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o oscar e faye dunaway |
Receber uma indicação ao Oscar, o prêmio máximo da indústria cinematográfica mais influente do mundo, já é uma grande honraria. Ganhá-lo, então, é garantia de uma avalanche de propostas de trabalho, prestígio e muito dinheiro. Porém, inúmeros casos têm mostrado que ganhar a tão cobiçada estátua dourada da Academia de Hollywood nem sempre é vantajoso. Enquanto para uns traduz-se em novos filmes de qualidade e um cachê reforçado, para outros a realidade é bem mais cruel, ou seja, tal reconhecimento tem o seu preço. Nesses casos, o desbunde pós-Oscar trouxe uma série de escolhas profissionais erradas e a consequente bancarrota. Fala-se, inclusive, numa suposta MALDIÇÃO do OSCAR, referindo-se a premiados que não emplacaram mais sucessos depois de levarem uma estatueta. A lista é imensa, do inglês Robert Donat, ainda nos anos 30, a Faye Dunaway na década de 70. E muitos outros.
Eles se perderam na própria vaidade ou nos projetos selecionados, enfim, há varias teorias sobre os amaldiçoados pelo Oscar. Como não se lembrar de Hattie McDaniel, que fez um discurso emocionante ao receber o Oscar e nunca mais conseguiu outro papel à altura? Ou do italiano Roberto Benigni, saindo do auge da carreira com “A Vida é Bela / La Vita è Bella” (1997) para a mais completa irrelevância? Quem lembra mais da surda-muda Marleen Matlin, premiada por “Filhos do Silêncio / Children of a Lesser God” (1986)? E Cuba Gooding Jr.? O papel de um jogador de futebol norte-americano temperamental em “Jerry Maguire – A Grande Virada / Jerry Maguire” (1996) rendeu-lhe o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas não conseguiu afastá-lo de uma série de longas constrangedores. Abaixo treze casos conhecidos:
ROBERT DONAT
(1905 - 1958. Manchester / Reino Unido)
Grande ator teatral inglês, depois de indicado por “A Cidadela / The Citadel” (1938) e levar o Oscar por “Adeus, Mr. Chips / Goodbye, Mr. Chips” (1939), só voltaria a filmar em 1942, vítima de asma crônica e forte depressão. Apenas teria destaque outra vez no final dos anos 50, em “A Morada da Sexta Felicididade / The Inn of the Sixth Happiness”, ao lado de Ingrid Bergman, no papel de um velho chinês. Morreu antes de vê-lo terminado.
HATTIE McDANIEL
(1893 - 1952. Wichita, Kansas / EUA)
No curso de sua carreira, apareceu em mais de 300 filmes, tendo seu nome aparecido nos créditos de apenas 80 deles. Por causa dos preconceitos daquela época contra atrizes afro-americanas, ela quase sempre interpretou empregadas. Certa vez disse: "Por que devo reclamar enquanto ganho 700 dólares por semana sendo uma empregada nas telas? Se não fosse uma nas telas, ganharia sete dólares por semana sendo uma de verdade”. A sua estatueta pela Mammy de “...E o Vento Levou / Gone with the Wind” (1939) foi um dos momentos mais especiais do Oscar, afinal ela fez história como a primeira atriz negra a ser premiada. No entanto, mesmo continuando a filmar até 1949, não cresceu como atriz, repetindo os mesmos pequenos papéis de criada benevolente.
KIM HUNTER
(1922 - 2002. Detroit, Michigan / EUA)
A Stella Kowalski de “Uma Rua Chamada Pecado / A Streetcar Named Desire” (1951) deu-lhe o Oscar, ainda assim sua carreira não deslanchou. Na lista negra de Hollywood sob acusação de pertencer ao Partido Comunista, fez filmes e séries para a tevê, voltando a ser notícia como Zira de “O Planeta dos Macacos / Planet of the Apes” (1968).
SHIRLEY BOOTH
(1898 - 1992. Nova Iorque / EUA)
Repetindo a personagem que fez na Broadway, levou o Oscar por “A Cruz de Minha Vida / Come Back, Little Sheba” (1952). Ganhou com ele também o Globo de Ouro. No entanto, a veterana atriz de teatro fez apenas mais quatro filmes, sendo esquecida rapidamente e voltando para os palcos onde ganhou três prêmios Tony.
DONNA REED
(1921 - 1986. Denison, Iowa / EUA)
Tinha tudo para ser uma estrela. Bela e talentosa, fazia cinema desde 1941, repetindo o mesmo papel de namoradas e esposas respeitáveis, mas por ironia levou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante como uma prostituta em “A Um Passo da Eternidade / From Here to Eternity” (1953). Então, todos acreditaram que sua carreira cresceria. Aconteceu justamente ao contrário, passando a protagonizar produções baratas e seriados de tevê. Seu único bom momento cinematográfico pós-Oscar aconteceu em “A Última Vez Que Vi Paris / The Last Time I saw Paris” (1954), mas a figura central é Elizabeth Taylor.
SHIRLEY JONES
(1934. Charleroi,. Pensilvânia / EUA)
Vinha de dois famosos musicais, “Oklahoma! / Idem” (1955) e “Carrossel / Carousel” (1956), conseguindo provar que era boa atriz em “Entre Deus e o Pecado / Elmer Gantry” (1960). Levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante, mas ficou por aí, direcionando sua carreira para séries de tevê e musicais na Broadway.
GEORGE CHAKIRIS
(1934. Norwood, Ohio / EUA)
O Oscar que ele recebeu pelo papel de Bernardo, líder dos “Sharks”, no musical “Amor, Sublime Amor / West Side Story” (1961), foi injusto. Canastrão, fez um ou outro filme, mas não se deu bem nunca mais. Antes participou de musicais como dançarino. Inclusive no famoso número “Diamonds Are a Girl's Best Friend”, ao lado de Marilyn Monroe, em “Os Homens Preferem as Loiras / Gentlemen Prefer Blondes”, de 1953. No década de 1960, tornou-se cantor pop, obtendo relativa repercussão.
PATTY DUKE
(1946. Nova Iorque / EUA)
Ela tinha dezesseis anos e um belo papel nas mãos em “O Milagre de Annie Sullivan / The Miracle Worker” (1962), o que pouco significou para sua carreira no cinema. No futuro faria programas e séries de tevês, além de filmes descartáveis como “O Vale das Bonecas / Valley of the Dolls” (1967), interpretando uma drogada e alcoólica estrela. Terminou sendo diagnosticada com transtorno bipolar.
TATUM O´NEAL
(1963. Los Angeles, Califórnia / EUA)
Aos dez anos recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Lua de Papel / Paper Moon” (1973), de Peter Bogdanovich, tornando-se a pessoa mais jovem a ganhar uma estatueta. Filha do ator Ryan O’Neal, nunca havia trabalhado antes no cinema, o que tornou ainda mais impressionante sua escolha para o prêmio. Ela nunca conseguiu repetir esse sucesso. Um dos culpados foi o próprio pai, que, segundo ela, a teria abusado física e psicologicamente por causa do uso de drogas. Na adolescência, se viciou em heroína e, em 2008, foi presa comprando crack em Nova York.
LOUISE FLETCHER
(1934. Birmingham, Alabama / EUA)
O seu prêmio é um dos mais criticados da história da Academia. A favorita era a francesa Isabelle Adjani, fabulosa em “A História de Adele H / L’Histoire d’Adele H”, de Truffaut. Atriz ruim, caricata, Fletcher não protagoniza “Um Estranho no Ninho / One Flew Over the Cuckoo’s Nest” (1975), seu papel da enfermeira Ratched é pequeno, de coadjuvante (tinha sido recusado por Anne Bancroft, Ellen Burstyn e Jane Fonda). Na cerimônia de premiação, ela fez seu discurso em linguagem de sinais, para homenagear seus pais deficientes auditivos. Mas a badalação foi ilusória. Fez escolhas ruins – como “Exorcista II – O Herege / Exorcist II: The Heretic” (1977) – e nunca solidificou sua carreira.
FAYE DUNAWAY
(1941. Bascom, Flórida / EUA)
A estrela ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 1977 por sua executiva impávida e neurótica em “Rede de Intrigas / Network”, dirigido por Sidney Lumet. Na época, aos 36 anos, estava no auge. Já havia sido indicada por papéis memoráveis em “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas / Bonnie and Clyde”, em 1967, e “Chinatown / Idem”, em 1974. O reconhecimento da Academia não serviu para manter sua carreira em alta. Passou a fazer filmes de péssima qualidade, recebendo a Framboesa de Ouro, que premia os piores do ano, por sua exagerada atuação em “Mamãezinha Querida / Mommie Dearest”, de 1981. Depois disso, atuou em raros papéis decentes no cinema.
F. MURRAY ABRAHAM
(1939. Pitsburgo, Pensilvânia / EUA)
Nem o Oscar por “Amadeus / Idem” (1984), em que interpretou o compositor Antonio Salieri, fez com que deixasse de ser coadjuvante. Ele havia feito um papel menor em “Todos os Homens do Presidente / All the President’s Men”, de 1976, e logo após receber a estatueta interpretou o vilão de “O Nome da Rosa / Der Name the Rose” (1986), estrelado por Sean Connery. Depois disso, mergulhou em filmes comerciais. Um desperdício para um artista que ganhou o prêmio máximo do cinema norte-americano.
ADRIEN BRODY
(1973. Nova Iorque / EUA)
Praticamente desconhecido, recebeu em 2003 o Oscar de Melhor Ator por sua atuação no drama de guerra “O Pianista / The Pianist” (2002), de Roman Polanski. Ele perseguia o sucesso fazendo pontas em filmes como “Além da Linha Vermelha / The Thin Red Line”, de 1998, ou “O Verão de Sam / Summer of Sam”, de 1999. Com o Oscar nas mãos e o reconhecimento após um papel de enorme carga dramática, desperdiça seu talento em filmes abomináveis, participando de uma série de roubadas. Nunca mais se deu bem.