janeiro 08, 2017

************************************* 12 FILMES de 2016



O que foi lançado nas telas de cinema no ano de 2016 ainda está tão recente que muita gente não viu alguns dos seus melhores filmes. Para essa turma e para os cinéfilos que querem relembrar o melhor da produção da sétima arte do ano passado, o blog “O Falcão Maltês” olha para trás e elabora sua lista. Alguns filmes foram produzidos em 2015, 2014 e até 2011. A grande maioria vi em DVD.

Entre os 12 preferidos, cito a sensível fita pernambucana “Boi Neon”. Ela é a principal recompensa do cinema nacional em 2016. “Pequeno Segredo”, que disputou vaga no Oscar na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira, não empolga. Festejado pela esquerda, “Aquarius” se autodestrói na pretensão sonífera e no oportunismo político.  “Nise – O Coração da Loucura” é show de Glória Pires. Falta ver o esperado “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de Vinicius Coimbra. A versão de Roberto Santos em 1965 é um dos melhores filmes do cinema brasileiro.

Sem mais delongas, estes são os 12 GRANDES FILMES de 2016. Eles me surpreenderam. Não deixe de assisti-los.

01
FILHO de SAUL
(Saul Fia, 2015)

drama de guerra
direção de László Nemes
elenco: Géza Röhrig, Levente Molnár e Urs Rechn
Hungria

De experimentação visual, sua carreira internacional vem desde Cannes 2015. Durante a II Guerra Mundial, em 1944, um prisioneiro é forçado a trabalhar nas instalações da câmara de gás, preparando outros judeus para a morte, e depois no recolhimento dos corpos. Ele encontra sobrevivência moral quando tenta salvar da fornalha o cadáver de um menino que acredita ser seu filho.

Retrata os terrores do campo de concentração de Auschwitz inovando na linguagem: em enquadramentos fechados, a câmera segue de perto os passos de seu protagonista. Ele carrega no rosto envelhecido e nos olhos baços o inconformismo e o desespero da guerra, como se sua desgraça, individualmente, fosse capaz de representar a dos outros 6 milhões de judeus mortos pelos nazistas.

O fato de o protagonista ser sempre o ponto de referência visual, torna o entorno uma massa disforme, e só nos resta imaginar o horror. Mas o poder de sugestão do cinema é macabro.

Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro
Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes
Melhor Filme Estrangeiro da Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles
Melhor Filme Estrangeiro no National Board of Review

02
Na VENTANIA
(Risttuules, 2014)

drama
direção de Martti Helde
elenco: Laura Peterson, Tarmo Song e Mirt Preegel
Estonia

Estudante de filosofia e sua filha são enviadas a um campo de trabalho forçado durante a II Guerra Mundial. Elas sobrevivem neste cenário com muito pouco para se alimentar. O longa faz uma alegoria da deportação de estonianos pelo regime stalinista no início dos anos 1940, com uma estética radical, na qual a câmera caminha por cenários e locações em que os personagens estão paralisados, mostrando o terror diante do autoritarismo.

03
O ABRAÇO da SERPENTE
(El abrazo de la serpiente, 2015)

aventura
direção de Ciro Guerra
elenco: Nilbio Torres, Jan Bijvoet e Antonio Bolivar
Colômbia Venezuela Argentina

Representante colombiano na disputa pelo Oscar 2016, recorre a uma bela fotografia em preto e branco para traçar um retrato dos povos indígenas na Amazônia, mostrando como a cultura nativa se transformou ao longo do tempo e como foi afetada pela presença do homem branco. Na história, o relacionamento entre Karamakate, um xamã amazônico e último sobrevivente de seu povo, e dois cientistas que trabalham juntos por 40 anos para procurar na Amazônia uma planta de cura sagrada.

“Estamos diante de uma fabula que nasceu das cores da selva, da profusão de sensações que eu experimentei”, disse o diretor, completando “o filme levou-me a buscar um novo estado de espírito na direção do sonho, de modo que eu pudesse me libertar de referências sensíveis do próprio cinema e buscar o entendimento da novidade à minha frente sem a muleta da lógica.

04
ANIMAIS NOTURNOS
(Nocturnal Animals)

thriller
direção de Tom Ford
elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon e Laura Linney
EUA

A trama mostra uma mulher que recebe um manuscrito do livro de seu ex-marido, um homem a quem ela deixou há 20 anos, pedindo sua opinião. Costurando o presente e o passado com a história do romance, o ícone da moda Tom Ford dá um expressivo salto adiante em seu cinema. O livro, intitulado “Animais Noturnos”, fala de um homem cuja família de férias se torna violenta e mortal. As três tramas reforçam o entendimento uma da outra, discutindo traição, vingança, herança e percepção.

Nesse desconfortável exercício altamente dramático, o diretor mantém seu total domínio elegante. Visualmente, o filme é impecável. Vai do ultra chique e moderno ao grotesco e ao natural sem perder o ritmo. Adaptado do romance “Tony and Susan”, de Austin Wright, cria um universo tenso, perturbador. Também extrai atuações memoráveis de Amy Adams, Gyllenhaal, Aaron Taylor-Johnson e Michael Shannon.

Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza

05
CAROL
(Idem, 2015)

drama
direção de Todd Haynes
elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara e Kyle Chandler
Inglaterra | EUA | Austrália

As obras de Todd Haynes preservam a intimidade - ou as aparências. A diferença de “Carol” para “Longe do Paraíso” ou “Mildred Pierce” é, principalmente, a possibilidade da cumplicidade entre iguais: duas mulheres que no seu amor clandestino têm uma à outra para se proteger dos “perigos” da sociedade. Na narrativa, uma atendente de loja de departamentos, que sonha com uma vida melhor, apaixona-se por uma mulher mais velha e casada.

Talvez seja o drama mais estético do diretor - numa carreira que parece demonstrar predileção pelos anos 1950 de Douglas Sirk, justamente pela oportunidade de recriar cenários, figurinos e cenas do esplendor e luz do american way of life - essa impressão se reforça na relação de mentora e aprendiz. Através da amante mais velha, a garota simplória descobre não apenas o amor, como desenvolve principalmente um olhar crítico. Juntas, parecem enxergar coisas que ninguém mais vê.

Um drama intimista, belo e distante, exercitado na beleza e no silêncio, e coroado por excelentes atuações.

Melhor Filme no Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York

06
ELLE
(Idem)

thriller
direção de Paul Verhoeven
elenco: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte e  Anne Consigny
França Alemanha Bélgica

Visto por cerca de meio milhão de pagantes em solo francês, foi escolhido para representar a França na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Concorre também ao Globo de Ouro na mesma categoria. Sustentado por uma performance inesquecível de Isabelle Huppert, é uma obra polêmica, feita pelo diretor septuagenário holandês Paul Verhoeven (de “Instinto Selvagem / Basic Instinct”, 1992) em sua melhor forma, como não se via desde a década de 1990.

Cercado de elogios, o suspense erótico aborda de forma explosiva uma empresária da indústria de games, acompanhando o quanto se aprofunda em seu lado mais sombrio após sofrer um abuso sexual. A invasão de seu lar por um suposto ladrão, que a violenta, parece algo superado, até que começa a se armar de cutelos e aparelho de choque, sem que isso altere seu dia a dia com os funcionários, o filho e o amante. Ela resolve descobrir quem é o homem que a violentou, e por que a escolheu.

07
FRANCOFONIA – LOUVRE sob OCUPAÇÃO
(Francofonia, 2015)

documentário
direção de Aleksandr Sokurov
França Alemanha Holanda

Assistir à uma obra do russo Sokurov não é tarefa fácil. O estilo do cineasta é complexo – e isso fica perceptível com a narrativa arrastada que pode facilmente dispersar a atenção dos menos pacientes. Neste seu mais recente trabalho, acolhido com fervor em Veneza no ano passado, ganhou o prêmio de Melhor Filme Europeu no festival. Sem uma estrutura de roteiro bem definida e conduzido de forma quase experimental, ambienta-se na década de 1940, na França ocupada pela Alemanha Nazi.

Relata o encontro de Jacques Jaujard, ex-diretor do Museu do Louvre, e o conde Franz von Wolff-Metternich, um oficial alemão. A aliança entre os dois foi primordial para a preservação do patrimônio do museu durante a Segunda Guerra Mundial. A partir deste fio condutor, Sokurov divide a trama em partes distintas, que se alternam entre si para dissecar um período da história daquele que é considerado o maior museu francês.

Utilizando-se de um argumento que mistura documentário e ficção, o irreverente Sokurov disserta sobre a força da arte como instrumento de depósito das memórias de uma nação – daí a importância de sua conservação.

08
CINCO GRAÇAS
(Mustang, 2015)

drama
direção de Deniz Gamze Erguven
elenco: Günes Sensoy, Doga Zeynep Doguslu e Tugba Sunguroglu
França Alemanha Turquia Qatar

Dirigido pela estreante turca Deniz Gamze Ergüven, a trama se passa numa vila do Norte da Turquia, a centenas de quilômetros da cosmopolita Istambul, e segue cinco irmãs que acabaram de sair da escola e comemoram o início das férias ao lado dos meninos. Talvez comemorem com ânimo demais para os padrões locais, porque a avó e o tio das meninas, órfãs de pais, decidem que o melhor a fazer é mantê-las sob vigilância, aprendendo a ser dona de casa e boa esposa, até que os adultos encontrem maridos para as cinco.

A combinação do caráter obviamente progressista da história com os momentos de humor e catarse da libertária rebeldia juvenil forma um pacote irresistível para agradar o grande público. À falta de um roteiro mais complexo, a diretora se ampara no seu ótimo e fotogênico elenco jovem. Ela trata com naturalidade de anseios juvenis num país enraizado em tradições religiosas. O resultado é um filme de exportação, pronto para prêmios. Concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2016 e ao Globo de Ouro. Ganhou o César de Melhor Primeira Obra.

09
O CAVALO de TURIM
(A Torinói Ló, 2011)

drama
direção de Béla Tarr e Ágnes Hranitzky
elenco: János Derzsi, Erika Bók e Mihály Kormos
Hungria França Alemanha Suíça EUA

Inspirado em um incidente envolvendo o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900), que, em 1899, teria sofrido uma crise nervosa ao ver um cavalo sendo chicoteado na frente de sua casa, o drama resulta num retrato do forte laço que existe entre pai e filha. Fazendeiros, dividem um cotidiano dominado pela monotonia. A realidade dos dois é repetitiva e as mudanças são raras. Enquanto isso, o cavalo da família se recusa a comer e a andar. Preste atenção na extraordinária fotografia e nas minuciosas atuações.

Urso de Prata no Festival de Berlim

10
 A GAROTA DINAMARQUESA
(The Danish Girl, 2015)

drama
direção de Tom Hooper
elenco: Eddie Redmayne, Alicia Vikander e Amber Heard
Inglaterra EUA Alemanha Dinamarca Bélgica

Eddie Redmayne interpreta alguém que não se vê no corpo de um homem. Ele é um pintor dinamarquês, casado, de relativo sucesso. Mas quer assumir sua identidade feminina. O trabalho do ator – do andar feminino à fala que dispensa a apelação do falsete – confere ao filme a sutileza que falta no roteiro e na direção.

Casado com uma também pintora, a protagonista foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero no mundo, e se tornou Lili Elbe. Isso na década de 1920. Em um curto espaço de tempo, Redmayne interpretou papéis marcantes, mas se supera com essa performance estonteante. O filme fundamenta-se em sua magnífica atuação.

11
BOI NEON
(2015)

drama
direção de Gabriel Mascaro
elenco: Juliano Cazarré, Maeve Jinkings e Josinaldo Alves
Brasil Uruguai Holanda

Uma obra esteticamente sofisticada que procura escapar dos estereótipos sexuais a partir da história do vaqueiro cujo sonho é ser estilista. Nos bastidores das vaquejadas, ele prepara os bois antes de soltá-los na arena. Levando a vida na estrada, o caminhão que transporta os bois para os eventos é também a casa improvisada dele e de seus colegas de trabalho. Juntos, eles formam uma família unida. Mesmo com o cotidiano intenso e visceral, novas ambições inspiram o vaqueiro. Deitado em sua rede na traseira do caminhão, sua cabeça divaga em sonhos de lantejoulas, tecidos requintados e croquis.

O primeiro filme do diretor com atores profissionais. Personagens interessantíssimos, expostos na intimidade. Registra cidadãos que alimentam sonhos, mas que precisam sobreviver e acabam tomando outro rumo. Tecnicamente primoroso. Bela fotografia de Diego Garcia. Um bom elenco, destacando-se Juliano Cazarré, que soube compor a masculinidade delicada do personagem.

Melhor Filme no Festival de Havana

12
45 ANOS
(45 Years, 2015)

drama
direção de Andrew Haigh
elenco: Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Geraldine James
Inglaterra

A partir de um tratamento sóbrio, mas sempre estimulante, o diretor britânico extrai incansavelmente novas camadas do retrato de um relacionamento maduro. Com muito mérito, foram premiadas como as melhores interpretações do Festival de Berlim, os veteranos atores ingleses Charlotte Rampling, 70 anos, e Tom Courtenay, de 79. Um dos grandes prazeres de assistir ao filme é presenciar como eles encarnam o dilacerante confronto de um velho casal na semana em que completam 45 anos de vida juntos.

Num tom sutil, o diretor leva os espectadores a compartilhar a rotina terna deste par, que se prepara para a festa destas mais de quatro décadas de convivência. Mas a tranquilidade é abalada pela chegada de uma carta. O tema em si, extraído de um conto de David Constantine, não é raro ou incomum. O que torna o filme peculiar é a maneira como este episódio vai sendo desvendado e vivido, de formas distintas, pelo casal até então tão unido na crença de conhecer completamente um ao outro. É de sentimentos que o filme fala, tocando profundamente.

ATRIZ do ANO

ISABELLE HUPPERT
em “Elle”

Melhor Atriz da Associação dos Críticos de Cinema de Los Angeles
Indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz-Drama
Melhor Atriz do Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York

seguida por
Meryl Streep em “Florence: Quem é essa mulher? / Florence Foster Jenkins”
Natalie Portman em “Jackie / Idem”

ATOR do ANO

LEONARDO DiCAPRIO
em “O Regresso / The Revenant” (2015)

Oscar de Melhor Ator
Globo de Ouro de Melhor Ator-Drama
BAFTA de Melhor Ator

seguido por
Casey Affleck em “Manchester à Beira-Mar / Manchester by the Sea”
Denzel Washington em “Cercas / Fences”

DIRETOR do ANO

TODD HAYNES
em “Carol”

6 comentários:

Mardone França disse...

Excelente esta sua ideia de fazer este favor de apresentar e comentar os filmes de 2016. Vou correr atrás dos que não assisti ainda. Valeu!

Jean Guilherme Paixão disse...

Listaço! Dos doze vi cinco. Vou procurar os outros. Fiquei impressionado com O Abraço da Serpente e Cinco Graças. Não sabia da existência.

Arthur Hoffmann disse...

Vi 45 Anos, Carol, A Garota Dinamarquesa e Filho de Saul. Todos ótimos. Parabéns pelas escolhas.

Alice Dias disse...

Carol é lindo!

Bernarda Menezes disse...

Sensacional!

Eraldo Urano disse...

"Cinco Graças". Já passou no Telecine Cult. Muito bom!