julho 11, 2015

**** BARBARA STANWYCK - DURONA e SEDUTORA




BARBARA STANWYCK (1907 - 1990. Nova Iorque / EUA) é a minha atriz clássica favorita. Perto dela, nessa admiração, também me comovem Jennifer Jones, Ingrid Bergman, Claudette Colbert, Lillian Gish, Gene Tierney, Joan Crawford, Irene Dunne, Jean Arthur, Miriam Hopkins, Merle Oberon, Mary Astor, Norma Shearer, Patricial Neal e Anne Bancroft. Desde sempre, considero BARBARA STANWYCK a maior das estrelas de Hollywood. Vez ou outra fico com Jennifer Jones ou Joan Crawford, embora termine voltando aos seus encantos. Sedutora, inúmeras vezes assumiu personagens provocantes, mas era uma intérprete versátil, capaz de fazer qualquer papel. “Meu único problema é encontrar uma maneira de interpretar a minha quadragésima mulher fatal de um jeito diferente da trigésima nona”, confessou, com ironia, numa entrevista.

Considerada uma joia no trabalho, pela responsabilidade profissional e descontração no set, era muito requisitada, no auge atuava em três a quatro filmes ao ano. Em 1944, foi a mulher que mais ganhou dinheiro nos Estados Unidos, graças aos constantes sucessos. Ela surgiu em Hollywood no final do cinema mudo, durante a invasão de atores da Broadway, ao lado de outras atrizes de teatro. Embora seja mais lembrada pela imagem sedutora e perigosa em célebres filmes noir, igualmente foi hábil em comédias, dramas e westerns. Fazendo um filme atrás do outro - praticamente aceitando todas as ofertas que lhe eram oferecidas -, ao longo de três décadas brilhou como a mulher mais durona das telas, superando inclusive Bette Davis e Joan Crawford. E o público amava essa combinação de independência e erotismo.

Nascida Ruby Stevens em Nova York, no Brooklyn, e a mais nova de cinco irmãos, ficou órfã de mãe aos dois anos. Logo seu pai abandonou os filhos e partiu para o Panamá, morrendo quatro anos depois. Criada, alternadamente, por uma família amiga e pela irmã corista, ainda passou por uma família judaica, os Cohens, de Flatbush. Ao sentir-se rejeitada, omitiu a idade para trabalhar como empacotadora de uma loja de departamentos e, em seguida, como funcionária de uma companhia telefônica. Aos 15 anos sobrevivia como corista. Em 1926, um amigo a apresentou a Willard Mack, produtor e diretor que a contratou para um show, mudando o seu nome para BARBARA STANWYCK. Um ano depois, como estrela, fez “Burlesque” e 338 apresentações. 

Ainda em 1927 partiu para Hollywood, sendo rejeitada em todos os testes até conseguir um pequeno papel em “Noites da Broadway / Broadway Nights” (1927). O sucesso aconteceu com Frank Capra em “A Flor dos Meus Sonhos / Ladies of Leisure”, em 1930. A produção teve um começo difícil, pois diretor e atriz não se entenderam, tornando-se bons amigos mais adiante. O drama foi um inesperado sucesso crítico e comercial, dando início a uma carreira bem-sucedida. Casou-se duas vezes. O primeiro com o ator teatral Frank Fay, que, convencido do talento da esposa, a levou para Hollywood. No entanto, enquanto a carreira dela crescia, a dele afundou, provocando uma relação tensa.

Quando a Warner Bros. cancelou o contrato do ator, ele passou a beber e se tornou fanático religioso. As brigas do casal tornaram-se públicas, inclusive sabendo-se que ele a espancava. A infelicidade conjugal levou BARBARA STANWYCK aos braços de Capra durante as filmagens de “A Mulher Miraculosa” (1931). Procurando salvar o casamento, adotaram uma criança. Bêbado, Fay agredia o menino. O divórcio aconteceu em 1936. Viciada em trabalho, a atriz não dava atenção ao filho, deixando-o em internatos ou aos cuidados de babás. Ele morreu em 1961, mas não a considerava uma mãe.

robert taylor e barbara
Em 1936, ao rodar “A Mulher do seu Irmão / His Brother’s Wife”, BARBARA STANWYCK passou a viver com Robert Taylor. Com a pressão da mídia, casaram-se em 1939. A primeira crise aconteceu em 1941, quando Bob teve um caso com Lana Turner, pedindo o divórcio. Descontrolada, Barbara cortou os pulsos, mas logo ele se arrependeu da infidelidade. 

Em 1944 o casamento novamente se abalou com o tórrido romance do galã com Ava Gardner. Superaram, mas nunca mais foram felizes. Seis anos depois ele a abandonou, deixando-a numa amargura que nunca cessou totalmente. Ela prometeu que não voltaria a se casar, e cumpriu a promessa. Citou Robert Taylor como o amor de sua vida. A morte do ex-marido em 1969 foi um golpe duro e a atriz diminuiu o ritmo de trabalho no cinema e na televisão. Há rumores de que teria sido bissexual, mas não há provas sólidas. No entanto, dizem que teve um relacionamento com sua assessora, Helen Ferguson.

barbara e fred macmurray
em “pacto de sangue”
Um dos maiores êxitos de BARBARA STANWYCK, “Pacto de Sangue”, de 1944, tem origem em um romance policial de James M. Cain, adaptado ao cinema por um outro grande autor do policial, Raymond Chandler, argumento que contém ainda a assinatura talentosa do próprio diretor, Billy Wilder. O que está em causa é a intenção de uma mulher (uma verdadeira “femme fatal” com uma ambição desmedida) em matar o marido para ficar com o seguro, enrolando no esquema um empregado de uma agência de seguros que se deixa prender de amores pela bandida de falinha mansa. O filme, tenso e obsessivo, liberta sintomas de uma sociedade doente, obcecada pelo dinheiro, corrupta e inebriada pelo sucesso fácil. Neste ambiente noir quase todas as personagens agem em função de desprezíveis intenções.

O ambiente é de tal maneira doentio que BARBARA STANWYCK, ao ser convidada para interpretar o papel principal, depois de ler o argumento o recusou, por o achar demasiado ignóbil. Foi Billy Wilder quem a convenceu, em boa hora: “É um rato ou uma atriz?”, ao que ela respondeu “quero ser uma atriz”. “Então aceita o papel”, ela aceitou e triunfou. Na trama, no meio deste lamaçal de más intenções que idealizam o crime perfeito e a avultada recompensa financeira, aparece um astuto diretor de serviços da seguradora, Barton Keyes (um fabuloso Edward G. Robinson), que instintivamente descobre que nem tudo o que parece é. O filme é admiravelmente contado, com magnífica fotografia de John F. Seitz, iluminação que sublinha a sordidez dos ambientes, e trilha musical de Miklós Rózsa, daquelas que ficaram para a história. Obra-prima.


A carreira de BARBARA STANWYCK atingiu o auge entre 1940 e 1946, período em que rodou algumas das suas melhores fitas. Seu declínio começou ao perder o papel principal de “Almas em Suplício / Mildred Pierce” (1945) para sua grande amiga Joan Crawford. Ela havia lutado bravamente para atuar nesse melodrama. Também brigou por “Vontade Indômita / The Fountainhead” (1949), sendo trocada por Patricia Neal. Entretanto, seu erro crucial foi recusar “A Malvada / All About Eve” (1950), de Joseph L. Mankiewicz, para tentar controlar os passos de Robert Taylor na Europa, enquanto ele filmava “Quo Vadis / Idem” (1951). Perdeu o filme que revitalizaria a sua carreira e perdeu o marido. Ainda assim, fez boas fitas nos anos 1950, sendo dirigida por Robert Siodmak, Fritz Lang, Anthony Mann, Douglas Sirk, Robert Wise e Samuel Fuller.

Nos anos 1960, apresentou com sucesso o programa de tevê “The Barbara Stanwyck Show” e permaneceu cinco temporadas no ar (de 1965 a 1969) com o seriado “Big Valley”, sempre com grande audiência devido em parte à sua forte performance como a matriarca Victoria Barkley. BARBARA STANWYCK foi injustiçada pela Academia de Artes de Hollywood, pois mesmo com excelentes atuações jamais levou a estatueta de Melhor Atriz. Recebeu quatro indicações para o prêmio: por “Stella Dallas, Mãe Redentora”, “Bola de Fogo”, “Pacto de Sangue” e Uma Vida por Um Fio”. Sua primeira nomeação, em 1938, disputava com outras grandes atuações, todas mereciam a estatueta. Em 1942, Babs e a Bette Davis de “Pérfida The Little Foxes” eram as melhores do ano, mas o prêmio foi parar nas mãos de Joan Fontaine. Três anos depois, chegou perto, mas a vitória de Ingrid Bergman foi merecida. Sua última nomeação, em 1949, ano de marcantes atuações femininas. 
 
Nove anos antes de sua morte, recebeu um Oscar honorário. No Globo de Ouro, ganhou em 1986 o Cecil B. DeMille Award, de carreira, além da estatueta para Melhor Atriz Coadjuvante de televisão em 1984, por “Pássaros Feridos / The Thorn Birds” (1983), tendo ainda sido nomeada em mais três ocasiões, 1966, 1967 e 1968, por “The Big Valley”. Acumulou prêmios e nomeações ao longo de toda a sua carreira. Em cerca de 60 anos, atuou em mais de 70 filmes, além de séries e shows para a tevê. Seu último êxito, a fazendeira Mary Carson da minissérie “Pássaros Feridos”, resultou no Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante. A atriz morreu de insuficiência cardíaca, aos 82 anos.

gary cooper e barbara stanwyck em bola de fogo

19 PERSONAGENS MARCANTES

Florence 'Faith' Fallon em
A MULHER MIRACULOSA
(The Miracle Woman, 1931)
direção de Frank Capra
  elenco: David Manners

Lili em
SERPENTE de LUXO
(Baby Face, 1933)
direção de Alfred E. Green
  elenco: George Brent e John Wayne

Nora Clitheroe em
HORAS AMARGAS
(The Plough and the Stars, 1936)
direção de John Ford
elenco: Preston Foster

Stella Martin Dallas em
STELLA DALLAS, MÃE REDENTORA
(Stella Dallas, 1937)
direção de King Vidor
  elenco: John Boles

Mollie Monahan em
ALIANÇA de AÇO
(Union Pacific, 1939)
direção de Cecil B. DeMille
elenco: Joel McCrea

Lee Leander em
LEMBRA-TE DAQUELA NOITE
(Remember the Night, 1940)
direção de Mitchell Leisen
elenco: Fred MacMurray

Ann Mitchell em
ADORÁVEL VAGABUNDO
(Meet John Doe, 1941)
direção de Frank Capra
elenco: Gary Cooper

Jean Harrington em
As TRÊS NOITES de EVA
(The Lady Eve, 1941)
direção de Preston Sturges
elenco: Henry Fonda

Sugarpuss O’Shea em
BOLA de FOGO
(Ball of Fire, 1941)
direção de Howard Hawks
  elenco: Gary Cooper

Phyllis Dietrichson em
PACTO de SANGUE
(Double Indemnity, 1944)
direção de Billy Wilder
elenco: Fred MacMurray e Edward G. Robinson

Martha Ivers em
O TEMPO NÃO APAGA
(The Strange Love of Martha Ivers, 1946)
direção de Lewis Milestone
elenco: Van Heflin e Kirk Douglas

Leona Stevenson em
Uma VIDA POR um FIO
(Sorry, Wrong Number, 1948)
direção de Anatole Litvak
  elenco: Burt Lancaster

Vance Jeffords em
ALMAS em FÚRIA
(The Furies, 1950)
direção de Anthony Mann
elenco: Wendell Corey e Walter Huston

Mae Doyle D’Amato em
SÓ a MULHER PECA
(Clash by Night, 1952)
direção de Fritz Lang
  elenco: Robert Ryan

Julia O. Tredway em
UM HOMEM e DEZ DESTINOS
(Executive Suite, 1954)
direção de Robert Wise
elenco: William Holden e Fredric March

Martha Wilkison em
UM PECADO em CADA ALMA
(The Violent Men, 1955)
direção de Rudolph Maté
  elenco: Glenn Ford e Edward G. Robinson

Norma em
CHAMAS que NÃO se APAGAM
(There’s Always Tomorrow, 1956)
direção de Douglas Sirk
  elenco: Fred MacMurray

Jessica Drummond em
DRAGÕES da VIOLÊNCIA
(Forty Guns, 1957)
direção de Samuel Fuller
elenco: Barry Sullivan

Jo Courtney em
PELOS BAIRROS do VÍCIO
(Walk on the Wild Side, 1962)
direção de Edward Dmytryk
  elenco: Laurence Harvey

GALERIA de FOTOS


robert taylor e barbara stanwyck

julho 02, 2015

*************** O FILM NOIR: CRIME à MEIA-LUZ

john garfield e lana turner em o destino bate à sua porta

 
Mais do que um gênero, é um estilo visual e temático. Marcado pela iluminação de alto contraste em preto e branco, a narração em off e roteiros cheios de reviravoltas, inspirados na literatura policial dos anos da depressão norte-americana (que revelou escritores notáveis como Dashiell Hammett, Raymond Chandler, James M. Cain e David Goodis). Intitulado de FILM NOIR por críticos franceses, que viam nesses filmes um espelho do que chamavam a serie noire, tradução dos anos 1930 de histórias de gangsters, o seu apogeu aconteceu nos anos 1940. Considera-se “A Marca da Maldade” (1958), de Orson Welles, como o último NOIR clássico, mas a influência do estilo é visível no cinema até hoje. Retrata um submundo onde parece se viver de um modo selvagem e instintivo. Personagens cínicos, amorais, duros e frios. Eles são personificados muitas vezes pelo detetive particular, uma espécie de predador solitário de uma selva urbana, onde vagueia, e na qual por vezes se confunde com a sua presa. 
 
jules dassin
No NOIR, o crime - aliado ao ciúme, corrupção e ambiguidade moral - é apenas um pretexto para mostrar e explorar os lados mais baixos do comportamento humano, e a sua degradação psicológica. Impressiona por argumentos inteligentes e austeros, permeados por niilismo, desconfiança e paranoia, em ambientes urbanos, noturnos, claustrofóbicos. Os personagens, em tramas desapiedadas, apresentam um comportamento do tipo “o fim justifica os meios”. Proveniente do filme B (produções de baixo orçamento e atores pouco conhecidos), o FILM NOIR prendeu a atenção do público, e projetou para o estrelato nomes como Humphrey Bogart, Alan Ladd, Claire Trevor, Robert Mitchum, Glenn Ford, Robert Ryan, Gene Tierney, Richard Conte e Gloria Grahame
 
Atrás das câmeras, cineastas geniais como John Huston, Jules Dassin, Anthony Mann, Billy Wilder, Howard Hawks, Otto Preminger, Fritz Lang, Orson Welles, Joseph H. Lewis, Jacques Tourneur, Robert Siodmak, John Cromwell, Raoul Walsh, Edward Dmytryk, John Farrow, Edgar G. Ulmer. Mesmo assim, e salvo raras exceções, foi desprezado pela crítica do seu tempo. Devido à influência do expressionismo mudo alemão, o FILM NOIR destaca-se pela estilização dos cenários, o uso dramático das sombras de modo geométrico, e o célebre contraste claro-escuro, numa exuberância visual que fazia da noite um personagem por si só. Trouxe uma inovadora linguagem cinematográfica, que frequentemente incluía: flashbacks, tramas intrincadas, voz off que narra a história em tom confessional, tomadas de câmera feitas a partir de ponto de vista do protagonista. Tem uma coesão de estilo onde a iluminação, os ângulos, a montagem e a essência existencialista se mantêm constantes de filme para filme.

rita hayworth em gilda
Na galeria de personagens, a presença icônica do anti-herói, um homem de vida vazia. Alheio a condutas morais, combate casos de crime e decadência, que por vezes o arrastam consigo. É cínico, não acreditando em ninguém, e usa a sua frieza como uma defesa, que o afasta de qualquer calor humano que possa vir a sentir. Luta para sobreviver e o seu triunfo será chegar ao fim do dia sem perder a vida, a liberdade ou a própria sanidade mental. Como atração extra, a perigosa “mulher fatal” (a femme fatale), de virtudes questionáveis, e a principal culpada de eventos negativos. Bela, sedutora e ambiciosa, tem, em relação ao anti-herói, uma relação de poder, sendo capaz, através da manipulação, sexualidade e falsa fragilidade, de colocar os homens que a rodeiam em situações de dificuldade. Alguns dos melhores filmes hollywoodianos se encaixam na categoria NOIR. Tanto que foi difícil criar uma lista com apenas vinte.

20 FILMES NOIR
(por ordem de preferência)

01
A MARCA da MALDADE
(Touch of Evil, 1958)
direção de Orson Welles

02
O SEGREDO das JÓIAS
(The Asphalt Jungle, 1950)
direção de John Huston

03
O ÚLTIMO REFÚGIO
(High Sierra, 1941)
direção de Raoul Walsh

04
Os CORRUPTOS
(The Big Heat, 1953)
direção de Fritz Lang

05
PACTO de SANGUE
(Double Indemnity, 1943)
direção de Billy Wilder

06
O DESTINO BATE à SUA PORTA
(The Postman Always Rings Twice, 1946)
direção de Tay Garnett

07
Os ASSASSINOS
(The Killers, 1946)
direção de Robert Siodmak

08
FUGA do PASSADO
(Out of the Past, 1947)
direção de Jacques Tourneur

09
O FALCÃO MALTÊS - RELÍQUIA MACABRA
(The Maltese Falcon, 1941)
direção de John Huston

10
A DAMA de SHANGHAI
(The Lady from Shanghai, 1941)
direção de Orson Welles

11
FÚRIA SANGUINÁRIA
(White Heat, 1949)
direção de Raoul Walsh

12
À BEIRA do ABISMO
(The Big Sleep, 1946)
direção de Howard Hawks

13
LAURA
(Idem, 1944)
direção de Otto Preminger

14
BRUTALIDADE
(Brute Force, 1947)
direção de Jules Dassin

15
RANCOR
(Crossfire, 1947)
direção de Edward Dmytryk

16
No SILÊNCIO da NOITE
(In a Lonely Place, 1950)
direção de Nicholas Ray

17
PRISIONEIRO do PASSADO
(Dark Passage, 1947)
direção de Delmer Daves

18
IMPÉRIO do CRIME
(The Big Combo, 1955)
direção de Joseph H. Lewis

19
AMARGA ESPERANÇA
(They Live by Night, 1948)
direção de Nicholas Ray

20
MERCADO de LADRÕES
(Thieves' Highway, 1949)
direção de Jules Dassin