ANTONIO NAHUD entrevista BERNARDO BERTOLUCCI no Festival de Cinema de San Sebastian, Espanha, em 2000.
Publicada no jornal “A Tarde”, da Bahia, e no livro “ArtePalavra – Conversas no
Velho Mundo” (2003).
Um artista incomparável. O cineasta BERNARDO BERTOLUCCI é considerado
um dos maiores na grande tradição do cinema italiano. Tudo começou
com seu segundo longa, “Antes da Revolução”, de 1962, reflexão sobre o sentido
das revoluções. Anos depois seu nome tornou-se universal com o sucesso
escandaloso de “O Último Tango em Paris”. Um desesperado viúvo de meia idade
(Marlon Brando) inicia caso com uma jovem (Maria Schneider) numa Paris
crepuscular. O drama existencialista é de uma beleza convulsiva e marcou época.
Resistiu ao tempo e às tentativas tolas de vinculá-lo a duvidosos bastidores de
filmagem. A crítica Pauline Kael comparou sua importância, para o cinema, à da
estreia da “Sagração da Primavera”, de Stravinsky, para a música.
bertolucci, godard e pasolini |
Filho de um intelectual e poeta, herdeiro direto de Roberto
Rossellini, debutou no cinema aos 22 anos em “A Morte”, inspirado em uma
sugestão de Pier Paolo Pasolini. BERTOLUCCI gostava de apoiar-se em grandes
autores. Stendhal, Dostoievski, Moravia, Paul Bowles, Jorge Luis Borges em “A
Estratégia da Aranha”. Neste último, inspira-se no breve relato “Tema do
Traidor e do Herói”, para falar da ascensão de Benito Mussolini e dos crimes
políticos na Itália fascista - uma de suas obsessões. Em uma de suas maiores
obras, “O Conformista”, analisa a questão do fascismo na Itália em suas
determinações sociais, mas também nas raízes psicológicas do personagem
principal, vivido por um soberbo Jean-Louis Trintignant.
bertolucci, brando e maria schneider |
O senhor rodou seu primeiro longa em 1962, há quase 40 anos. De lá
para cá realizou uma série de filmes politizados, espetaculares ou intimistas.
Qual foi o seu melhor momento?
O meu melhor filme não foi realizado. Gostaria de ainda ser capaz
de fazê-lo. Além disso, não estou orgulhoso de alguns filmes que fiz. Mas não
me pergunte quais são eles, eu não direi.
Woody Allen também disse que ainda não fez sua obra-prima. Mas há diretores
confiantes que fazem excelentes filmes a cada ano. Sua sensatez foi conquistada
com a experiência?
Acho que os artistas deveriam se comportar com humildade,
tolerância e argúcia crítica. Poucos agem assim. Não me definiria exatamente
como sensato, estou mais para um criminoso do cinema que evita voltar ao local
do crime, buscando sempre novos caminhos. Cada filme que faço é diferente do
anterior. Do erótico e intimista “O Último Tango em Paris” a saga política
“1900”. Do colossal e de grandes investimentos “O Último Imperador” aos
delicados e quase silenciosos “Beleza Roubada” e “Assédio”. Procuro não me repetir.
Rodará a terceira parte de “1900”, contando sua versão da Itália
nas últimas décadas até a atualidade?
Houve a possibilidade, mas não deu certo. Hoje em dia as
ideologias não existem e a política perdeu a força. “Novecento” é como um pilar
apoiado em paixões ideológicas, e este base já não existe. Inclusive, eu mesmo,
não tenho mais a febre política que tinha no passado.
“O Último Tango em Paris” é um dos meus filmes favoritos. O
lendário Brando nunca esteve melhor. Dizem que o senhor teve muitos problemas
com ele. É verdade?
Nunca tive problemas com Brando. Foi maravilhoso trabalhar com
ele. Há quatro anos estive em sua casa, em Los Angeles, e vi que segue sendo o
mesmo, porém com um barrigão que não tinha há vinte anos. Desde esse dia seguimos
conversando. Eu ficaria encantado em voltar a trabalhar com Marlon Brando.
Qual o seu próximo projeto?
Já estou trabalhando neles. São dois. Um é sobre um compositor
italiano do século XV. O outro tem direção da minha esposa, Claire People. Sou
o produtor.
O que diz da homenagem em San Sebastian?
Deixa-me envergonhado rever meus filmes antigos. Eu não costumo revê-los.
Esta homenagem faz que me veja como um quase jurássico, um antiquado.
FILMOGRAFIA de BERTOLUCCI
01
A MORTE
(La Commare Secca, 1962)
Elenco: Francesco Ruiu e Giancarlo De Rosa
02
ANTES da REVOLUÇÃO
(Prima della Rivoluzione, 1964)
03
PARTNER
(Idem, 1968)
Elenco: Pierre Clémenti e Tina Aumont
04
AMOR e RAIVA
(Amore e Rabbia, 1969)
Episódio: “Agonia”
Elenco: Julian Beck e Judith Malina
05
O CONFORMISTA
(Il Conformista, 1970)
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda
e Gastone Moschin
e Gastone Moschin
06
A ESTRATÉGIA da ARANHA
(Strategia del Ragno, 1970)
Elenco: Giulio Brogi, Alida Valli e Pippo Campanini
07
O ÚLTIMO TANGO em PARIS
(Ultimo Tango a Parigi, 1972)
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Jean-Pierre Léaud
e Massimo Girotti
08
1900
(Novecento, 1976)
Elenco: Robert De Niro, Gérard Depardieu, Dominique Sanda,
Stefania Sandrelli, Burt Lancaster, Francesca Bertini,
Laura Betti, Sterling
Hayden, Alida Valli,
Donald Sutherland e Romolo Valli
09
LA LUNA
(Idem, 1979)
Elenco: Jill
Clayburgh, Matthew Barry, Veronica Lazar,
10
A TRAGÉDIA de UM HOMEM RIDÍCULO
(La tragedia di un Uomo Ridicolo, 1981)
Elenco: Ugo Tognazzi, Anouk Aimée, Laura Morante
e Renato Salvatori
11
O ÚLTIMO IMPERADOR
(The Last Emperor, 1987)
Elenco: John Lone,
Joan Chen e Peter O'Toole
Oscar de Melhor Direção
Globo de Ouro de Melhor Direção
12
O CÉU que nos PROTEGE
(The Sheltering Sky, 1990)
Elenco: Debra Winger,
John Malkovich, Campbell Scott
e Timothy Spall
13
O PEQUENO BUDA
(Little Buddha, 1993)
Elenco: Keanu Reeves,
Bridget Fonda e Ruocheng Ying
14
BELEZA ROUBADA
(Stealing Beauty, 1996)
Elenco: Jeremy Irons,
Liv Tyler, Joseph Fiennes,
Jean Marais e Stefania Sandrelli
15
ASSÉDIO
(L'assedio, 1998)
Elenco: Thandie Newton, David Thewlis e Veronica Lazar
16
Os SONHADORES
(The Dreamers, 2003)
Elenco: Michael Pitt, Louis Garrel e Eva Green
17
EU e VOCÊ
(Io e te, 2012)
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