fevereiro 14, 2015

******* A ESTRELA que o MUNDO ESQUECEU



Uma das estrelas mais queridas do cinema mudo, adorada por público e críticos, NORMA TALMADGE atuou em 141 filmes e era conhecida pela versatilidade e sofisticação. De beleza morena, sorriso de covinhas, personalidade calorosa e amigável, destacou-se pela sutileza e naturalismo de suas performances em melodramas. Hoje quase ninguém mais se lembra dela, porque seus filmes inexplicavelmente são menos acessíveis do que os de outros famosos da época. Alguns historiadores mencionam o seu nome apenas de passagem ou emitem um julgamento impreciso sobre a sua capacidade artística. Como se isto não bastasse, a atriz foi alvo de caricaturas injustas em clássicos famosos. No musical “Cantando na Chuva / Singin’ in the Rain” (1952) é parodiada como Lina Lamont (Jean Hagen), uma estrela da cena muda, cujo sotaque prejudica sua estreia no cinema falado num drama histórico francês (muita gente atribuiu o fracasso do segundo filme sonoro de Norma, “Du Barry, a Sedutora / Du Barry, Woman of Passion”, ao seu sotaque do Brooklyn). 

Billy Wilder a usou como modelo de Norma Desmond, a decadente diva do cinema silencioso de “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard” (1950). Interpretada por Gloria Swanson, uma das maiores rivais de Norma nos anos 1920, a personagem inspira-se na reclusão de atriz (que abandonou o cinema no começo da década de 1930, passando a morar numa mansão em Beverly Hills com a enorme fortuna que ganhou nos seus dias de glória); no seu badalado romance com um ator onze anos mais jovem do que ela, o belo Gilbert Roland, seu parceiro em vários filmes de sucesso; e no seu comportamento excêntrico.

Nascida em Jersey City, New Jersey (EUA), em 1894, filha mais velha de Fred Talmadge, um alcoólatra que estava sempre desempregado, e da audaciosa “Peg” Talmadge, sua infância foi marcada pela pobreza. Num dia de Natal, o pai saiu de casa para comprar alimentos e nunca mais voltou, deixando para a esposa a tarefa de criar as três filhas pequenas do casal (além de Norma, Constance e Natalie, também atrizes). NORMA TALMADGE, a mais bonita, foi a primeira a ser estimulada pela mãe a iniciar uma carreira como atriz de cinema. Mãe e filha rumaram para os estúdios da Vitagraph, em Nova York. A jovem de 16 anos terminou sendo contratada para pequenos papéis em filmes curtos, entre 1910 e 1912, e, em 1911, chamou a atenção como Mimi, a costureirinha que acompanha o mocinho para a guilhotina na primeira versão cinematográfica de “A Tale of Two Cities”, de Charles Dickens.

A ambiciosa “Peg” percebeu que poderia levar mais adiante a carreira da filha, partindo com a família para a Califórnia. Numa festa, em 1916, NORMA TALMADGE conheceu um milionário, Joseph M. Schenck, que tinha a pretensão de produzir filmes. Dois meses depois eles casaram. Ela chamava o marido bem mais velho de “Papai”. Ele passou a dirigir, controlar e impulsionar a carreira da esposa. Em 1917, o casal fundou a Norma Talmadge Film Corporation, uma empresa que se tornaria muito lucrativa. 

Schenck queria fazer de sua amada a maior de todas as estrelas, reservando para ela as melhores histórias, os figurinos mais luxuosos, os cenários mais opulentos, os elencos mais talentosos e os diretores de maior prestígio, juntamente com uma publicidade espetacular (o mesmo que faria anos depois, Irving G. Thalberg com Norma Shearer, David O. Selznick com Jennifer Jones, Alexander Korda com Merle Oberon, Walter Wanger com Joan Bennett, Carlo Ponti com Sophia Loren, Dino De Laurentiis com Silvana Mangano e Franco Cristaldi com Claudia Cardinale). Em pouco tempo, as mulheres de todo o mundo queriam ser a romântica estrela e corriam em massa para ver seus filmes extravagantes.

A primeira produção da companhia, “Pantéia / Panthea” (1917), de Allan Dwan, teve como assistente de direção o genial e incompreendido Erich Von Stroheim. Neste melodrama, com a Rússia Imperial como pano de fundo, NORMA TALMADGE é a pianista que perde a honra para salvar o marido. Filme de grande sucesso, consagrou-a como uma excelente atriz dramática. No mesmo ano, brilharia também em “Cidade Proibida / The Forbidden City”, de Sidney Franklin. Em 1921, celebrada como a atriz mais popular do mundo, sua ascensão parecia imbatível. Na primeira metade da década de 1920, protagonizaria inúmeros êxitos, especialmente “Morrer Sorrindo / Smilin’ Through” (1922), considerado o filme mais popular de toda a sua carreira, e “Segredos / Secrets” (1924). O primeiro seria refilmado duas vezes pela Metro-Goldwyn-Mayer: com Norma Shearer, em 1932; e Jeanette MacDonald em 1941.

Seu virtuosismo para viver personagens de variadas etnias, classes sociais e idades, era uma das características marcantes da atriz. Em 1926, inovando, atuou na comédia “Kiki / Idem”, ao lado de Ronald Colman. Depois rodou “A Dama das Camélias / Camille” (1927), “A Mulher Cobiçada / The Dove” (1928) e “Pecadora sem Mácula / The Woman Disputed” (1928). Durante a filmagem de “A Dama das Camélias”, NORMA TALMADGE se apaixonou perdidamente pelo ator mexicano Gilbert Roland, pedindo o divórcio para Schenck, porém este não estava pronto para concedê-lo. Apesar de seus sentimentos pessoais, ele produziu os próximos três filmes dela, que passaram a ser distribuídos pela United Artists, companhia da qual acabara de assumir a presidência. A estrela nada fez em 1929, preparando-se para a estreia no cinema sonoro, ou seja, aperfeiçoando a voz com a veterana atriz Laura Hope Crews. 

norma e gilbert roland
Retornou às telas em 1930 com “Noites de Nova York / New York Nights” e “Du Barry, a Sedutora”, dois fracassos, mas não pelo motivo geralmente citado. Sua voz não tinha qualquer traço de sotaque do Brooklyn. Na verdade, o público desejava caras novas, desprezando as estrelas do cinema mudo, particularmente aquelas que, como Norma, estavam em cena desde os primeiros tempos. Com a carreira encerrada, nunca mais fez outro filme. Pouco depois de sua aposentadoria precoce, ao sair de um restaurante em Hollywood, uma horda de caçadores de autógrafos cercou-a. Docemente, ela disse para eles: “Vão embora, meninos, não preciso mais de vocês”.

Em 1927, ao pisar acidentalmente no cimento fresco na calçada do Chinese Theater, NORMA TALMADGE deu origem a uma famosa tradição em Hollywood: a Calçada da Fama. Schenck, em 1929, finalmente desistiu de fazer parte da vida dela, embora eles ainda não estivessem divorciados. A separação oficial aconteceu em 1934 e, nove dias depois, ela se casou, não com Gilbert Roland, mas com o comediante George Jessel. Ela nunca esteve à vontade com o fardo da celebridade, transformou-se em uma reclusa, evitando principalmente a imprensa. Muito rica, passava o tempo viajando, vindo a falecer em 1957, aos 63 anos. Foi premiada em 1956 como uma das cinco estrelas mais importantes do cinema mudo.

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42 comentários:

disse...

De fato, os filmes dela são raros de encontrar, por isso tenho mais conhecimento dos trabalhos da irmã Constance Talmadge. Não sabia que Norma tinha "inventado" a tradição de imprimir pés e mãos no cimento.
Abraços!

Zita Salviano disse...

Muito linda.

Paulo Tardin disse...

Uma grande estrela da época.

Soraya Silva disse...

Maravilhosa!

Marcia Moreira de Carvalho disse...

Ótimo texto

Jose Geraldo Diniz disse...

Antonio Nahud,
muito obrigado pelo convite para sua lista de amigos.
....e vendo algumas coisas muito boas no blogspot.
Pena que muitos não gostam de história e informação.
Acompanho sempre os filmes considerados clássicos pela TCM.
Esse como "Norma Desmond", onde tem William Holden na interpretação/narrativa, vi mais de 30 vêzes numa intenção de decifrar pormenores.
O que tenho a dizer?
Meus parabéns pelo interesse e trabalho!

Cari Sauter disse...

Such a beauty!

Marcelo Alvim Tchelos disse...

Grande mulher!!!

Diego Vince disse...

Acho a personagem Norma Desmond genial

Naiade Gláucia Almeida disse...

Diva!

Dimas Oliveira Júnior disse...

Vale a pena rever Norma Talmadge no filme New York Nights.

Thais Negrão Furini disse...

Que linda !

Luna Hepburn disse...

Linda...

Marlene Mahovlic disse...

Linda e charmosa!

Daniel Pilotto disse...

Um luxo estas atrizes dos anos 20. Pena que o tempo e a falta de cuidado, tornaram esquecidas!!!!!!

Madalena Mendonça disse...

Não conheço essa atriz

Antonio Amaral Farias disse...

O Blog O Falcão Maltês é um dos melhores blogs sobre cinema que conheço. Concordo 100% por tudo o que já li do mesmo.

Zita Salviano disse...

Muito linda.

Robinson Da Silva Bernardo disse...

Todos esses filmes clássicos deveriam estar no YouTube...

Nic Nilson disse...

nusss e eu nunca ouvi falar, perdoa minha ignorancia minha atriz linda e super talentosa..

Cristina Queiróz disse...

Não conheço nada dela. Será que sobrou algo?

Elisandra Pereira disse...

Adoro seus posts, Antonio!

Zita Salviano disse...

Infelizmente isso acontece. Lamentável.

Paulo Telles disse...

Tenho referência sobre ela em algumas biografias que possuo. Se viesse a atuar em poucos filmes, seria compreensível tamanho esquecimento. Mas não é aqui o caso

Fernando Sobrinho disse...

Eu a conheço apenas de nome. Sabia que tinha sido uma atriz famosa no cinema mudo,mas sequer sabia que ela havia sido uma inspiração para a Lina Lamont de "Cantando Na Chuva" e a Norma Desmond de "Crepúsculo dos Deuses" (julgava que as personagens fossem amálgamas de várias atrizes). Gosto de todos os posts do blog mas quando conheço pouco sobre a figura retratada, existe um plus pela obtenção de informações novas. Parabéns, Antonio Nahud ! É sempre um prazer acompanhar o seu blog !

Cristina Queiróz disse...

E.muito legal saber de onde surgiu a inspiração para a calçada da fama.

Bernardo Schmidt disse...

Muito interessante. Mas segundo o que li, isso está longe de ser consenso. No caso de Wilder, a referência é só o nome, porque não há absolutamente nada em comum entre as duas. Quanto a "Cantando na Chuva", menos ainda. A carreira de Talmadge - como da impagável Lina, no filme - e de dezenas de outras atrizes acabou quando vieram os "talkies".

Soraya Silva disse...

Viva Norma!

Drick Rio disse...

Muito linda e charmoza tambem, teve seu momento de gloria como toda Star de cinema...

Daniele Moura disse...

Que linda!!!!

Paulo Tardin disse...

Uma Grande Estrela do Cinema Silencioso.

Lurdes Leal Menezes disse...

Linda

Marcos Pedini disse...

A questão e saber quais filmes sobreviveram, as pelicolas eram a base de nitrato e sofriam combustão expontanea e até por isso era comum incendios em salas de cinema como bem mostra "Il Nuovo Cinema Paradiso" ou simplesmente viraram vinagre

Marlene Mahovlic disse...

Linda e talentosa atriz, como é bom conhecer mais detalhes da vida dela. Interessante saber que deu origem a tradição da Calçada da Fama e sua paixão por Gilbert Roland. Gostaria muito de ver mais filmes desta querida estrela do cinema silencioso. Obrigada, Antonio Nahud, é sempre uma grata satisfação ler seus posts.

Sibely Vieira Cooper disse...

Maravilhosa!

Sibely Vieira Cooper disse...

Amo estas postagens de astros da antiga.

Silvio Poggi Nunes disse...

O surgimento da rede social e do you toube faz com que muitas músicas, artistas talentosos e fatos que caíram no esquecimento público voltem a ser lembrados e curtidos.

Edivaldo Martins disse...

Uma grande estrela do cinema SILENCIOSO; Gilbert Roland é uma homenagem aos grandes astros do cinema silencioso: John GILBERT e Ruth ROLAND!

Marcos Pedini disse...

Gilbert Roland é típico galã latino e ficaria muito bem como.zorro e outros herois de capa e espada

Francisnaldo Borges disse...

belíssima! famoso ou não eu quero ser esquecido

Ricardo Rodrigues disse...

Parece aquela estória do filme O ARTISTA...

Mary Saleh disse...

As I am familiar with Norma Talmadge as the beautiful Star of silent films, and as I have watched the film "Sunset Boulevard" with Gloria Swanson as "Norma Desmond", I certainly do agree that this caricature of Miss Talmadge was most cruel and unfair. I believe that Norma Talmage deserves to be remembered in more positive ways and it is good to learn more about who she really was.