
intrigantes as reviravoltas de um amor proibido. O clima inusitado já começa
com os letreiros de apresentação do mestre Saul Bass, que procuram mergulhar o
espectador num turbilhão de vertigens, já que o protagonista nunca está em
controle da situação. Embora haja elementos de “thriller” e mesmo policial, o
que realmente importa é a história de amor e justamente deve ser por causa
disso que o filme manteve seu impacto. É um filme de sonho, de obsessão, de
fantasia (varias cenas foram rodadas com um pano na frente da lente para lhe
dar a impressão de que foram feitos com a nevoa de San Francisco). Tudo
conduzido de forma brilhante através da trilha musical de Bernard Hermann.”
08
RASHOMON
Direção de Akira Kurosawa
Elenco: Toshirô Mifune, Machiko Kyô e Masayuki Mori
“O primeiro grande sucesso internacional de Kurosawa, num filme
muito imitado (os americanos o refilmaram como “Quatro Confissões / The
Outrage”, 1964, de Martin Ritt, com Paul Newman, Claire Bloom e Laurence
Harvey). Principalmente por sua estrutura, com narrativas contraditórias,
provando que a verdade é uma coisa muito relativa. Indicado para o Oscar de
Direção de Arte, foi premiado com um Oscar especial (não havia ainda a
categoria de Filme em Língua Estrangeira). Também ganhou o Leão de Ouro e
prêmio da Crítica no Festival de Veneza. Tem uma notável fotografia, ousada,
com câmera na mão e luz natural que diferencia as diversas versões da história.
Uma autêntica obra-prima e um filme seminal. O título original quer dizer “Na
Floresta”.”
09
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
Direção de Billy Wilder
Elenco: Marilyn Monroe, Tony
Curtis, Jack Lemmon e George Raft
“Votado pelo American Film Institute como “a melhor comédia
americana de todos os tempos”. Mas ganhou somente o Oscar de Figurino (embora
tenha sido indicado como Roteiro, Diretor, Fotografia, Ator - Lemmon e Direção
de Arte). Foi rodado em branco e preto porque não deu certo a maquiagem que
aplicaram na dupla de atores (que ficavam ridículos). Os problemas maiores
foram com Marilyn, que estava na época casada com o dramaturgo Arthur Miller
(ela estaria grávida e perdeu o bebê durante as filmagens). Sempre atrasada,
com depressão, com dificuldade de guardar os textos (há uma cena em que ela com
Curtis no telefone fica visível que está lendo o texto num quadro negro). A
repetição de muitas cenas até ela acertar provocou irritação nos colegas, mas nada disso se vê nas
telas, onde Marilyn está no auge de sua sedução.”
“Wilder originalmente queria Frank Sinatra no papel de Lemmon. Ele
conseguiu que o veterano astro George Raft tivesse uma participação como Spats
Columbo, parodiando a si mesmo num gesto com a moeda que ele fez no clássico
“Scarface”. Na fita ele é morto pelo filho de um antigo rival nos filmes dos
anos trinta, Edward Robinson Jr (que não fez carreira). Foi Raft quem deu
lições de tango para Joe E. Brown na cena com Lemmon.”
“Marilyn Monroe faz uma entrada de estrela (na chegada na estação,
o trem saltou um vapor assustando-a), fazendo o papel de Sugar Kane (Cana de
Açúcar literalmente). Embora ela pudesse estar um pouco gordinha pelos padrões
atuais, nunca esteve mais sensual com seu jeito inocente (a cena no trem em que
divide seu leito) ou cantando de forma mais agradável (Marilyn canta com sua
própria voz). A tal ponto que chega a ser difícil acreditar nos problemas que causou
nas filmagens, porque o “timing” das cenas é impecável (inclusive quando
resolve seduzir o milionário que se diz impotente).”
“Mas certamente é Jack Lemmon que está excepcional (o tango com
Joe E Brown, conhecido no Brasil como o “Boca Larga”, um comediante que andava
esquecido e foi resgatado por Wilder, e depois ele tocando as maracas no quarto
são obras-primas de farsa). Sem dúvida, uma das grandes comédias do cinema, se
não a maior.”
10
CANTANDO na CHUVA
Direção de Stanley Donen e Gene Kelly
Elenco: Gene Kelly, Donald
O'Connor, Debbie Reynolds, Jean Hagen, Cyd Charisse e Rita Moreno
“Gosto muito porque ele é pura alegria! Existe algo mais
maravilhoso, encantador, que faz você cantar e dançar na chuva, como o Gene
Kelly. Foi votado pelo American film Institute como o melhor musical de
Hollywood. Donald O´Connor ganhou o Globo de Ouro (o filme também foi
indicado). Os diretores Stanley Donen e Gene Kelly foram indicados ao Sindicato
dos Diretores. E os roteiristas Betty Comden e Adolph Green ganharam no
Sindicato dos Roteiristas. Foi indicado ainda ao Oscar de trilha musical (para
o pouco famoso Lenny Hayton, uma espécie de arranjador) e atriz coadjuvante,
uma contratada da Metro, Jean Hagen, numa das composições humorísticas melhores
de toda a história do cinema. Nada que explique sua incrível criação nesse
musical! Um fenômeno! Fazendo o papel de Lina Lamont, a parceira de Kelly nos
filmes mudos de aventura romântica, mas que tinha uma voz horrível e
impossivelmente desafinada.”
QUAIS são os seus FILMES BRASILEIROS FAVORITOS?
“Esses filmes falam por si mesmos. Cada um, em suas respectivas
épocas, foi o melhor produzido e realizado. Todos foram muito premiados e
marcaram a nossa história”
01
LIMITE
Direção de Mário Peixoto
Elenco: Olga Breno, Tatiana Rey e Raul Schnoor
02
CIDADE de DEUS
Direção de Fernando Meirelles
Elenco: Alexandre Rodrigues, Matheus Nachtergaele, Seu
Jorge e Alice Braga
03
TERRA em TRANSE
Direção de Glauber Rocha
Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce rocha, Paulo
Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Joffre Soares e Paulo César Pereio
04
O BEIJO da MULHER ARANHA
Direção de Hector Babenco
Elenco: William Hurt, Raul Julia, Sônia Braga, José lewgoy, Milton
Gonçalves, Miriam Pires e Wilson Grey
05
CENTRAL do BRASIL
Direção de Walter Salles
Elenco: Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra, Othon
Bastos e Matheus Nachtergaele
06
BYE BYE BRASIL
Direção de Carlos Diegues
Elenco: José Wilker, Betty Faria, Fábio Jr., Zaira Zambelli, Carlos
Kroeber, Joffre Soares e Rodolfo Arena
07
SÃO PAULO S.A.
Direção de Luís Sergio Person
Elenco: Walmor Chagas, Ana Esmeralda, Eva Wilma, Otelo Zeloni e
Darlene Glória
08
O HOMEM do SPUTNIK
Direção de Carlos Manga
Elenco: Oscarito, Cyl Farney, Zezé Macedo, Norma Bengell e Fregoletente
09
FLORADAS na SERRA
Direção de Luciano Salce
Elenco: Cacilda Becker, Jardel Filho, Ilka Soares, Célia Helena e Rubens
de Falco
10
O CANCAGEIRO
Direção de Lima Barreto
Elenco: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico e
Adoniran Barbosa
QUAIS são os seus FILMES de WESTERN FAVORITOS?
01
MATAR ou MORRER
Direção de Fred Zinnemann
Elenco: Gary Cooper, Thomas Mitchell, Lloyd Bridges, Katy Jurado e Grace Kelly
“Se não foi o primeiro, certamente é o mais famoso de um novo tipo
de faroeste, o chamado western psicológico, onde a história se tornava mais
rebuscada e o bandido podia ter complexos, medos e problemas, deixando de ser
mera perseguição de bandidos e mocinhos (ou pele-vermelhas). “Matar ou Morrer” capturou
a imaginação do público. Talvez por causa da imagem ideal de Gary Cooper para o
gênero, com seu jeito muito norte-americano, taciturno, de poucas palavras e
aparência de honesto. E que grande influência teve no gênero. O filme tornou-se
uma tensa história de suspense; um homem traído por seus amigos – os mesmo que antes foram festejar seu casamento agora lhe viram as costas – e que
tem de enfrentar sozinho três pistoleiros.”
02
No TEMPO das DILIGÊNCIAS
Direção de John Ford
Elenco: John Wayne, Claire
Trevor, Andy Devine, John Carradine, Thomas Mitchell, George Bancroft e Tim
Holt
“Foi graças a Ford que o faroeste ganhou status de arte e grande
aventura, não apenas diversão de matinês. Na verdade, Ford já era veterano de
faroestes no cinema mudo, quando fez muitos do gênero com seu amigo Harry Carey.
Embora esteja em oitavo lugar na lista do AFI (American Film Institute) é um
dos melhores faroestes de todos os tempos. Este deve ser sem dúvida o mais
importante, o que teve mais influência. Ele tem como maior mérito uma coisa que
o tempo não lhe rouba: uma estrutura perfeita, uma narrativa orgânica,
equilibrada entre todos os personagens que conseguem marcar sua presença (e até
humanizá-los). Não é só ação e tiroteio, mas faz crítica social, mitifica a
experiência do sonho de transformação do Oeste sem ser militarista ou populista
(como, aliás, Ford era na vida real). Sem dúvida, uma obra-prima.”
03
RASTROS de ÓDIO
Direção de John Ford
Elenco: John Wayne, Jeffrey
Hunter, Vera Miles, Ward Bond e Natalie Wood
“O mestre Ford praticamente deu ao western seu timbre de qualidade
em “No Tempo das Diligências”, pois, até então, os filmes do gênero eram
fitinhas ‘C’ de complemento de programa e Ford é um dos poucos cineastas de quem
se pode dizer: nunca fez um filme ruim. Modesto, simples, objetivo –
apresentava-se sempre desta forma: “meu nome é Ford, eu dirijo westerns” –
rodando sempre apenas o que ia usar; ele era um mestre da narrativa e do
gênero. Parece que Ford tinha consciência de que construía uma elegia ao gênero
a partir do plano que abre (e depois fecha o filme). Filmado do interior de uma
casa, uma porta se abre mostrando a pradaria e o deserto, o exterior para onde
vai a família, percebendo a aproximação de um estranho, que vem a ser Wayne.”
“Um filme rodado em Vistavision na paisagem espetacular de Utah
que ele (Ford) considerava sua verdadeira região. É um dos poucos westerns que
nos envolve emocionalmente, talvez pelo conflito de gerações. (Jeffrey Hunter e
seus olhos azuis brilhantes são de impressionante sinceridade e Vera Miles
nunca aproveitou a sorte de ser a favorita de Ford e Hitchcock). Talvez pela
sua simples humanidade.”
04
MEU ÓDIO SERÁ tua HERANÇA
Direção de Sam Peckinpah
Elenco: William Holden,
Ernest Borgnine, Robert Ryan, Edmond O'Brien, Warren Oates, Ben Johnson e Albert Dekker
“Foi com este faroeste extraordinário que renasceu o gênero. Este
filme mostra os heróis do Oeste sem sua áurea santificante e lendária. Eles
matam a sangue-frio às vezes para não morrer; às vezes por descuido ou
obrigação, raramente por um ideal. É a morte dura e cruel; a inevitabilidade da
violência sobrepondo-se às necessidades do espetáculo. Peckinpah situou sua
história no fim da conquista do Oeste. Os heróis estão velhos e decadentes, e
os caçadores de recompensa os perseguem violentamente. A fuga para o México
resolve temporariamente o problema. E é em plena Revolução Mexicana que os bandidos são contratados para um serviço e
forçados a tomar uma posição ética.”
“A grande curiosidade é que apesar do filme ser o faroeste mais
violento até então feito, a violência nunca é gratuita. Peckinpah mostra simplesmente
como ela existia no Oeste. E morte com os detalhes verdadeiros: a surpresa, a
podridão e a falta de razões. E um elemento discutível: a visão que o diretor
dá aos mexicanos é extremamente folclórica, como se eles fossem nativos das
ilhas do Sul – só falta dançarem o hula-hula. A caricatura fica assim muito
carregada com o coronel mexicano, feito pelo famoso diretor Emílio Fernández. Mas
depois do massacre do início, o ritmo decai, faz-se uma pausa até que as cenas
fiquem realmente emocionantes: o mexicano matando - ao som de um palavrão – sua
ex-amante, a explosão da ponte e o grande massacre final.”
05
TRILOGIA dos DÓLARES:
POR um PUNHADO de DÓLARES
(Per um Pugno di Dollari, 1964)
POR uns DÓLARES a MAIS
(Per Qualche Dollaro in Più, 1965)
TRÊS HOMENS em CONFLITO
Direção de Sergio Leone
Elenco: Clint Eastwood, Gian Maria Volontè e Marianne Koch
“Com três filmes, o diretor italiano revolucionou o gênero no
começo dos anos 60 (deixando de ser realista e psicológico, voltando à ação e
fantasia, imitando Kurosawa e utilizando brilhantemente a trilha musical de
Ennio Morricone). Clint virou o novo Cooper nesses três faroestes. Leone fez
ainda outro clássico: “Era uma Vez no Oeste”. Foi um sucesso mundial e lançou o
novo gênero chamado Spaghetti-Western (um nome pejorativo que virou afetuoso).
Ninguém sabia na época que faziam uma obra-prima de virtuosismo narrativo,
muito ajudado pela trilha musical hoje clássica.”.
06
ONDE COMEÇA o INFERNO
Direção de Howard Hawks
Elenco: John Wayne, Dean
Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan e Ward Bond
“Faroeste clássico, que lançou como estrela Angie Dickinson
(embora já fosse veterana de vários filmes) num papel forte, lembrando outras
heroínas do diretor (com frases de duplo sentido), foi várias vezes imitado e
até refeito pelo próprio diretor. Um pouco longo, até lento, episódico e
superestimado, tem interlúdio musical (para os dois cantores fazerem dueto em
duas canções), mexicanos caricatos, mas há muito que compensar. A sequência de introdução é um
primor de clareza: Dean Martin como bêbado vai se humilhar, quando é impedido pelo xerife Wayne, que é atacado
pelo desordeiro Akins, que por sua vez mata um inocente desencadeando o conflito.
Dean é melhor ator do que as pessoas lembram
e a interação entre os protagonistas funciona, até mesmo com o cantor de
rock da época Ricky Nelson (que não fez carreira como ator).”
07
CONSCIÊNCIAS MORTAS
Direção de William A. Wellman
Elenco: Henry Fonda, Dana
Andrews, Mary Beth Hughes, Anthony Quinn, William Eythe e Jane Darwell
“Depois de ter sido rejeitado por todos os estúdios como história,
o diretor Wellman comprou os direitos para o livro de Walter Van Tilburg Clark
(a única vez que pôs dinheiro dele num projeto). Em plena 2.ª Guerra Mundial
querer fazer um filme sobre enforcamento de brancos era uma ousadia. Os
críticos gostam muito (Melhor Filme do National Board of Review, Ator e Ator
Coadjuvante) depois é indicado ao Oscar de Melhor Filme (mas nenhum outro). É
preciso não esquecer que era uma época em que nos faroestes tudo era otimista e
com música (Gene Autry e Roy Rogers) nada realistas e o filme era uma surpresa
e realista. Na verdade, até hoje ainda é pouco conhecido (Fonda o considera o
ponto alto de sua carreira). Discutindo
linchamento e justiça, histeria coletiva, comportamento de grupo, direito,
religião. O título se refere ao lugar onde se realiza o pseudojulgamento. É uma
obra-prima desconhecida, também uma boa ocasião para fazer justiça
ao grande diretor William A. Wellman.”
08
Os BRUTOS TAMBÉM AMAM
Direção de George Stevens
Elenco: Alan Ladd, Jean Arthur, Van Heflin, Brandon De Wilde, Jack
Palance e Ben Johnson
“Certamente há faroestes com mais ação, maior aprofundamento
psicológico, mas nenhum é mais bonito, mais bem cuidado pictoricamente do que
“Shane”. Cada plano é um primor de enquadramento, composição, equilíbrio, como
se Stevens tivesse passado dias esperando pela nuvem perfeita para aquele
momento (e é provável que tenha feito isso mesmo). Concebido como uma alegoria
entre o Bem e o Mal é extremamente rigoroso e até acadêmico. Nada fora do
lugar, tudo perfeitinho. O personagem central se tornou realmente exemplar: o
sujeito que veio do nada, obviamente com um passado conturbado de pistoleiro
(que nunca é desvendado), une-se por amizade ao garoto Joey (Brandon De Wilde,
numa das interpretações mais sinceras e tocantes de um menino no cinema). O bom
homem Shane é loiro, usa roupas claras; o pistoleiro Palance usa roupas escuras,
está sempre de negro. Parece que a intenção do diretor é fazer uma elegia ao
gênero e ao mito do western de forma lírica e nostálgica, muito ajudado por uma
trilha musical emblemática de Victor Young, simbolizada principalmente pela
idealização que o garoto faz do heróis Shane (Come back... Shane!)”
09
O HOMEM que MATOU o FACÍNORA
Direção de John Ford
Elenco: James Stewart, John Wayne, Vera
Miles, Lee Marvin, Edmond O’Brien e Andy Devine
“Um dos filmes mais famosos do mestre John Ford, nem por isso sua
obra-prima. Há problemas dos que super-representam, descontrolados (como Edmond
O’Brien, que faz o jornalista), tanto Wayne quanto Stewart estão velhos demais
para os personagens (em particular Stewart, que usa perucas ridículas e
maquiagem excessiva), humor inapropriado, uma produçãmodesta.
Tem pouca ação, mas nada justifica ter sido feito em preto e branco (numa época
em que já não se usava e com uma foto medíocre). Até mesmo Lee Marvin
repete seus trejeitos no papel do bandido-título.”
10
SETE HOMENS e um DESTINO
Direção de John Sturges
Elenco: Yul Brynner, Eli
Wallach, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, James Coburn e Vladimir
Sokoloff
“Perfeita adaptação para o faroeste do clássico “Os Sete
Samurais”, de Kurosawa. Eles agora são pistoleiros contratados por um povoado
mexicano para lutar contra os bandidos. Filme famoso pela trilha musical de
Elmer Bernstein e o fato de que muitos do elenco de apoio viraram astros. Yul
Brynner em seu melhor momento seguido por Steve McQueen, Charles Bronson, James
Coburn e Robert Vaughn.”
QUAL o seu DIRETOR, ATOR e ATRIZ FAVORITOS?
DIRETORES
AKIRA KUROSAWA
Dois filmes:
“Rashomon” (1950) e “Ran” (1985)
“Universalmente
admirado e idolatrado como um mestre. Uma revisão de sua obra confirma seu
status de um cineasta irretocável. Um grande artista. Seu sentido plástico, sua
direção de atores, sua mise-em-scène perfeita, tudo isto
o consagra.”
BILLY WILDER
Dois filmes:
“Pacto de Sangue” (1944) e “Crepúsculo dos Deuses” (1950)
“Cínico, mordaz, sofisticado, à vontade na comédia e no drama.
Seus filmes resistiram ao tempo e se tornaram clássicos. Excelente diretor de
atores, conseguiu revelar a verdadeira atriz em Marlene Dietrich e fornecer
Oscars a galãs ou vilões desacretidatos.”
FEDERICO FELLINI
Dois filmes: “A Doce Vida” (1960) e
“Amarcord” (1973)
“Um dos
maiores gênios do cinema. Ninguém como esse italiano conseguiu criar um universo tão
rico, tão particular. Como um pintor, o seu tema é sempre o mesmo,
autobiográfico, mas mostrado de forma diferente, recriado.”
ORSON WELLES
Dois filmes:
“A Dama de Shanghai” (1947) e “A Marca da Maldade” (1958)
“Deixou marca profunda na estreia, sempre
votado como o filme mais importante de todos os tempos.
Sem sorte, seus vários projetos permaneceram inacabados.”
STANLEY KUBRICK
Dois filmes: “Lolita” (1962) e “Barry Lyndon”
(1975)
“Foi o mais
sério e importante cineasta norte-americano da década de 60. Fixado na
Inglaterra, tinha carta branca para trabalhar nos seus projetos com liberdade absoluta e total. O melhor que se pode dizer dele é
que continuou fiel a si mesmo.”
ATORES
GARY COOPER
Dois filmes:
“O Galante Mr. Deeds” (1936) e “Por Quem os Sinos Dobram” (1943)
HUMPHREY BOGART
Dois filmes:
“Casablanca” (1942) e “Uma Aventura na África” (1951)
MARCELO MASTROIANNI
Dois filmes:
“A Doce Vida” (1960) e “Ciúme à Italiana” (1970)
PAULO JOSÉ
Dois filmes:
“O Padre e a Moça” (1966) e “Todas as Mulheres do Mundo” (1966)
SEAN CONNERY
Dois filmes:
“O Homem que Queria ser Rei” (1975) e “Os Intocáveis” (1987)
YVES MONTAND
Dois filmes:
“O Salário do Medo” (1953) e “Z” (1969)
ATRIZES
ANNA MAGNANI
Dois filmes:
“Fúria da Carne” (1957) e “Mamma Roma” (1962)
ANECY ROCHA
Dois filmes:
“A Grande Cidade” (1966) e “A
Lira do Delírio” (1978)
BETTE DAVIS
Dois filmes:
“Jezebel” (1938) e “A Malvada”
(1950)
DEBBIE REYNOLDS
Dois filmes:
“Cantando na Chuva” (1952) e “A Flor do Pântano” (1957)
GLAUCE ROCHA
Dois filmes:
“Os Cafajestes” (1962) e “Terra em Transe” (1967)
INGRID BERGMAN
Dois filmes:
“À Meia-Luz” (1944) e “Sonata de
Outono” (1978)
MARÍLIA PERA
Dois filmes:
“Pixote, a Lei do mais Fraco” (1980) e “Central do Brasil” (1998)
ROMY SCHNEIDER
Dois filmes:
“As Coisas da Vida” (1970) e “Uma História Simples” (1978)
VANESSA REDGRAVE
Dois filmes:
“Isadora” (1968) e “Júlia”
(1977)
PING-PONG com EWALD FILHO
Um filme que marcou a sua infância:
“Quando Canta o Coração / Two Weeks With Love” (1950). Foi quando
me apaixonei por Debbie Reynolds.
Um filme que o deixou com medo:
“Os Inocentes / The Innocents” (1961). Deu arrepios para valer.
Um filme o que fez chorar:
“O Barco das Ilusões / Show Boat” (1951). Um musical belo, por
sinal.
Um clássico que não gosta:
Tem alguns cineastas que considero superestimados. Jean Renoir
acho um chato. Roberto Rosselini era outro.
Um documentário inesquecível:
“Noite e Neblina / Nuit et Brouillard” (1956). Uma obra-prima.
4 comentários:
Adorei a matéria!
Eu gostava dos comentários dele. Parabéns pelo blog.
Impressionante
Olá gostaria de convidar a todos para acessarem e seguirem o site setcinemaeentretenimento.blogspot.com. Lá há várias curiosidades e críticas sobre filmes e séries.
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